Ed. 156 - Revista Caros Amigos

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rações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna), um dos centros de tortura mais temidos do país.

Via livre O Planalto quer, por exemplo, que o Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, um dos acionistas do setor, se retire da CPFL (Companhia Paulista de Força e Luz), para pavimentar a consolidação da Camargo Correa como uma força da energia elétrica nacional. A empreiteira quer controlar sozinha a empresa privatizada pelo governo tucano do Estado de São Paulo. Para a assessora econômica do Sinergia (Sindicato dos Trabalhadores Energéticos do Estado de São Paulo), Renata Belzunces dos Santos, não há lógica nessa proposta. “O setor é ótimo para fundos de pensão: perene e seguro.” A Camargo Correa também avança na construção de novas usinas para a geração de energia. O sítio da holding na internet aponta o grupo como líder na construção de hidrelétricas. A construção das polêmicas usinas de Belo Monte, no rio Xingu, no Estado do Pará, e Santo Antônio e Jirau, no rio Madeira, em Rondônia, são alguns dos empreendimentos em que a empreiteira está envolvida.

Apagão O secretário de finanças da FNU (Federação Nacional dos Urbanitários), Wilson Marques de Almeida, adverte que está ocorrendo no país uma concentração no setor elétrico. “Estamos assistindo nos últimos tempos à formação de verdadeiros cartéis”, alerta. “Antes da privatização, as tarifas eram baratas, depois da venda das empresas estão entre as 10 mais caras do mundo”, relembra a economista Renata dos Santos. O sindicalista Marques de Almeida também destaca que além do aumento no preço das tarifas, após a privatização, ocorreu uma queda na qualidade dos serviços e a redução dos postos de trabalho. A drástica redução no número de trabalhadores é a explicação para a demora no reestabelecimento da energia nos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro durante o último apagão registrado no país. Segundo o sindicalista, essas subestações não possuem mais o turno de operadores da madrugada para interromper quedas de energia. Marques de Almeida também alerta para o risco de um novo apagão. “As linhas estão sobrecarregadas.” Outro risco imposto pelo governo tucano paulista e que vulnerabiliza ainda mais a sociedade é a privatização do setor de transmissão de energia. O modelo adotado até então excluía a transmissão de energia dessa venda. Agora as três pontas do negócio, geração, transmissão e distribuição, estão nas mãos do capital privado.

Infraestrutura O processo de privatização desenhado pelos

tucanos nos anos 90 transferiu sólidos patrimônios estatais para as mãos da iniciativa privada a preço de banana. A venda da Vale do Rio Doce ao lado da Telebrás são dois dos maiores escândalos praticados pelo governo Fernando Henrique Cardoso. Os recursos gerados pelo lucro dessas companhias, e que poderiam ser revertidos em benefício para a população, passaram a ser embolsado por seus novos donos. A Vale que já era uma gigante do setor, figura em segundo lugar do ranking de mineradoras no mundo. O lucro fácil atraiu o interesse do capital privado. A privatização da Telebrás, que penaliza até hoje a população, é criticada pelo professor da Unicamp Wilson Cano. “Esse pessoal (empresários) veio para cá para ganhar dinheiro. O minuto de conversa no celular parece que é o segundo mais caro do mundo. Vieram para cá para ganhar dinheiro, não vieram para cá para fazer investimentos, para dar telefone para pobre”, protesta. Apesar dos problemas gerados, o secretário-geral da Fittel (Federação Interestadual dos Trabalhadores em Telecomunicações), João de Moura Neto, não acredita que o governo Lula reestatize o setor. “Duvidamos que ele faça isso, apesar de todas as denúncias contra Daniel Dantas, Carlos Jereissati.” O sindicalista afirma que as empresas que oferecem os serviços de banda larga lesam o usuário. “Estão fraudando a qualidade. No contrato de concessão, a empresa é obrigada a fornecer apenas 10% da velocidade contratada”, denuncia. Ele acredita que o setor de telefonia deve passar por um processo de concentração acionária. “Em três, quatro anos devem ficar no Brasil umas três, no máximo quatro empresas.” A siderurgia é outro setor em que a concentração privada já está em marcha. A Gerdau é um dos grupos que se destaca nesse cenário. “No final da década de 80 praticamente todo o setor siderúrgico em nível mundial era estatal, com exceção de Estados Unidos e Japão”, conta a socióloga e técnica do Dieese Adriana Marcolino. Além da mudança na composição do capital acionário que está direcionando para a consolidação de grandes monopólios privados, a comercialização no mercado também se internacionaliza. “Hoje 40% do aço que é produzido é comercializado no mercado mundial.”

Agronegócio A agropecuária também se transformou em espaço de concentração e valorização do capital, segundo o dirigente nacional do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), Gilmar Mauro. “A lógica econômica é o lucro. Por isso, esses empresários não levam em consideração se estão utilizando agrotóxicos que fazem mal à saúde, se contaminam o lençol freático”, critica ao se referir aos capitalistas ligados ao agronegócio. A consolidação de gigantes a partir de fu-

sões e aquisições dentro do agronegócio tem sido uma constante. A Brasil Foods, denominação da antiga Perdigão que incorporou a Sadia no ano passado, vai se transformar em uma das maiores empresas de alimentos processados do mundo, segundo informações de seu sítio na internet. A gigante aguarda a decisão final do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), que deve sair ainda neste semestre, sobre a integração total entre as duas empresas. Em janeiro deste ano, o órgão já se posicionou favoravelmente à fusão das duas empresas para a aquisição de insumos e serviços no segmento de carnes in natura. A JBS é outra gigante que atua no setor de carnes. Além do Brasil, a empresa está presente na Argentina, Austrália e nos Estados Unidos. Os quatro países são os principais produtores de carne bovina do mundo. A empresa é dona de marcas como a Swift, Bordon, Anglo, Sola, no ramo de carnes industrializadas e da Friboi no de carnes in natura. A subordinação da pequena agricultura aos interesses do agronegócio tem sido uma constante no Brasil. O dirigente sem-terra destaca as empresas multinacionais Monsanto, Cargil, Bunge, Nestlé, Parmalat como exemplos dessa lógica capitalista que atua no país.

Bancos A lógica da concentração acionária do mundo do capital produtivo também está presente no setor financeiro. Dados do Sindicato dos Bancários de São Paulo apontam que em 15 anos, entre 1993 e 2008, 70 bancos deixaram de existir no país. Apesar de o número de contas corrente e poupança ter crescido 185,7% e 95,7% respectivamente, o percentual de funcionários nas agências foi reduzido em 29,9% no mesmo período. Enquanto a variação de contas correntes administradas pelos funcionários saltou 307,4% . “É lucro em cima de lucro”, critica Silvio Aragusuku, diretor do Sindicato dos Bancários de São Paulo e funcionário do Santander. A redução dos postos de trabalho no setor é uma realidade que Aragusuku conhece de perto. Na profissão há 32 anos, o ex-funcionário do Banespa viu o número de trabalhadores ser reduzido drasticamente no processo de privatização que vendeu o banco público para o grupo privado espanhol. “Essas fusões são um desastre para os trabalhadores. Reduzem postos de trabalho.” Ele conta que a pretensão dos administradores do banco é tornar o Santander o maior banco privado do país. Atualmente, o banco aparece em quarto lugar no ranking geral, atrás do Banco do Brasil, Itaú/Unibanco (que também passaram por um processo de fusão recentemente) e do Bradesco. Lúcia Rodrigues é jornalista. março 2010

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