Memorial Matuto: poesias causos e canções do Sarau da Roça

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Poesias, causos e canções do Sarau da Roça


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Ficha Técnica Sarau da Roça:

Produção: Aroldo Borba Souza (Caroço) e Mônica Aparecida Fagundes Animação Cultural e Comunicação: Daniel Fagundes Arte-educação (oficinas culturais): Mônica Aparecida Fagundes, Carmelita Dias de Souza, Daniel Fagundes e Gabriel José F. Souza. Assistente de produção: Gabriel José F. Souza Culinarista oficial do Sarau: Felizbina Borba (Dona Bina) Culinaristas convidados: Irani Rosa de Oliveira, Luana Fagundes Santos, Morgana Aparecida Fagundes e Marcos Diniz Participantes das Oficinas: Adriele Silva de Oliveira, Ana Laura de Oliveira Dos Santos, Catarina O. Santos, Denise Conceição de Almeida, Luciana Teixeira Correia, Maria Eduarda Oliveira Santos, Maria Gonzalez Pena, Marizete Antonio de Alcantara, Rafaela Amelia da Silva, Regina Maria dos Santos, Rosana O. Santos

Ficha Técnica do Livro/CD:

Projeto e organização do livro: Daniel Fagundes e Fernanda Vargas Projeto gráfico e diagramação: Silvana Martins Revisão final: Maria Helena Barros Projeto de arte: Fernanda Vargas, Monica Aparecida Fagundes e Silvana Martins Costuras: Ana Laura de Oliveira, Adriele Silva de Oliveira, Carmelita Dias de Souza, Maria Eduarda Oliveira Santos, Maria Gonçalves Pena, Mônica Aparecida Fagundes, Rafaela Amélia da Silva, Regina Maria dos Santos, Rosana Oliveira Santos Gravuras: Fernanda Vargas Fotografias: Daniel Fagundes, Fernanda Vargas, Mônica Aparecida Fagundes, Gabriel José F. Souza, Fabio Yunak, Paula Dias Jalu, Sérgio Godoy (Gody) e Adriana Casellato. Direção musical: Daniel Fagundes e Zé Marcio Produção e gravação do CD: Zé Márcio (Estúdio Kaipira Urbano) Financiamento: Secretaria do Estado da Cultura Editora: Capivara Comunicação e Arte FICHA CATALOGRÁFICA Org. FAGUNDES Daniel; VARGAS, Fernanda.- 2015 MEMORIAL MATUTO: Antologia literária-musical do Sarau da Roça/ Org. FAGUNDES Daniel; VARGAS, Fernanda.- 2015 X f.: il. Cajamar, São Paulo, 2015 1. Cultura Caipira. 2. Sarau. 3. Literatura. 4. Música.

realização:

apoio:

Poesias, causos e canções do Sarau da Roça


DEDICADO À TARCÍSIO ROSA

Este livro e o próprio sarau não existiriam sem a sua presença, sem a sua amizade e sem a sua música. Onde estiver cumpadre, receba esta homenagem!

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AGRADECIMENTOS Esse sarau é pra nós tudo (amigos), pra nós tudo não se perder. À família Rosa, à família Carvalho, família Jungo, família Novais (em especial dona Carmem), família Yaconis Braga, família Souza, família Modesto, Kleber Luis (Coletivo Malungo), André Luiz Pereira, Silvano Ledo (Passarinho), Índio (Prainha Branca) Maria Luiza, Dani, Keyla e Adan (Coordenadoria de Cultura de Cajamar), Cuca, Rodrigão, Rafinha, Edu, Di, Luquinhas, Everton, Seu Roque, Biu, Xeba, Edinilza, Carmelita, Sarau da Ademar, Sarau do Binho, Cooperifa, João Quito, Eufra, Marias, Antonios, Franciscos, Luzias e toda a natureza humana e não humana que nos circunda e que nos fez de roça. Obrigado quem se foi e quem se achegou, os não citados aqui e os que virão num futuro próximo. É a nossa soma que faz o mundo ser melhor!

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Sumário

Betto Ponciano

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Salloma Salomão (recitado por Antônio Braga)

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Carlos Carlos

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Carlos Novais (Carlão – Grupo Fé)

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Célio Aparecido de Oliveira

40

Carvalho (José Antonio Carvalho)

42

Casulo

45

Cícero Gonçalves

46

Costa Senna

47

Daniel Fagundes

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Passarinho

Se um dia o homem quiser nascer Quem foi que disse? (Meninas)

Prefácio

Eufra Modesto

Jeitinho De Roça

Aroldo Borba Souza (Caroço)

Uma Batalha Em Poesia

Daniel Fagundes

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Aves Migratórias

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O Amor Ideal

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Minha Maria entre as Marias Derrubada (recitada por d. Edith) O recado do caipira

E O SARAU COMEÇA: venham poetas, violeiros e contadores de causo....

Litania

Na Contra Mão

Ale Carmani

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André Pereira

25

O voo da ave Môr

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Augusto Cerqueira

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Baita

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Cornices

Triste Despedida

Folia de Reis de Cajamar

51

Fernanda Vargas

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Flora Figueiredo

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Gabriel Fagundes

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Bandeira

Aroldo Borba (Caroço) e Antônio de Pádua Jungo (Nonoh) Mágoa

Onde já se viu? Aguado

Nascedouro

Nascedouro

Caixa de Costura

Fumaça

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Helber Ladislau

56

Hislan Gomes de Almeida Rodrigues

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Jenyffer Nascimento

60

João Bach e Daniel Fagundes

62

João da Cruz

63

João Gomes de Sá

64

CULTURA NO FOGÃO DE LENHA

João Quito

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Pela rota do feijão Tropeiro

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Jorge Esteves

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Ah! A feijoada!

124

Caldos e sopas

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Lunário

“depois do sarau da roça” Querência junina Ben 10 Caipira

Voltando da fonte (Maria do Pote) De volta pra casa

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Subtabilidade (O dia em que João Quito não foi pro Sarau) Cinzas de Fenix

Caçadô de tatu

Thiago Fernandes (Sintonia)

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Vanessa Reis

85

Zé Marcio

86

Fotos do Sarau

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Deixa se enrolar

...

Kaipira Urbano

Receita de Luana Fagundes Santos Receita da feijoada da Dona Bina

Mônica A. Fagundes

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Receita de Marcos Diniz Simplício

Pedro Calasso e Dom Billy

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Pedro Gudiar, Erick Assis, e Felipe Coelho

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Receita de Sequilho - Morgana Aparecida Fagundes Receita de Bolinho de Fubá com Recheio de creme de Coco (Cupcake Caipira) – Irani Rosa de Oliveira Receita de Bolo de Tapioca - Ponto de Cultura Alimentar

Salmy Estrela de Lacerda

78

Socorro Lacerda de Lacerda

79

Tula Pilar

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COSTURANDO HISTÓRIAS:

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Monica Fagundes

Namora

Preto Véi

Shiva de Chuva (Ode a tempestade) Pé de serra

Momento de questionamento Munheca quebrada

Joilson Kariri e Samuel de Abreu Ventre

Aceita um cafézin da roça?

da Capão Cidadão

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Sobre Arte-Educação Na Roça

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Fotos das Oficinas

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Sarau na Roça Prefácio

Eufra Modesto

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ivemos momentos da nossa Cultura Brasileira de grandes surpresas. Boas e ruins. Posso afirmar que pelo menos a partir dos anos 80, os meios de comunicação vêm viabilizando uma quantidade considerável de expressões artísticas de baixo nível, sem conteúdo, sem propósito social, com preocupação apenas mercenária, visando o sucesso rápido, certamente apostando na proliferação da mediocridade artística, principalmente na linguagem musical. Este quadro na história da arte brasileira vem se agravando de forma assustadora, principalmente nos setores mais populares da nossa sociedade. Contrapondo-se a essa situação, foram surgindo atividades culturais alternativas, como forma de reação daqueles que, inconformados com a expansão da idiotice nos principais meios de comunicação, passaram a criar momentos preciosos com objetivo de revelar dons e talentos artísticos dentro da ótica da diversidade cultural do povo brasileiro. Estes acontecimentos espontâneos são identificados como “saraus”. Milhares de saraus são realizados todos os meses nos quatro cantos do país. Em São Paulo, entre a capital e o interior, tenho participado pessoalmente de uma média de 20 saraus por mês. Desses destaco com muito orgulho o “Sarau da Roça” como um dos mais legítimos e autênticos, que consegue agregar e compartilhar todas as linguagens e expressões artísticas da Cultura Brasileira. Sob minha ótica, sarau bom é aquele que não tem dono, mas também não está perdido. Tem uma linha condutora que garante a participação de qualquer pessoa que queira se expressar e compartilhar os seus saberes e suas emoções. E assim tem sido a formato do Sarau da Roça. A família Fagundes, com a presença marcante de Dona Bina, Aroldo (Caroço), Mônica, Daniel e Gabriel, é a grande responsável

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pela organização do Sarau da Roça desde Junho de 2010 e que recentemente vem sendo realizado uma vez por mês, para felicidade dos participantes. A Cultura Caipira é um dos pontos fortes, principalmente a música e a culinária com fogão à lenha, cardápio típico e um paladar pra “matuto” nenhum botar defeito. É impressionante a exuberância da natureza neste lugar. No pé da serra, a casa da Família Fagundes parece o portão de entrada para quem quer seguir mata adentro. Este livro com CD é um importante registro da memória de pessoas que desde os anos 70, a partir dos “Movimentos Culturais da Zona Sul de São Paulo”, nunca deixaram de acreditar que a sua arte, o seu fazer cultural é a grande contribuição para construção da Paz e o “Encantamento do Mundo”. Os poetas, músicos, cantadores, apreciadores, amigos, vêm de vários lugares: capital, litoral e várias cidades do Estado de São Paulo. É um dos poucos saraus que mantém o formato de “Encontro”. Não é espetáculo, não é show. É um momento de troca de saberes e conhecimentos e compartilhamento de emoções. Uma das principais atrações do Sarau da Roça é o “fogão à lenha” que,

além de cozinhar a comida preparada pela família Fagundes, sob o comando de Dona Bina, é um cantinho acolhedor em que e as pessoas se servem da melhor comida caseira e se servem também desse cenário como pano de fundo para as Poesias, as Canções, as Cantigas, os Versos e todas as manifestações de Culturas Populares e Tradicionais, simples e belas, que são interpretadas pelos participantes. A maioria dessas obras apresentadas no Sarau da Roça faz parte do conteúdo deste CD. Cada olhar, cada expressão facial, cada palavra tem sabor de degustação cultural e posso afirmar que no Sarau da Roça “Qualquer um pode ser Poeta, mas Poeta não é qualquer um”. Os sons característicos dos vários instrumentos utilizados pelos músicos vão se fundindo ao fio de fumaça que sai da lenha do fogão, traçando no céu um desenho em autorrelevo. Todos que olham acreditam que naquela imagem há mensagens diferentes sobre a construção da Paz. O cheiro da comida também segue invisível, porém, provocante. E vai se misturando ao cheiro do mato, nos convidando a embarcar no trem da imaginação e sentir a forte sensação de que já estamos além do “interior”.

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Jeitinho De Roça Caroço

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F

azer cultura nesse país é uma luta! Desde cedo percebemos isso, mas é também uma missão, algo inerente à existência. Por isso, eu e a minha teimosa família, seguimos reunindo amigos há 6 anos nesse projeto que denominamos Sarau da Roça. A prática do sarau foi uma experiência de descoberta, já que sempre fizemos encontros com amigos para recitar poesias, brincar o teatro e compartilhar canções. Foi justamente perceber que iniciativas como o Sarau da Cooperifa, o Sarau do Binho, entre outros expoentes deste movimento de literatura periférica, eram a formatação de algo que desde o final da década de 70 já fazíamos nos quintais do extremo sul de São Paulo e não sabíamos que tinha esse nome. Quando há 10 anos mudamos para Cajamar em busca de melhor qualidade de vida, nossa vontade sempre foi a de sistematizar um projeto com atividades contínuas e abertas para comunidade em que passamos a morar, o Jd. São Benedito. E pudemos efetivar a ideia convidando os velhos amigos de São Paulo para dividir seus saberes com os novos amigos de Cajamar. E foi assim durante 4 anos sem nenhum apoio governamental. Aos poucos, o Sarau foi crescendo e veio o apoio da prefeitura para melhorar o som e depois o apoio do PROAC do governo do estado que permitiu a ampliação das atividades e a realização de um sonho antigo: Fazer oficinas no bairro. Foi muito gratificante, a troca de saberes entre nós e as educandas.

Mônica e Caroço contemplando a belezura dos amigos tudo juntos na roça

Vendo o brilho nos olhos daquela gente ao realizarmos sessões de cinema ao ar livre ou no contato com os artistas do sarau, percebemos que os 6 anos de trabalho duro valeram a pena, já que muita gente ali via essas manifestações pela primeira vez. A cada dia é mais lindo de ver, a mulherada costurando, a criançada correndo, o feijão bulindo na lenha. E tudo isso regado a muita poesia e música boa. A gentaiada feliz que só, celebrando sua cultura. Eita coisa boa! Nós crescemos muito com essa experiência, por isso agradecemos a essa grande família que se transformou o Sarau da Roça. Por permitir que façamos de nossas vidas instrumento para a efetivação de um mundo melhor. Sem vocês, nada disso seria possível.

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Eo Sarau Começa...

Na cultura caipira não poderíamos deixar de dar espaço para os sotaques e jeitos de contar os causos ou a palavra cantada no dedilhado da viola. A oralidade é parte fundamental deste dia-adia, por isso além das poesias escritas, o livro acompanha o CD com contadores, poetas e violeiros que fizeram o sarau acontecer.

Venham poetas, violeiros e contadores de causo...

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Môr

André Pereira

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O Voo da Ave Ale Carmani

O voo viajante da ave ai como me comove o jeito que se move pelo ar vezes nuvem, vezes nave a nos olhar voando leve faz um pouso breve e segue livre

Varando velozmente o vasto céu vai a ave Voando através do vão do chão vai a ave atravessando vales na natureza viva a ave vai livre...vai livre...vai livre...

O amor é uma chaga Na pequenez humana Um sorriso de deus Profano prazer do criador Tragar um cigarro com o diabo na cama Amar é velar o sono de quem te irrita Prever futuros Engolir rotinas, Maestrar belezas Justificar a vida O amor é um porre, vômito, azia... Libido acessa Dedicação restrita O amor é divorciar-se da solidão Pequeno prêmio Não viver em vão Legitimar as coisas, coisar, O amor é um saco cheio de contextos, devaneios, porquês, praquens, trejeitos... É monólogo, existência e umbigo A essência do que carrego Os caminhos que miro Errei! O amor é um sonho, Bebê de proveta

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Môr

André Pereira

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Uma porra alheia Criação! Insensato motivo Sagrado e cativo Sorriso distinto Desconhecido argumento O homem querendo ser eterno O amor é o sereno que o abraço expulsa A ausência de vida Que tua presença anula Dependência O amor é o argumento A casa, os filhos, o carrinho, 1º ano do netinho O amor é construção Alicerce pro peito Abrigo, criação, fuga, inserção É caminha quentinha, cobertor e carícia Masturbar o sexo Viver o último dia O amor é suicídio Transpor a ponte Arriscar sorrisos nostalgiar o futuro, gozar Querida... O amor é uma droga! Um vício, uma doença sem cura Câncer ariano, zodíaco O Amor é tão filho da puta que se cria sozinho Nada o derrota Nem mandinga, nem feitiço, nem vida loka, Amiguinhos... Nem Belchior, Fagner, ou Pablo explicam O amor é uma peste Metafísica capitalista Comprar, trilhar o dia-a-dia

O amor é o envelhecimento precoce Tarde de domingo, Chulé pra tosse, xarope necessário O amor é o travesseiro fofinho onde me deito sorrindo Como se o mundo findasse no trililim dos anjinhos A tradução das onomatopeias A bíblia dos segredos O ego de Dulcinéia Velado alimentar de quimeras O amor é o sorriso de Monalisa ironia dos destinos tão belo, tão preciso? O amor são os poemas que arquivo lira de menino, sina que carrego Amar enquanto vivo...

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Mágoa

Antônio de Pádua Jungo (Nonoh) e Aroldo Borba (Caroço) Um rio desceu dos olhos da gente, desceu pro chão. Fez vida nascer na terra, semente que brota do coração.

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Minha irmã, irmã senta na beira do rio, goza d`água, ser limosa, molha n’água o seu pé frio. Pomba rola, voa, rola nos ares do céu Cai de mansinho, no colo de Deus. Vem ciscar no quintal de mãe. Saca moleque do bodoque, pega o mote, na danada. Se esconde na sacada, que ela voa de você. Um rio desceu de uma boca feia, peia danada, que magoa a gente. Um homem ruim fez chorar a mãe, rasgou meu bodoque, fez o pai doente.

E a gente foi descendo, na corrente que empurrava. Em cada canto escondendo, uma dor que magoava. Pomba rola, voa, rola nos ares do céu Cai de mansinho, no colo de Deus. Vem ciscar no quintal de mãe. Saca moleque do bodoque, pega o mote, na danada. Se esconde na sacada, que ela voa de você.

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Cornices

Augusto Cerqueira

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essa pobre poesia só queria te tocar estar no seu dia a dia. no lar. no bar. no altar da sua cama, toda semana, a semana inteira. sagrada e profana. essa poesia feia quer te por à loucura. quer ser a sua cultura. a sua bela figura. a pimenta quente que atormenta a vista. ser a alta velocidade que te põe na pista. essa poesia serva quer fazer a sua comida, quer dobrar a sua roupa e te ajudar na lida. quer te banhar e preservar a sua juventude. quer te fazer massagens. cuidar da sua saúde. essa poesia descalça quer correr com você. quer ficar na varanda e ver a lua amanhecer. quer mergulhar fundo no rio, dançar na praça. quer te fazer rir. tirar a sua roupa e a mordaça. essa poesia fuleira te quer de toda maneira. ela te quer irmã, filha, amiga e companheira quer aconchegar-se no seu colo, ficar perto e não ser mais esse grão de areia no deserto... por isso sou triste.

Triste Despedida Baita

Foi um dos golpe mais triste que neste mundo existe pro Zézinho e seus pais Vivemos juntos até agora E o João zinho vai se embora nós não se vê nunca mais

Há muitos anos passado trago guardado Um fato que aconteceu com um casal de sertanejos que só recebia os beijos era dos dois filhos seus

Joãozinho olha o irmão e com dor no coração que seu irmão consola Zézinho peça pra deus Pra guiar os passos meus Que um dia hei de voltar

O mais velho era o Joãozinho foi criado com carinho até ficar mais forte Zezinho era o caçulinha Seus pais e os filhos que tinha Nunca reclamaram da sorte

Joãozinho então partiu Zézinho jamás sorriu o coitadinho emudeceu Foi triste a separação pensando no seu irmão o coitadinho morreu

Os dois irmãos combinava nem para dormir se apartava Isto é tão lindo na terra Joãozinho moço formado Um dia veio o chamado Para ele seguir para guerra

Joãozinho tá lá na guerra Sempre ajoelhando por terra pedindo a nossa senhora Pra que ele volte com vida Pra ver sua mãe querida E o irmão que tanto adora

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Baita

Triste Despedida

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Um dia um dos sargentos grita com todo talento tá terminada a batalha dizendo para o soldado Podem ficar descansados Deixe no chão a metralha

Mamãe como está a senhora sentiram minha demora Papai como está velhinho Agora que abracei e suas benção tomei Quero abraçar o Zézinho

Passarinho

Agora vamos voltar a todos vamos contar que nós fomos vencedor Vamos voltando contente rever os nossos parentes A quem nós temos amor

Pobre do meu irmãozinho ficou aqui tão sozinho de certo está me esperando Dizendo isto o rapaz quando olha em seus pais todos os dois estão chorando

Você sabe meu querido passarinho Tantas vezes quis um ninho Pra poder lhe abrigar Mas o tempo ciumento e traiçoeiro Tramou com o destino ligeiro Pra longe me carregar

Joãozinho na chegada vê sua casinha fechada tudo é triste por ali Será que meus velhos pais já não me espera mais pensando que eu morri

Joãozinho já percebeu que seu irmãozinho morreu depois de sua partida E sem mais uma palavra pelo choque que tomara Joãozinho caiu sem vida

Mas a vida é como um rio Um curso pra se mergulhar Cada margem uma escolha Em cada curva um retomar

Chega na porta da sala a sua voz se entala Papai, mamãe, eu cheguei! Quero pedir-lhe a benção e abraçar meu irmão que aqui eu chorando deixei

Hoje os dois pobres velhinhos se lembram dos dois filhinhos que foi seu amor na vida e que a guerra como herança só lhe deixou a lembrança da mais triste despedida

Betto Ponciano

Não conheço seus colegas de escola Se solta pipa ou joga bola Pra quem deu seu coração Já nem sei qual seu prato preferido Se de tudo o que foi lido Soltou a imaginação Mas a vida e só um rio E leve o tempo o que levar Desafio a correnteza E chego pra lhe ver voar

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Se um dia o homem quiser nascer Salloma Salomão (recitado por Antônio Braga)

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Um dia um amigo me falou o seguinte… Se acaso um dia o homem quiser nascer ou se ele quiser renascer em meio a tantas ruínas ele terá que mudar o curso de sua sina e que não fazer uso do seu poder digo quanto aos homens serem docemente ternos e os homens seriam para sempre eternos e digo não para os homens de gravata e terno pois esses são frágeis, tão frágeis quanto um sol de inverno eu digo o verdadeiro fruto do ventre materno é como sentir na carne o próprio fogo do inferno Mas se isso tiver que acontecer tem que ser bem antes da explosão terceira tem que ser bem antes da explosão certeira tem que ser bem antes do último trovão derramado do meio dos céus tem que ser bem antes do último final bem antes do último sinal tem que ser bem antes da derradeira feição vislumbrada pelos olhos seus porque quando se completa um ciclo volta-se a dar voltas em círculos, volta-se novamente aquela velha fase, nota-se novamente aquela antiga e desgastada frase: “É necessário abolir, é necessário abolir, é necessário abolir!!!”

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Quem foi que disse? (Meninas)

Menina é tambor, num peito forte de amor, de amor!

Quem foi que disse? Que só menino é maluquinho? Quem foi que disse? Que menina não espanta passarinho E as Clarices, que botam pra correr os Joãozinhos?

Eu vim de uma menina Parido e abençoado E tenho um sentimento precioso aqui guardado Que todas as meninas encham o mundo de luz Pra poder libertar todos machistas da cruz!

CarlosCarlos

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Menina joga bola Menina também cola Menina quebra dente Menina também mente Menina é arretada e tem temperatura quente! Meninas... mostrem a cara! Meninas... soltem as asas! Meninas... muitas risadas! Pra libertar as almas enfeitiçadas Quem foi que disse que menina não brinca de carrinho? Quem foi que disse que menino não gosta de carinho? Quem que falou? Que essa coisa de amor, só tem um jeito de ser, senão não vai ter valor? Menina é rebeldia Menina é anarquia Menina é sapeca e também faz estripulia

Meninas... mostrem a cara! Meninas... soltem as asas! Meninas... muitas risadas! Pra libertar as almas enfeitiçadas

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Aves Migratórias Carlão (Grupo Fé)

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Como aves eles são Em busca do que sobrou Migratórias vêm e vão, eles vêm, não voltam não. Pelo sim e pelo não Padim ciço salvação Esperança s, seu altar E no canto uma oração Fubá Cobú, broa de milho, guizo de farinha Monjolo velho da fazenda me faz recordar Das coisas boas que bem cedo a vovó fazia Para sustança da moçada que ia trabalhar Cachimbo aceso, um cachorro, rede na varanda Enxada e foice rebrilhando pelo matagal Porteira velha rangedeira e o senhor da estrada Velha jaqueira galhos duros, lenço pra agitar Água do arroio na cabaça pra matar a sede Dos camaradas que dão duro sem se lastimar Velhas cantigas entoadas em tom de lamento E a vida passa como tudo fosse bem normal

Tem, tem, tem muita coisa guardada Na cabeça de quem vem de lá São raízes de planta arrancada Flores murchas ao sol do penar Tem botecos, viadutos, marquises e ladrões para se matular Personagens à margem da história e da glória dos canaviais

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O amor ideal

Célio Aparecido de Oliveira

E num gesto de mãe Com amor tão infinito e real Entregarás seu filho à Proteçao de deus pai celestial

Ps: homenagem a uma adolecente gravida e abandonada pelo pai de seu primeiro filho.

Não derrames lágrimas Notável e feliz criatura Não te afrijas pois em teu ventre Geras o fruto do amor.

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Esse amor embora pareça loucura Exprode na alma Com angelical esplendor. Tenhas certeza bela mulher. De eterna ternura Que o brilho de seus olhos. Representa o amor mais puro e real. Expressão de efêmera formosura Dando o toque divino e maternal. Quando embolares, em seus braços Sua linda escultura. Terás a certeza que atingiu seu ideal Sorriras feliz derrubando lágrimas De ternura. Emoldurando sua criação angelical

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Minha Maria entre as Marias José Antonio Carvalho

Logo bem cedo você chegou passaram tantas, você ficou Nos conhecemos e combinamos seguirmos juntos, passar o dia

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Nós nos amamos, veio um filho nossa aliança agora é estreita Nas alterosas foram só flores perfumes, rosas, músicas, cores... Nossa manhã foi quase perfeita Sol, céu azul, amor e colheita finda manhã, uma filhinha vamos pra tarde rumo à noitinha Corpo de dona, voz de menina concha do mar, estrela guia minha Maria entre as Marias Início da tarde te magoei com seu perdão eu me renovei quando te vi naquele lencinho me fiz de forte, te dei carinho

Mas na verdade o que se passava era você quem me carregava hoje eu sei que mesmo na dor tudo que fomos foi por amor Já que a tarde avança depressa vou renovar aquela promessa sem atropelo, sem que me afoite sigo te amando até a noite Corpo de dona, voz de menina concha do mar, estrela guia minha Maria entre as Marias

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Derrubada

O recado do caipira

Corta, corta a folha morta Corta a planta não tem vida Serra, serra, serrador serra a planta não tem dor Nem chora por ser batida na caída do barranco

As árvores sabem que vão ser grandes e úteis para o planeta, por isso se enraízam no barro da vida... Já os homens da cidade apesar de se sentirem mais racionais que os do campo são superficiais, e em matéria de preservação não chegam nem aos pés dos animais ditos irracionais, que sem frescura, não tem medo de se enfiar na lama... Entre asfalto e concreto em excesso, com pouquíssimas árvores plantadas, e ervas daninhas sufocadas nos cantos das calçadas de suas ruas e avenidas ladrilhadas, as margens de rios poluídos refletindo céu cinzento, precariamente sobrevivem os seres urbanos! Só comem congelados! Só vivem estressados! É fila pra todo lado, de gente e de carros... Quem dera se vegetassem! Será que não sabem que nada multiplica mais que a terra? Que dependendo da planta um grão vira mil... Feliz é quem trilha no meio do mato onde só entra cavalo porque caminho pra carro não há! Quem cria animais, planta colhe e come o que a terra dá, sem precisar se humilhar! Fileira de milho, mandioca, arroz e de feijão, botina sete léguas nos pés e enxada na mão! Caipira sim senhor! Bobo não! Burro! Só se for pra gente andar montado! Trouxa! Só se for de roupa pra lavar lá na pedra do rio! Caipira de verdade é cabra macho! Tem tesão pela terra no cio, como um cão que fareja o chão molhado e penetra nas entranhas da mata virgem que goza o sumo das frutas silvestres, para o seu deleite, há o doce mel que lambuza o corpo inteiro sem o menor pudor... Nunca se esqueça de que são os jecas que plantam e colhem e mandam pra cidade procê comer Doutor! Procês da capitar que só se lembram da gente do interior nas férias! Bai, bai Sor!

José Antonio Carvalho (Recitado por Dona Edite)

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Será que o horizonte verde morreu? Será que quem matou ele fui eu? silvos fracos, passarinhos inocentes Arrebentam-se no chão E sirenes que arrebentam ares, lares De uma estranha caiação Corta, corta a folha morta Corta a planta não tem vida Serra, serra, serrador serra a planta não tem dor Nem chora por ser batida na caída do barranco Sei que um dia essa terra, nossa terra Que se diz uma nação Foi pousada de bonitos e felizes animais de arribação Hoje a peixarada foge da água morta pra buscar vida no chão Corta, corta a folha morta... Corta, corta a folha morta...

Casulo

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Litania

Na Contra Mão

A água que quebra na areia Me traz notícias do mar do mar que de magia mareia do mar onde mora sereia do mar de mamãe Iemanjá

Poeta a favor da ditadura trás nos versos a falta de doçura nega o bem que ilustra a escritura tira o brilho da literatura causa medo e profunda amargura o poeta a favor da ditadura. Poeta a favor da ditadura quando escreve ou viaja na leitura não enxerga as riquezas da ternura Por querer essa tão grave loucura será sempre o contrario da bravura o poeta a favor da ditadura. Poeta que é a favor da ditadura provoca insuportável gastura cala frio que parece não ter cura afirmo na mais sólida postura é o cúmulo da falta de cultura o poeta a favor da ditadura.

Cícero Gonçalves

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A luz que deita na praia me traz notícias do céu aquece o cantar da Jandaia borda a calda da galha me cobre com seu mantelo Deus nos salve lua nova Tão bonita e tão faceira Tu que iluminas minha vida Dai amor a quem lhe queira Deus nos salve lua nova Minha lua brasileira Iemanjá brilhando n’agua és a mais bela guerreira Deus nos salve lua nova meu pavão, minha bandeira deus nos salve lua nova minha musa mais brejeira

Costa Senna

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Onde já se viu? Daniel Fagundes

Brasil 500 anos de história, 400 anos de escravidão explicita hoje ela continua na mística, porém é bem mais escondida mas no taxi da vida quem entende é quem paga a corrida então venha ver as minhas cores, sou brasileiro e também sou raça pura somos nós a etnia da mistura e da desigualdade

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Do Amazonas ao Rio Grande do Sul, somos a boca e o cú do mundo enquanto no mais profundo tem alguém passando fome o dia inteiro tem gente limpando a bunda com dinheiro e esbanjando a sua futilidade O país do carnaval é também o país da irresponsabilidade então... Venha nós o vosso reino seja feita a vossa vontade, sou mais um na massa podre mais entendo a realidade E assim prosseguimos achando tudo isso normal valorizando o patrimonial, esquecendo o ser humano, esquecendo o ideal afinal o importante é o capital

É incrível um pedreiro ganhar menos que um jogador de futebol Da lama ao caos, do caos a lama a gente pouco faz e muito reclama, somos parte integrante deste mesmo suco gástrico que corrói sem perceber e é assim que o sistema te ensina a não envelhecer pois envelhecimento é sinônimo de esquecimento então... Venha nós o vosso reino seja feita a vossa vontade, sou mais um na massa podre mais entendo a realidade

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Aguado

Daniel Fagundes

Quis beber o mar, por um instante imaginei que debaixo da manta de espuma poderia te encontrar numa prosa boa trançando os cabelos de Iemanjá

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Quis beber o rio, mas desisti do desvario e quis ser canoa em suas águas a deslizar meu norte tua proa Quis beber a chuva, num pequeno momento no tempo fui a gota paridera se embrenhando no chão rachado da saudade e fiz brotar em verde sua imagem, seu sorriso... Sentir a seca da tua falta me rasgando a terra me fez querer beber toda água do mundo, mas lá fundo, bem lá no fundo eu já sabia que nenhum um açude me traria a água doce dos teus beijos

Bandeira

Canção de domínio público interpretada pelos “Os três reis do Oriente”, da Folia de Reis de Cajamar

Agradeço a rica esmola ai ai Que vos deu com alegria ai ai Santo reis te abençoa ai O senhor com a família ai ai A bandeira entrou pra porta ai ai Se despede pra janela ai ai Faça o favor dar a bandeira ai nois Não pode andar sem ela ai ai Deus te salve a casa santa ai ai aonde Deus fez a morada ai ai onde mora o cálice bento e a hóstia consagrada ai ai

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Nascedouro Fernanda Vargas

O coração é como árvore, onde quer volta a nascer. Mia Couto

Tenho grande respeito por nascimentos, especialmente por esses, que sem saber-se já nascidos, nascem e renascem.

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São como aqueles peixes que pós-seca se brotam da terra ao primeiro anuncio de chuva. Desses mistérios que alimentam a alma Alma que dizem, se espreita lá, onde de tão negro nada se enxerga. Buraco negro de desejos e medos. onde fica o que transborda e transparece.

Mas tudo isso é tão vão, ver onde principia a alma é como ver onde principia um rio. Como é possível ver se o rio se mistura a terra ou se a terra mistura-se ao rio? Quase um “rio devir terra” ou seria uma “terra devir rio”? Como quando olho na fundeza de seus olhos negros e já não sei mais em que momento de uma história se principia outra. Pois mesmo tendo sido na milionésima quarta vez que te vi que me encantaram esses olhos camaleônicos. A semente talvez estivesse na terra molhada, ova de peixe a brotar numa chuva de quarta-feira de carnaval.

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Caixa de Costura

Fumaça

Venho costurando minha vida com linhas de saudade. Procuro equilibrar-lhes a cor para que o resultado final não seja triste. Por vezes, é o cinza que insiste; por vezes, impera o marrom. Ainda bem que tem saudade bonita; mudo o tom, amarro fitas, busco a outra ponta do novelo; intercalo a trama em amarelo. A saudade é assim mesmo, tecelã do tempo. Quando menos se espera, arremata o momento, leva embora, deixa a porta encostada, o cadarço de fora, e nunca avisa a hora de voltar. Ainda hei de costurar com verde florescente e, se a saudade chegar autoritariamente, vai se sentir enfraquecida. Enquanto procuro a cor, vou costurando a vida, sem saber qual vai ser o resultado. Caso ele não fique combinado, dou um nó, encosto agulha, guardo a linha, que essa culpa roxa não é minha. É uma artimanha branca do passado.

fogo, que clareia a noite escura fumaça se funde a brisa pura fogo, que queima a montanha, fogo, que arde como as costas de quem do chicote apanha ó pobre montanha, segura a mão pela qual o açoite assanha não deixa que lhe botem fogo, segura a mão desse povo levanta-te de novo mãe terra levanta-te o fogo não espera mãe terra levanta-te e some ou logo o fogo te consome

Flora Figueiredo

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Gabriel Fagundes

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Lunário

Helber Ladislau

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Tento não pensar em você mas a nostalgia invade. Penso em ligar, mas acho que é tarde. Desligo a música, me jogo pra rua. Qualquer coisa que me distraia que não traga lembrança sua. E você parece gostar. Acende a chama mas não quer se queimar. Despetala na sala, perfuma a cama. Tenta marcar território esquecendo peça de roupa. A lua que míngua o domingo te ilumina guando se apronta. Deixando a certeza nos olhos que será longa a minha semana

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Depois do sarau da roça Hislan Gomes de Almeida Rodrigues

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Tarde de domingo, dia das crianças Encantos, cantorias, dentre tantas melodias Ouço gente a brilhar!!!!!! Anfitriã ajeitada, cheia de valia, Mônica recebeu a todos Com as matriarcas da família. Caroço tocador, com Daniel e Gabriel A tarde encantou ,com as modas do menino cantador João Quito baiano cajamarence Encanta-me com seu olhar, Figura conhecida desse arraiá, Fez muita gente chorar... Quanta gente boa conheci neste lugar!!! Sérgio Gódoy (o Gody) não teve nem tempo para filmar,

mas resolveu que de um dicionário Havia coisa a se declarar.... Eufra Modesto, seresteiro cantador, Contou causo e declamou Cantou coisas do sertão E a todos os presentes tocou Maria Luiza da cultura De Chico Buarque fez sua fala Declamando lindamente Não ouve como não amá-la. Não poderia me esquecer De ao Cuca agradecer Pelo som que a festa e o Sarau na Roça fez acontecer!!!!!!

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Querência Junina Jenyffer Nascimento

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Toda vez que penso em você Nas frestas desse junho frio Pego um café pra aquecer o corpo E logo me perco viajando na ideia Do que de fato nos distancia Na sincera Sinto seu olhar me acalantar Seu sorriso a receber com alegria minha chegada Prosa boa é comungar de tua sensibilidade Passear no labirinto de suas palavras É tudo tanto e tão pouco Diante da minha querência Que de tão tímida flerta com o desdém. Minha alma é da rua, sabe? Quero companhia pros tropeços Parceria pra cantar os sambas-canção Quero calmaria aconchegada no teu peito Intensidade do agora Surpresa que mora no depois Entre ruas, esquinas e suspiros Caminho às duas, às cinco da matina Luzes madrugueiras falam comigo Me contam segredos de teus passos Ainda assim,

Entre a coragem e o desejo A faísca e o braseiro Existe uma ponte quase intransponível. Quem me dera uma dose de ousadia Quem me dera atear fogo Nesse medo de não sei o quê Quem me dera roubar sua brisa Te levar para Pernambuco Pra criar enredos nossos Pelas pontes do Rio Capibaribe. Eu-tu, seria Manguebeat Fogueira de São João Fogos de artifício Luar do Sertão Seria. “Pense n’eu quando em vez, coração?” Não tenho pressa. Só não posso deixar o café esfriar.

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Ben 10 Caipira

Voltando da fonte (Maria do pote)

Ben 10 Caipira, Ben 10 Caipira... é um menino que tem arma e não atira Vindo de um trem que voa do fundo do espaço o menino caiu Caiu em Noveoudez (Nova Odessa) uma cidade do interior do Brasil

Maria escorregou, caiu e o pote d’agua quebrou Maria estava contemplando um pingo d’agua na folha do inhame Estava descontraída quando estrondou o tiro da espingarda Bola de arame Maria exclamou: É de vera, o caçador matou!!! É de vera o passarinho cantador, que cantava contemplando a primavera. Covardia! Matar um passarinho tão pequeno. Tomara que ele pise na rudia de cobra carregada de veneno... de veneno...

João Bach e Daniel Fagundes

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Nessa de matar monstro o menino tornou-se um belíssimo artista transformava em 10 coisa, mas nem por isso era desses transformista Ben 10 Caipira, Ben 10 Caipira... é um menino que tem arma e não atira

João Caetano da Cruz

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De Volta Pra Casa. João Gomes de Sá

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Quando o dia amanheceu, Eu já era um homem feito Abri a porta no jeito Para avistar mais distante, Minha mãe naquele instante Copiou meu pensamento: - O meu filho criou asa, Vai deixar a nossa casa Seguindo a rota do vento. Ainda vi nos seus olhos, A paisagem nordestina, Sua íris cristalina Sem muita graça sorria, Mas todo mundo sabia Que chegara a despedida, Murmurei: - Chegou a hora! Gritei de dentro pra fora: -Abre as portas dona vida! Olhei para minha terra, Rememorei meus folguedos, Os amores em segredos Na festa da padroeira; A sublime brincadeira Do passa-anel pela mão.

Muito bem orientado De conselho e de recado, Eu deixei o meu sertão. Eu dei de garra do alforje, Carregado de esperança O meu sonho de criança Iluminou meu caminho, Eu separei flor do espinho Na minha longa jornada. Quando encontrava folia Era mote, melodia; Numa viola afinada. Um pouco de tudo vi, No campo até na cidade, Do plebeu a majestade Era tudo aprendizagem. No percurso da viagem Meu alforje se enchia De muita superstição, Provérbio, adivinhação; Além de sabedoria. Dancei ciranda, cantei Xote, baião e xaxado, O martelo agalopado

Desafio de repente. Vi o vaqueiro contente Nas festas de apartação, Li cordel – livro de feira Minha rima companheira Nas noites de solidão. E tudo isso enchia mais, O meu alforje de couro, O valioso tesouro Que juntei na minha vida, O meu ponto de partida Mas afora o desencanto. As parlendas de mainha Cantadas na camarinha Meu aconchego, acalanto. Eu divido o meu alforje, Como o Sol divide a luz

Como a criança seduz Com o seu riso inocente, Como a rima no repente É livre na cantoria. Este alforje somos nós Nosso canto, nossa voz; Nosso pão de cada dia. Volto agora a minha casa, Depois dessa caminhada. Eu percorri muita estrada Por este mundo infinito, Mas a saudade era grito Um aboio recorrente. Fui aluno e professor Sou poeta cantador Das coisas da nossa gente!

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Subtabilidade

(O dia em que João Quito não foi pro Sarau) João Quito

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A ansiedade é natural Quando é precedida por algo previsível , que é o sarau , então .... A garapa foi encomendada Um saco de ráfia , com milho verde , também 21 de outubro se aproximando .... 19 de outubro , sinto formigamentos epidérmicos vai do meu ex – couro cabeludo..... até sola dos pés. Uma súbita alergia me invadiu Fui ao médico: - passas por algum problema emocional? - sim , minha mãe está com Alzheimer - então , é alergia emocional Prescreveu os medicamentos Até vermífugo foi receitado Soro, via endovenosa Tive a sensação de um banho de urtiga Uma lástima! Sarau sem mim , e eu sem vocês! Cancelei a garapa , que dó!! O milho ficou.... E agora Josés “sarauados”? Ouros haverão ...

Meu corpo é só vergalhão De tudo que somos acometidos , há uma razão Esmoreço não . Forte abração do quito! Este João

Cinzas de fênix João Quito

O fogo ponhado no mato sem pensá nas consequência só deixa um rastro de morte dos homi sem consciência! Os animar desesperado tenta em vão do fogo fugir mas logo adiante uma cortina di fumaça Num dexa os bicho prosseguir A natureza tá pidino socorro mái num tem ninguém pá ajudá Será qui na próxima primavera nóis vai tá aqui pá oiá Dispois de algum dia as pranta vorta a brotá que é pa mostra po homi que a sua inguinorança num pode aumentá Fico pensano aqui Inté quando isso vai durá Porque do jeito que as coisa vai inté a natureza vai chorá

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Caçadô de tatu Jorge Esteves

Fumo: E já era quais meia noite Quano intremo na froresta. Di cara já vimo dezoito onça Sete urutu com duas cruiz na testa. Oito cascavé, quatro sucuri Cinco mula sem cabeça, treis saci Nove lião iscundido numa fresta.

Numa quinta feira santa Nhô Tiburço me chamô. Pra nois i catá tatu Lá na mata do sô nhonhô. Eu disse: Nem ca giripoca cantá Hoje é quinta feira santa! Ô num vô não sinhô.

Deiz currupira, quinze iara Im riba da arve mir urubu. Na cuva do rio, treze caboco do mato Pescano jibóia e surucucu. Intrava e saia do rio Pescava e jogava pros fio Qui cumia tudo cru.

Uai sô pruque tanto ispanto? O qui ca conteceu cocê? Se a gente num i catá tatu Num tem bóia pra mim nem procê. E se a gente isperá só por Jesuis Morremo crucificado sem cruiz Sem nadica de nada pa cumê.

No oco da arve tinha gambá Porco do mato, porco espinho. Num gaio, doze liopardo, deiz tigre Onze águia dendum ninho. imbaixo um bando de hiena Cuma fome da gota serena Só isperano um lanchinho.

É memo: num quiria mais ô vô! Só cu medo me aperreia. Já ta dueno minha barriga Tá quemano minhas zoreia. E pelo o tamanho do calô E a quantidade de fedô! Minhas carça já tá cheia.

Na curva do rio cum zoio de pexe morto Quinze crocodilo, dezoito jacaré. Sete mãe d`água dançano, Bebeno, fumano e cherano rapé. Eu disse: Bão, bora desse mato Qui só farta um bando de largato Pra cumê os nosso pé.

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Jorge Esteves

Caçadô de tatu

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Aí nhô Tiburço disse, óia um tatu cavano! Pica a inxada atrais dele rapais. Conforme a gente ia cavano Ia saino um puta cheiro de gais. Quano incontremo o tatu Nhô Tiburço disse: infia o dedo nu seu..u Quele vorta pra trais. Aí deu meia noooite, e do buraco Saiu um fogaréu e uma exprosão. E uma voiz dizeno: Infia no seu! Ca aqui é um capeta garanhão. E cai fora daqui seu bando de urubu Se não, sô eu que infiá no seu..u Óia o tamanho do meu tição.

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Nhô Tiburço se assusto-se caiu pa tráis Saiu correno de cata cavaco. Dirrubô dezoito arve, oito cupim Atropelô vinte e sete macaco. Distruiu uma roça de inhame E numa cerca de arame Dexô a metade do saco. E hoje ca metade das bola Nhô Tiburço é um homi mais sensato. Disse nunca mais ô vô catá tatu Nem qui num tenha nadica no prato. Memo qui tivé qui ciscá cisco qui nem garça Se eu tivé qui mijá, mijo nas carça Mais nunca mais entro no mato...

Se ocêis acha qui é mintira! Prigunte pro Zé Bernabé. Di quem é aquelas bola Quele veve petecano cus dois pé. Pru que cu medo queu passei Murri: E só agora vortei Pra iscrevê esse cordé...


Namora

Preto Véio

Namorada, a flor namora a flora Namora e se revigora Namora e faz andança e dança... Namora o pai, a mãe, o filho, o amigo antigo, a criança! Mas nunca se faça ausente a qualquer ser que esteja carente e pra isso... Namora!

Preto Véio é malandragem de quilombo de Zumbi Ritmo e poesia raiz que nasceu aqui Terra de Geraldo Filme, Pato N’agua, Boboplim Nego é Isca de Policia, caboclo, cateretê

Mônica A. Fagundes

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Pedro Calasso e Dom Billy

Um povo índio, mestiço, caboclo, negro Oriental, mameluco, sarará, branco Rico na mistura, forte na cultura Acostumado a viver Sem fartura na aventura, de trabalhar e não ter Nada além do básico, algo quase trágico Uma vida frágil, numa batalha pra sobreviver Vá pra batalha caia no samba, no batuque e na batida tiririca, pernada, fazer com que valha a pena Andar no fio da navalha, sendo que no bolso nada E quem nada é peixe... Você também se vê, nessa luta para se manter Então parar por que Se a vida te der mais um amanhecer Salve Preto Véio muita luz e humildade, amor fraterno som das congas que emanam muito axé Em todos centros e terreiros muita fé

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Preto Véio

Pedro Calasso e Dom Billy

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Brasil afro, somos filhos de Zumbi Yanomamis, Carajás, Língua Tupy Oxalá que proteja essa nação E as etnias que dividem esse chão Sabedoria é uma dádiva divina Malandragem se aprende em toda esquina A mente não envelhece, apenas amadurece Disse um velho que eu conheci Amor verdadeiro dura na caridade pura Vó Catarina me faz refletir Trilha do bem nós temos que seguir Acreditar e nunca desistir Vovó Maria Conga ensinou Vida não é joken-pow Bingo, jogo de azar tem que respeitar Tambor primitivo ecoa, cantador entoa Um canto, um rap O santo agradece, a paz prevalece E eu fico de boa Jesus abençoa

Vá veja a realidade é o prato do dia Vem tá na mesa é só chegar e mandar brasa A mistura é o tempero do qual Você trás na alma, é só ter calma e se lançar... O sol brilha pra mim e eu vou conseguir To na corrida e não vou desistir tão fácil Suor e lágrima hoje e o amanhã eu faço Com erros as vezes a gente acerta Vou seguindo em frente com a mente alerta Tem que ser agora essa é a hora

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Shiva de Chuva (Ode a tempestade) Pedro Gudiar, Erick Assis, e Felipe Coelho

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Um plim atrás do outro, em cima das cabeças Pingos celestiais... A árvore de galhos despreocupados e raízes ancestrais A Nuvem que traz o vento, vem carregar a chuva, que chega sem avisar Shiva de Chuva que chega sem avisar, Shiva de Chuva que chega sem avisar... Tempestade de tempo, Tempestade de temporal Tempestade de tempo Tempestade de temporal

A Valsa dos pássaros, vozes e cânticos naturais Voam os versos, semeiam os ventres de seus iguais. Arrasta a cor, pintando o céu de leve coisa Pensa em quê mais? Pensa em quê mais? Pincel do tempo, de todas as coisa. De suas escolhas temporais Shiva de Chuva que chega sem avisar, Shiva de Chuva que chega sem avisar... Shiva de Chuva que chega sem avisar, (Tempestade de tempo,) Shiva de Chuva que chega sem avisar... (Tempestade de temporal)

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Pé de serra

Momento de questionamento

Sei que os deuses e os demônios da minha fala, podem te parecer bárbaros e de pele alva, mas não se engane: SOU DOS TRÓPICOS!

O vazio de minha alma Faz-me chegar ao fundo Onde ninguém (além de mim) Jamais penetrará.

Salmy Estrela de Lacerda

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O meu sangue tem a cor da água barrenta de uma cheia no rio Piancó; Minha pele é densa com a casca grossa do angico; Minha gala tem a consistência da lívida seiva do aveloz; A MINHA ALMA É NEGRA! Como a jurema preta! como a pena do anu! A marreta do zabumba marca o compasso do meu coração dois por dois como num xote do Gonzagão! Por isso não se engane não sou pé de valsa sou Pé de Serra!

Socorro Lacerda de Lacerda

Onde de olhos fechados Vejo-o e sinto-o melhor Consigo buscar (e reviver) Cada momento, cada paixão E sigo trilhas estreitas e belas Onde tantas vezes me perdi Onde tantas vezes me encontrei E no reviver desse vazio, (nem sei se assim o chamarei) Será vazio tudo que busquei?

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Munheca Quebrada Tula Pilar

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- Ô homi, ocê num tá venu qui num pode dá o serviço em mim hoje - Ora, mais é só um tadim minha fror! - Num pode homi, ocê tá doente! - Mais ô muié, o problema é na munheca, o resto tá bão, num tá? - O resto tá bão homi, mais ocê tá duente, num pode. - Ora, antonce eu vou dar uma vortinhas pra mode isfriá minhas idéias, se não, vô caba ficando loco... - Ai que dózinha do meu homi; preciso faze arguma coisa pra sarvar meu casamento! - Já sei! Vô telefoná: Alô, é da oficina de móvis? O sinhô pode por gentileza vim na minha residência furá uns buraquin na parede do meu quarto? -Daqui a poco? Agradecida, inté mais tarde. Quando o marido chega... - Oi bem. Vem cá um cadim em nosso quarto eu tenho uma surpresa procê - Ô muié, que diacho de gancheira é essa na parede. - Gancho na verticá, gancho na diagonar, gancho na orizontar e gancho pra riba e gancho pra baixo? - E ocê reparo que tá bem pertim da nossa cama? - Tô venu, mas num tô entendenu.

- Dá pra nois brinca. Nois marra sua munheca quebrada nos ganchin e ocê escoie mió, dispois eu ofereço procê e ocê carca ni eu. - Ô minha patativa do peito roxo, além de ocê sê mió que boa, ocê é inteligente por demais sô. - Antonce si vamo. - Demorô - Ai... Ui... Ai homi. - Eita diacho, da próxima veiz eu vou querê quebra a munheca e a perna sô! - E eu vô querê que ocê quebre o corpo interim e deixa só o umbiguim de fora pra mode deu usá. - Eta sirvicera danada de boa essa.

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Ventre

Joilson Kariri / Samuel de Abreu

O que gesta no teu ventre? o Verbo Divino que não se conjuga, um menino pedindo ajuda pro vazio de um pai ausente

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O que germina no pó dessa estrada no alumiar de cada dia, uma santa pra ser mulher a fome que não se esgota ou as dores de quem suporta na força de ser o que é Ave Maria, ave mulher! O que gesta no teu ventre? ave do sertão de avoar rasante ou uma orquídea roxa, mansidão das ovelhas mochas toda água suja da vazante Que venha ser na dor que é tanta breu da escuridão ou raio de luz Maria Madalena ou menino Jesus orixá da paz na guerra santa!

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O que gesta no teu ventre? sangue do inocente na hóstia do pecador, o avesso da sorte, ódio que vira amor. Que venha sofrer de ser gente pra depois ser o que puder; o que gesta no teu ventre Ave Maria, ave mulher!


...

Vanessa Reis

Deixa se enrolar 84

Thiago Fernandes – Sintonia

A brisa que vem do mar revela na areia Quão belo é o meu sonhar Seu rosto de sereia Mas querem me acordar tirar deste sonho bom Pois sonho de quem vadia é destruir o som en†ão deixa ele sonhar, deixa conspirar, eu quero a paz de Jah, deixa se enrolar na própria língua O mar esta tão belo pra quem quer viajar Pra quem plantar o bem os frutos colherá Mas quem tropeça cai e não quer levantar aí eu só lamento…

no caminho reto e a passo frouxo apesar de cobras e motores e esforços de compreensão enquanto no mundo de figurantes o vento não sopra o ponto da próxima fala ao improviso a querência é muita mas a convicção é fraca põe na bacia pra dormir pra ver se nasce pureza mas para além das buzinas há o grito, o roer de madeiras e todas as noites a prece baixa de hoje pergunta pelos chiados tantas escuridões à espreita: os ratos estão por dentro.

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O kaipira urbano Zé Marcio

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Eu num vim aqui pra falar de fome Nem de gente que geme por essa vida afora Pru modo de conseguir um pedacinho de chão Eu num vim aqui pra dizer da seca do sertão Que se esturricô no zóio daquele que chora Nem tão pouco dizer daquela dô que o caboco sente dentro do peito Quando perde a canarinha que escoieu pra ser a sua companheira de aurora Eu vim aqui, vóis me cê me dê licença Pru mode falar de cultura popular Dos poeta gemendo seus verso em prosa E fazendo das rima, as melodia mais gostosa As pessoinha tudo arrodeando o caboclo Que geme as dor dum povo Num resgate tão gostoso das história populá A viola que chora pru mode alegra os coração E buscando na força da canção as beleza do lugar

Mas nem tudo é alegria na vida de um cantadô Porque o danado do proigresso cabô cas rima e cuns verso Virando nos avesso a força da canção pru mode machucá os coração Angelino de oliveira, tião carreiro, que sodade dum trempo bão Do reizado, do congo, do catira Num é coisa que o povo mais se admira Num é coisa que faz parte das dança de gira Tudo isso já se foi em vão, o povo tiro os pés do chão Das raiz que assustenta essa nação As veis eu penso comigo. Sê cantadô brasileiro! Que vontade de sentir orguio... Mas não me avecho não, faço nada não Vo tocando as minhas modas que vai me traze esse pão E levo pra esse povo a força da minha canção Porque eu sou um cantadô teimoso... E vou ficar é aqui !!!

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Uma Batalha em Poesia Daniel Fagundes

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m janeiro de 2009 eu lançava, na cooperifa em São Paulo, junto do meu mano André Luiz Pereira, o livro “Lágrima Terra”, inspirado em nossas caminhadas pela Piraporinha, onde nascemos e crescemos e em nossas angústias pessoais e sociais. Um dos poemas desta publicação se chamava “O velho”, feito para meu pai. Neste poema eu falo sobre o incomodo que sentia em ter sido testemunha de um tempo em que meu velho cantava e tocava seu violão ao lado de seus grandes amigos e parceiros de poesia, com olhos lunares e uma força na palavra que inspirou muita gente. Eu e o André somos alguns destes inspirados que se meteram a fazer poesia, música, cinema, etc. Entre outras coisas pela referência destes momentos, onde o feijão borbulhava no fogo e a gentaiada fazia roda e cantava como se aquela fosse a última noite de suas vidas. Coisa que na época não via mais os velhos fazerem. Em uma frase deste mesmo poema citado falo “Eu tratarei de reavivar o fogo”. E hoje vejo que de certo modo consegui. Pois tendo visto e vivido junto de meu pai e minha mãe momentos de extrema dificuldade financeira, olho para esse Sarau que criamos e me sinto vitorioso. Já que desde sua criação que o fogão de lenha não para uma semana apagado. Ninguém deixou os trabalhos formais, continuamos lutando bravamente para sobreviver, mas o velho voltou a compor e a tocar, minha mãe voltou a fazer artesanato e a dar vazão

ao seu dom de lecionar e costurar a vida, meu irmão mais novo já tem até uma banda. Desde Julho de 2010 tem sido assim, com a força dos amigos antigos e com a vitalidade dos novos chegados! Cada um doando e recebendo o melhor que havia em si. Ali num pedacinho de roça, que era à primeira vista, apenas uma casinha velha cravada num barranco. Lugar onde alguns pastores evangélicos locais chamavam de “saruê” (coisa do dêmonio), lugar onde circulava muita gente estranha. Um lugar que exigia de cara uma quebra de paradigmas… Nossa epopeia me faz lembrar do clássico livro “As batalhas do castelo” de Domingos Pellegrini, onde ele narrava a jornada de um bobo da corte que ganhara de um rei um castelo cravado nas rochas e ali começou a juntar toda a gente rejeitada do reino, os aleijados, os órfãos, as meretrizes, o velhos… E de repente ali nas rochas já se plantava, as crianças aprenderam a ler, as velhas usavam as fortes teias das aranhas pra costurar e todos passaram a viver bem. É realmente parecido, cada um que chegou ao nosso canto fortaleceu-se e fortaleceu a nós, que insistimos em continuar, com e sem recurso, com e sem plateia, nós apenas seguimos. Simplesmente porque já não tínhamos mais como não seguir, simplesmente porque os que já haviam viajado fora do combinado nos legaram essa força! E se a chuva continuar regando nossa horta, a colheita vai ser boa. Muita música e poesia para fazer nascer todo dia um mundo melhor. Por isso, agradeço a todos que participaram desta construção e os que continuam a participar. Nossa família só cresce!

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Cultura de Fogão de Lenha

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“Come bem quem come junto, com mais gente ao seu redor” Zé Modesto


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e o causo é falar de cultura caipira não há contador de histórias melhor do que a nossa cozinha. A comida, que não é só alimento, são também nossas histórias passadas de gerações e gerações, contando de onde vivemos e de como chegamos aqui. É em volta da mesa que se concretizam muitas relações, formas de agir e de pensar. É a vida aquecida na boca do forno. Nossa comida tem voz, memória! Quando falamos em comida de roça não é diferente e é por isso que é poesia também o que vem do fogão a lenha e nos alimenta a cada encontro. Reconhecendo a importância destas guardiãs de histórias que fazem e ensinam novas gerações é que trazemos estas receitas neste livro caipira. Estes pratos foram preparados durante encontros para ensinar e trocar sobre esse fazer.

Temos então alimento e temos comida. Comida não é apenas uma substância alimentar, mas é também um modo, um estilo e um jeito de alimentar-se. E o jeito de comer define não só aquilo que é ingerido como também aquele que ingere” Da Matta

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Como fazer: Ingredientes:

600 gramas de feijão cozido 300 gramas de bacon 200 gramas de calabresa e 100 gramas lingüica fina defumada 1 concha de óleo 1 cebola média picada e 2 dentes de alho 4 ovos Sal e pimenta do reino a gosto Cheiro verde e coentro a gosto 200 gramas de farinha de mandioca 200 gramas de couve-manteiga e manteiga para refogar a couve alho e sal a gosto

Como fazer: Cozinhe os ovos e descasque, deixe de lado.

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DOMINGUES, Júlio Manoel. Tropeirismo. Seminário de Estudos Tropeiros. São Paulo: Sorocaba, junho de 2003

Feijão Tropeiro “Tropeiro” era, na época do Brasil Colônia, o nome dado aos homens que transportavam gado e mercadoria de uma região em bando. As estradas era outras e para enfrentar alguns meses de viagem formavam uma comitiva de peões em que cada um tinha uma função. A comida dessas tropas precisava também aguentar esses longos períodos de estrada, eram então alimentos não perecíveis como feijão preto, farinha, pimenta-do-reino, café, fubá, carnes secas ou alguma carne fresca de caça Foram nestes pousos improvisados que surgiu o feijão tropeiro, nas caminhanças no sul e sudeste do Brasil1.

Cozinhe o feijão em um ponto que não fique desmanchando e sim com o grão inteiro. Torre o toucinho em uma panela, retire da panela e reserve. Nessa mesma panela, refogue a calabresa, e a linguiça fina e reserve. Nesse mesmo óleo coloque a cebola, o alho e o sal, deixa dourar e refogue o feijão. Baixe o fogo, misture a farinha, o cheiro verde e o toucinho, o paio, a calabresa e a linguiça fina defumada. Apague o fogo. Lave muito bem a couve sob água corrente. Retire os talos das folhas e empilhe uma folha sobre a outra. Enrole as folhas, apertando bem, como se estivesse fazendo um charuto, coloque sobre uma tábua e corte com uma faca afiada, em fatias bem fininhas. Em uma frigideira em fogo baixo acrescente a manteiga. Coloque o alho e refogue por mais 1 minuto. Coloque toda a couve picada na frigideira e refogue por mais 2 minutos, sem parar de mexer ou até que a couve comece a murchar. Tempere com sal e misture bem. Retire a couve da frigideira e misture ao feijão. Coloque os ovos cozidos cortados em rodelas. Sirva com arroz branco e com banana frita também é uma delicia. Esta quantidade serve 6 pessoas... e bem servidas!

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Ah! A Feijoada!

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Prato encontrado de ponta a ponta do Brasil, a versão mais conhecida de sua origem é que foi inventada nas senzalas, onde negros escravizados, cozinhavam o feijão, e juntavam as partes do porco que eram dispensadas pelos senhores de engenho. Na contramão da versão mais popularizada, Câmara Cascudo pontua que apesar do feijão ser a base da alimentação de africanos escravizados, muitos não se alimentavam de porco por conta de sua cultura de influência muçulmana. Há ainda um livro de culinária da época que trata as ditas partes dispensadas do corpo como iguaria a serem destinadas a “altas personalidades”. Alguns pesquisadores dizem que ela nasceu nas cozinhas das elites escravocratas. Rodrigo Elias aponta para uma origem no século XIX e alguns jornais da época divulgavam a “feijoada a brasileira”, como se houvesse a possível existência de feijoada de outras origens. Elias nos conta que apesar do feijão existir em muitos cantos, o feijão-preto, da feijoada tradicional, é de origem indígena sul-americana, conhecido pelos guaranis por cumaná. No entanto popularizou-se no Brasil com o nome “feijão”, como portugueses já chamavam outros tipos. Se a origem é difícil de alcançar, fato é que ela se recria e se faz presente em nossa cultura. Do roçado a cidade se perpetuou desde as antigamente criminalizadas rodas de sambas até festas religiosas afro-brasileiras e feijoadas de mutirões de bater laje.

A Feijoada da dona Bina Ingredientes:

2 quilos de feijão preto 1 quilo de carne seca, 1 quilo de lombo salgado e 1 quilo paio 1/2 quilo orelha e 1/2 quilo pé 200 gramas bacon e 1/2 toucinho 100 gramas alho e 200 gramas cebola 1 maço de cheiro verde 6 folhas de louro 1 ramo de salsão e 1 ramo de manjericão Depois de Pronto: 1 dose de cachaça e 2 laranjas cortadas ao meio

Como fazer: Desaguar bem as carnes e cozinhar sem o feijão por 20 minutos. Tire a água e coloque o feijão lavado com todos os temperos menos o alho e a cebola. Quando cozido, retire as carnes corte em pedaços pequenos. Numa panela grande, frite o bacon e o alho ate dourar bem. Junte a cebola, coloque as carnes e o feijão. Deixe ferver em fogo baixo até encorpar. Depois de pronta acrescentar cachaça e a laranja e bom apetite... Acompanha com Arroz, couve refogada e farofa.

Dona Bina - Felizbina Borba Souza

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Caldinhos E Sopas Pra aquecer tardes e noites, os caldos e sopas compõe parte da culinária caipira, aqui vai a receita do Caldinho de Abóbora.

Caldo de Abóbora

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Ingredientes 2 abóboras cabotiá (ou japonesa) 1 cabeça de alho 2 cebolas medias picadas 1 colher de chá de tempero baiano 1 maço de coentro picado sal e pimenta a gosto 2 cubinhos de caldo de legumes 2 caixinhas de creme de leite ,para finalizar

Como fazer: Refogue a cebola e o alho, depois coloque

as abóboras descascadas e picadas. Então acrescente o sal, o tempero baiano, o caldo de legumes, a pimenta a gosto e a água até cobrir a abobora. Quando a abóbora estiver cozida vá mexendo, amassando a abóbora e colocando água se precisar. Quando derreter toda a abóbora e ficar uma consistência boa, desligue o fogo e acrescente o creme de leite e o coentro. Tampe, deixe um pouco e sirva. Marcos Diniz Simplício

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Café da Roça Biscoito de sequilho, biscoito de polvilho, doce de abóbora, assim como outros docinhos que eram feitos na roça, hoje são encontrados em mercadinhos, mas já foram quitutes encontrados somente em “casa de vó”. Avós que aprenderam com suas avós, que também aprenderam com suas avós e assim vai... De geração para geração direto do fogão a lenha, as receitas que seguem são para aquecer manhãs e tardes.

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Sequilhos

Ingredientes 500 gramas de amido de milho 200 gramas de manteiga (temperatura ambiente) 1 e 1/2 xícara de açúcar 2 gemas 1/2 coco ralado 1 pitada de sal Como fazer: Em uma bacia grande coloque amido de milho, açúcar, gemas, coco e sal. Amasse tudo com as mãos, até que a massa fique homogênea. Modele os biscoitos e se a massa ficar mole acrescente mais amido de milho. Pré-aqueça o forno em temperatura média e coloque os biscoitos em forma untada, com manteiga. Asse até que a parte de baixo esteja dourada. Essa receita é fácil de fazer junto com as crianças! Marcos Diniz Simplício

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Bolinho de Fubá com Recheio de creme de Coco (Cup Cake Caipira) Ingredientes do bolo: 2 ovos 1 xícara (chá) de óleo 2 colheres (sopa) de margarina 1 xícara (chá) de fubá 1 xícara (chá) de açúcar 1 xícara (chá) de farinha de trigo 1 colher de fermento em pó Ingredientes do recheio: 1 lata de leite condensado 1 lata de creme de leite 2 latas de leite integral 4 colheres de amido de milho 400 gramas de coco ralado 1 chantili preparo do bolo Bater no liquidificador, os ovos, o óleo, o açúcar e a margarina. Bater bem até ficar homogêneo. Misture numa vasilha o fubá, o trigo e a mistura do liquidificador. Mexa bem acrescente o fermento em pó e distribua em forminhas de papel próprias para bolinhos. Leve ao forno por cerca de 30 minutos. Retire do forno faça um buraco pra colocar o recheio depois é só decorar. preparo do recheio (creme de coco): Leve ao fogo o leite condensado e o leite deixando reservado um copo. Mexa e deixe levantar fervura, dissolva o amido de milho no copo de leite que foi reservado junte ao que está no fogo e deixe engrossar por cerca de dois minutos. Tire do fogo e deixe esfriar, então coloque na batedeira e acrescente o creme de leite bata até misturar bem. Misture o coco ralado e ai é só rechear o bolinho e decorar .

Irani Rosa de Oliveira

Tapioca Tapioca é o nome dado a farinha obtida do amido da mandioca. Tem sua origem indígena, mas difunde-se em diversas receitas por várias regiões do pais.

Bolo de Tapioca

Ingredientes 500 gramas de tapioca granulada 200 gramas de coco ralado 1l de leite condensado 2 xícaras de açúcar 1 litro de leite quente COMO FAZER: Coloque a tapioca em uma vasilha e misture com o açúcar. Deixe descansar por 10 minutos. Acrescente o leite de coco e coco ralado. Unte a forma com o leite condensado e leve a geladeira por duas horas. Ponto de Cultura Alimentar da Capão Cidadão

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Culinária A grande cozinheira do nosso sarau é Dona Bina (vó Bina para os íntimos), a chefe das panelas de mãos prendadas e faro apurado, sempre acompanhada do apoio atento e providencial de dona Luzia, umas das moradoras mais antigas do Jd. São Benedito. Além dessas mestras tivemos a visita pontual de alguns parceiros muito especiais, como Marco Diniz, a equipe do ponto de Cultura Alimentar da Capão Cidadão, Morgana Fagundes, Luana Fagundes e Irani Rosa. Só receitas deliciosas feitas com muito amor e carinho para todas as idades.

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Costurando

histórias

“Todos os dias foram mágicos, não haveriam palavras suficientes para explicar… Em cada encontro uma emoção diferente.” Monica Fagundes

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Sobre arte-educação na roça Mônica Aparecida Fagundes

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A

arte educação sempre me encantou, desde os tempos em que dava aulas de artesanato na Casa Popular de Cultura de M’Boi Mirim, a experiência da troca me deixava radiante. A recuperação das memórias, o ato de criar, os diferentes saberes em comunhão. E nesse caso específico das oficinas de arte e costura do Sarau da Roça essa premissa se amplificou. E eu pude perceber o quanto os processos de educação popular são relevantes em contextos mais rurais como o nosso. Principalmente para as mulheres, que normalmente ficam apartadas dos espaços públicos e de formação. Começamos timidamente, com apenas 4 mulheres do bairro, e com o tempo foram se chegando outras e mais outras, e suas crianças e alguns garotos e os vizinhos. Até que o espaço ficava apertado. O exercício do convívio foi mostrando diferentes questões implícitas na realidade do bairro. Muitas mulheres não compareciam em processos educativos semelhantes, pois não tinham ninguém para deixar seus filhos e a maioria das ONGs ou escolas não permitiam levar as crianças. E lá enquanto íamos praticando a costura e a poesia, os pequenos corriam, e desenhavam, e se abraçavam, era realmente mágico! Enquanto costurávamos o tecido, íamos costurando também as vidas e as relações. Gente que não se falava, passou a se abraçar e quem não se conhecia teve a oportunidade. E de repente o lugar que chamavam de fim de mundo, era o único lugar onde se queria estar.

Mônica Fagundes e uma bela roda de atividades

Uma canção de Orlando Morais que trabalhamos em um dos encontros dizia a seguinte frase “Costurei o fim do mundo/ Na doçura de um segundo/ Falou alto o vagabundo coração”. Não por coincidência terminamos todos chorando. Como as Arpilleras chilenas, nós fomos jogando no pano nossas angustias e libertando as mazelas, rasgando o verbo e fazendo nossa terapia coletiva. Cada um que participou dos encontros pode aprender a fazer fuxico, o ponto de mão, a trabalhar na máquina de costura industrial, a elaborar peças com colagem de tecido e a adornar objetos domésticos. Mas acima de tudo aprendemos umas com as outras a exercitar a convivência e o respeito. Ainda que nos dias de Sarau elas ainda ficassem tímidas em participar com seus poemas, nas oficinas já se sentiam em casa, a timidez foi se afastando cada vez mais e a participação coletiva era uma beleza. No último dia da oficina fizemos um belo café da manhã, cada um trouxe uma comidinha, uma delicia! O gostinho de quero mais está na nossa boca ainda hoje. Que esse seja o começo dessa colcha de retalhos que devagarzinho foi se estampando no Jardim São Benedito, na nossa história!

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Patch work e Costura A dedicada professora de patch work Carmelita foi fundamental para o desenvolvimento das educandas na arte da costura tradicional. Ela que jรก hรก muito tempo realiza projetos sociais com as comunidades menos favorecidas de Cajamar, ficou muito feliz em contribuir com o Sarau da Roรงa.

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Patch work e Costura A costura era o suporte principal do processo educativo, mas no sarau da roça aprender a costurar o tecido é também aprender a costurar histórias e trazer a poesia para morar definitivamente dentro de cada um. O Poema “Caixa de Costura” de Flora Figueiredo foi o ponta pé inicial,

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Patch work e Costura Ao longo dos 3 meses de oficinas recebemos uma série de visitas que impulsionaram as educandas a desenvolver o pensamento poético, destacamos ai o grupo Sol e Chuva de contadoras de histórias (que fez um trabalho específico com as crianças) e o cantador e pesquisador de cultura popular Eufra Modesto. Com o incentivo as palavras foram brotando e a reflexão sobre a vida e os sentimentos em cada situação do cotidiano foram sendo expressos em poesia. O educador Gabriel Fagundes contribuiu muito com o despertar deste fazer poético.

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Relatos e Poesias dos participantes Aqui um pouco dos relatos de processos e algumas poesias criadas. Nelas a sensação de liberdade criativa sendo experienciada, poder escrever e desenhar como uma criança, sem medo de críticas e repressões.

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Grafite O grafiteiro e amigo Helder Oliveira do projeto Afeto na Lata, nos Brindou com um belo mural representando a diversidade e o carinho na convivência, marcas do sarau. Durante o processo de produção as crianças presentes no dia foram aprendizes de sua arte e o auxiliaram na produção do trabalho.

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Cine Roça Em parceria com o coletivo NCA de São Paulo realizamos algumas sessões de cinema no bairro, algumas na sede do sarau e outras no campo de futebol local, contando com o apoio da associação de moradores do Jd. São Benedito e do líder comunitário Seu Célio. Os filmes passados buscavam sempre recuperar os saberes populares e divulgar a brasilidade do cinema.

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CD Sarau da Roça 2015

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1 - Se um dia o homem quiser nascer (Poema de Salloma Salomão com interpretação de Antônio Braga) 2 - Aves Migratórias (Carlos Novais "Carlão" - Interpretação Grupo Fé) 3 - Litania (Cícero Gonçalves) 4 - Mágoa (Antônio de Pádua Jungo "Nonoh" e Aroldo Borba "Caroço" - Memórias do Sol) 5 - Triste despedida (Baita) 6 - Bandeira (Domínio Público - Os Três Reis do Oriente "Folia de Reis de Cajamar") 7 - Passarinho (Betto Ponciano) 8 - Cinzas de Fênix (João Quito) 9 - Shiva de Chuva (Erick Assis, Pedro Gudiar, Felipe Coelho - Raízes Amargas) 10 - Derrubada (Letra de Antônio Carvalho com interpretação de Dona Edite e Ale Carmani) 11 - Voltando da Fonte "Maria do Pote" (João Caetano da Cruz) 12 - O voo da ave (Ale Carmani) 13 - 7 caminhos (Zé Márcio e Décio Sá) 14 - Preto Véio (Dom Billy e Pedro Calsso - Projeto Preto Véio) 15 - Môr (André Luiz Pereira) 16 - Minha Maria Entre as Marias (José Antônio Carvalho) 17 - Quem foi que disse "Meninas" (CarlosCarlos) 18 - Ventre (Joilson Kariri e Samuel de Abreu) 19 - Kaipira Urbano (Zé Márcio) 20 - Ben 10 Caipira (João Bach e Daniel Fagundes) 21 - Onde já se viu? (Daniel Fagundes) 22 - Deixa se enrolar (Thiago Fernandes – Sintonia) Poemas e Músicas gravadas no estúdio Kaipira Urbano e em outros estúdios parceiros. Finalizadas e masterizadas no Estúdio Kaipira Urbano para a finalidade desta antologia. Músicos e intérpretes: Tárcisio Rosa, Nilson Costa, Carlão, Zé Márcio, Décio Sá, Antônio Braga, Luiz Rosa, CarlosCarlos, Vitor Maia, André Luiz Pereira, Karica Dutra, Aroldo Borba (Caroço), João Caetano da Cruz, Samuel de Abreu, Daniel Fagundes, Plínio Secanechia, Almir Marques, Felipe Costa, João Bach, Flora Fagundes, Pâmela Baptista, Maria Beatriz De Possi, Dom Billy, Pedro Calasso, Erick Assis, Pedro Gudiar, Felipe Coelho, Ale Carmani, Calu Florence, Regiane Michelsohn, Betto Ponciano, João Quito, Dona Edite, Cícero Gonçalves, Baita e os Três Reis do Oriente (Dirce Domingues de Almeida, Jorge Maria de Almeida, Deci Cavesan.

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