01 cidade dos ossos os instrumentos mortais cassandra clare

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conseguia entender por que tinha um impulso incontrolável de roer papel de chiclete usado. Clary riu. — Não. Estou falando do hotel dos vampiros. Foi horrível? Alguma coisa piscou atrás dos olhos dele. Ele desviou o olhar. — Não. Na verdade, não me lembro muito de nada entre a festa e o estacionamento. — Melhor assim. Ele começou a dizer alguma coisa, mas foi interrompido no meio de um bocejo. A luz no quarto se esvaiu lentamente. Desprendendo-se de Simon e dos lençóis, Clary se levantou e abriu as cortinas do quarto. Lá fora, a cidade estava banhada com o brilho avermelhado do pôr do sol. O telhado prateado do prédio da Chrysler, a cinquenta blocos para baixo, brilhava como um atiçador esquecido na lareira por muito tempo. — O sol está se pondo. Talvez devêssemos procurar alguma coisa para jantar. Não houve resposta. Ao se virar, ela viu que Simon estava dormindo, com os braços cruzados embaixo da cabeça e as pernas estendidas. Ela suspirou, foi até a cama, tirou os óculos dele e os repousou na mesa de cabeceira. Ela já havia perdido a conta de quantas vezes ele tinha dormido de óculos e acordado com o barulho das lentes quebrando. Agora onde eu vou dormir? Não que ela se importasse em dividir a cama com Simon, mas ele não tinha deixado espaço algum para ela. Ela considerou a possibilidade de cutucá-lo para acordá-lo, mas ele parecia tão sereno. Além disso, ela não estava com sono. Estava tentando alcançar o caderno embaixo do travesseiro quando ouviu alguém bater à porta. Ela atravessou o quarto descalça e abriu a maçaneta silenciosamente. Era Jace. Limpo, com calças jeans e camiseta cinza, os cabelos lavados e dourados. Os hematomas em seu rosto já estavam passando de roxo a cinza-claro, e ele estava com as mãos para trás. — Você estava dormindo? — ele perguntou. Não tinha qualquer contrição na voz, apenas curiosidade. — Não. — Clary foi até o corredor, fechando a porta atrás de si. — Por que você acha isso? Ele examinou a camiseta azul-bebê de algodão e o short combinando. — Por nada. — Passei o dia quase todo na cama — ela disse, o que tecnicamente era verdade. Ao vêlo, o nível de agitação de Clary aumentou em cerca de mil por cento, mas ela não viu motivo algum para compartilhar essa informação. — E você? Não está exausto? Ele balançou a cabeça. — Mais ou menos como o serviço de correios, caçadores de demônios nunca dormem. Nem o sol, nem a chuva, nem que a sombra da noite permanecesse... — Você estaria seriamente encrencado se a sombra da noite permanecesse com você — ela disse.


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