tosca #0

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a banda que surgiu do nada


homemade zines

acne solution

@acnepress


Idealizada em Florianópolis (2019) e em parceria com a Acne press, a

tosca zine é sua mais nova fonte de cultura local. Estamos aqui para espalhar - forma gratuíta - todo tipo de produção cultural de Floripa. Começamos com o pé direito nessa edição piloto (#0), com temas de produção musical em home studio, gastronomia vegana, marcas independentes e a primeira entrevista da banda que pareceu surgir do nada e está agitando os rolês do underground da ilha.

Esta edição (#0) foi desenvolvida e projetada para a defesa de projeto de TIC da Universidade do Vale do Itajaí e, se tudo der certo, será tocada a diante com novas edições para serem impressas e distribuídas, e com conteúdos exclusivos no site e canal do Youtube. A ideia da tosca é ser distribuída de forma gratuita e financiada com ajuda de anuncios patrocinados na zine (como simulados aqui nesta edição por algumas produtoras e casas de show de Florianópolis) e outras formas de arrecadação para os custos de impressão. Espero entregar à vocês novas edições mais elaboradas (ajuda eu, jornalistas, não sei escrever kkk) e com pautas fodas em um futuro próximo. Até lá: Boa leitura!


Elga Bottini - produzindo trilhas em um hom

bate papo com W

Exclusive os Cabides - a banda que pareceu su


me studio

Wordly co.

urgir do nada

veganismo acessĂ­vel - Cantina do Duds


PRODUZINDO TRILHAS EM CASA


Quem estĂĄ por trĂĄs das trilhas sonoras que escutamos em propagandas, games e filmes? Elga Bottini conta como ĂŠ a rotina de trabalhar em um homestudio

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Elga Bottini 30 anos

nascida em lages e atualmente morando em floripa, estudou cinema na unisul/anhembi murumbi.


[tosca] - como você começou a produzir música? [Elga] - Eu lembro que o meu primeiro contato com uma gravação foi quando eu comprei um gravador de fita k7. Gravava na fita, soltava o playback no aparelho de som e me gravava numa segunda fita no mesmo gravador. Era bem rudimentar, mas eu lembro que pude explorar muito o lance da criatividade e das possibilidades de fazer um overdub (óbvio que eu não fazia ideia do termo na época). Eu não pensava em ser produtora musical, na minha cabeça eu só precisava registrar as minhas músicas pra ouvir depois. Passado um tempo , quando eu já tinha um pc pra chamar de meu, fui pesquisando o que as pessoas usavam e tal, o que eu precisaria ter de equipamento e programas pra gravar do jeito “profissional”. Eu fui sacando por conta através de vídeos e blogs. Em 2008 não existiam tantos cursos e tutoriais como agora em 2019. Lembro de não entender muito bem a real necessidade de uma interface de áudio. Cada vendedor me falava uma coisa, acho que até pra eles não tava muito claro. Foi realmente uma saga até eu ter meu primeiro setup. Fiz dois cursos. Um de produção musical na AIMEC em Camboriú e outro técnico no IAV, quando eu já morava em São Paulo. Até aí eu ainda era bem amadora, não sacava o que faltava no meu trabalho em relação as músicas que tocavam na rádio, por exemplo. Comecei a estagiar numa produtora de áudio sendo assisten-

te de um produtor e depois de lá fui pra outros estúdios. Foi observando o trabalho de vários produtores que fui criando meu próprio senso crítico e flow de trabalho. Mas é um processo eterno, né. É bom olhar pra trás e ver que você era ruim, quer dizer que você evoluiu daquilo pra algo melhor. [tosca] - quais instrumentos você toca e quais você sempre quis aprender? [Elga] - Toco violão, guitarra, baixo, cavaco, ukulele e teclas. Quero muito aprender bateria. Ter uma em casa sempre foi um sonho. [tosca] - quais as grandes dificuldades e as vantagens de trabalhar em casa/homestudio? [Elga] - A vantagem é que você fica muito mais a vontade pra criar. Você pode se isolar e fazer tudo do seu jeito. A desvantagem às vezes poder ser a acústica que não é tão boa quanto a de um estúdio projetado. [tosca] - pra você, qual é o elemento fundamental que nunca pode faltar em uma produção? [Elga] - Good vibes.


você produz para pessoas/ empresas de outros estados?

[tosca] - qual é a melhor e a pior parte do processo de produção? [Elga] - Se tiver prazo, a pressão psicológica é uma grande barreira. A melhor parte pra mim é ir aos poucos se dando conta do que você tá criando, como se a música fosse lentamente se revelando pra você. Você começa com um loop de batera e de repente você tá viajando por alguma década, explorando os artifícios de uma certa estética. Ou então, um take gravado com algum tipo de acidente, um barulho externo ou “erro de execução”. Às vezes com o delay certo, aquilo vira um efeito super legal e que ninguém nunca fez. [tosca] - qual software de edição você usa? aponte algumas qualidades que se sobressaem dos demais daws [Elga] - O DAW que mais uso é o Pro Tools. No momento me organizo muito melhor nele do que nos outros programas. Claro que cada desenvolvedor tem seus pontos fortes e fracos. O ponto fraco do Pro Tools por exemplo, são os instrumentos virtuais nativos. Por isso muitos produtores musicais são bem gamados no Logic e no Live, que programas mais voltados pra composição e inspiração do artista. O Pro Tools acaba sendo mais voltado pra edição, organização e finalização dos projetos. [tosca] - como está o mercado de produção em Florianópolis? você 10

[Elga] - Fazem quase dois anos que resolvi expandir meus negócios em Florianópolis e confesso que fiquei bastante desanimada. As pessoas não costumam investir muita grana nessa área, usam muita música Creative Commons ou bancos de trilha. É complicado competir em valores quando a sua trilha é feita sob medida pra um produto específico. Uma trilha exclusiva vale muito mais que uma trilha de banco porque você vende ela apenas uma vez. Já as trilhas de banco ou Creative Commons, qualquer pessoa pode ir lá e usar a mesma música pra outro projeto. O mercado daqui em relação a essa questão, não parece dar muita importância. Curiosamente, mesmo morando aqui, a maioria dos meus clientes são de grandes capitais como São Paulo e Rio. Geralmente sou terceirizada por uma produtora de áudio, uma vez que agências grandes não costumam trabalhar diretamente com freelancers. Não é uma regra, mas sinto que as empresas (inclusive as que se dizem fora da caixa) por enquanto, preferem lidar com empresas com local físico, funcionários e toda aquela estirpe que o meio dos negócios preserva até agora. Eu acho muito que isso vai mudar com o tempo. As pessoas tão cada vez


mais se ligando que não é sobre as empresas e sim os talentos. Tem muitos produtores musicais dentro de estúdios/produtoras de áudio, fazendo coisas incríveis e quem assina o projeto no final é a empresa, sabe? Por esse certo descontentamento com o mercado corporativo que venho buscando me envolver com o que a música pode proporcionar além disso. Ao sair do armário como artista e me inserir no circuito, tenho a possibilidade de viver de dentro pra fora a saga que é fazer música autoral no Brasil, um ato de resistência com certeza, já que o mais confortável sempre vai ser trabalhar em prol de marcas e empresas. [tosca] - qual tipo de job mais surge e qual você mais gosta de fazer? [Elga] - O que mais surge são trilhas pra comerciais de 30s e 60s. É o miojo da parada. Nos últimos tempos, tenho curtido bastante fazer trilha pra séries em animação.

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“Fui observando o trabalho de vários produtores e fui criando meu próprio senso crítico e flow de trbalho. Mas é um processo eterno, né. É bom olhar pra trás e ver que você evoluiu daquilo pra algo melhor.”


[tosca] - quais são suas maiores referências musicais? (artista, gênero musical, etc.) [Elga] - Não tenho uma referências fixas, mas posso admitir uma queda pelos anos 70 e 80. Sons mais mofados com notas de Sessão da Tarde. Músicos que tem me inspirado muito ultimamente e que parecem compartilhar desse mesmo apreço por coisas dessas décadas são: Laura Groves, Bat for Lashes, Robyn, Margo Guryan, Unknown Mortal Orchestra e o Joe Hisaishi. [tosca] - como é lidar com grandes empresas? já rolou de ter que entregar algo que você não ficou nem um pouco satisfeita? [Elga] - Já. Eu tento lidar com isso a cada entrega, por que você nunca pode fazer 100% do seu jeito. Por questões como prazo e gosto do cliente mesmo. Fazer música por grana, muitas vezes é entrar no personagem e desencanar e isso não precisa necessariamente ser algo ruim. [tosca] - como é conciliar os jobs de publicidade com seus outros projetos paralelos? [Elga] - Estou começando a fazer isso agora, na verdade. Aprendendo a dizer vários nãos e principalmente a negociar prazo, além de ser uma pessoa mais organizada, very much importante isso.

[tosca] - o que você faz nos dias que a inspiração simplesmente não vem e o deadline tá chegando? [Elga] - Eu penso “não vai sair o Grammy Latino em duas horas, Elga, aceita”. E pior que geralmente quando eu ligo esse modo saem coisas muito legais, acho que porque eu me permito não ser perfeita num gap específico de tempo. [tosca] - qual a história mais bizarra que você passou com algum cliente? [Elga] - Às vezes rola do cliente querer acompanhar a produção. Mas isso era mais quando eu trampava dentro de produtora. Já aconteceu de eu ter que fazer uma trilha do zero em poucas horas pois a veiculação seria no mesmo dia. Com cliente até que na medida do possível foram experiências de muito respeito. Agora com coleguinhas da produtora, já não posso dizer o mesmo. Existe muita gente temperamental que acha que cara feia ou grosseria resolvem o problema. Pelo contrário, só estraga a vibe e deixa o outro funcionário mais atordoado ainda em executar o trabalho. Já passei por isso e vi outras pessoas passando. Esse fator foi bem decisivo pra eu começar a freelar de casa.

texto e fotos por Carolina Werutsky

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[tosca] - dicas para quem está afim de começar a produzir em casa - quais equipas são legais e com preço bom, qual daw é legal para aprender, como conseguir contatos e parcerias, um site com conteúdo legal para acompanhar, redes sociais para se inspirar, etc. [Elga] - Sou suspeita pra falar de DAW porque sou time Pro Tools. Acho que pra quem tá começando a compor e produzir músicas, talvez o Logic seja mais atrativo, além de ser mais barato. Se você for produzir música eletrônica, o mais importante ta dentro do computador. Dependendo do som que você faz, tem coisa que você nem precisa ter. Compre equipamento usado, vale muito a pena. É bem comum o pessoa ficar trocando de equipamento, então arrisca num par de monitores usado, testa por um tempo, depois troca por outro se achar que não é o ideal ou até tenha mais de um par se puder. Quanto mais você sacar como o seu som se comporta em diferente devices, melhor é. Se puder pegar emprestado de alguém antes de comprar, é o ideal. Eu ando numa pegada de deixar meu estúdio móvel, então o mais importante é o meu computador ser legal e ter nele bons plugins e boas bibliotecas de samples. Eu indico a assinatura desses Splices da vida. Facilitam muito, principalmente quando você não tá fazendo projeto que é job e a verba é curta. Seja uma pessoa fucenta, porque no áudio e na musica em geral, o que é bom e o que é certo é algo muito subjetivo. Tem vários canais com séries incríveis sobre produção musical como o canal do YouTube como Reverb, Vox e Genius. Eu adoro quando eles dissecam a sessão de algum hit.

@elgaflanger


@WERULAB



um bate papo com os criadores da marca de roupa independente wordly co. [tosca] - como surgiu a wordly? [wordly] - Em 2016 eu (Antônio) João e Kelmer começamos a pintar camisetas já com o nome wordly com a ideia de ter camisetas com nossos próprios desenhos, depois do segundo modelo o Dido pilhou em entrar nessa também, foram feitas 3 camisetas pintadas até ter a primeira com o bordado wordly no meio do peito que temos até hoje, a primeira camiseta com o bordado foi feita a mão pela irmã do João, a Vica, achamos que ficou uma boa, aí fizemos mais 3 modelos, preta branca e rosa, na época já tínhamos o insta da wordly, quando postamos fotos das camisetas no insta nossos amigos já mostraram interesse, com isso a coisa foi tomando outro rumo, começamos a fazer as camisetas com o intuito de venda e começamos a vender pra pessoas que nem conhecíamos, aí o negócio ficou legal. O nome wordly era para na verdade ser worldly (mundano) mas o João escreveu errado nas primeiras camisetas, daí deixamos assim mesmo, pelo menos ficou mais original. 17

[tosca] - se cada membro da wordly fosse um animal, qual animal vocês seriam e por quê [wordly] - João - lontra, porque são fofinhas. Antônio - lontra que nem meu primo chiclete, fui pesquisar vídeos de lontras e agora quero ser uma também. Kelmer - cágado, ele vive 150 anos e eu queria ver o mundo virar pra melhor. Dido - uma pantera, eu gosto de gatos e uma pantera é um gato gigante.


[tosca] - como é o processo de criação das peças? desde a ideia inicial até a execução dos produtos [wordly] - Nós pensamos em uma temática e é um rolê bem aberto, tanto que a maioria das camisetas foram parcerias como por exemplo a camiseta da “juma” com a Vica, “dinopenis” com a Laura e a “lovelost” com o wazedu, entretanto eu (João) e Antônio desenhamos bastante conteúdo pra marca e a estampa da próxima coleção vai ser uma ilustração dele. [tosca] - quais são as maiores dificuldades que a wordly enfrenta? [wordly] - Ter a grana necessária para investimento. [tosca] - qual a melhor e a pior parte de ter uma marca de roupas? [wordly] - A melhor é ver pessoas usando seus produtos e além disso fazer novos amigos, participar de eventos e ver o produto feito em suas mãos sendo que meses antes era só uma ideia. A pior parte é lidar com as partes burocráticas / cnpj/ registrar o nome e essas coisas e depender de ter a grana para lançar uma coleção como queríamos exatamente [tosca] - quais as principais referências de vocês? (marca, artista, etc.)

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[wordly] - Krooked / Mark Gonzales, Daniel Johnston, Jumbo Press (Artistas que lançam com eles) e até a forma como eles divulgam seu próprio trabalho. [tosca] - de que forma a música, o audiovisual e a cultura do skate contribuem para identidade da marca? qual a importância dessas relações? - não só para a wordly, mas num parâmetro geral [wordly] - Acho que já de cara podemos falar que o skate querendo ou não nos influenciou/influencia muito na nossa forma de se vestir. O skate foi o primeiro conteúdo que começamos a realmente consumir na internet, eu e o João somos primos, sempre tivemos projetos juntos desde pequenos, na época que começamos a andar de skate fizemos um canal no YouTube com amigos, se chamava delta skate, lá postamos muitos vídeos, não tudo sobre skate mas em sua grande maioria sim, se vc for no YouTube e procurar por delta skate, vc vai encontrar vários deles, ou só escrever wordly e ir nos vídeos já que o canal da delta hoje em dia é o da wordly, enfim, desde mais novos já criávamos conteúdo e tudo que passamos nessa época. [tosca] - de que forma a música, o audiovisual e a cultura do skate contribuem para identidade da marca? qual a importância dessas relações? - não só para a wordly, mas num parâmetro geral


[wordly] - De cara podemos falar que o skate querendo ou não nos influenciou/influencia muito na nossa forma de se vestir. O skate foi o primeiro conteúdo que começamos a realmente consumir na internet, eu e o João somos primos, sempre tivemos projetos juntos desde pequenos, na época que começamos a andar de skate fizemos um canal no YouTube com amigos, se chamava delta skate, lá postamos muitos vídeos, não tudo sobre skate mas em sua grande maioria sim, se vc for no YouTube e procurar por delta skate, vc vai encontrar vários deles, ou só escrever wordly e ir nos vídeos já que o canal da delta hoje em dia é o da wordly, enfim, desde mais novos já criávamos conteúdo e tudo que passamos nessa época reflete no nosso trabalho atual. A menos de um ano formamos uma banda, exclusive os cabides, onde fazemos nossas músicas autorais, acho q dando uma olhada no som da p sacar um pouco do nosso jeito. Tudo isso que fazemos reflete de alguma forma na wordly, tanto em uma trilha sonora para algum vídeo ou talvez em alguma ideia de foto/coleção não sei. E 19

a importância de todas essas relações seria a ideia da wordly mesmo, no caso não seria ser uma marca, mas sim um grande rolezão que englobe tudo que gostamos de fazer, queremos que pessoas que se identificam com nossas coisas se juntem a nós para consolidar cada vez mais essa “cena”. O audiovisual, já incluindo o skate, influencia diretamente na forma em que as peças da wordly são pensadas, porque é o tipo de conteúdo (como música, filmes, videos de determinadas marcas e pessoas) que todos os integrantes consomem e direcionam sua atenção. A partir do que é consumido retiramos estilos e alguns conceitos que consideramos relacionados com a identidade da marca ou bons para estarem presentes na wordly, e que todos usariam e se sentiriam bem com aquilo. Uma forma de se perceber que as mídias consumidas pelos integrantes influenciam diretamente na marca é notar que nos arquivos salvos para referência estão presentes pessoas que geram conteúdos em que nós nos identificamos e consumimos no dia a dia.


[tosca] - qual a opinião de vocês sobre o mercado atual de marcas de street wear no brasil e no mundo? [wordly] - sobre o street wear, o que anda na moda é o role do hype e acho que tem muita gente que perde a autenticidade imitando marca gringa, nao que eu não curta o hype, tem muita peça que acho legal, mas o problema é quando a pessoa passa a fazer o negócio sugado e perde a própria identidade, e também de qualquer forma não considero a wordly uma marca de streetwear, e sim uma marca independente que incorpora diferentes estilos e diversos lugares oq nos faz ser do nosso jeitinho [tosca] - de que forma a wordly pretende crescer ainda mais? 20

com site, loja física, outros tipos de produtos... quais são os planos para o futuro? [wordly] - nossa ideia para crescer tá bem voltada com a ideia de consolidar mais essa ideia de a wordly ser um role envolvendo tudo que gostamos, queremos abrir portas para outros artistas, dar o espaço, estamos sempre participando dos eventos que tão rolando por floripa, é nesses rolês que conhecemos novas pessoas e acrescentamos mais no nosso trabalho. O site com certeza vai aparecer ai em 2020, sobre a loja física, acho que só se tudo der MUITO CERTO, mas digamos que a gente consiga, um espaço com nossas peças disponíveis, espaço para bandas ensaiarem e gravarem seus projetos, um grande coletivo de arte, seria lindo


texto por Carolina Werutsky fotos por Wordly co.

“BOTEM EM PRÁTICA SUAS IDEIAS, saibam trabalhar em grupo, participem/ organizem feiras e apoie seu amigo artista que produz e ama o que faz” @wordly.co




Tanta coisa na cabeรงa, tanta coisa para dizer

De como Exclusive os Cabides pareceu surgir do nada em 2019 24


Domingo de nublado a chuvoso,

início de outubro, Beira-mar Norte, Florianópolis. Num dos palcos perto do trapiche, uma das primeiras bandas da tarde/noite se apresenta. Ali por perto estão os primos-chiclete (a definição é deles) João e Antônio, que juntos compõem o rosto mais conhecido da banda Exclusive os Cabides. Antônio logo avisa: “Já tô sabendo que o João passou o nome de todo mundo e me colocou como Toni Lou, mas colocou o dele como João mesmo. É Johnny Boo, a gente tem isso combinado”.

Johnny Boo, aparentemente a contragosto, admite: “É isso mesmo. Fiquei meio com vergonha disso aí, mas é verdade”. Exclusive e os Cabides, por sua vez, é provavelmente a banda mais legal surgida em Florianópolis em 2019 (fonte: cabeça do autor). É tipo um punk rock no sentido K Records, umas coisinhas de psicodelia, pop naïf, lo-fi e mais um monte de adjetivos desse tipo que provavelmente os integrantes vão odiar, mas paciência. Na verdade, são canções simples e diretas, mas dando umas voltas, com 25

estrofe e refrão e letras repletas de animais e de gente intrigados com o mundo. Se quiser spoiler desse texto, pode colocar Oasis e Daniel Johnston. No primeiro show, em janeiro de 2019, eram Johnny (tá, João) cantando e tocando guitarra e Gabriel Mafra na bateria. Em outubro, enquanto gravam sua estreia fonográfica, um EP de amor, são João Paulo Pretto na guitarra e voz, Antônio dos Anjos na percussão e voz, Kelmer Cunha no baixo, Eduardo Possa, o Duds, nos solos de guitarra e Ana Nasario na bateria; têm de quase vinte a vinte e poucoas anos. Mafra deixou o grupo para se dedicar ao trabalho de fazer vídeos. “Já teve gente que chegou pra nós com esse papo de que a banda é uma merda porque todo mundo toca mal, claro. Inclusive quem falou isso tava depois, no final do show, todo suado cantando Gato Preto abraçado com os amigos”, lembra João. Curiosamente, Gato Preto é a música que a banda evita tocar ao vivo; justamente por achar que não a toca direito, já que nunca a ensaiou. Ainda assim, é uma das mais pedidas em show. “Foi a primeira música que a gente postou, a banda ainda estava começando. E aí ficou aquela coisa, os amigos já sabiam que a gente estava fazendo banda, então foi todo mundo olhar o vídeo”, explica Antônio.


DE COBERTOR A PAÇOCA João começou a compor em 2015. Decidiu que estava pronto a botar as canções na rua quando começou a escrevê-las em português. O debate, por assim dizer, é antigo, mas ele é enfático. “Acho cantar em inglês muito nada a ver. A gente fica nessa de que não consegue fazer em português porque é a língua que a gente fala, então tem tanta coisa na cabeça, tanta palavra, tanta coisa para dizer que não sabe o que colocar ali. Em inglês é mais fácil, já que a gente não sabe nada”. Foi assim, armado com as composições no idioma, que ele partiu para aquele tal show de janeiro, que seria solo. Também foi aí que surgiu o nome.

“Nosso avô tinha uma loja daquelas que vende de tudo, de cobertor a paçoca. Aí um dia abriram um buraco na parede, entraram lá e levaram tudo, mas tudo mesmo. Fizeram matéria na TV, ele apareceu dando entrevista, foi falar de um jeito para ficar mais bonito e acabou saindo que roubaram tudo, ‘exclusive os cabides’. Isso virou piada na família”, conta Antônio. Anos depois, quando 26

foi criar conta no Instagram, João fez disso sua arroba. E tratou de utilizá-lo na hora de fazer o primeiro show. Quando o negócio começou a ficar mais sério, ou seja, com a chegada de Kelmer e Antônio, já tinham o nome e assim ficou. Como primeira medida de gerenciamento de redes sociais, @exclusiveoscabides ficou sendo a conta instagram da banda e João criou outra para si. Além do tal vídeo de Gato Preto, há uma gravação solo de João sozinho cantando e tocando Dois Amigos, ambas no canal homemusic, do Duds. Ali dá para ver bem a gênese da banda. E depois, já com a penúltima formação (João, Antônio, Kelmer e Mafra), estrearam em julho as sessões Ouié ao Vivo, promovidas pelo estúdio Ouié, na Armação, que depois já colocou no ar gravações semelhantes com Stoya, Ghost Bitch e La Leuca.


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ARTES GRÁFICAS, DANIEL JOHNSTON E OASIS “O rosto mais conhecido” da banda, lá no primeiro parágrafo, significa ser a dupla mais facilmente encontrável para quem frequenta a noite da cidade, shows de rock e afins. Antônio evita o quanto pode usar a palavra CENA. “Não sei se tem isso, acho que não. As pessoas vão para o mesmo lugar, tem os shows, mas não é todo mundo que está lá pela música ou com esse espírito”. De qualquer maneira, estão sempre pelos bares do centro. “Taliesyn é bom demais, dá para fazer qualquer coisa que a gente queira. A gente chega com as placas, as artes... às vezes acaba esquecendo lá depois, mas tudo bem. Foi assim que perdemos o potinho de bolha de sabão personalizado da banda”, observa João.


Ele e Antônio têm uma marca de camisetas, a Wordly, e costumam criar adereços particulares. Fora o potinho de bolha de sabão desaparecido, um dos itens que pode virar objeto caríssimo de colecionador são os pregadores de roupa com o nome da banda em pirografia. O canal da Wordly (procurem por wordly co) no Youtube, aliás, funciona bem como apresentação para o nicho psíquico-estético da banda: tem gravações demo (inclusive uma em inglês, arrá!), tem demonstrações do processo de criação das camisetas, tem os primos-chiclete fazendo estrepolias diante das câmeras (talvez seja só uma câmera, na verdade), tem todo mundo feliz cantando Oasis. A dedicação às artes visuais intensifica os laços da banda com uma cena de artistas, criadores e designers locais, que constantemente promove feiras e eventos de fanzines, pôsteres, prints, adesivos e outros mais. Também evidencia a influência de Daniel Johnston. “É uma referência forte mesmo. No jeito de encarar a música, nas nossas artes, tudo”, explica João. Aliás, uma cena pra lá de bonita em show da Exclusive e os Cabides foi a ocasião no Taliesyn em que o repertório tinha acabado, o público ainda pedia bis, o vocalista decidiu por uma música sozinho, um cover. “Alguém aí gosta de Daniel Johnston?”, perguntou, antes de tocar Some Things Last a Long Time. Se as coisas que duram um tempão incluem a banda, claro, é difícil de dizer. A única certeza, garante Antõnio, é o futuro: “Kelmer vai ficar rico, 29

não sei bem fazendo o quê, o Duds vai ter uma ecovila, João vai enlouquecer e morrer. E eu vou ter uma crise por causa da morte do meu primo e ficar vendendo os LPs do meu pai.” Na noite de Halloween deste ano, a Exclusive lançou um EP de 8 faixas em parceria com Kevin McCray e com estética sonora 300% low-fi, pura e sincera. O trabalho intitulado “Para Endoidar o Cabeção” está disponível no canal da wordly.co no Youtube. Siga @exclusiveoscabides no instagram para ficar por dentro dos lançamentos e datas de show da sua nova banda favorita.

texto por Fábio Bianchini fotos por Carolina Werutsky




COMIDA VEGANA ACESSÍVEL

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Em menos de 2 anos, a Cantina do Duds espalha amor e saĂşde atravĂŠs de marmitas veganas e conteĂşdo de qualidade nas redes sociais para mais de 3 mil followers


DUDS

LULU

Eduardo, 24 anos. “Nasci em Passo Fundo, cursei economia em Porto Alegre mas desisti. Vim pra floripa pra tocar em uma banda, acabei gostando e fiquei.”

Luana, 24 anos. “Sou de Jaraguá do Sul, me mudei pra Floripa em 2015 porque meus amigos moravam aqui. Fiz design na faculdade, mas larguei. Hoje faço mil coisas.”

Com um cardápio variádo e cheio de sabor, a Cantina do Duds fabrica suas marmitas congeladas semanalmente. Os pedidos são feitos pelo instagram e a entrega de bicicleta atende diversos bairros da grande Florianópolis.

[tosca] - De que forma o veganismo entrou na vida de vocês e como foi essa mudança de estilo de vida? não apenas na alimentação, mas na forma que consumir outros produtos também. [Duds] - A ideia do veganismo entrou na minha vida quando eu tinha 17 anos e assisti a um documentário chamado terráqueos. Pela falta de informação e por morar no interior (pressão social) comecei sendo vegetariano, mas sabendo das minhas contradições. Em 2017 comecei a “transição” real para o veganismo. De lá pra cá tudo mudou, e ao mesmo tempo pouca coisa mudou. Minha relação com a natureza mudou bastante, minha relação com os animais também, mudou principalmente como eu me vejo e me coloco no mundo. Mas na vida objetiva pouca coisa mudou, nossa dieta já era bastante diversificada e a base de plantas. O feijão, arroz, abóbora, couve, mandioca e banana ficaram no prato. O Ovo foi embora. Produtos do dia a dia também foram muito fáceis de serem substituídos ou simplesmente eliminados da nossa vida, como shampoo. A internet ajudou bastante a achar receitas caseiras ou produtos veganos de marcas populares. 34


[Luana] - Virei vegetariana em 2016 porque eu achava legal e mais tarde pelos impactos ambientais causados pelo consumo de carne, mas antes disso eu já cheguei a dizer que jamais conseguiria viver sem bacon. Morar com pessoas vegetarianas me ajudou bastante a ter referências, mas no início eu tinha uma alimentação bem ruim porque eu só exclui alimentos, não diversifiquei o prato. Ainda em 2016, um amigo me mostrou um vídeo chamado 100 razões pra ser vegano e eu parei de tomar leite naquele exato momento. Passei um ano e meio sendo vegetariana, conheci o Duds e quando fomos morar juntos a gente decidiu ser vegano. Comecei a entender que o movimento é pelos animais e isso mudou muito a minha relação com todos os tipos de animais, com a natureza e com as pessoas. Ao mesmo tempo, eu comecei a entender que eu podia viver uma vida produzindo

menos lixo e isso auxiliou bastante na questão de produtos de limpeza, higiene e cosméticos, pois comecei a buscar soluções mais naturais e caseiras. [tosca] - como surgiu a ideia da cantina do duds? [Luana] - Em 2017, eu trabalhava fora e o Duds cozinhava almoço e levava quase todos os dias pra mim, da Trindade até o Centro, e a gente almoçava juntos. Às vezes alguns amigos almoçavam com a gente e foi aí que percebemos que cozinhar comida pra mais pessoas e entregar de bicicleta era uma possibilidade. Nessa mesma época, o Duds foi pra São Paulo e conheceu a amiga de um amigo que tinha um negócio nesse modelo: ela cozinhava, congelava e entrega refeições veganas de bicicleta. Só colocamos o negócio em prática mesmo em 2018/2019.

“É possível ter um trabalho/negócio digno que não colabora com o sofrimento animal, que é possível andar de bicicleta na cidade, que é possível ter uma vida mais tranquila e com menos, que é possível ser vegano e ser forte e saudável.”


de manhã, então compramos tudo nesse dia. Nossa produção é semanal e normalmente cozinhamos aos domingos. As entregas acontecem de segunda a sexta, mas segunda e terça são os dias mais cheios. Os pedidos são feitos pelo instagram e normalmente elas esgotam antes da semana chegar ao fim. Desde que começamos, a quantidade de marmitas que produzimos só vem aumentando, mas vamos nos adaptando às mudanças na produção aos poucos. [tosca] - qual o principal impacto social vocês acham que a cantina pode causar?

[tosca] - como é o processo de produção das marmitas? desde a escolha do cardápio até a logística de entregas. [Luana] - A escolha dos pratos acontece de forma bem espontânea, a gente só conversa, escolhemos um dia pra fazer, provamos e tiramos as fotos pra divulgação. Temos pratos fixos e uma opção do cardápio que sempre muda uma ou duas vezes ao mês. A gente tem como objetivo fortalecer a agricultura familiar orgânica, então aproximadamente 70% dos nossos insumos são orgânicos. A feira de orgânicos mais perto da gente acontece nos sábados 36

[Duds] - Eu acho que o principal impacto que causamos é mostrar pras pessoas que é possível. Que várias coisas são possíveis na verdade. Que é possível ter um trabalho/negócio digno que não colabora com o sofrimento animal, que é possível andar de bicicleta na cidade, que é possível ter uma vida mais tranquila e com menos, que é possível ser vegano e ser forte e saudável. Nosso negócio é pequeno mas pra mim representa uma mudança muito grande na relação que nós temos com o conceito de trabalho.


[tosca] - quais são os mitos e verdades sobre o veganismo? [Luana] - Mito um: é caro. A verdade é que o veganismo tem o preço que você quer que ele tenha. Mito dois: não é saudável. É completamente possível ter uma alimentação balanceada sendo vegano. A indústria adora falar que a gente não consegue viver sem proteína animal ou cálcio, sendo que existem alimentos vegetais riquíssimos em relação a esses e outros nutrientes. Mito três: dizem que a gente come mais agrotóxico! Mas, bem, a soja e o milho que alimentam as vacas são transgênicos e cheio de agrotóxicos. Inclusive, por causa da bioacumulação, os produtos de origem animal acabam contendo mais agrotóxicos, de acordo com o American Journal of Clinical Nutrition.

ser vegano é maravilhoso.


“A gente acredita num mundo com menos violência no trânsito, menos sujeira no ar, menos poluição sonora, menos horas perdidas e menos sofrimento. Por isso a bicicleta é o nosso principal meio de transporte no dia a dia e trabalhamos só com bicientrega. e pra quem dirige carro: cada bicicleta do seu lado é um carro a menos na sua frente.” [tosca] - falem um pouco sobre a jornada de fazer as entregas das marmitas de bicicleta em Florianópolis. quais as maiores dificuldades? como é a relação entre as bicis e os carros/onibus? como vocês acham que está o sistema de ciclovias da cidade e o que poderia melhorar... [Duds] - Fazer entregas de bicicleta é muito diferente. Você acaba descobrindo lugares, rotas e cantos que normalmente não passaria a pé ou de carro/onibus então a sua visão da cidade muda (e cresce) bastante. A maior dificuldade é a falta de planejamento urbano. Os políticos ainda não assimilaram que a bicicleta é uma ferramenta poderosíssima de transformação e é um meio de transporte muito eficiente. Não é só lazer ou esporte, é uma maneira excelente de ir do ponto A até B. Ou não sabem disso, ou sabem mas não querem comprar a briga porque pegaria mal dizer que você vai pensar a cidade pras pessoas e não pros carros. Quando você diz que a cidade precisa de mais ciclovias e corredores de ônibus todo mundo se assusta e pensa que estão “roubando o espaço do carro”. Ná prática já sabemos com os exemplos ao redor do mundo que isso não é verdade. 38

As cidades que pensam as ruas pras bicicletas e pros ônibus não sofrem com o trânsito de floripa. A maior dificuldade sem dúvidas é que a cidade é feita e pensada pros carros, você se espreme, luta por espaço e segue tentando viver no meio disso. Já quase morri algumas vezes pela violência do trânsito daqui, eu e alguns conhecidos. Eu acho que as ciclovias que já existem funcionam bem mas são muito poucas. As ciclorotas novas também melhoraram um pouco o dia a dia no córrego/ agronômica. [tosca] - vocês acham que essa prática de manter os preços das marmitas acessíveis é importante? como ela pode se sustentar no sistema que vivemos hoje para causar um impacto real na sociedade? [Luana] - É extremamente importante manter as marmitas num preço acessível pra mais gente, porque se for caro vai ser acessível só pra quem pode pagar e o veganismo não pode ser só pra quem tem dinheiro, pois não é sobre consumir produtos, é sobre acabar com a exploração animal. O veganismo não é um nicho de mercado, sabe? Ele se torna, claro, porque muitas mar-


VAI DE BICI!


cas querem fazer dinheiro em cima da procura por produtos veganos, mas isso não ajuda em nada a causa animal de fato. Mais produtos veganos não é igual a menos animais explorados porque uma empresa pode lançar um produto vegano, mas continuar poluindo a natureza, explorando pessoas, etc. Esses tempos lançaram um “ovo vegano” que é basicamente proteína de ervilha que você usa em receitas para substituir o ovo, mas a empresa que lançou é a maior produtora de ovos da América Latina! Isso é vegan washing, não uma solução. É muito fácil para um movimento social ser cooptado pelo capitalismo hoje em dia. Isso acontece com a pauta LGBT o tempo todo, tipo quando a Skol lança um pack de cervejas com as cores do arco-íris, mas isso não muda a realidade das pessoas trans, por exemplo, é só mais um produto cujo público é uma parcela muito pequena da comunidade LGBT que tem poder de compra. Acho que esse despertar das pessoas por consumir mais conscientemente é importante, sim, mas precisamos ter em mente que não é a solução pros problemas do mundo, principalmente porque isso chega em poucas pessoas, ainda mais aqui no Brasil, um país com muita desigualdade social. [tosca] - de que forma vocês acham que a internet pode ser uma aliada para informar as pessoas sobre o eco-ativismo? [Duds] - A internet é muito importante nesse processo pela facilidade 40

com que as informações circulam. Sem a internet eu, um menino do interior do RS que cresceu comendo churrasco todos os finais de semana, que já fui incentivado a matar animais na minha INFÂNCIA, que vi animais sendo mortos na minha frente como se não fossem nada, provavelmente não pensaria em ser vegano com 17 anos de idade. As informações chegaram até mim, eu estava com a mente e o coração abertos e considerei essa possibilidade. Eu acho que um dos grandes desafios é que as pessoas levam tudo muito pro pessoal. Pela minha experiência com o twitter é bem difícil ter uma troca honesta e proveitosa. Você fala de todos os problemas da indústria da carne, leite, ovos, do agronegócio e explica como as pessoas estão envolvidas nesse esquema horroroso mesmo sem perceber, mas elas se sentem atacadas. Ao invés de estarem abertas elas automaticamente entram na defensiva. Quando eu falo sobre isso seria bom se as pessoas conseguissem separar as coisas. Fazer parte de um sistema horroroso não te transforma em uma pessoa horrorosa. Não é culpa das pessoas comuns, a gente tá inserido em um sistema perverso. Talvez essa discussão sobre o ativismo na internet vai se desenvolver com o tempo mais ou menos por aí. Veremos. Segue a Cantina no instagram! @cantinadoduds


[tosca] - por fim, podem dar mais algumas dicas de pequenas mudanças de hábitos para as pessoas que se dizem presas em rotinas e com pouca grana para começar a ter práticas mais saudáveis na correria do seu dia a dia? [Luana] - Dica de leitura: A Política Sexual da Carne, com certeza! Mudou minha vida, especialmente como feminista. Mas sobre as dicas, acho que a mais preciosa é que antes de ir cortando os alimentos, tem que enriquecer a alimentação. Se a pessoa come poucos vegetais, é melhor começar a comer mais e depois tirar a carne, leite e ovos. Também é necessário entender que há infinitas formas de comer os alimentos, por isso não acho legal quando alguém diz que não gosta de nenhum vegetal. Aprender a cozinhar é importante também! E entender que a nossa alimentação, aqui na América Latina, é extremamente colonizada. Os povos originários daqui comiam mandioca, batata doce… a alimentação deles era à base de vegetais. As vacas chegaram com os imigrantes europeus, assim como o leite e a sua carne. Isso me ajuda muito a entender porque a gente come o que a gente come. A gente vende marmita pra quem não sabe cozinhar e está na correria, mas eu acho importante entender que precisamos de autonomia, principalmente em relação à nossa alimentação que é a nossa fonte de vida.

texto e fotos por Carolina Werutsky


novembro de 2019 A tosca zine é um projeto idealizado por carolina werutsky em parceria com Acne Press. Lembrando que: a tosca é uma fanzine independente ainda tentando existir! Para mais infos sobre próximas edições siga @werulab e @acnepress no instagram. Até a próxima edição!

colaboradores Fabio Bianchini Antônio dos Anjos Eduardo Possa Luana Adriano Elga Bottini

contato: carolaweru@gmail.com




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