Ed. 165 - Revista Caros Amigos

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É possível, é possível. Foram feitas coisas inacreditáveis! Foram feitas. É que você tem que pensar a sociedade não como um sistema de ordens hierárquicas. Você tem que pensar a sociedade como uma rede, com nós, e foram tocados alguns nós da estrutura da sociedade e outros, não. Eu acho que o fato da Dilma ter uma proposta que é a questão da infra-estrutura ela vai mudar nisso. Eu não sei o que vai dar, porque a fala dela, o discurso dela, ela enfatiza a questão da infraestrutura, do PAC. Na infra-estrutura, o nó é a propriedade da terra. Então, vamos ver o que vai acontecer. Então, você tem que pensar nos diferentes nós, alguns que foram desatados, outros que foram reatados de outra maneira, outros que foram desfeitos, que no caso, eu acho que o governo que vai enfatizar a infra-estrutura vai ter que enfrentar isso de uma outra maneira.

Hamilton Octavio de Souza - O nome da senhora tem sido citado para o Ministério da Cultura. Ah, não. Deixa eu responder primeiro a pergunta dele... Otávio Nagoya - A senhora acha que a questão da reforma agrária, a própria comunicação, houve, de fato, uma vontade política do governo Lula de levar isso a frente ou ele abriu mão para conseguir outra coisa? Isso eu não sei. Eu não sei se foi um ponto negociado ou se foi um ponto que foi proposto e encontrou um limite, objetivamente. Eu tive, por exemplo, várias conversas com o Marco Aurélio Garcia e ele dizia: na semana que vem ele vai me mandar tal coisa, assim, assim e assim.

va de propor tem que vir do executivo, porque o legislativo não terá essa iniciativa.

no Brasil essas pautas, bandeiras antigas, históricas, não são propostas revolucionárias...

Wagner Nabuco - Eu gostaria de ouvir a sua opinião sobre a questão do Monteiro Lobato. A questão do Lobato é igual à de Mark Twain, nos Estados Unidos. Mark Twain tem lá o lugar que o Lobato tem aqui e tem o racismo na obra de Mark Twain. Bom, eu entendo que os movimentos negros tenham decidido de uma vez por todas dizer que não dá para suportar paternalismo e racismo, seja lá onde for. Eu compreendo isso, mas não pode censurar o livro. Não pode. Você tem que ter a formação de professores, tal, que o professor se ele dá o livro para os alunos possa discutir com os alunos o racismo, mas censurar o livro, não. Então, eu entendo que o movimento negro faça isso e ele tem o direito e obrigação de fazer isso, mas nós temos que contrabalançar, porque não pode censurar.

Cecília Luedemann - ... abrir os arquivos da ditadura, julgar os responsáveis pela tortura e morte de brasileiros durante a ditadura... Latina e países da Europa acontecem. Por que aqui é tão difícil alguém encarar isso de frente? Eu quero fazer uma proposta. A minha proposta é: vocês precisam fazer uma entrevista exclusiva com o Paulo Sérgio Pinheiro. Ele é o homem que trata sobre tudo isso. Ele acabou de escrever um artigo magnífico sobre o que está acontecendo no Rio [de Janeiro]. Ele é o homem que apóia o Vanucchi sobre todos os pontos de vista e não se conforma com as limitações que são impostas ao Vanucchi.

Débora Prado - Então, nesse cenário que você colocou, o papel dos movimentos históricos é colocar na pauta, é fazer pressão? Sim, eu acho que precisa de reforma política e pressão clara dos movimentos, porque agora tem tudo agora para fazer, porque agora tem os Conselhos, os Conselhos Nacionais. Do ponto de vista institucional, está tudo montado, tem que usar a institucionalidade para fazer isso.

Débora Prado - Eu gostaria de mudar um pouco de assunto. A senhora falou das demandas do governo lidando com as demandas dos movimentos. Eu queria que a senhora avaliasse um pouco o processo histórico brasileiro: por que algumas maneiras históricas dos movimentos que são essenciais para uma transformação, que são até implementadas em democracias liberais, aqui são assuntos proibidos? Quais?

Tatiana Merlino - Professora, a senhora disse

Lúcia Rodrigues - Quando a senhora

Débora Prado - Como encarar de frente

a legalização do aborto, como a reforma agrária, como a regulamentação da mídia visando a democratização. Por que aqui

Débora Prado - E que nos países da América

que nós tivemos mudanças estruturais no país. A senhora acha que é possível fazer uma mudança estrutural sem fazer uma reforma agrária efetiva? Não, mas você tem bolsões de mudança, bolsões de mudança. Veja a educação. São mudanças importantes. A gente não pode ter um mecanicismo economicista, de dizer: a base da economia é a terra, se não mexe na terra não mexe na indústria, se não mexe na indústria não mexe na finança, se não mexe na finança, não mexe na escola. Não é verdade.

Tatiana Merlino - Mas resolver a questão agrária sem a reforma agrária é possível?

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Otávio Nagoya - É a pressão? Mas, tem coisa que não foi, sequer, enviada.

coloca, o governo logicamente apresenta ao congresso e o congresso aprova, mas o governo construiu, a duras penas, uma maioria no congresso. Ele poderia aprovar, sim, aborto, reforma agrária, a democratização da comunicação. Esses temas, para o governo, não acabam caindo no ralo como temas secundários. Olha, eu não sei, não sei se... a reforma agrária não pode ser considerada secundária, mesmo para o governo, de jeito nenhum, num país como este, de jeito nenhum. Mas, o aborto, talvez, seja considerada uma questão secundária. A mídia é uma incompetência histórica nossa para lidar com essa questão, ora por não achar impordezembro 2010

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