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Vespas e marimbondos: seria o fim da picada?

5.6VESPAS E MARIMBONDOS: SERIA O FIM DA PICADA?

Tarcisio George - @tarcisiogeorge

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Ilustração: Paula Ambrosio

Vespas e marimbondos, assim como as abelhas, pertencem ao grupo dos himenópteros: insetos que apresentam asas membranosas. Essa denominação deriva do grego, no qual hymen significa membrana e ptera significa asa. Dentre eles há a família Vespidae que corresponde às vespas e marimbondos, com um total de 5.000 espécies no mundo. No Brasil, até o presente momento foram catalogadas 1.664 espécies. A projeção é que existam muito mais espécies, mas fatores como o desmatamento acelerado e uso abusivo de pesticidas em áreas próximas à mata nativa contribuem para que elas não sejam encontradas, além de fazerem com que o número de indivíduos das espécies que já são conhecidas diminua a cada dia. A velocidade da destruição e modificação do ambiente infelizmente é maior do que o da pesquisa científica.

Vespa do gênero Polistes sp. Crédito: Matthew Fells - FLICKR

Dentre essa enorme variedade de vespas e marimbondos, mais de 90% são solitárias. A grande maioria atua como parasitoides, principalmente de lagartas, e são muito úteis nas lavouras por realizarem o controle biológico de pragas agrícolas. Menos de 10% são chamadas de vespas sociais, com diferentes níveis de eussocialidade12: quanto mais eussocial, mais desenvolvido será seu comportamento, tornando a colônia mais forte frente aos ataques de outras espécies e de predadores.

O ciclo de desenvolvimento das vespas e marimbondos é classificado como completo ou holometábolo. Após a cópula o desenvolvimento total

12 Eussocialidade: é o mais alto grau de organização social dos animais presente nas sociedades mais complexas. Como exemplo podem ser citados as formigas, abelhas, vespas e cupins.

tem a duração máxima entre quatro e cinco semanas. A dieta das vespas sociais é composta de néctar, água, suco de frutas, proteínas e carboidratos obtidos através do consumo de outros insetos e até de animais em decomposição.

Vespa parasitando uma lagarta Crédito: Ingeborg van Leeuwen - FLICKR

As funções são bem estabelecidas entre as castas: operárias, rainha e o macho o qual, diferente do que ocorre entre as abelhas, não é chamado de zangão. A função da rainha é de dar os comandos para as operárias, reproduzir e fundar um novo vespeiro. As operárias coletam resina para formação, estruturação e crescimento da colônia, cuidam e alimentam as larvas, além de defenderem a colônia. O macho fica responsável pela reprodução.

Linhagens de vespas: rainha, operária e macho Crédito: Adaptado de Oregon State University

Já nas vespas solitárias não existem castas e, nesse caso, cada indivíduo faz a captura dos recursos necessários disponíveis para a construção do abrigo. Há espécies em que as vespas cavam pequenos orifícios na terra, em outras elas inserem seus ovos dentro de indivíduos vivos onde as larvas se desenvolvem e se abrigam temporariamente. Em outras espécies as vespas depositam os ovos em estruturas de barro que podem ser como canudos ou arredondadas, logo em seguida saem à caça de pequenos artrópodes (principalmente aranhas), os anestesiam com uma ferroada e os oferecem como alimento para as larvas que estarão na estrutura de barro, famintas. Após esse processo a vespa vai embora, não havendo cuidado prolongado com a prole; isso ocorre em 90% das espécies de vespa.

No grupo das vespas existem dois tipos de ninhos: aberto e fechado (veja as figuras). Muito diversos, eles podem variar em tamanho, estrutura, formato e quantidade de camadas de células

de crias. Pode haver desde um único favo descoberto e pequeno com 5,0 cm pendurado por um pedicelo (um tipo de coluna de sustentação), até ninhos mais complexos com mais de 60,0 cm contendo uma capa protetora chamada de invólucro, bem fixados em paredes ou teto.

Ninhos de vespa Tatu (Synoeca cyanea) Crédito: Tarcisio George

Ninho cartonado aberto de marimbondo (Polistes sp.) Crédito: Tarcisio George Ninho cartonado fechado de Polybia sp. Crédito: Tarcisio George

Vespas do gênero Polybia sp. nidificando na parede de uma residência. Crédito: Tarcisio George

Ninho cartonado fechado de Polybia paulista Crédito: Tarcisio George

O incrível encontro entre ninhos de Polybia sp. e Polistes sp. Crédito: Tarcisio George Ninho da vespa Apoica pallens. Crédito: Tarcisio George

As vespas do gênero Polistes, também conhecidas como marimbondos devido ao seu tamanho robusto, são cosmopolitas, ou seja, podem estar presentes em qualquer local e formam suas colônias com poucos indivíduos. Seus ninhos são cartonados, assemelhando-se ao papelão, são fabricados com fibras obtidas de madeira decomposta, sendo essas fibras intensamente mastigadas e misturadas com saliva. Há também os ninhos feitos com barro e secreções salivares, iniciados por uma única fêmea ou por um grupo delas, as quais apresentam subordinação a uma rainha determinada por meio de disputa física entre as concorrentes.

Crédito: PIXABAY

Os vespídeos do gênero Polybia possuem ninho cartonado fechado, com múltiplas rainhas e muitos indivíduos - de 1.000 a 5.000 - e são amplamente distribuídos no meio urbano e rural, aproveitando a estrutura das casas e árvores para nidificarem.

Por possuir ferrão inoculador de veneno, a ferroada de uma vespa pode causar reações alérgicas locais e sistêmicas que são muito graves. Vale lembrar que, como as abelhas, as vespas ferroam como resposta a alguma ameaça, seja um tapa em uma operária ou um movimento brusco, toque ou até mesmo um sopro no vespeiro. Os ataques geralmente são em grupos de pequenas operárias, e a dor e a gravidade podem variar de acordo com a sensibilidade da vítima, a espécie das vespas e a quantidade de ferroadas. Diferente das abelhas, o ferrão das vespas não é serrilhado, dessa forma, ao ferroar, elas não soltam o ferrão, podendo realizar mais de um ataque seguido. Os grupos de risco em geral são idosos e crianças, além das pessoas alérgicas. Mas, como geralmente não sabemos se nós ou nossos pets são alérgicos, o importante é não mexer com as vespas. Devemos saber conviver com as espécies e de maneira nenhuma cutucar, jogar pedra ou atear fogo nos ninhos, as consequências podem ser muito perigosas e tristes.

As mudanças climáticas estão afetando muito o modo de vida das vespas, que são extremamente dependentes das plantas. Ultimamente o desmatamento vem destruindo os habitats naturais dessas espécies nas florestas nativas, no lugar de árvores há a monocultura, que é o plantio de apenas um tipo de planta, a exemplo da cana de açúcar ou da soja. Florestas inteiras têm sido devastadas para dar lugar a pastos utilizados na pecuária. A utilização descontrolada de defensivos agrícolas com moléculas agressivas a todos os animais, ao meio ambiente, ao solo e as águas, não mata somente as pragas, mas toda uma fauna que já sofre com o desequilíbrio, acentuando mais ainda a gravidade. Infelizmente nosso país tem ido na contramão dos demais quando o assunto é preservação e utilização de alguns compostos químicos. E o que acontece com as vespas e tantos outros animais? Eles se deslocam afugentados para o meio urbano e se instalam nas cidades.

Precisamos entender que o problema está sempre relacionado ao nosso modo de nos relacionarmos com o meio ambiente: seja fazendo com que elas saiam dos seus habitats naturais, seja querendo exterminá-las nas áreas urbanas.