A verdadeira historia do Club Bilderberg

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Enquanto percorria o terminal do aeroporto, minha mente perambulou sonolenta sobre algo que tinha lido na revista do avião, um singelo artigo sobre o Novodevichy ou «o Convento das Novas Donzelas», o cemitério mais reverenciado de Moscou. O artigo se via forçado a compartilhar o espaço da página com uma mulher fatal 68 com um decote do vestido vermelho, que levava uma garrafa de licor celestial a seus úmidos e carnudos lábios, e uma útil lista de visitas imprescindíveis elaborada pelo Departamento russo de Turismo. Entre o mais destacável, o mausoléu do Lenin, o quartel geral do KGB na Lublianka e o GUM, «o centro comercial maior do mundo». Novodevichy! Alguns dos escritores e poetas russos mais venerados estão enterrados ali. Chejov foi um dos primeiros em residir no lugar, em 1904, e os restos do Gógol foram transladados ali do monastério de Danilov pouco depois. Os escritores do século XX, Mayakovsky e Bulgakov, estão sepultados nele, assim como os reconhecidos diretores e fundadores do Teatro da Arte de Moscou, Nemírovich-Danchenko e Stanislavsky. Pensei na ulterior imprevisibilidade do futuro. O passado era para mim não uma rígida sucessão de fatos, a não ser, algo assim como um armazém de imagens recordadas e com pautas ocultas, que contêm a chave do misterioso desenho de nossa vida. Visitei em minha imaginação a tumba do Gógol, simbolicamente vinculada a de outro famoso escritor, Bulgakov, autor do O Mestre e Margarida. A tumba do Gógol foi, em um momento dado, transladada dentro do mesmo cemitério do Novodevichy. No traslado se renovou parte da pedra original, ficando uma grande laje armazenada durante anos, até que a esposa do Bulgakov a viu e a incorporou à última morada de seu marido. Mais tarde descobriu que aquela pedra tinha pertencido à sepultura do Gógol. Beleza e luminosidade, por um lado; meditação filosófica, por outro... ─ Buona sera. Seria tão amável de nos acompanhar, por favor? Uma voz aguda e penetrante dispersou meus pensamentos que fluíam, placidamente e sem propósito, pelos limites de minha imaginação. Levantei os olhos. Um tipo, embutido em uma gabardina se dirigia para mim. Surpreendeu-me seu traje, considerando que o céu era de um azul muito intenso. Entre as dobras de sua gabardina pude ver o brilho de uma arma automática. Como a estrela convidada de um espetáculo de feira, rodeado de 69 corcundas, anões e mulheres barbudas, este insignificante homem, bloco perfeito em qualquer carnaval, invadiu meu espaço pessoal, estalou os dedões e levou dois dedos à frente apresentando-se a si mesmo. ─ Sou o detetive fulano de tal ─ disse em um perfeito tetrâmetro iâmbico. ─ Faça o favor de nos acompanhar, se não se importar. Uma intensa sensação de tragédia anunciada ou, mais exatamente, uma


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