Perdendo-me Cora Carmack

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— Então... você não está. Ele permaneceu imóvel por mais um segundo, e então se virou abruptamente para o lado, dando vários passos para longe de mim, e depois ele voltou. Seus dedos puxavam seus cabelos em frustração, e tudo em que eu conseguia pensar era nos meus próprios dedos nos cabelos dele, e no quão macios eles eram. — Eu pensei... — ele começou a dizer. — Bem, eu não estava pensando muito de jeito nenhum, mas não parece que você é aluna de faculdade. Eu disse que fiz faculdade aqui e que havia acabado de me mudar de volta para cá e você disse “eu também”, então eu presumi que você tinha feito a mesma coisa que eu. Continuei tendo essa necessidade irracional de piscar. Eu não estava chorando nem nada, mas simplesmente não conseguia parar. Eu disse: — Morei no Texas quando era bem novinha. Foi isso que eu quis dizer, que eu me mudei para cá para fazer faculdade. Ele assentiu uma vez, e depois continuou assentindo. Então ele assentia e eu piscava e nenhum de nós dois dizia o que realmente precisava ser dito. E, visto que eu não suportava silêncio, fui a primeira a quebrá-lo: — Eu não vou contar a ninguém. Ele ergueu as sobrancelhas, mas eu não sabia dizer se era porque ele estava surpreso ou se estava me julgando ou se não passava de um tique facial. — Quero dizer... não que haja alguma coisa... não que nós... quero dizer, na verdade, nós não... hum, formamos a besta de duas costas e coisa e tal.[2] AH. MEU. DEUS.

PODEMEMATARAGORAMEMATAAGORAMEMATAAGORAMEMATAAGORAMEMATAAGOO A besta de duas costas? Sério? Eu tenho vinte e dois anos de idade e, em vez de simplesmente cuspir a palavra sexo, eu usei uma referência de Shakespeare! Uma referência de Shakespeare realmente embaraçosa. E ele estava sorrindo! E o sorriso dele provocava coisas engraçadas em minhas entranhas, e que me levava a pensar na noite passada, o que era definitivamente algo no qual eu não precisaria pensar agorinha mesmo. Nada de bestas. Nada de costas. Nada de noite passada. Desviei o olhar, tentando manter a compostura. Inspirei fundo, e disse com o máximo de calma que consegui: — Isso é algo para o qual não temos que dar muita importância. Ele demorou um tempinho para responder, e eu fiquei me perguntando se ele esperava que eu olhasse para ele. Se fosse isso, ele teria de esperar um bom tempo. — Você está certa. Nós dois somos adultos. Podemos simplesmente esquecer o que aconteceu. De maneira alguma eu podia esquecer o que havia acontecido. Mas eu podia tentar. Eu podia fingir.


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