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ALEXANDER IWENICKI-MANELA

Ano de 1991: a União Soviética (URSS) desintegra-se oficialmente e as novas 15 repúblicas independentes, passam cada uma a sua maneira, a trilharem os seus novos rumos e narrativas. No entanto, continua a conectá-las a um passado de sacrifícios conjuntos durante a II Guerra Mundial, sacrifícios este que custaram mais de 20 milhões de vidas humanas, subjugando assim a besta nazista. Feito autenticamente monumental. De modo a recordar a bravura e martírio da Grande Guerra Patriótica - Velikaya Oteschestvenaya Voyna – a designação da II Guerra Mundial na URSS, que durou de 1941 a 1945; controemse colossais monumentos de mulheres guerreiras pelo espaço soviético; reminiscências da rodina-mat ou pátria-mãe. Bemvindos as ao Projeto Pamyatny de Alexander.

Alexis Edwards

Alexis Edwards, fotógrafo andaluz, realiza trabalhos em diferentes países. As suas fotografias, contundentes e surrealistas, conseguem uma justaposição inquietante de várias histórias, feitas a partir da composição de imagens. Os seus projetos trazem o desejo de descobrir o mundo para além dos arredores de seu país, ultrapassando as fronteiras da foto a fim de se converterem em peças teatrais.

Annemarie Heinrich

As fotos da Eva Perón, ou Evita, cuja autoria se deve a pioneira da fotografia contemporânea Annemarie Heinrich, nascida em 1912, na Alemanha, e nacionalizada argentina após imigrar com a família em 1926. Autodidata, montou uma “câmara escura” dentro de casa, e, sendo ensinada pelo tio, se apaixonou pela arte de fotografar. Os seus retratos refletiam a figura da própria autora, contendo objetos, romances, roteiros e até mesmo partituras, mas também a nudez feminina, algo que não podia ser exibido na época. Evita, iniciando sua carreira, decidiu contratar a artista para uma sessão de fotos, que foram selecionadas por diversos editores para ilustrações em capas, notas e reportagens nas principais revistas de Buenos Aires. A fotógrafa faleceu em 2005, e seu trabalho pode ser visto no Museu Nacional de Belas Artes, o Museu de Arte Moderna de Buenos Aires, o Museu Nacional do Cinema e o Museu Mundial do Tango.

Gabriel Chaim

Gabriel Chaim nasceu em 1982 em Belém do Pará, e realiza trabalhos há 10 anos, sempre retratando imagens de conflitos. As suas fotografias passam pela Síria, seu primeiro contato com a guerra, Iraque, Iêmen, Líbia, Armênia e Ucrânia. Um dos seus últimos trabalhos, promovido na exposição “Devolvo Ouro” de 2022, é uma coleção de fotografias na Terra Indígena Yanomami, na fronteira entre os estados de Roraima e Amazonas, sobre a ação do Exército e da Polícia Federal contra o garimpo ilegal no local, um tipo diferente dos conflitos armados que estamos acostumados a presenciar.

O trabalho de Gabriel Chaim é trazer à tona problemas sociais de guerras e crises humanitárias, agora eternizado em seu livro, “Em Desconstrução: As Guerras de Gabriel Chaim”, da Editora Afluente, onde documenta, em passagem por diversos fronts, o tempo de agora na primeira linha de combate, nos colocando dentro desses capítulos que devem ser lembrados continuamente como eventos que jamais deveriam ter acontecido.

JORGE DE LIMA

A Pintura em Pânico é uma obra sui generis na história da arte brasileira: a série de fotomontagens feita pelo artista alagoano Jorge de Lima entre os anos 1930-1940 é pioneira da fotografia moderna no Brasil com seu experimentalismo antenado com as práticas das vanguardas europeias. Mais conhecido como o escritor de “Invenção de Orfeu”, Jorge de Lima (1893-1953) foi pesquisador de múltiplas linguagens e perseguiu a poesia nos interstícios entre imagem e palavra, muito além das especificidades dos meios. Influenciado pelo livro “La Fémme 100 Têtes”, de Max Ernst, inicia uma investigação das possibilidades de desconstrução/reconstrução das imagens extraídas de um repertório de publicações bastante eclético, tendo como matriz uma visão de mundo mítica, órfica, povoada de seres enigmáticos e aventuras metafísicas. Suas perspectivas insólitas de universos ilusionistas criam narrativas não lineares de caráter épico-lírico, provocando uma torção na nossa percepção, que oscila entre o verossímil e o irreal, entre o corriqueiro e o mágico. Este conjunto de 11 fotomontagens, sem títulos, são reproduções dos únicos remanescentes dos “originais” (fotografias das colagens) que sobreviveram guardados nos arquivos de Mário de Andrade. Graças ao seu reconhecido esforço de preservação da nossa memória cultural, essas impressões vintage puderam ser conservadas no Acervo do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB- -USP).

SIMONE RODRIGUES

Curadora

Lamberto Scipioni

Lamberto Scipioni, fotógrafo romano e radicado no Brasil desde 1978. Colaborador do Museu do Louvre onde fotografou as clássicas esculturas de mármore do mesmo. O museu o contratou para que montasse um estúdio na reserva técnica, registrando esse material que a Carcara agora publica. Lamberto possui obras tanto sobre o Brasil como na Europa, mas é essa triangulação entre o Brasil, a Itália e a França que chama mais atenção.

Levi Tapuia

Levi Tapuia, jovem indígena de 25 anos, que começou a fotografar adolescente pelo celular e, incentivado por muitas pessoas ao seu redor, decidiu estudar fotografia. Ele conta a história de seu povo pelo seus próprios olhares, uma completa revolução que se torna a principal linha de defesa de muitos territórios ao mostrar o que está acontecendo com eles no Brasil. Seu trabalho é, em suma, a divulgação da própria luta de seu povo, sua valorização e o fortalecimento de sua cultura, a fim de que novas gerações possam aprender e também participar da luta pelos seus direitos e pelo planeta.

Marcelo Grecco

Ser mãe é dissolver-se. O bebê traz consigo, para dentro do ventre, todo o universo. O infinito ocupa tudo, depois rasga, dilacera para se acomodar. Nessa arrebentação, o corpo permanece – obediente, dedicado, embebido de prazer, adormecido no amor impiedoso do bebê. A Alma se vai, expande, atinge lugares impensáveis, tempos impensáveis. Seu chamado, meu amor, não alcançava os abismos e as estrelas onde eu estava. Imagino sua solidão diante de minha ausente presença. A saudade que você sentia não tinha espaço algum em mim. A câmera era a sua maneira de estar ali. Suas imagens são gritos que tentam defender a delicadeza de nossa vida juntos. É brutal o chamado. Para a mãe, o chamado será sempre prematuro. Não se regressa num simples despertar. Não se regressa. Venho, outra, de minha implosão. Você, de seu exílio.

Renato Soares

Renato Soares, fotógrafo e indigenista, começou sua carreira em 1986, movido pelo contato, desde a infância, com as tribos em áreas remotas do Amazonas. Suas obras, que visam dar voz e rosto à causa indígena, já estiveram no MASP e em mostras itinerantes, chegando em Paris, expostas em uma coletiva no Palais de la Découverte, museu e centro cultural francês. Ele se dedica, atualmente, ao projeto Ameríndios do Brasil, que busca resgatar, através das fotos, o melhor da nossa cultura ancestral, criando assim um grande acervo etnofotográfico brasileiro.

ROMA, CIDADE ETERNA!

Em seu livro Cidades Invisíveis, o escritor ítalo-cubano, Italo Calvino (1923-1985), escreveu: “Não se sabe se Kublai Khan acredita em tudo o que diz Marco Polo quando este lhe descreve as cidades visitadas em suas missões diplomáticas, mas o imperador dos tártaros certamente continua a ouvir o jovem veneziano com maior curiosidade e atenção do que a qualquer outro de seus enviados ou exploradores”. Marco Polo descreve a beleza de cidades imaginárias quase todas com nome de mulher. Mas quando falamos de Roma, cujo anagrama é amor, sabemos que esta cidade cheia de mistérios, que consegue se fazer amada por todos que a conhecem, existe e sua cultura milenar está diante de nossos olhos quando decidimos desvendá-la. Imortalizada pelo cinema, pela literatura, pela música, a cidade de Roma habita o imaginário da humanidade. Suas ruas estreitas, seus restaurantes alegres, suas igrejas, seus monumentos e, como já foi considerada por muitos, um museu a céu aberto, forma contadas por cineastas como Federico Fellini, Roberto Rossellini e até Woody Allen, só para citar alguns. Sua fundação é lendária e contada pelo filósofo Plutarco e pelos poetas Ovídio e Virgilio. Uma história de vinganças, lutas e mortes como como em todos os poemas épicos. Roma teria sido fundada pelos gêmeos Romulo e Remo, amamentados por uma loba e depois criado por camponeses. Mas Roma foi fundada por sete aldeias de camponeses que se juntaram. As sete colinas de Roma. Sua data de nascimento conhecida como o Natal de Roma foi fixada em 21 de abril 753 A.C. Em 21 de abril de 2023, Roma completou 2776 anos. Agora, a Carcara Photo Art apresenta uma coleção rara, cartões postais colorizados do início do século XX, que retratam alguns aspectos de Roma que permaneceram no tempo e ainda os encontramos na cidade eterna: o Coliseu, a Piazza del Popolo, a linda Praça do Povo, os fóruns imperiais, suas belas vistas do rio Tibre, ou Tevere, só para citar alguns exemplos. O cartão postal nasceu no final do século XIX. Sua invenção é também repleta de versões diversas. Existem mais de uma versão na história da invenção dos cartões-postais. O inventor pode ter sido o norte-americano H. L. Lipman que, junto com J. P. Charlton, patenteou o chamado “Lipman’s Postal Card”, em 1862. Outra versão sugere que o diretor dos Correios da Confederação da Alemanha do Norte, Heinrich Von Stephan, teria lançado a ideia na Conferência Postal Germanoaustríaca, em 1865.

O interessante é que os cartões postais que queriam ser uma alternativa às cartas, ao trazerem imagens acabaram criando em nós imaginários de cidades. Começaram a ser colecionados, viajaram o mundo e nem sempre sabemos como acabaram em nossas gavetas, em nossos álbuns. Ter uma coleção de cartões postais é como ouvir as narrativas que Marco Polo fazia ao Kublai Kan. Essa edição também nos ajuda a rever e pensar uma cidade que quase não se alterou em seus quase 3000 anos de história. Por isso que ela será eterna!

Simonetta Persichetti

Sebasti O Alves Dos Reis Junior

Sebastião é juiz, ministro do Superior Tribunal de Justiça e fotógrafo. Nessa entrevista concedida para a Paulo Marcos de Mendonça Lima da Carcara, ele conta sobre o seu início na fotografia, suas percepções sobre o encarceramento e seu livro Translúcida, fruto de suas visitas ao Centro de Detenção Preventiva Pinheiros II, na cidade de São Paulo. Sebastião, após um convite do Instituto para conversar com presas transsexuais, decidiu retornar ao local com o intuito de fotografá-las, de forma que as imagens e a experiência trouxessem o sentimento de dignidade tanto às detentas quanto aos que vissem o resultado. Além das fotos, Sebastião conta com a participação de diversas personalidades, como o ministro Luís Roberto Barroso e a deputada Erika Hilton.

PMML: Sebá, como é que você foi parar na fotografia?

Não é muito comum um ministro-fotógrafo.

Sebás: Não teve um “ah comecei a fotografar” ... Foi relativamente há pouco tempo, uns seis, sete anos... Começou com fotografar em viagem. Eu tinha Nikon 1, que é pequenininha, branquinha... foi a primeira máquina comprei e eu gostava porque você escolhia a cor da fotografia, então ela saía toda preta e branca com o mar azul, eram besteiras que na época me impressionava, mas aí eu acabei ganhando uma câmera melhor da minha mulher e comecei a gostar realmente de fotografia. Hoje eu não vivo sem máquina, não há a menor possibilidade de eu viajar sem. Depois a minha mulher me deu uma Leica e aí se eu vou pra um lugar mais bruto eu uso a Nikon, se eu vou pra um lugar mais civilizado, eu posso ir com uma Leica. Depois comprei uma Nikon porcariazinha que tira foto dentro d´água e uma Panasonic mais simples porque quando eu vou pro Rio - na última vez eu levei a Nikon a minha mulher quase me bateu: “Você tá louco, tá pedindo pra ser assaltado?!”, aí eu comprei uma Panasonic pequenininha com lente da Leica, que cabe no bolso, e quando vejo alguma coisa interessante eu vou e fotografo.

PMML: É mais discreto.

Sebá: É mais discreto. Na verdade, eu estou na fotografia há uns cinco, seis anos, e a pandemia acabou ajudando muito. Com tudo parado, tudo deserto, eu saía por aí tirando foto. Acordava às 4 horas da manhã com insônia e ia para o centro de Brasília tirar foto. Fazer trilha com a máquina, por exemplo. Eu não gosto de fazer trilha, mas comecei a fazer por causa da fotografia. Hoje realmente é meu passatempo preferido, vira e mexe estou com ela na mão.

PMML: O Translúcida é seu primeiro livro?

Sebá: É, eu tenho, assim, eu tenho um livro, na verdade um livrozinho, até com a curadoria do Juan Esteves, mas são só cinquenta exemplares. O ano passado eu resolvi fazer uma coisa legal pro pessoal lá de casa justamente pelo apoio que eles dão. Nós selecionamos umas trinta fotos e eu fiz um livro encadernado, bonitinho, mas assim... só pra família. Agora, livro que tenha a fotografia como motivo, esse é o primeiro.

Carlo: O lançamento vai ser dia 28, é isso?

Sebá: 22, 22 de junho.

PMML: Em Brasília?

Sebá: Em Brasília. Vai ter um seminário aqui no Tribunal sobre o problema de inclusão e ao final vão ter várias palestras. Eu vou participar de uma mesa com a Nany People e no final, às 7 horas da noite, vai ter o lançamento do livro.

Carlo: Ele é aberto, Ministro?

Sebás: É aberto.

PMML: O Translúcida tem uma densidade impressionante que se dá de várias maneiras. Não é sempre que se vê um assunto espinhoso, para o qual a sociedade não quer olhar e que envolve a periferia, não a geográfica só, mas a social. A sociedade sempre teve dificuldade de olhar pra esses assuntos periféricos e tenta afastá-los cada vez mais. E não é toda hora que a gente vê um livro que tem várias maneiras de entradas, várias formas de se falar desse assunto, e que pivotam entorno da fotografia. O que te motivou inicialmente, eu imagino, foi transpor esse assunto difícil para as suas fotos com a o suporte de textos, poemas, ilustração do Laerte..

Sebás: Da Laerte. Da Laerte. Olha lá.

PMML: Da Laerte, claro. Hoje eu vi no Instagram alguma coisa sobre a Parada do Orgulho Gay aqui em São Paulo, que é a maior do mundo- a estimativa é de quatro milhões de pessoas - e tinham duas pessoas que tiveram destaque nessa parada que estão no livro: o ministro Silvio Almeida e a deputada Érika Hilton.

Sebás: E tem a Sara Wagner também.

PMML: A Sara Wagner eu não vi. A nossa conversa é sobre fotografia, mas como é que você teve essa ideia de fazer essa interação? Porque tem alguns textos poéticos, tem a ilustração da Laerte, que é uma coisa muito livre, tem entrevistas e tem textos acadêmicos, com toda bibliografia e referências, uma mistura muito incomum, e o que é mais interessante aqui pra nossa conversa, é que tudo é entorno da fotografia, o gatilho disso tudo foi a fotografia. No seu texto introdutório você diz que não é muito do texto, da palavra, que é mais da imagem e a fotografia te ajuda a se comunicar nesse sentido. O que é uma contradição já que um ministro escreve e fala muito. Eu duvido você chegar lá no STJ e falar “a minha argumentação é o seguinte, e aí mostra uma foto”.

Sebá: Eu sou daqueles que fala e escreve pouco. Eu procuro ser objetivo porque eu não tenho mais, por conta da idade, paciência de ficar lendo e ouvindo muito, a coisa é cansativa. Mas deixa explicar. Eu fui fazer uma visita a um presídio em São Paulo há uns cinco anos. Tem o Instituto de

Defesa do Direito de Defesa que faz trabalhos em estudo do direito criminal e têm uma conversa com as presas. Eles me perguntaram se eu poderia ir lá um dia. Eu fui, passei uma manhã inteira conversando com as presas e fiquei muito impressionado. Passado um tempo, eu vi o livro da Nana Moraes. O livro é um poema. Ela faz um trabalho em cima das fotos que mostra justamente essa situação de abandono das presas em geral. E aquilo me deu um start, eu falei “gente, se a Nana que é a Nana, que não é do meio, fez um negócio desses, eu acho que eu poderia fazer”. Entrei novamente em contato com o pessoal de São Paulo, que tinha propiciado a minha primeira visita e fui no ano passado, e foi muito interessante porque eu visitei, entrei dentro da cela, conversei com as presas, perguntei se elas topavam fazer esse projeto, de eu fotografar, de eu passar uma manhã lá... E elas toparam, e eu falei “ó, eu só vou fotografar aquelas que forem voluntárias, não vou forçar ninguém a tirar fotografia”. Elas toparam, eu pedi autorização pra Secretaria de Segurança, marcamos uma nova data e passei uma manhã inteira fotografando trinta, quarenta presas. Vocês vão ver que tem fotos posadas e fotos espontâneas. A uma certa altura comecei a circular, a conversar, e fui fotografando, ou seja, na verdade o gatilho do livro, foi o trabalho da Nana Moraes. Não é um livro de fotografia, eu a usei para causar o assunto, para provocar debate. Mno livro você tem artista plástica, militar, advogado, promotor de justiça, ministro, desembargador, médico, repórter, você tem diferentes formações, tem pessoas do sul, do norte, do sudeste, do nordeste, procurando dar a maior diversidade possível. E deixei as pessoas livres, cada um fez o que quis, escreveu o que quis. Cada um escolheu uma foto e produziu o que quis: contos, textos técnicos, poesias, e tem uma coisa que eu acho interessantíssima, que é um julgamento de uma trans, que os advogados tiveram com ela, pediram autorização e relataram todo o contexto. Tem uma diversidade danada e a ideia era justamente essa. Eu sei que esse tema é muito pesado e sei que vou apanhar. Alguns julgamentos que eu fui cerca de uns três, quatro meses atrás, eu tranquei uma investigação policial em cima de uma menina que tinha feito aborto e tinham denunciado, ou seja, o médico que atendeu ela no hospital a denunciou e deu início a um inquérito, e nós acabamos trancando, eu fui o relator do processo, por entender que o médico, tendo em vista o sigilo, não poderia dar denúncia desse fato, não poderia provocar essa investigação. É o que a gente chama de “prova ilícita”. O depoimento dele não tinha validade e como tudo começou com ele, nada valia. Mas aí o que acontece, eu fui atacado no Congresso; alguns deputados foram à tribuna criticar. Agora eu fico imaginando um livro desse teor no momento complicado que nós estamos vivendo. Eu acredito que vai ser uma pancadaria danada, mas aí eu estou usando um fardo, e eu vou ser muito sincero, que é ser ministro. Eu vou lançar o livro aqui dentro do Tribunal, que é uma coisa que dá força, que mostra que o Tribunal está me apoiando nesse livro. A ministra Maria Thereza, presidente do Tribunal, tem uma visão sensacional. Ela já fez um seminário sobre indígenas, já fez sobre julgamento de gênero, e agora tá fazendo sobre esse livro de inclusão, temas tabus, e ela está dando espaço para se conversar sobre isso aqui no Supremo Tribunal. Eu quero usar essa projeção natural que vai ter, pelo fato de eu ser ministro, como um motivo a mais pra você debater o assunto, e aí você ter essa diversidade. Então você tem textos técnicos, contos, histórias, e é uma coisa muito interessante. O Valois, que é um ministro da Vara de Execução lá do Amazonas, saiu de Manaus e foi a São Paulo conversar com as presas para escrever o texto que está no livro. A desembargadora Simone Schreiber, do Rio de Janeiro, fez a mesma coisa e isso dá uma densidade pro livro e mostra a vinculação das pessoas com ele. Não são textos formais

“ah, eu vou fazer um textozinho aqui e pronto, acabou”. Eu acho que teve uma carga emocional muito grande na grande maioria das pessoas que fizerem todo este conteúdo.

Carlo: No lançamento, as fotos estarão expostas?

Sebás: Eu não sei como vai ser direito, mas eu acredito que algumas fotos estarão expostas. Nós vamos aproveitar que é junho, que não chove em Brasília, e fazer em um espaço aberto na frente do auditório do Tribunal. Um lançamento mais inclusivo. A pessoa não tem que entrar no Tribunal, é menos opressivo, mais aberto, algo mais despojado, mais alegre, mais confortável para que não é do meio jurídico

PMML: Sem dúvida. Aliás, esse é um outro ponto importante, e que as suas fotos passam, as fotos e o livro têm uma leveza, apesar de o Brasil ser o país onde se mais mata pessoas LGBTQIA+.

Sebás: Mas aí eu acho que é a força do livro, né? Eu lembro que a deputada Érika Hilton, ela me chegou a escrever dizendo que estava muito ocupada, muito corrido, e estava difícil pra ela preparar o texto, mas ela me escreveu, por coincidência, um ou dois dias depois que aquele deputado de Minas, aquele Nikolas, ou sei lá, fez aquela palhaçada lá no Congresso, de botar a peruca. Aí eu falei com ela “deputada, eu entendo perfeitamente, eu sei que a vida é corrida, mas eu acho que nós estamos no momento em que esse assunto tem que ser debatido com seriedade. “Não pode pessoas sem conhecimento ficarem falando sobre isso e a senhora, como é uma liderança, a sua participação no livro ganha um peso maior”, aí ela acabou topando e fez um texto maravilhoso.

PMML: A gente falou da leveza das fotos e da grande diversidade – tem o ministro Silvio, que é preto, a deputada Érika que é uma mulher trans, o juiz do Amazonastem todo tipo de texto e de pessoa e isso, ao mesmo tempo que dá uma leveza e uma diversidade e uma profundida, também será motivo, já dá para ver, de muitas discussões e seminários.

Você pode puxar várias linhas dele.

Sebá: Exatamente. Eu convidei a Nana Moraes para participar de um workshop de fotografia no presidio feminino Talavera Bruce com as presas e depois fazer uma exposição com as fotos.

PMML: Ótimo. Já fica aqui um convite para expor esse trabalho dentro da programação do Festival FotoRio.

Sebás: Vai ser muito legal se a gente conseguir realizar isso. Eu já vi esse tipo de trabalho e o que está acontecendo. No ano passado eu visitei outros presídios pra fotografar. Em São

João Del Rei, Minas Gerais, teve um workshop parecido, com as fotos dos presos expostas, eles chegaram a fazer algumas revistas com as fotos. É um trabalho extraordinário. Nessa exposição que a gente for fazer no Rio no Talavera, vamos trazer as fotos de São João Del Rei. É uma forma de a gente mostrar que eles são pessoas e que devem ser vistos com o mínimo de dignidade.

PMML: Essa palavra é muito importante: dignidade. Eu acho que a gente está sempre nessa busca e para isso temos que impor limites a algumas situações e pessoas para que todos tenham dignidade. E as fotos têm essa dignidade também. É uma tradição já desde o final do século 19, com o Lewis Hine, Jacob Riis e depois Dorothea Lange, da fotografia ser um instrumento de transformação social, o que chamamos de Fotografia Humanista. A fotografia que você faz é uma fotografia muito humanista nesse sentido de que ela, tal como a arte, não muda o mundo, mas pode mudar uma pessoa e essa pessoa muda outra, que muda outra, que muda outra, e vira um movimento que provoca uma mudança social. A sua fotografia é voltada claramente pra esse aspecto. As pessoas que você fotografou, elas se sentiram mais dignas, ou seja, se sentiram homenageadas por serem fotografadas por um ministro? Você é um fotógrafo, mas é um ministro. Isso as aproximou de alguma forma?

Sebá: Uma coisa que foi muito legal em São Paulo foi que o pessoal que estava organizando as fotografias levou maquiagem e tudo o mais. Uma produção. A menina que está na capa me perguntou: “será que você poderia tirar uma foto minha de salto?”. “Claro, mas cadê o salto?” “Não, não é de salto, é saltando”. Ela é uma bailarina e a foto, modéstia a parte, ficou maravilhosa. Isso mostra a interação delas. Agora, eu fui fotografar lá em Minas um presídio feminino, uma parte feminina, e era assim, um presídio pequeno, quase uma escola, e as paredes são com grafite e tal. Eu sentia as presas um pouco constrangidas. Eles estavam me apresentando o presídio, a direção, as celas, o refeitório, aquelas coisas todas e todas meio tímidas com a cena. É um presídio diferente onde as presas não usam uniforme, usam as roupas delas. Tem crachá. É uma coisa que merece, é a ideia minha inclusive é fazer um livro só sobre essas APACs, que é um presídio completamente diferente. E lá tinha uma morena sentada com um vestido colorido, com um turbante, e deu para perceber que ela tinha uma certa liderança sobre as demais. Eu cheguei perto dela e perguntei se podia fotografa-la e ela na maior alegria falou “claro, não tem problema”, e tirou o crachá, os óculos, o casaquinho, e ficou só de vestido e turbante. Quando eu acabei de fotografar, eu estava no meio do pátio, com todas as presas. A grande maioria fazia trabalho manual e aí eu gritei “quem quer ser fotografada?”. Foi uma correria, quebrou a barreira, e a maioria se aproximou para ser fotografada. Foi extraordinário. Era uma entrando, outra saindo, presa trocando de roupa, voltando pra tirar foto e as amigas tirando foto junto. E aí bate com o que você falou, ou seja, o que elas sentiram naquele momento. O grande momento foi, na hora que eu estava saindo, uma presa veio me dizer que tinha feito um poema para mim. Ela leu o poema e nos abraçamos, ela toda suja de tinta. Você percebe nitidamente a importância que aquilo teve pra elas, de se sentirem gente. Alguém com o olhar que não é de aproveitamento, alguém realmente preocupado com elas, que queria fazer alguma coisa, que queria valoriza-las. Depois eu imprimi as fotos e mandei junto com um link com todas as fotos. Eu acho que é um passo pequenininho, mas naqueles dias elas se sentiram dignas. Isso serve pra discutir, não só a questão das presas trans, mas o sistema prisional todo.

PMML: Porque está mais do que na hora?

Sebás: Pelo amor de Deus...

PMML: É trágico como existe tanto ódio, a ponto do Brasil ser campeão mundial de assassinatos de pessoas trans e LGBTQIA+. Como é que não pensam que aquela pessoa também tem amor dentro dela? Ela é movida pela mesma coisa, pelo afeto.

Sebás: Eu não sei se você prestou atenção no currículo de algumas das trans que escreveram. É uma coisa impressionante. São pessoas extremamente preparadas, mas que são colocadas em segundo plano sem saberem se ela é boa, honesta, correta, integra. E não é uma questão de opção, ela é assim, pronto e acabou. A preferência sexual de fulana é uma questão dela e de mais ninguém. Gente, qual o problema nisso? Eu não consigo entender de onde sai tudo isso. Então eu acho que a grande vantagem do livro é colocar isso aberto. As pessoas trans são como qualquer outra, que muitas vezes erraram do mesmo jeito que uma pessoa heterossexual erra. Errou, errou.

PMML: No livro tem uma frase do Caetano que é muito precisa e trágica: “quando a gente é preso é preso pra sempre”.

Sebás: Você vai carregar isso pro resto da sua vida.

PMML: Qual é a grande causa do encarceramento dessas pessoas trans?

Sebás: Na verdade, você deve perguntar qual a grande causa do encarceramento no Brasil. No Brasil a gente prende muito mas prende mal.

Sebás: Nestes doze anos que sou juiz, eu vejo uma visão de que a prisão fosse solucionar a questão da criminalidade. Não vai, é um equivoco. Quando você prende uma pessoa, se ela não tiver muita força de vontade e apoio aqui fora, a possibilidade da vida dela estar acabada é enorme. Isso independente do tipo de crime. Você tem que recolher aos presídios aquela pessoa que não tem condições de viver em sociedade. Um crime de sangue, aquele violento, o abuso. Agora, determinados crimes, aquele eventual, pelas circunstâncias da vida e do momento, que não é a índole da pessoa ser criminosa, agressiva, estes têm que ser tratados de forma diferente. Eu acho que você tem que ver com outros olhos, porque se não tiver uma ressocializa ela vai voltar pro crime, e muitas vezes em uma situação muito pior, muito mais agressiva, carregada de mágoa, de ódio, e aí sim aquele que era um criminoso eventual pode se tornar um criminoso contumaz e violento. A solução para a criminalidade não é a prisão e penas altas. Você não tem um programa sério de prevenção e ressocialização, e a presa trans tem uma carga maior por ser trans e ex-presidiária. Ou grande problema é que a maioria se sente abandonada pela família. Há um preconceito que nasce em casa. Sebá: Precisamos de um programa de reinserção dessas pessoas na sociedade e um trabalho de prevenção. Na maioria das vezes uma pessoa entra pra criminalidade por falta de perspectiva. Uma criança ou um menino de catorze anos que mora numa comunidade, muitas vezes não tem pai, tem uma mãe que acorda quatro horas da manhã pra trabalhar e passa o dia inteiro fora, quando não dorme no emprego.

PMML: Normalmente preto.

Sebás: Preto. Qual que é a referência dessa criança? É o tráfico. Ela vai ser o líder do tráfico. O cara com colar de ouro, anel, relógio, carro, e aí vai botar na cabeça: eu vou trabalhar? Eu não tenho escola, não tenho formação, não tenho nada. Eu vou fazer o quê da vida? Vou trabalhar pra ganhar um salário mínimo, dois salários mínimos no máximo, me matando de trabalhar? Aqui eu faço um bonde aqui, levo uma droga ali, fico de fogueteiro lá e vou ganhar muito mais. É isso que a gente tem que pensar. Enquanto não resolver esse problema de falta de expectativa de vida melhor, de dar educação e condições pra uma pessoa progredir na vida, nós não vamos acabar com a criminalidade. Não adianta você achar que a prisão é a solução, porque quando você prende uma pessoa você envolve toda a família. A maioria está presa hoje por causa do companheiro que a levou para o tráfico. Muitas vezes a mulher entra para suprir uma necessidade financeira causada pela prisão do companheiro. Isso é muito complicado e não existe uma solução simples, rápida, imediata. Achar que a solução é prisão, é um equívoco completo.

PMML: Muita gente se sente perdida na vida porque não tem pai e mãe ou, pior, um pai que bate, que estupra, tem uma família despedaçada. Seria importante a sociedade brasileira, o poder Judiciário, o Legislativo, o Executivo, todo nós, pensarmos nessa ideia de uma família expandida. Não é a família de sangue, mas que se precisa de uma aldeia pra criar uma criança. É responsabilidade de todos. Os indígenas falam muito isso.

Sebá: Hoje, quem cuida é o traficante. O Estado não chega nas comunidades, a verdade é essa. Ele não dá saúde, não dá escola, não dá nada. Não dá justiça. Quem faz esse papel hoje nas comunidades são os criminosos, a liderança criminosa, seja ela miliciana, como no Rio, ou traficante. Eles que suprem a ausência do Estado. Você vai querer que essa pessoa caminhe pra que lado ao final das contas?

PMML: Para o lado que está mais perto dela, claro.

Sebá: E que lhe dá mais conforto, apoio, atenção.

PMML: A Érika Hilton escreveu no texto dela sobre essa ideia da sentença dupla. Quando a mulher trans é presa ela tem a sentença formal, dada pela Justiça, e depois ela fica presa dentro dela mesma de uma certa forma.

Sebás: Nesse presídio que só tem pessoas trans, todas falaram que lá ela estavam sendo tratadas com dignidade pela primeira vez. Elas podiam usar o cabelo comprido, sutiã, calcinha. No presídio masculino elas não têm direito a nada disso, são tratadas como homens. A primeira coisa que eles fazem é cortar o cabelo. A grande maioria delas fazem tratamento hormonal fora do presídio e lá dentro elas não conseguem fazer porque o presídio não tem condição médica pra isso, então há uma interrupção brusca do hormônio, e isso dá um reflexo no quadro de saúde da presa que é uma coisa muito forte. Inclusive no humor. Você vai ter o reflexo físico e o emocional.

PMML: Ou seja, é uma terceira sentença.

Sebás: É. A coisa não é simples. Fizeram um presídio em Minas só com presas transsexuais, na ideia de que eles estariam solucionando o problema, e é o presídio com maior índice de suicídio.

PMML: Por quê?

Sebás: Na verdade ele acabou sendo um presídio isolado. Minas é um estado grande. Você pegava as presas de todo o estado e concentrava elas num lugar só, e elas passaram a não ter visita íntima, de acompanhamento, porque ficou difícil para os maridos e família visitarem. Isso criou um isolamento muito grande.

Sebá: Na teoria é uma ideia maravilhosa. Elas vão viver sem preconceito, não vai ter aquele problema de uma presa em um presídio masculino ou uma presa em um presídio feminino que também pode ter uma rejeição das outras presas que não são trans. Tudo é complicado. Você imagina que está resolvendo o problema e criou outro.

PMML: A gente volta nessa ideia da família expandida. A pessoa não é trans pra ficar sozinha, isolada, ela quer participar da sociedade como uma pessoa diferente, porém normal. Acho que é o Luís Roberto Barroso que escreve isso no livro.

Sebá: Exatamente. Ele fez um poema. Ele escreve sobre um voto dele garantindo o presídio feminino para uma trans, mas em forma de poema. As pessoas realmente compraram a ideia. Eu fiquei muito feliz por causa disso.

PMML: Eu acho que mais do que feliz, Sebá, você ficou emocionado.

Sebá: Fiquei, fiquei, fiquei. Eu não nego isso. Eu fiquei, fiquei quando eu vi algumas coisas. A felicidade das pessoas convidadas a participarem do livro foi muito legal. Teve gente que comprou a ideia na mesma hora, vibrou “opa, que legal”, brigando por fotos. Foi muito legal.

PMML: “Essa é minha! Essa é minha!”

Sebás: Exatamente. Foi legal.

PMML: A Susie Linfield fala que essa quantidade imensa de imagens com as quais convivemos hoje nos tiraram o álibi da ignorância. É muito interessante isso.

Sebás: Ela falou nessa frase, você lembra daquela foto, daquela criança síria que foi encontrada na beira do mar?

PMML: Um bebê.

Sebás: É. Havia uma discussão muito grande se aquela foto devia ser publicada ou não. E essa frase dela foi feita nessa discussão, nesse debate sobre a conveniência de se publicar. E aí acabou, claro, a gente já sabe, foi publicada, então acabou vencendo. Muitos, principalmente na questão do jornal, eu não sei é o Washington Post ou o New York Times o responsável pela divulgação da imagem, discutiram em um primeiro momento se deveriam, pela força da foto, se deveriam publicar uma foto de uma criança morta na beira da praia. Aquilo é de um impacto violentíssimo. Na Segunda Guerra, em um campo de concentração, tinha um preso que era fotógrafo e o diretor do presídio gostava de fotografar, então ele acabou virando um assistente do diretor do presídio. Ele arranjou um jeito de preservar os negativos para quando acabar a guerra, divulgar o que acontecia lá dentro. O raciocínio é esse, “eu tenho fotografar e salvar os negativos, senão as pessoas não vão acreditar que isso aconteceu.”

PMML: Foi um prazer conversar com contigo. Muito obrigado pela entrevista

Sebá: De nada. Foi um grande prazer sair um pouquinho da minha rotina e falar de algo que eu gosto demais que é a fotografia. Cada vez eu gosto mais.

Sergey Melnitchenko

O estudo do corpo é o que motiva o fotógrafo ucraniano Sergey Melnitchenko, onde busca retratar a liberdade do corpo nu de diferentes formas, sempre buscando se distanciar de seus outros projetos. O artista nasceu em uma cidade conservadora, mas conseguiu ao longo dos anos iniciar uma escola de fotografia e expor seus trabalhos no país, como é o caso da série “When I Was A Virgin”, escolhida pela Carcara que expõe uma reflexão pessoal sobre o corpo feminino. Sergey iniciou os trabalhos em 2009, quando sua avó ofereceu a compra de uma câmera fotográfica em troca de que ele retirasse um piercing recém-feito na língua, e desde então não parou mais.

Teijiro Takagi

Teijiro Takagi, nascido em 1875, foi um fotógrafo que estudou a arte da foto com o renomado Kazaburo Tamamura, onde o ajudava a administrar sua loja na cidade de Kobe até virar o proprietário e ganhar o direito de usar o nome Tamamura. O autor produziu pelo menos 30 livros fotográficos, que mostravam os costumes e a cultura japonesa. Teijiro utilizou do nome de seu mentor até o ano de 1914, quando começou a assinar como T. Takagi Estúdio Fotográfico e Galeria de Arte, onde empreendeu até 1929. O seu trabalho, que possibilitava ao resto do mundo conhecer a própria cultura de sua cidade e do Japão, pode ser apreciado nessa edição da Carcara.

Credits

Publisher: Alaide Rocha

Editor: Carlo Cirenza

Research and text: Helena Rios, Rafael Lira, Simone Rodrigues and Simonetta Persichetti

Graphic Project: Marcelo Pallotta

Designer Assistant: Katharina Pinheiro

Translation:

Bruna Martins Fontes, , Luciana Dutra and Chris MacGowan

Acknowledgements: Ana Celia Aschenbach, Amanuense Livros, Editora Afluente, Instituto de Estudos Brasileiros da USP (IEB-USP), Katia d’Avillez, Luciana Huber, Paulinho Silva, Paulo Marcos de Mendonça de Lima, Rodrigo Haidar e Vento Leste.

1 - Suggestions, complaints and praises should be sent by email to: contact@carcaraphotoart.com

2 - Portfolios should be submitted in the following format: JPG ( 20 x 30 cm ), RGB, 300 dpi, by email to: contact@carcaraphotoart.com

ISSN 2596-3066

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