Ed. 155 - Revista Caros Amigos

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Ivan Pinheiro (PCB)

Ivan Pinheiro (PCB) - Deveria estar em jogo um intenso debate sobre os grandes problemas nacionais, uma discussão ideológica, o confronto de projetos, a política externa brasileira, a integração da América Latina, a soberania nacional, a reestatização da Petrobras, a redução da jornada de trabalho, a reforma agrária e outros temas sobre o presente e o futuro do país. Infelizmente, as oligarquias e a mídia podem, com a força que têm, fazer desta eleição um par ou ímpar entre dois projetos de administração do capital, um capitaneado pelo PT e outro pelo PSDB. Há um risco de os candidatos desse campo, que disputam quem é mais eficiente para alavancar o capitalismo brasileiro, ficarem disputando qual mandato de oito anos (FHC ou Lula) apresentaram os melhores indicadores macroeconômicos.

Brizola Neto (PDT) - O que se joga nestas eleições é o direito que tem o Brasil – e o povo brasileiro – a ter um destino próprio. Vamos escolher se somos um país que, pelo seu tamanho, riqueza e capacidade, pode e deve participar da construção de uma nova ordem mundial ou se, simplesmente, seremos dóceis caudatários de uma inevitável transformação da velha ordem, que está visivelmente se desmanchando. O que está em jogo são inclusão e soberania, coisas que, em minha visão, não se separam. Não pode haver inclusão se não há mercado interno, salários ao menos decentes, boa educação, redução das desigualdades sociais e regionais, acesso pleno à informação e aos serviços públicos. Nada disso pode existir se não houver uma política de defesa do país, do aproveitamento interno de suas riquezas e dos frutos do seu trabalho, de um modelo de desenvolvimento que ao menos transite da natureza neocolonial que assumiu nas últimas décadas do século 20, para um projeto de autonomia, justiça e sustentabilidade.

Renato Rabelo (PC do B) - Para o PCdoB, estas eleições de 2010 têm uma importância estratégica especial. Até agora, o partido seguiu a diretriz de im-

Brizola Neto (PDT)

pulsionar o governo a efetivar a transição do domínio neoliberal para um projeto nacional progressista, defendendo-o, ao mesmo tempo, das investidas desestabilizadoras da oposição neoliberal e pró-imperialista. Dessa maneira, o PCdoB pôde guardarse de acompanhar o “cordão dos desiludidos”, que acabou sem alternativa política e tacitamente reforçando o campo oposicionista de direita. Hoje, quem não compreender que estamos diante de uma disjuntiva política central – prosseguir a “Era Lula” desenvolvendo-a, ou truncá-la com a volta da dupla demo-tucano de matriz neoliberal e alinhada ao imperialismo – ficará refém dos discursos contritos, de boas intenções, mas não contribuindo em nada para a efetiva transformação do país.

O que pode mudar no cenário político do país? José Eduardo Dutra (PT) - O cenário político nacional, hoje, está bem definido em torno de dois grandes grupos. Um, a coalizão de governo encabeçada pelo PT e coordenada pelo presidente Lula, numa aliança de centro-esquerda que envolve parceiros históricos (PCdoB, PSB, PDT) e partidos que se somaram ao projeto e garantem a necessária governabilidade, com destaque para o PMDB. Do outro lado, está a oposição representada por PSDB, DEM, PPS e seus aliados na grande imprensa. Não há indícios de que esse cenário sofrerá grandes alterações até outubro. O resultado das eleições pode mexer as peças pra lá ou pra cá, mas acredito que qualquer mudança de fundo só acontecerá se conseguirmos fazer a reforma política, instituindo o financiamento público de campanhas eleitorais e o voto em lista fechada para os parlamentos. Ivan Valente (Psol) - A persistir esse cenário, não haverá grandes mudanças. As eleições no Chile são um parâmetro interessante. O primeiro compromisso assumido pelo presidente eleito, que representa lá o espectro mais à direita da sociedade, foi se com-

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Renato Rabelo (PC do B)

prometer a dar continuidade à política econômica do governo de centro-esquerda de Michelle Bachelet.

Luiza Erundina (PSB) - Há temas estruturais estratégicos que precisam ser contemplados nos programas, e não basta ter nomes, sinalizar que fulano e beltrano são candidatos dessa ou daquela força política. É preciso que antes mesmo que se definam tais nomes, se apontem saídas e soluções e caminhos não só para atenuar esses problemas, mas para enfrentar o desenvolvimento e soberania do país. A democracia participativa tem que ser viabilizada através de uma reforma política que regulamente os dispositivos da Constituição de 1988. José Maria de Almeida (PSTU) - Depende da evolução da situação política neste próximo período, não apenas das eleições. Mudanças que possam implicar em melhoria significativa e sustentada para os trabalhadores dependerão fundamentalmente do crescimento da resistência e da mobilização das massas, seja para enfrentar os efeitos da crise econômica que segue em curso, seja para defender melhorias em suas condições de vida. O debate eleitoral para a esquerda socialista, portanto, para além da apresentação de candidaturas e programas, deverá estar centrado no esforço para fortalecer a luta direta e a organização dos trabalhadores. Ivan Pinheiro (PCB) - Se o debate for centrado na administração do capital, vai mudar muito pouco. Podem mudar os comandantes da máquina pública, do balcão de empregos e interesses. No mundo todo, a burguesia força a barra para estabelecer um bipartidarismo no campo da ordem, para afastar o risco de uma alternativa de esquerda. O que pode determinar mudanças no Brasil são fatores externos, como os desdobramentos da crise do capitalismo, a tendência do imperialismo a potencializar sua agressividade e outros fatores. As mudanças serão pequenas até porque Lula, na questão principal (a política econômica) manteve a orientação do governo FHC. fevereiro 2010

caros amigos

fotos: Ivan Pinheiro: Arquivo PCB/Renato Rabelo: Maurício Moraes./Ivan Valente: Vera Jursys/Luiza Erundina: Arquivo Pessoal/José Eduardo Dutra: Paulino Menezes/PT-DN/ ZE MARIA: KIT GAION/brizola neto: flavio melgarejo

José Maria de Almeida (PSTU)

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