Abandono Meg Cabot

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Não dá para ver nada na fita por uns segundos. A tela fica preta. Só dá para ouvir os sons. Uma briga, um som de algo sendo esmagado, um som abafado de conversa. Um segundo depois, a sombra desaparece. No filme, eu permaneço no mesmo lugar, debruçada sobre a mesa. Só que o Sr. Mueller, em vez de na minha frente com a mão estendida, aparece encolhido ao lado do quadro, segurando o braço contra o peito. E berrando. Todos os ossos de sua mão foram quebrados. Especialmente os do dedo que usou para pegar o pedaço de biscoito que caiu no meu joelho. Esses ossos, em particular, foram pulverizados. A polícia de Westport diz que “é difícil... mas não impossível” que uma menina tão pequena quanto eu tenha causado tanto estrago em um adulto. Infelizmente, o segurança da escola, Sr. Marzjak, jura que não viu mais ninguém entrando na sala até a chegada dos médicos que ele mesmo chamou depois de entrar e ver o professor berrando de tanta dor. O Sr. Marzjak ouviu os berros. Estava varrendo o corredor. Na verdade, foi por causa dele que o Sr. Mueller tentou cobrir a minha boca logo, com medo de eu gritar e chamar a atenção do segurança. A polícia não acreditou quando o Sr. Mueller disse que eu o agredira — foi isso que alegou, de “maneira muito agitada”, segundo descreveu o laudo. Tanto não acreditou que procurou por “terceiros” na escola inteira, até mesmo antes de encontrar a câmera digital gravando na minha mochila e de assistir ao vídeo. No entanto, ninguém foi encontrado. Devido à tempestade, qualquer pessoa que tivesse pulado da sala do Sr. Mueller para o primeiro andar teria deixado marcas. Todavia, a lama embaixo da janela estava intacta. É claro que não acharam evidências físicas. Por que John usaria janelas e portas como uma pessoa normal? Por que diria oi? Ele simplesmente aparecia. Puf. Entrar. Esmagar. Sair. E nem se dera ao trabalho de dizer tchau. Se bem que parara para me dar uma olhada bem séria com aqueles olhos prateados antes de desaparecer. — Espera — foi o que disse a ele quando apareceu no meio do nada, deu um passo, pegou a mão do Sr. Mueller e a torceu com tanta força que o treinador de basquete caiu de joelhos na minha frente. Havia luz suficiente para que eu pudesse ver o rosto do Sr. Mueller ficando branco. Eu acharia que ele tinha desmaiado se não tivesse soltado o berro assustador que soltou. Foi a força de John, suspendendo o professor no ar, que o impediu de cair no chão.


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