TFG - Camila Jaloretto [manifesto do alimento]

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USJT—UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU ARQUITETURA E URBANISMO TRABALHO FINAL DE GRADUAÇAO | 2017

ORIENTANDA CAMILA JALORETTO TEIXEIRA GUEDES

ORIENTADOR JOSÉ FRANCISCO XAVIER MAGALHÃES

Créditos da imagem: Mônica Pinto|Pratos e Travessas



ÍNDICE INTRODUÇÃO MOTIVAÇÃO

pg 04

TEMA JUSTIFICADO pg 05 PROVOCAÇÃO pg 06

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA O ALIMENTO E A AGRICULTURA pg 09 A DEMANDA DE ALIMENTOS E A REVISÃO DE PRÁTICAS DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA pg 11 A AGRICULTURA URBANA COMO ATIVISMO pg 12 O ALIMENTO COMO SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA pg 14 O ALIMENTO NA EDUCAÇÃO ESCOLAR pg 15 O FORTALECIMENTO DA AGRICULTURA LOCAL EM SÃO PAULO pg 16

ANÁLISE DA ÁREA DE INTERVENÇÃO ESCALA DA CIDADE pg 20 ESCALA DO BAIRRO pg 22 ESTUDO DE CASO E REFERÊNCIA PROJETUAL: CENTRO CULTURAL SÃO PAULO pg 30

ESTUDO DE PROJETO CONCEITOS ARQUITETÔNICOS E CARACTERÍSTICAS DO TERRENO pg 38 CROQUIS DE ESTUDO pg 40 DIRETRIZES DE PROJETO pg 42

PROJETO ARQUITETÔNICO DIAGRAMAS pg 48 PEÇAS GRÁFICAS: PLANTAS E CORTES pg 58

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS pg 86


AGRADECIMENTOS

Dedico este trabalho { todas as pessoas que fizeram parte desta minha caminhada, |rdua porém apaixonante pela arquitetura. Agradeço aos meus pais Carlos e Angela e minha irm~ Karen por todo o carinho e paciência, e principalmente pelo apoio de todos os dias; ao meu professor orientador Francisco por compartilhar incrivelmente sua sabedoria comigo e acreditar nos meus potenciais. Aos meus amigos Bira, Clara, Fernanda e Renato que contribuíram diretamente para a realizaç~o deste trabalho t~o sonhado, aos pequenos produtores rurais e { todos aqueles que acreditam em uma consciência ambiental como transformaç~o social.

Gratid~o ao alimento e {s coincidências do universo, que me possibilitaram chegar até aqui.

“A vida sente a si mesmo. A vida é infinitamente mais que as suas ou as minhas teorias à respeito dela. Sentir o universo é um trabalho interior”

pg

02

[manifesto do alimento]


RESUMO

[manifesto do alimento] Promover e materializar através de um espaço criado pela arquitetura as expressões da Agricultura Urbana como atividade capaz de reestruturar o espaço urbano e de propor novos caminhos para a cidade contemporânea no que se refere ao abastecimento alimentar; planejamento urbano; geração de renda; usos do espaço público; inclusão socioespacial; introdução e desenvolvimento de práticas agroecológicas; aproximaç~o da cadeia produtiva de alimentos, para que assim se resgate a relaç~o afetiva do homem com o alimento “bom, justo e limpo’, pautado na [re]educaç~o sociocultural do paladar do século XXI, incentivando o despertar da consciência ambiental e alimentar etc. O Centro experiencial de apoio à Agricultura Urbana é um espaço sociocolaborativo que orienta o acesso { populaç~o a essa nova perspectiva de cidade, promovendo pr|ticas de agricultura urbana, geraç~o e capacitaç~o de jovens profissionais e pequenos produtores., bem como a import}ncia de redes conectadas à essa dinâmica.

[introdução] créditos: Mônica Pinto|Pratos e Travessas

pg

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créditos: Jonathan Gregson |Getty Images

MOTIVAÇÃO

O significado de um TFG - Trabalho Final de Graduaç~o - representa n~o somente, a oportunidade de elaboraç~o de projeto capaz de exprimir as habilidades técnicas e capacidades projetuais adquiridas durante o curso de Arquitetura e Urbanismo, mas também, a busca de se (querer) traduzir as inquietações e percepções de mundo, pela ótica do autor, vivenciadas ao longo da vida acadêmica, e delineadas {s somatórias de suas experiências e sensações pessoais. Como ser humano, acredito que a nossa miss~o para um caminhar evolutivo, - em todos os aspectos - deve estar aliada { busca da consciência de mundo, exercendo de forma consciente todos os papéis que temos na sociedade, desde familiar, profissional, de consumidor x produtor, até, e principalmente, o papel de protetor do meio ambiente, ou seja, o meio em que estamos inseridos. Mesmo sabendo que esse despertar da consciência é um estímulo interno, no qual cada indivíduo tem o seu tempo certo de despertar, acredito na influência coletiva como forma de movimento. Sendo assim, neste trabalho, o objeto de estudo fomenta a relaç~o da arquitetura e urbanismo como forma de express~o {s novas filosofias de consciência; como forma de manifesto {s din}micas urbanas, promovendo o di|logo entre os quatro componentes: o espaço, a cidade, a natureza (englobando o alimento e o meio ambiente) e o indivíduo, explorados através do espaço projetado – a arquitetura como qualificadora e geradora das transformações sociais e culturais. Expressar através do espaço, a desconstruç~o de certas culturas impregnadas na sociedade a séculos parece um tanto quanto utópica e desafiadora, porém se utilizados os meios certos, desenhando criativamente uma nova linha de raciocínio pautada no desenvolvimento de uma rede comprometida no despertar da consciência humana, fortalecer| a causa, n~o mais como intenç~o, mas como concretizaç~o.

pg

0 4

[manifesto do alimento]


TEMA JUSTIFICADO

O alimento, como forma pura, foi e sempre ser| a necessidade vital de sobrevivência e evoluç~o humana. As sementes s~o riquezas da terra e do planeta, que promovem a existência da espécie de todos os seres vivos, fazendo parte da história da humanidade em todas as suas vertentes.

Tentar exprimir uma filosofia n~o é f|cil, - temas assim, compete { cada individuo percepções direntes , ainda mais com uma cultura consolidada.

[o manifesto do alimento] traz a tona a discuss~o do que significa para a sociedade do século XXI o ato de se alimentar e qual a sua relaç~o atual com o alimento; levantando questionamentos culturais, sociais e político-econômicos quanto aos h|bitos alimentares e a cadeia de produç~o de alimentos inserida nas din}micas dos grandes centros urbanos, como a cidade de S~o Paulo - cada vez mais globalizada e cosmopolita.

Qualquer que seja as ações e seus manifestos, devem ser tratados através de abordagens diferentes, relacionadas ao local, e lugar, adaptadas as reais condições que est~o inseridas, sugerindo ainda uma abordagem regional.

A aceleraç~o dos processos produtivos, devido a demanda da contemporaneidade fez com que o homem se distanciasse do campo, e principalmente se distanciasse das técnicas ancestrais de cultivo e agricultura, consequentemente do tratamento com o alimento e sua saúde alimentar. Segundo a gastrônoma Ana Luísa Salles o termo ecogastronomia consiste em “uma filosofia de vida que defende alguns pilares básicos da boa alimentação, sendo eles a preservação da biodiversidade, o respeito ao alimento e ao agricultor, o uso consciente dos recursos naturais e a escolha de ingredientes de qualidade”. Baseado nestes conceitos, é que se pode justificar o tema deste TFG: pautado ent~o, na discuss~o, no destino e na promoç~o de uma nova abordagem da cultura alimentar contempor}nea, buscando atribuir uma nova agenda para os h|bitos alimentares e o cultivo de alimentos, propiciando o resgate afetivo da relaç~o do homem com o alimento, as sementes e a valorizaç~o do prazer e da memória gustativa, atrelado ao bem estar qualitativo e democr|tico aos bens de consumo de real qualidade para nossa saúde e convívio coletivo. Centralizar o alimento, n~o somente como lucro, mas como prazer.

[introdução]

pg

0 5


PROVOCAÇÃO

| nós somos o que comemos |

No mundo ocidental, a transferência do campo para a cidade, fez com que o homem moderno considerado urbano, voltasse suas habilidades e conhecimentos para a produç~o industrial - tomado pela filosofia da geraç~o das m|quinas, dos processos produtivos de grande escala e produç~o em massa como soluç~o {s demandas populacionais. Essa produç~o em larga escala, além de trazer o incentivo ao consumo de bens materiais, se estendeu ao campo, conferindo como soluç~o de abastecimento, a produç~o agrícola, baseada na monocultura, ou seja, no cultivo de um único alimento, o que drasticamente contribuiu para a perda da variedade de sementes, sabores e gostos acessíveis { sociedade, distanciando cada vez mais as possibilidades de apreciar novos paladares. As bases de produç~o de alimentos começaram ent~o a ter um único e exclusivo fim: o lucro, traduzindo o alimento como mercadoria, e somente mercadoria, monopolizando riquezas aos grandes produtores agrícolas. Atualmente, esses sistemas de produç~o agrícola s~o considerados prejudiciais { terra, devido a grande quantidade de produtos químicos tóxicos utilizados que aumentam a produtividade. Além disso, a propaganda fortaleceu a indústria do açúcar, em meados da década de 70, propiciando a cultura do fast food, da comida rápida, do alimento instant}neo acompanhando o ritmo acelerado da vida pós-moderna, e atribuindo um falso prazer ao paladar criado artificialmente, aumentando drasticamente o índice de obesidade e doenças crônicas e cardiovasculares.

| nós somos o que consumimos |

pg

0 6

[manifesto do alimento]

As decisões da geraç~o do passado, buscavam soluções { partir de uma vis~o limitada a curto prazo, tornando agressiva ao meio ambiente e a nossa saúde, a lógica de produç~o de alimentos nos nossos dias atuais, necessitando com extrema urgência revisões nesses sistema para um desenvolvimento harmônico entre ecossistemas e a economia sustent|vel.

INTRODUÇÃO


Comer é um dos maiores prazeres da vida, além de estar intimamente ligado | nossa saúde e qualidade de vida. O ato de comer consciente envolve além do que simplesmente se coloca na mesa, e o que sacia nossas necessidades e desejos. A consciência do comer faz com que tomamos melhores decisões para o que estamos ingerindo. Como papel de consumidores conscientes, atribuímos nossa responsabilidade quando entendido que fazemos parte deste ciclo de produç~o e da logística de abastecimento de alimento. O ato de cozinhar; a elaboraç~o de um prato; a degustaç~o de um novo sabor, prepara nosso olhar para uma relaç~o mais sensível com a comida. O resgate ao paladar apreciativo fortalece barreiras n~o só culturais, mas sociais, capazes de valorizar o produto org}nico, o produto artesanal de pequenos produtores e suas heranças culin|rias. Isso faz com que o incentivo a agricultura urbana agroecológica, e o movimento de hortas urbanas na cidade seja palco de discussões para um melhor tratamento dos nossos h|bitos alimentares, promovendo nos }mbitos de políticas públicas o incentivo da alimentaç~o org}nica nas merendas escolares, associada a proteç~o ao meio ambiente, e ao incentivo { agricultura familiar, e ainda tendo papel fundamental para o acesso { biodiversidade de alimentos, do consumo consciente, gerando assim { sociedade uma reeducaç~o do paladar, uma vez que o sistema de produç~o alimentício fez com que perdêssemos a nossa sensibilidade gustativa, n~o sabendo diferenciar um alimento de boa e de m| qualidade, além de fomentar a valorizaç~o das sementes e do bem-estar animal. O alimento como transformaç~o socioespacial.

créditos: Matt Armendariz |Matt Bites

[introdução]

pg

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créditos: Mônica Pinto|Pratos e Travessas

O ALIMENTO E A AGRICULTURA

pg

0 8

[manifesto do alimento]


O DESAFIO DE ALIMENTAR O MUNDO

ECONOMIA SOLIDÁRIA

Desde os seus primórdios o homem busca pela sua sobrevivência. Graças a agricultura, a humanidade teve condições de promover sua evoluç~o, uma vez que a partir de técnicas de cultivo, deixou de viver o nomadismo, e passou a se fixar em um local, encontrando no solo o seu sustento e suas raízes, produzindo alimentos excedentes, capazes de abastecer todo o seu bando, formando assim, dando origem a primeira de aldeia e comunidade, e de pertencimento { um lugar.

Produção trabalho e renda

Democracia e cooperativismo—auto Ao longo dos séculos, a agricultura acompanhou as transformações do gestão

mundo: desde as mudanças e avanços tecnológicos, {s mazelas da humanidade, aprimorando a cada era, os conjuntos de técnicas de cultivo. O homem até o período feudal enxergou na agricultura uma forma de subsistência, porém ao longo dos séculos, com o crescimento de cidades e o chamado mercantilismo, o alimento e a agricultura passaram a ser considerados como mercadoria, aprimorando significantemente assim, a forma de se comercializar o alimento, bem como a forma estratégia de seu ciclo produtivo econômico e social.

Associação, grupos

Solidariedade democracia

Sem empregados e sem patrões

Promove bem estar e não somente o

Estima-se que a populaç~o mundial em 2050, segundo a Organizaç~o das Nações Unidas para Alimentaç~o e Agricultura (FAO), ultrapasse de 9 bilhões pessoas, das quais mais de 70% viver~o em grandes centros urbanos, atingindo um aumento em 60% da demanda de alimentos no mundo. Essas estimativas alertam um desafiador cen|rio para as próximas gerações, em que se exigir| cada vez mais a adoç~o de pr|ticas e decisões sustent|veis, tanto de produç~o, quanto de planejamentos estratégicos que garantam o abastecimento de alimentos {s din}micas do mundo, promovendo as devidas condições { humanidade e ao ecossistema. Faz-se necess|rio ent~o, uma nova revis~o e uma postura firme das autoridades frente aos futuros agravantes a serem enfrentados, tanto socioeconômico quanto ambientais.

Fonte: inspirado nas palavras de João Martins da Silva Junior, presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) em seu texto “Produção agrícola de alimentos e sustentabilidade no Brasil” (2015)

[fundamentação

teórica ]

pg

0 9


AGROTÓXICOS: VENENOS NO ALIMENTO E NA MESA Fonte: produção da autora a partir de dados da 6ª edição dos Indicadores de Desenvolvimento Sustentável (IDS) 2015, divulgada pelo IBGE

o Brasil é o 1º no ranking de consumo de agrotóxicos no mundo, passando o EUA, tendo como principais responsáveis do volume total de agrotóxicos, a produção de soja, milho, cana de açúcar e algodão.

soja

64%

Cana de açúcar

milho 15%

1/3

34.147

dos produtos classificados como perigosos são os mais vendidos no país, sendo o terceiro na classificação de risco ao meio ambiente

algodão

notificações de intoxicação por agrotóxico foram registradas no Brasil entre 2007, 2014

dos vegetais mais consumidos pelos brasileiros apresentam resíduos de agrotóxicos em níveis inaceitáveis

RANKING DE ALIMENTOS COM PERCENTUAL DE AMOSTRAS INADEQUDAS PARA CONSUMO Fonte: Imagem da pesquisa elaborada pela Anvisa, 2016

63,4%

91,8%

32,6%

7,4%

57,4%

31,9%

6,5%

54,2%

30,4%

6,3%

49,6%

16,3%

4%

32,8%

12,2%

8,9%

3,1%

0%


INDÚSTRIA DOS AGROTÓXICOS: LUCRO DOS GIGANTES Fonte: produção da autora - Adaptado do site Brasil de Fato—Campanha contra agrotóxicos, por Alan Tygel, 2017

Em 15 anos, o consumo de agrotóxicos no Brasil triplicou, obtendo um crescimento de

2016

3x

2002

191%.

O mercado de agrotóxicos usado nos AGRONEGÓCIOS atualmente é concentrado e comandado por três gigantescas fusões das seis grandes empresas mundiais: Bayer-Monsanto, Dow-Dupont e SygentaChemChina. Esse fato revela o poderoso controle da indústria de agrotóxicos6.719 e seu exorbitante faturamento, não comparado a

R$

33 bilhões

Foi o faturamento da indústria de agrotóxicos em 2016

R$

13,5 bilhões

Foi o total de gastos diretos do Governo Federal com o Ministério da Agricultura em 2016

R$

682 milhões

Foi o investimento da Anvisa em 2016

13 .3

Esses dados comprovam que não existe controle do Estado sobre a venda de agrotóxicos no Brasil, uma vez que não se 12.809 tem verba e força política o suficiente para a sua fiscalização. Assim, a única fonte de informação são as próprias empresas, que divulgam apenas parte das informações, e ainda, somente para um público bem selecionado.

R$

3,8 bilhões

Foi o investimento em alimentação escolar no Brasil em 2016

R$

42 bilhões

Foi o orçamento do Ministério da Saúde em 2016

COMPARAÇÕES COM O PODER PÚBLICO Com o investimento de R$ 33 bi, estima-se que poderíamos:

4x

aumentar o Programa Nacional de Alimentação Escolar, trazendo melhorias para a qualidade do alimento fornecido às crianças.

2x

aumentar quase os investimentos com o Ministério da Saúde, adequando melhorias na saúde pública.

Este valor faturado pelas empresas de agrotóxicos equivale a

x 85 o orçamento do Instituto Nacional do Câncer


créditos: Sara Ghedina|Flickr

A DEMANDA DE ALIMENTOS E A REVISÃO DE PRÁTICAS DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA NO BRASIL

O termo agronegócio no Brasil refere-se ao ciclo de produção agrícola e pecuária; e a toda sua cadeia de suprimentos e distribuiç~o para a cidade e para o mercado externo, relacionado a pr|ticas comerciais e industriais no campo. Sendo assim, as principais atividades presentes do agronegócio consistem no abastecimento de alimentos e no cultivo de matérias-primas têxteis, de biocombustíveis e de madeiras. Atualmente no Brasil, o agronegócio é considerado o setor mais poderoso e influente da economia do país, respons|vel por 22% do PIB - Produto Interno Bruto, ou seja, quase 1/4 do PIB Nacional, além de ser respons|vel por 27% da populaç~o brasileira empregada ativamente. O aperfeiçoamento do agronegócio deu condições de compra e consumo dos produtos para a populaç~o, barateando o seu preço de venda e o seu preço de custo, uma vez que se aprimoraram as produções em larga escala por conta de maquin|rios, promovendo desmatamento de milhares de hectares de vegetaç~o nativa brasileira. Entende-se o agronegócio como setor essencial para o desenvolvimento interno e externo do Brasil, trazendo competitividade internacional e relev}ncia mundial nas questões políticas e econômicas, além de geraç~o de empregos. Porém é preciso urgentemente que se tenha a revis~o das pr|ticas deste setor, uma vez que extrapolam os impactos ambientais, culturais e de segurança alimentar da populaç~o. As tentativas de investimentos, campanhas de conscientizaç~o e pr|ticas sustent|veis para amenizar tais danos, progridem a passos lentos, e s~o enfraquecidas pelas grandes empresas e seus faturamentos. A soluç~o exige uma nova din}mica que beneficie todos os agentes desse ciclo, corrigindo desigualdades e a superaç~o da pobreza, aliada a evoluç~o da tecnologia, para que o alimento se torne justo, acessível e de boa qualidade. O desafio ent~o é aliar os altos índices de produtividade de alimentos, com a m|xima preservaç~o do ecossistema.

pg

1 0

[manifesto do alimento]

O ALIMENTO E A AGRICULTURA


O AGRONEGÓCIO: PRODUÇÃO DE ALIMENTOS EM LARGA ESCALA PRODUÇÃO AGRÍCOLA - GRANDES PRODUTORES

OS IMPACTOS DA PRODUÇÃO EM GRANDE ESCALA

Monocultura e latifundíos: cultivo especializado de um único produto, inserido em um sistema produtivo agrícola de m|ximo aproveitamento e exploraç~o do solo, atribuindo uma produç~o em larga escala, através da tecnologia de maquin|rios e fertilizantes químicos para controle de pragas e controle de nível de produç~o dos produtos.

ARMAZENAMENTO E DISTRIBUIÇÃO Geraç~o de emprego direto e indireto e possibilidade de exportaç~o.

A G R O N E G Ó C I O

Pesquisa e desenvolvimento de tecnologias de m|quinas agrícolas .

Armazenamento dos excedentes, logística de transportes e canais de distribuiç~o para atender a demanda em atacados, varejos e feiras livres.

Aumento da produtividade de alimentos para abastecimento da populaç~o. O agronegócio n~o garante a segurança alimentar. O consumo de agrotóxicos é prejudical { saúde humana e ao meio ambiente. N~o respeita a época e estações de colheitas - produzindo a qualquer época do ano - empobrecendo o solo e o valor nutricional e sabor do alimento. CONSUMISMO Consumo de alimentos

Produç~o centralizadora e mecanizada, enriquecimento de grandes empresas, gerando desigualdade social e êxodo rural.

de qualidade inferior, sem consciência de suas origens e pr|ticas de produç~o. Desvalorizaç~o dos recursos naturais e despreocupaç~o com o desperdício.

Concentraç~o de terras para o cultivo de monocultura, prejudicando a biodiversidade de alimentos e desperdício dos recursos naturais. Distanciamento da sociedade com conhecimentos e técnicas de agricultura, enfraquecendo o poder de escolha de consumo e soberania alimentar.

Fonte: produção da autora

[fundamentação

teórica ]

pg

1 1


A AGRICULTURA ORGÂNICA NO MUNDO CENÁRIO MUNDIAL RANKING DE ÁREA ATUAL PLANTADA COM ORGÂNICOS (EM MILHÕES DE HECTARES) Fonte: produção da autora - Adapatado da FIBL e Agronomic Consulting –2016

MUNDO

42 milhões de hectares AUSTRÁLIA

17,2

UNIÃO EUROPÉIA

11,4

ARGENTINA

EUA

3,1

BRASIL

2,2

0,94

CRESCIMENTO DO SETOR DE ORGÂNICOS ENTRE 2011 E 2015 Fonte: Adapatado da Apex e USDA e Agronomic Consulting –2016

MUNDO

4,5%

BRASIL

30%

UE

8%

ARGENTINA

7%

EUA

4%

JAPÃO

3%

FATURAMENTO BRUTO DE ORGÂNICOS EM 2015 Fonte: Adaptado da USDA e MAPA e Agronomic Consulting –2016

US$ 80 bilhões/ano

R$ 2,5 bilhões/ano


A AGRICULTURA ORGÂNICA NO BRASIL Média de crescimento anual maior que

30%

CENÁRIO BRASILEIRO EVOLUÇÃO DA AGRICULTURA ORGÂNICA NO BRASIL Fonte: produção da autora Adapatado da MAPA e Agronomic Consulting –2016

nº de agricultores orgânicos

unidades de produção

2014 6.719

10.064

10.194

13.323

12.809

n.d.

2015 2016

*dados até abril

CERTIFICAÇÃO DE PRODUTOS ORGÂNICOS Fonte: Adapatado do site Organicsnet e MAPA

O QUE É? Através do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e credenciada pelo Inmetro, a certificação é um selo que assegura por escrito produtos, processos e serviços que obedecem as práticas e as devidas normas de produção orgânica. QUEM SÃO OS PRODUTORES ORGÂNICOS? 90% são pequenos agricultores familiares que fazem parte de cooperativas, associações e 10% são empresas privadas. POR QUE CERTIFICAR? Para assegurar legalmente aos consumidores conscientes da origem do produto, arantindo a confiança e proteção contra falsos produtos

Lei dos Orgânicos (Lei 10831/03)


AGRICULTURA ORGÂNICA DO PEQUENO PRODUTOR: O CICLO PRODUTIVO SUSTENTÁVEL

A AGRICULTURA URBANA E O DIREITO À CIDADE

(Fonte: produção da autora -- inspirado no video Banca Orgânica - Instituto AUÁ)

PRODUÇÃO EQUILIBRADA E ECOLÓGICA O pequeno e médio produtor consciente recebe a certificaç~o de produtos org}nicos, uma vez que comprovada a utilizaç~o de fertilizantes naturais, livres de agrotóxicos, além de técnicas de cultivo tradicionais, bem como compostagem , e reciclagem de resíduos, tornando o solo mais rico.

DISTRIBUIÇÃO DIRETA Distriibuiç~o direta da fazenda, sem intermedi|rios, o que permite o contato direto entre produtor e consumidor, aumentando a fidelizaç~o e aproximando o campo da cidade.

PARCERIA : CONSUMIDOR CONSCIENTE E PEQUENO PRODUTOR CONSCIENTE Aumento do desenvolvimento local e uma economia mais justa Convervaç~o do meio ambiente, preservaç~o do sabor do alimento Contribuiç~o de qualidade de vida e saúde dos consumidores e produtores

[A agricultura urbana garante que todas as fases da produção do alimento se concentrem na malha urbana]

Em uma sociedade contempor}nea a qual vivemos, questões como o direito { cidade parecem ainda desconectadas ao que se entende por agricultura convencional. Sendo assim a integraç~o do setor agrícola e o incentivo de uma agricultura próxima da metrópole faz com que surjam alguns conceitos do que se entende de agricultura urbana e seus reais benefícios relacionados ao meio urbano. Basicamente, a agricultura urbana est| ligada ao cultivo de hortas em terrenos que est~o em desuso. [Tirar o agricultor do isolamento social, promovendo o incentivo e inclusão dos jovens às práticas de cultivo que se foi perdido ao longo das últimas décadas] a dist}ncia do campo com a cidade propiciou um desinteresse dos jovens do campo pela agricultura, uma vez que outros setores buscam a integraç~o com a cidade. Sendo assim a agricultura urbana estimula o desenvolvimento social incorporando e gerando empregos na zona urbana de maneira equilibrada e complementar. A maior diferença da agricultura urbana para a convencional é a sua [proximidade com o produtor final] encurtando a cadeia de produç~o, e o [maior contato com a natureza no ambiente urbano, aumentando as áreas verdes na cidade, desde pequenos terraços à grandes terrenos] promovendo melhorias de qualidade do ar e uma vida sustent|vel aclamada pelos centros urbanos. [Solução parcial de problemas econômicos e sociais] em países subdesenvolvidos promovendo uma estabilidade financeira e o acesso a alimentos de qualidade, uma vez que se a agricultura urbana incentiva a produç~o em menor escala e mais diversificada. “A cidade de Xangai, onde a instauração da agricultura urbana sanou diversos problemas sociais, produz através de sua agricultura urbana 100% do leite que é consumido na cidade, 60% dos vegetais, 90% dos ovos e 50% da carne de porco, suprindo assim, grande parcela das necessidades do mercado consumidor. Cidades como Mumbai e Nova York também já estão se adequando ao modo urbano de produzir alimento. (Thiago Tadeu Santos, especialista em agricultura org~nica e consultor m|ster em produç~o org}nica na empresa ImGrower, 2017)

pg

1 2

[manifesto do alimento]


A AGRICULTURA URBANA COMO ATIVISMO

A história da agricultura urbana estabelece uma relaç~o direta com os primórdios das civilizações, porém a partir de 1960, com os movimentos de contracultura ligados ao consumismo desenfreado, começam as primeiras manifestações de ativismo urbano pela luta da reestruturaç~o do espaço. A agricultura urbana em S~o Paulo se fortaleceu e ganhou visibilidade a partir de 2004, incentivada pela ONG Cidade sem Fome que atuou em diversos locais da cidade, sobretudo em |reas centrais, ajudando assim a impulsionar em 2011 a criaç~o da rede Hortelões Urbanos, compondo em 2012 a primeira horta comunit|ria em praça pública na cidade de S~o Paulo: Horta das Corujas em Pinheiros. Contudo, as hortas comunit|rias na cidade de S~o Paulo vêm se tornando símbolo do ativismo urbano, pontuando reflexões que complementam o [manifesto do alimento] ao novo olhar e direito { cidade. A agricultura urbana vêm atraindo cada vez mais adeptos, aliados { novos olhares de viver a cidade, que “reúne pessoas interessadas em trocar experiências pessoais sobre plantio orgânico doméstico de alimentos e inspirar a formação de hortas comunitárias”, sendo assim uma força coletiva que incentiva a educaç~o, a s|ude, o ativismo e preservaç~o ambiental, sinalizando novas maneiras de apropriaç~o do espaço público na metrópole paulistana.

Imagem 1. Horta das Corujas em Pinheiros ( Fonte: FIAMFAMM, 2014) Imagem 2. Horta Comunit|ria no CCSP ( Fonte: Siagutatemp, 2014)

Como exemplo disso, a cobertura do Centro Cultural S~o Paulo (CCSP) abriga atualmente, um projeto de horta comunit|ria que promove encontros, palestras e festivais relacionados a Agricultura Urbana, sendo pioneira na regi~o metropolitana em disseminaç~o de pr|ticas socioambientais, sendo ator articulador da rede de fortalecimento entre o pequeno produtor rural e a cidade, promovendo iniciativas que visam a integraç~o e inclus~o de jovens envolvidas em diferentes manifestações da agricultura urbana e alimentos org}nicos. Além de estar do lado do terreno escolhido, sendo ent~o parte do partido do projeto, como adiç~o arquitetônica, o Centro Cultural é referência tanto em programa de necessidades, quanto estudo de projeto arquitetônico.

[ f u n d a m e n t a ç[ ã i not r o t edóu rçi c ãa o ]]

ppgg 11 3


A EPIDEMIA DA OBESIDADE E A INDÚSTRIA DO AÇÚCAR Atualmente, a obesidade adulta e infantil vem se tornando um dos principais desafios a serem enfrentados em países em desenvolvimentos. De acordo com relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) cerca de 30% da população mundial está obesa ou acima do peso. No Brasil, mais de

60%

da população está com SOBREPESO, um

20%

7,3%

dos brasileiros adultos são OBESOS

Das crianças menores que 5 anos estão acima do peso FATORES DE RISCO À SAÚDE ?

POR QUE ESTE AUMENTO? MUDANÇAS NO PADRÃO DE CONSUMO

CRESCIMENTO ECONÔMICO

OBESIDADE PODE LEVAR A MORTE E DIVERSAR DOENÇAS CRÔNICAS

Alimentos processados e de baixa qualidade nutricional

URBANIZAÇÃO

cardiovasculares, diabetes, hipertensão arterial, insuficiência renal, derrame cerebral, entre outras

Artigos e estudos apontam que o AÇÚCAR É O GRANDE VILÃO do colesterol alto e doenças cardiovasculares. Desde os anos 70, a gordura recebia o título de vilão. Recentemente foi comprovado que o açúcar é

QUANTIDADE RECOMENDADA DE AÇúCAR ADICIONADO POR DIA PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES (AHA—associação americana do coração)

25g = 100calorias = 6colheres de chá = = 240ml de refrigerante

40g de chocolate ao leite

AÇÚCAR ADICIONADO ingrediente adoçante que contém calorias, adicionado na preparação ou processamento industrial do alimento

fatia de bolo de fubá

AÇÚCAR NATURAL açúcar encontrado em frutas, sucos

Fonte: produção da autora—Adaptado da revista VEJA, 2016


CULTURA DA ALIMENTAÇÃO RÁPIDA Fonte: dados da 6ª edição dos Indicadores de Desenvolvimento Sustentável (IDS) 2015, divulgada pelo IBGE

Segundo pesquisa realizada pela Escola de Negócios em Barcelona, 2014, o Brasil é o 4º país que mais consome fast-food no mundo.

EUA R$ 209,2

BRASIL CHINA unidades de produção

JAPÃO R$ 162,3

bilhões

bilhões

R$ 130,2

R$ 53,7

bilhões

bilhões

O PERFIL DO CONSUMIDOR BRASILEIRO Fonte: produção da autora adaptado do site ABRASEL, 2011

10.064

10.064‗Fast-Food no ―Desenvolvida pela Shopper Experience, a pesquisa Brasil‘ – conduzida com 5.815 pessoas entre 18 e 55 anos em todo o país – revela os hábitos de consumo e preferências dos clientes de alimentação rápida‖ 10.194 13.323

74%

preferem fast-food à restaurantes12.809 tradicionais

9%

por ―permitir-se comer alimentos menos saudáveis”

por conveniência por agilidade por rapidez por preço

consideram o SABOR DA COMIDA como fator mais importante para a

56%

FREQUÊNCIA EM RESTAURANTES FAST-FOOD

28% x3

semana

27% x1

semana

20% x1

quinzena

13% x1

mês

10% menos

x1 mês

2% nunca


créditos: Mônica Pinto|Pratos e Travessas

O ALIMENTO COMO SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA

Em meados dos anos 1950, com a industrializaç~o e o êxodo rural, a carga hor|ria do trabalhador n~o o dava condições de tempo necess|rias para o preparo de suas refeições, aumentando assim as necessidades de novas alternativas alimentícias. A partir daí, um promissor mercado começou a se definir: a indústria de alimentos. Com o desenvolvimento da tecnologia as indústrias eram capazes de produzir em série, produtos comestíveis com o uso de químicas, surgindo como resposta a uma complexa necessidade social de famílias fabris, revelando { essas indústrias, uma nova forma de lucro, que permeia até os dias de hoje, transformando drasticamente a cultura do sabor, camuflados em seus produtos artificias. O uso indiscriminado de elementos químicos na produç~o alimentícia vem gerando cada vez mais novas doenças, polêmicas, esc}ndalos e o empobrecimento da dieta da sociedade em questões nutritivas e do paladar. A indústria fez conseguiu separar o sabor do produto, de forma artificial, podendo recombin|-lo para diferentes usos e consumos. É o caso do açúcar adicionado, com suas propriedades reconstruídas em laboratório. A possibilidade de reconstituir o sabor, faz com que tenhamos a falsa impress~o de estar comendo algo delicioso. Isso explica o porque o alimento processado é t~o adorado e procurado. Este cen|rio fez com que a populaç~o perdesse o afeto pelo alimento, e o discernimento em traduzir através do paladar o que de fato é um produto natural e um produto artificial. Além disso, o consumismo de comidas processadas gera um impacto ambiental e prejudicial { saúde quase desconhecido e ignorada pela populaç~o. A boa alimentaç~o e a busca por produtos naturais, org}nicos ou menos processados, além de melhorar a qualidade de vida e saúde, contribui para uma consciência mais harmônica com o meio ambiente. pg

1 4

[manifesto do alimento]


O ALIMENTO NA EDUCAÇÃO ESCOLAR

créditos: Mônica Pinto|Pratos e Travessas

O problema da m| alimentaç~o é um problema cultural. O papel do governo é (deveria ser) tratar o alimento e a boa alimentaç~o como um legado para a transformaç~o e superaç~o da cultura do alimento processado, promovendo através da educaç~o, a aprendizagem alimentar, o poder de escolha dos alimentos que consumimos e a consciência de sua qualidade nutricional, e ainda aflorar a descoberta de novos sabores e a diversidade de comida. Além disso, a adoç~o de políticas públicas que gerenciem e incentivem as pr|ticas alimentares saud|veis devem estar além das portas da cozinha da escola, sendo disseminadas {s salas de aula. O acesso a comida saud|vel de forma democr|tica com a implementaç~o de hortas escolares, visando o resgate da aproximaç~o com o cultivo e a relaç~o com os alimentos, (de onde vem, quanto tempo leva para seu preparo). A merenda escolar deve contribuir para o esforço desse processo de desconstruç~o cultural do alimento. A dosagem de açúcar e a parceria com pequenos produtores impulsionam a ideia de transformaç~o social, incentivando a economia da agricultura familiar.

LEI DA MERENDA ESCOLAR ORGÂNICA Lei16.140(17/03/2015) Dispõe sobre a obrigatoriedade de inclus~o de alimentos org}nicos ou de base agroecológica na alimentaç~o escolar no }mbito do Sistema Municipal de Ensino de S~o Paulo e d| outras providências (Fonte: http://www.radarmunicipal.com.br/legislacao/lei-16140-)

[fundamentação

teórica ]

pg

1 5


O FORTALECIMENTO DA AGRICULTURA LOCAL EM SÃO PAULO

2 milhões de habitantes, 1,8 milhão de pessoas em situação vulnerável, 1600 favelas, 1800 moradores de rua, 20 toneladas de lixo produzidas diariamente, 1042 assentamentos irregulares, 18% de taxa de desemprego. Em tempos onde a cidade parece n~o encontrar mais espaço para se expandir, nos deparamos todos os dias com a seguinte quest~o: onde buscar espaço para respirar? Dentro dos transportes, nas ruas, avenidas e marginais, nas opções de lazer, nos bares, restaurantes, nas prateleiras dos mercados. S~o Paulo vive a constante sensaç~o de sufocamento, como se tivesse h| tempos atingido todos os seus limites de insalubridade. Mas ser| mesmo que o problema est| na relaç~o “habitantes x espaço”? Ser| mesmo que a única saída para a cidade é o êxodo de seus moradores para outros lugares ainda n~o supersaturados enquanto a natureza recupera o seu espaço na capital? Em meio a este cen|rio realisticamente caótico, nascem novas linhas de pensamento e aç~o que passam longe de hipóteses utópicas e inimagin|veis. Em vez de um crescimento centralizado e desproporcional que deixa “pontas” soltas como subproduto da sua falta de planejamento, a cidade necessita de estratégias que ativem a economia circular e a construç~o de uma cadeia de valores que abrigue uma nova mentalidade de descentralizaç~o. O processo de industrializaç~o de S~o Paulo, e políticas baseadas no uso da terra com valor cambial fizeram com que a cidade crescesse de forma prec|ria e irregular, causando a segregaç~o que vivemos hoje. A economia, a oferta de emprego e dinheiro se concentram no centro, enquanto a mata atl}ntica remanescente, as fontes de |gua que abastecem os reservatórios, e a produç~o agrícola que alimenta a cidade, est~o localizadas nas margens urbanas e n~o s~o devidamente valorizadas, colocando em risco os recursos que sustentam a capital e permitindo que a sua populaç~o viva em situaç~o vulner|vel. Portanto, esta nova metodologia propõe uma política pública que cuida e d| suporte para a vida nas margens urbanas, regi~o metropolitana de S~o Paulo, levando o conhecimento, a oportunidade e a economia a esses lugares, e tirando estas pessoas da invisibilidade e exclus~o social. pg

1 6

[manifesto do alimento]

créditos: Mônica Pinto|Pratos e Travessas


O objetivo é promover o desenvolvimento sustent|vel destas |reas compostas, entre outros, por mata atl}ntica, fontes de |gua em risco, assentamentos irregulares, e unidades de produç~o agrícola em explícita vulnerabilidade. Esta produç~o agrícola local é caracterizada pela agricultura familiar que foi perdendo espaço com a expans~o da cidade e a transformaç~o da |rea rural em |rea urbana irregular. Isso resulta na piora da produtividade e na falta de oportunidades de negócio nesta |rea. A estratégia para fortalecer a agricultura familiar e o pequeno produtor vai além de reorganizar o território e conter o crescimento urbano nestas regiões. Ela visa prioritariamente reduzir a vulnerabilidade, aumentar a oportunidade de emprego e segurança alimentar, e dar visibilidade socioeconômica a estas pessoas. Neste contexto, o incentivo { agricultura org}nica e o ecoturismo s~o propostas que reforçam a economia sustent|vel da regi~o e contem a urbanizaç~o irregular nestas |reas de preservaç~o. A pr|tica da agricultura orgânica e regional promove a restauraç~o da biodiversidade e o uso produtivo da terra, sendo a opç~o ideal para as |reas de proteç~o da mata atl}ntica e fontes de abastecimento de |gua. Outra proposta que complementa a pr|tica da agricultura sustent|vel é o comprometimento por parte do governo para incluir estas famílias na economia através de linhas de crédito para o sustento do seu negócio e programas de qualificaç~o profissional, promovendo a inovaç~o e a oportunidade de emprego. O incentivo ao pequeno produtor e a transiç~o de sua produç~o para produç~o org}nica caminha na direç~o de uma agricultura sustent|vel, que visa a valorizaç~o da terra e a visibilidade da zona rural de S~o Paulo. Mas ainda assim existe uma quest~o que caminha na contram~o da proposta: o consumo de alimentaç~o saud|vel est| centralizado na parte de maior poder aquisitivo da sociedade. Apesar da teórica popularizaç~o do org}nico e das necessidades de uma boa alimentaç~o, na pr|tica as feiras org}nicas ainda est~o concentradas nas regiões mais ricas e urbanizadas da cidade, dificultando o acesso da maior parte da populaç~o a uma alimentaç~o mais saud|vel.

Tendo em vista este cen|rio, o governo tem uma ótima ferramenta em m~os a partir do momento que é respons|vel por 2 milhões de refeições di|rias nas escolas públicas de S~o Paulo, refeições estas que muitas vezes s~o as únicas do dia para muitas crianças em situaç~o de pobreza. Portanto, além do cuidado com o aspecto nutricional, a escola é uma ótima oportunidade para a educaç~o alimentar. Fornecendo comidas frescas e variadas nas refeições escolares o governo promove o conhecimento e a acessibilidade { alimentaç~o saud|vel, e incentiva a substituiç~o da agricultura convencional por agricultura org}nica, gerando benefício para a terra, para o produtor e para o consumidor final. A implementaç~o de jardins e hortas comunit|rios e escolares, mercados de rua org}nicos com produtores locais, e centros de compostagem para transformar 400 toneladas de “lixo nobre” gerado diariamente em fertilizante orgânico, fecham o ciclo da economia sustent|vel. A transformaç~o de agricultura convencional para agroecologia é um processo lento que n~o se sustenta sem o apoio de políticas públicas, mas é de extrema necessidade para a herança ambiental de S~o Paulo a conscientizaç~o agroecológica. O gerenciamento das reservas naturais, o desenvolvimento sustent|vel das |reas em situaç~o vulner|vel, a promoç~o da descentralizaç~o da economia, a geraç~o de oportunidade, a visibilidade do pequeno produtor agrícola e o seu estabelecimento na zona rural, o encorajamento da pr|tica da agricultura org}nica e regional, a educaç~o alimentar e a conscientizaç~o da necessidade de novos destinos para o lixo, s~o os pilares da economia circular e de uma mentalidade sustent|vel para o futuro da cidade.

Fonte: inspirado no projeto “Ligue os Pontos” da Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento, no qual, como planejamento estratégico “propõe o fortalecimento da agricultura local como forma de promoção de sustentabilidade socioambiental na Zona Rural Sul da cidade, afim de incentivar os governos locais a enfrentar desafios urbanos através da criação de soluções inovadoras que possam servir de exemplo para outras cidades”. (SMUL, 2017)

[fundamentação teórica]

pg

1 7



[manifesto do alimento] centro experiencial de agricultura urbana

análise da área de intervenção

fonte: produção da autora adaptado de imagem do Google Maps


Imagem 3. CATEDRAL DA SÉ

PA

UL IS T

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ID A

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Imagem 4. MASP—MUSEU DE ARTE DE SÃO PAULO

O AI

Imagem 5. PARQUE IBIRAPUERA

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fonte: produção da autora adaptado de imagem do Google Maps

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2 0

[manifesto do alimento]

EN AV

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M DE S Ê TR


POR QUE ESSA ÁREA FOI A ESCOLHIDA?

S~o Paulo é a maior cidade da América Latina.

Relaç~o direta com o Centro Cultural S~o Paulo, no qual é um espaço dedicado ao manifesto cultural, que busca o processo de desenvolvimento criativo constante da sociedade, considerado um dos ícones paulistanos, n~o somente arquitetônico mas socioculturais mais valiosos da cidade, podendo contribuir diretamente para a demanda do centro de reeducaç~o proposto.

As potencialidades de pólo atrativo nas esferas de busca de conhecimento e propagaç~o da cultura, próximas ao terreno, além de estar no eixo de pontos turísticos importantes para a cidade de S~o Paulo.

Proximidade do pólo hospitalar de S|o Paul

CORREDORES E SUBÁREAS DA GRANDE SÃO PAULO A |rea escolhida est| inserida no coraç~o da regi~o metropolitana de S~o Paulo, e est| conectada por toda a centralidade urbana e integrada ao sistema de transporte público e vi|rio que se conecta com todo o Cintur~o Verde da Mata Atl}ntica, propiciando a visibilidade ideal para a disseminaç~o do [manifesto do alimento]

Imagem 6. CENTRO CULTURAL DE SÃO PAULO fonte: produção da autora adaptado de imagem do Google Maps

área de intervenção[escala de cidade]

pg

2 1


A |rea do terreno destacada em roxo faz parte da regi~o central de S~o Paulo, e est| localizada ao lado do Metrô Vergueiro, na Rua Vergueiro, no qual permeia em toda sua extens~o o fluxo intenso de pedestres e de veículos, por estar abastecida de diversas universidades, edifícios empresariais e hospitais, como o marco urbano Hospital Beneficência Portuguesa, hoje, considerado como patrimônio tombado, além da Igreja Paróquia Santo Agostinho, e seu pequeno largo, sendo referências históricas para a regi~o. Além disso oterreno encontra-se ao lado do ícone arquitetônico — Centro Cultural S~o Paulo (CCSP), retratando forte identidade ao lugar. Contudo, além de ser uma |rea bastante consolidada em relaç~o { equipamentos urbanos e densidade demogr|fica, por conta do corredor formado pela Av. Vinte e três de maio, a regi~o destaca-se pelas suas conexões por viadutos, (cicatrizes urbanas marcadas pelo Plano de Avenidas de Prestes Maia) dando um car|ter peculiar de paisagem urbana de fundo de vale.

[A ÁREA DE INTERVENÇÃO] e seu entorno

fonte: produção da autora adaptado de imagem do Google Earth

A

DA NI E V

AIO Z E DE M

AV TRE

VIADUTO BENEFICÊNCIA

A

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1 5

4

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O

RUA VERGUEIR

3

pg

2 2

AVENIDA VIN

[manifesto do alimento]

2

TE E TRÊS DE M AIO


MARCOS URBANOS DA REGIÃO

UNIP - UNIVERSIDADE PAULISTA

5

Imagem 7

CENTRO DE CONTROLE OPERACIONAL (CCO) DO METRÔ

6

PARÓQUIA SANTO AGOSTINHO

1

Imagem 11

Imagem 12

2

HOSPITAL DO SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL

Imagem 9

Imagem 8

HOSPITAL PARTICULAR BENEFICIÊNCIA PORTUGUESA

3

Imagem 10

CENTRO CULTURAL DE SÃO PAULO

área de intervenção[escala de bairro]

pg

4 2 3


CENTRALIDADE URBANA NAS PROXIMIDADES DO METRÔ Previsto no Plano Diretor Estratégico de 2016 (PDE), a regi~o pertence a subprefeitura da Sé, e faz parte da Zona de Eixo de Estruturação da Transformação Urbana. A lei prevê o incentivo de adensamento populacional e desenvolvimento urbano, tanto de usos residenciais quanto de não residenciais de alta capacidade construtiva, articuladas ao sistema de transporte público e mobilidade urbana, permitindo a consolidaç~o e a transformaç~o da regi~o, com forte presença de equipamentos urbanos que garantam a qualificaç~o dos espaços públicos.

ZEU [ZONA DE EIXO DE ESTRUTURAÇÃO DA TRANSFORMAÇÃO] URBANA

Fonte: Gestao Urbana - Prefeitura de S~o Paulo (Zona de estruturaç~o da transformaç~o urbana)

Imagem 13

Imagem 14

A |rea de intervenç~o apresenta características marcantes no sistema viário articulador da cidade: como a via arterial expressa da Av. Vinte e Três de Maio - um dos corredores mais importantes da cidade de S~o Paulo, que desempenha importantíssimo papel de conex~o entre as regiões Norte e Sul da cidade - bem como a Rua Vergueiro, de fluxo moderado mas que organiza o fluxo de veículos para as principais avenidas da regi~o, como Av. Paulista Considerada ZEU, a regi~o é uma das mais consolidadas da cidade em termos de estrutura do sistema de transporte público, uma vez que a mesma est| regada por três deles em menos de 1km de dist}ncia. Essa característica fomenta o desenvolvimento na regi~o. Além disso, a regi~o se insere no sistema de ciclofaixas, demonstrando ainda mais seu importante eixo de fluxos. Pode-se observar que o terreno escolhido faz parte de todo esse complexo de mobilidade urbana, atribuindo um car|ter de grande representatividade para a escala da cidade.

pg

2 4

[manifesto do alimento]


[DIAGRAMA DE FLUXOS DE VEÍCULOS]

terreno proposto fluxo intenso fluxo moderado

Metrô Paraíso Metrô São Joaquin Metrô Vergueiro

ciclofaixa

fonte: produção da autora

área de intervenção[escala de bairro]

pg

2 5


Imagem 15. Rua Vergueiro em seus dois sentidos—

barreirafísica (fonte: Google Street View)

Imagem 16.

Av. Vinte e três de maio - barreira física

(fonte: Google Street View)

Viaduto Beneficiência Portuguesa e Metrô Vergueiro Imagem 17.

(fonte: Google Street View)

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2 6

[manifesto do alimento]


Análise inspirada na obra [KEVIN LYNCH]

limite

caminho

marco

nodal

bairros

maior elemento menor elemento

fonte: produção da autora

área de intervenção[escala de bairro]

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2 7


[DIAGRAMA DE POTENCIALIDADES]

principais hospitais privados principais universidades e colégios marcos urbanos visualmente interessantes áreas verdes (faixa de amortecimento) principais edifícios institucionais

fonte: produção da autora

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[manifesto do alimento]


[DIAGRAMA DE CHEIOS E VAZIOS]

fonte: produção da autora

área de intervenção[escala de bairro]

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29


De acordo com o artigo “Paisagem urbana, arquitetura e representação” das arquitetas Gislaine Moura do Nascimento e K|tia Azevedo Teixeira realizado em 2014, foi possível compreender a investigação a cerca da relação entre arquitetura e paisagem urbana, tendo como principal cen|rio investigativo o relevo de fundo de vale da Avenida Vinte e três de maio e o Centro Cultural S~o Paulo.

Projetado pelos arquitetos Eurico Prado Lopes e Luis Telles, entre 1976 e 1980 — período de pós-modernismo - o Centro Cultural de S~o Paulo é considerado um ícone arquitetônico, pela sua excelência na contribuiç~o para arquitetura, e sua relaç~o com a cidade, tendo como critério primordial a valorizaç~o da paisagem urbana de fundo de vale, adotando a linearidade e extens~o do horizonte. Porém pela complexidade da implantaç~o e características do terreno ao longo das transformações urbanas geradas, a construç~o do Centro Cultural S~o Paulo passou por uma série de processos de decisões políticas em relaç~o a renovaç~o urbana na regi~o e destinaç~o da |rea para o uso.

AS TRANSFORMAÇÕES URBANAS DA REGIÃO VERGUEIRO

CENTRO CULTURAL SÃO PAULO - CCSP [paisagem urbana de fundo de vale]

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3 0

[manifesto do alimento]


Imagem 18. Planta de situação de

BREVE HISTÓRICO

1930 - área delimitada do terreno e o córrego Itororó

O crescimento populacional e o desenvolvimento urbano da cidade de S~o Paulo, bem como o surgimento de automóveis no início do século XX, fez surgir a necessidade de mobilidade urbana, afim de articular e estruturar as redes de conexões, através de sistemas vi|rios e de transporte público em massa. O Plano de Avenidas de Prestes Maia, na década de 20 e 30 teve como pressuposto a implementaç~o do chamado urbanismo moderno, pautado na construç~o de grandes avenidas que rasgam a cidade existente para a reurbanizaç~o voltada para o “rodoviarismo”, ou seja, a cidade reestruturada para automóveis. Sendo assim, por conta do relevo peculiar paulistano - recheado de morrotes e vales que impossibilitavam as conexões urbanas - a grande maioria das vias expressas foram construídas sob os cursos dos rios, por serem |reas planas, e o aproveitamento desses vales para a construç~o de pontes e viadutos interligando o novo sistema vi|rio. Canalizado os rios, a cidade começa ent~o a ter din}micas urbanas e novas cotas, ou “térreos elevados” influenciando assim a paisagem e a morfologia urbana.

(Fonte: adaptado do mapa topogrático do Munício de São Paulo - Mapeamento de 1930 - Sara Geosampa)

Imagem 19. Encosta do Rio Itororó em 1965 e Rua Vergueiro (Fonte: ttps://br.pinterest.com/ pin/36591815696784599)

Contudo, o antigo vale do Rio Itororó (conhecido por ser um ribeir~o ou ainda pequena cachoeira) foi assim substituído pela atual Avenida Vinte e três de maio. A encosta desse vale j| era habitada por alguns lotes voltados para a Rua Vergueiro. Assim, segundo as arquitetas Gislaine e K|tia (2014), a aproximaç~o de apenas 70m entre as duas vias, resultou em uma expressiva e estreita faixa no sentido longitudinal, promovendo um car|ter único { paisagem urbana, de extens~o aproximada { 3km. Segundo Renato Luiz Sobral Anelli (2007), com os planos de reestruturaç~o da cidade de S~o Paulo e as construções de metrôs, surgiram medidas e par}metros de adensamento e desenvolvimento econômico, na tentativa de requalificaç~o e readaptaç~o das |reas envoltórias de transporte em massa, promovendo o surgimento de planos de reurbanizaç~o - operações urbanas da época.

[referêncial

projetual]

pg

3 1


NOVA VERGUEIRO 1974 - PROPOSTA DE PROJETO NA ÁREA

Nos planos de reurbanizaç~o e na intenç~o especulativa imobili|ria da época, a vinda do Metrô Vergueiro para a regi~o definiria assim, |reas destinadas { elaboraç~o de projetos para a revitalizaç~o e desenvolvimento local. De responsabilidade governamental da Companhia Metropolitana de S~o Paulo Metrô , em parceria com a EMURB - Empresa Municipal de Urbanizaç~o, o projeto Nova Vergueiro, lançado pela Prefeitura de S~o Paulo em 1974 (ANELLI, 2007), tinha como principal diretriz a construç~o de um centro empresarial, com torres multifuncionais marcado por índices de adensamento e potencial m|ximo construtivo, com seu embasamento destinado ao comércio e serviços, e o aproveitamento do relevo para a construç~o de garagens e estacionamentos, criando acima, plataformas que permitiram um térreo livre para fruiç~o pública devido ao prolongado da Rua Vergueiro e servindo como mirante para o Vale da Vinte e três de maio. Além disso, o projeto integraria a Igreja Paróquia Santo Agostinho como eixo histórico conectado ao viaduto Beneficência Portuguesa. Porém, muitas discussões e críticas envolvidas aos impactos da paisagem urbana (verticalizaç~o das torres) e aos impactos de desdobramento de investimentos em infraestrutura fizeram com que o projeto perdesse força política. Até que em 1975, no governo do prefeito Olavo Setúbal, foi feita a anulaç~o da proposta, destinando a doaç~o de parte da |rea do canteiro de obras do metrô, ao Departamento de Bibliotecas Públicas do Munícipio de S~o Paulo, com o intuito de construir a Nova Biblioteca Central Vergueiro, como suporte ao acervo da Biblioteca M|rio de Andrade. Passando por uma reformulaç~o de projeto, a administraç~o do prefeito Reynaldo de Barros definiu abrigar o Centro Cultural de S~o Paulo, compondo a Biblioteca e dando a concretizaç~o final para a realizaç~o da obra, inaugurada em 1982. Imagem 20. Proposta da Nova Vergueiro, elaborada pela EMURB publicada da Revista Manchete (Fonte: Anelli, 2007)

Imagem 21 . Corte esquemática da proposta da Nova Vergueiro, elaborada pela EMURB publicada da Revista Manchete (Fonte: Anelli, 2007)

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3 2

[manifesto do alimento]


O CENTRO CULTURAL E A SENSAÇÃO DE PERTENCIMENTO AO LUGAR

“Concebido entre 1976 e 1980, o projeto do CCSP talvez tenha sido uma das primeiras contribuições da área de arquitetura a insistir na adoção da paisagem, em São Paulo, como um dos critérios irrevogáveis à criação de espaços, nele reconstruindo os atributos do lugar: de um lado, a escala da metrópole, o relevo do vale da Av. 23 de Maio, o planoinclinado do talude – como a lembrar a situação de encosta às margens do antigo afluente, hoje oculto na paisagem - a extensão de horizontes; de outro a escala do bairro,o vizinho, os percursos que se cruzam.” Gislaine M. “A representaç~o do lugar no projeto de arquitetura pós moderno.” S~o Paulo: Universidade S~o Judas Tadeu, 2013.

Imagem 22. Vista do Centro Cultural São Paulo da Av. 23 de maio - presença marcante da vegetação em sua fachada, a não obstruição da visão, permitindo ampla visão da contraposição de diferentes gabaritos na paisagem urbana.

Imagem 23. Linearidade da arquitetura, o papel de “clarão” na região. Na foto é possível identificar o terraço-jardim, gramado, no qual recupera a noção de horizontalidade em contraste com o entorno verticalizado

[referência

projetual]

pg

3 3


Imagem 24. De dentro para fora: relação do interior com o exterior [praça interna].

A ambiência do espaço: transparência do vidro, contrastes entre a iluminaç~o zenital, natural e artificial, o uso dos diferentes níveis do edifício e pé-direto. Detalhe do pilar e do sistema construtivo.

Imagem 25. Passeio -

a calçada projetada e a fachada do edifício com vegetaç~o [gentileza urbana] e sutileza e refinamento estético da barreira física.

Imagem 26. O [entre] do espaço. Ideia de linearidade e continuidade, prevalecendo a

domin}ncia da escala humana em relaç~o a arquitetura. Pé-direito baixo e convidativo, rampas sutis de acesso ao p|tio interno

Imagem 27. Rampas da |rea de exposiç~o, a estrutura de pilar em |rvore e a cobertura

organizando o espaço fazem parte do partido arquitetônico do CCSP.

Imagem 28. P|tio interno e o sistema estrutural de vigas em balanço, remetem a sensaç~o

de pertencimento ao lugar. Amplitude da vista

ANÁLISE PROJETUAL PERCEPÇÃO ESPACIAL DO PEDESTRE

CENTRO CULTURAL SÃO PAULO - CCSP [referência de projeto e estudo de caso] Imagem 24. fonte: produção da autora

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[manifesto do alimento]


Imagem 26. fonte: produção da autora

Imagem 25. fonte: produção da autora

Imagem 27. fonte: produção da autora

[referência

projetual]

Imagem 28. fonte: produção da autora

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[manifesto do alimento] centro experiencial de agricultura urbana

estudo de projeto

fonte: produção da autora


[conceitos arquitetônicos da cidade contemporâncea aplicados ao projeto] a valorização do vazio [Rem Khoolhas]

a relação de transição dentro e fora [espaços “entre”] Segundo Tadao Ando (1995), o conceito da fenomenologia para a filosofia de Nietzsche busca entender a interaç~o do corpo-lugar (“construir - habitar - pensar”) , a partir da própria memoria, fragmentada através da matéria. É a percepç~o e experiência do mundo real, a partir da troca e das relações com as coisas. Cada indivíduo tem sua experiência com o encontro com o real e material. Só é possível ser a partir do momento que se habita, sendo só possível habitar quando se constrói. A percepç~o arquitetônica através da luz, do material, das texturas e do sensorial. Na arquitetura essas percepções se acentuam através dos contrastes: dentro e fora, claro e escuro, calor e frio. Dada as sensações empíricas em cada individuo, surge o conceito da transiç~o. O espaço sutil entre o interior e o exterior, entre o começo de uma coisa e o término de outra. O entre est| relacionado com a aç~o humana da construç~o da ponte (como símbolo) estabelecendo ligações entre as margens. O papel da arquitetura em transformar e revelar os enfoques presentes do lugar, transmitindo as camadas de sensações de um ponto a outro. O reconhecimento entre as margens [desses contrastes] se d| ent~o pela construç~o de um valor dessa ponte, chamada [entre], resignificando uma identidade ao lugar oculto.

pg

3 8

[manifesto do alimento]

Khoolhas compreende os espaços vazios como ativadores do caos latente, usando como oportunidade/projeto. Para ele, n~o se deve fazer arquitetura onde j| se tem arquitetura, desconstruindo o fato de que todo espaço vazio é alvo f|cil para se preencher. O espaço vazio é uma linha importante de combate, sendo equilíbrio entre o cheio e o vazio. A valorizaç~o do vazio transmite ao usu|rio o resignificado do programa, tendo uma arquitetura dissolvida, ou seja, arquitetura que n~o quer ser - o vazio é o que preenche as relações humanas, o espaço construído é o complemento.

o conceito de dobra [Tschumi] O arquitetura desconstrutivista Bernard Tschumi (1980), em seu livro Arquitetura e Limites, explica o conceito de dobra na arquitetura como uma estratégia para deslocamento da vis~o. A dobra transmite a continuidade, articulando uma nova relaç~o entre o horizontal e vertical, ou seja, a desconstruç~o do plano cartesiano moderno, alterando o espaço tridimensional de vis~o. O projeto n~o é mais visto em planos e a dobra é uma possibilidade { malha. A malha permanece e os planos verticais sempre existir~o, mas ser~o suplantadas pela dobra no espaço. A dobra oferece movimento e contemporaneidade da vida din}mica, sendo um único elemento, onde n~o se tem começo meio e fim e est| relacionada a cota zero que se transforma em cobertura, usando a topografia, podendo ser assim chamada de dobra topogr|fica, tecendo na arquitetura a paisagem natural e artificial.


[características do terreno]

800 55

30m

780

787 260m

fonte: produção da autora

área total do terreno 7.200m²

CA máximo 28.800m²

CA mínimo 1440m²

Faixa de amortecimento da Avenida Vinte e três de maio fundo de vale do canalizado Rio Itororó

CARACTERÍSTI

área permeável mínima 15% taxa de ocupação máxima 70%

árvores existentes

[estudo projeto]

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[manifesto do alimento] A CRIAÇÃO DO PROGRAMA [ensaio de novas possibilidades de usos para inclusão da agricultura urbana ] fonte: produção da autora

Com característica similares a um centro cultural e a um centro de convenções , o Centro experiencial de apoio à Agricultura Urbana, como o próprio nome diz é a experiência de uma nova linguagem urbana conectada ao campo, e a materializaç~o espacial de uma ideologia utópica que vêm crescendo a cada dia nos grandes centros urbanos. O Centro experiencial de apoio à Agricultura Urbana é a “sede matriz” que conecta e aproxima a relação do rural e o urbano, que visa atribuir o resgate e o respeito ao alimento, garantindo uma rede conectada no compartilhamento do conhecimento e no desenvolvimento de projetos em diferentes escalas e abordagens que cercam as questões da agroecologia, da sustentabilidade e da distribuiç~o de alimentos10.064 de S~o Paulo.

[ o alimento como precursor e influenciador para o desenvolvimento de várias vertentes ]

expressão e criação

exposições qualidade de vida

o direito à cidade ARTE SAÚDE

ativismo

hortas urbanas

SOCIAL COLETIVO

cursos, palestras

festivais lazer

CULTURA

ALIMENTO

inclusão

cidadania

informação feiras gastronômicos

EDUCAÇÃO

BIODIVERSIDADE

CELEBRAÇÃO

agroecologia ECONOMIA

ecogastronomia empreendedorismo

sustentabilidade políticas públicas


fonte: produção da autora

croqui da paisagem urbana existente

Croaui da difefença dos níveis da Rua Vergueiro barreira física de acesso de pedestres ao terreno

Estudos de topografia do terreno - Calha formada do vale da Av. vinte e três de maio fonte: produção da autora

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4 0

[manifesto do alimento]


fonte: produção da autora

croquis da encosta de fundo de vale, proposta de arquitetura “enterrada” e tratamento do boulevard na cota térreo superior

croqui vista esquemática da Rua Vergueiro - relação do gabarito do edifício com os lotes vizinhos

croqui de planta esquemática da ampliação do viaduto e a fruição pública

[estudo de projeto]

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[DIRETRIZES DE PROJETO]

[ampliação do viaduto] Beneficência Portuguesa - boulevard para pedestres melhoramento da [fruição pública] próxima do metrô Vergueiro

[abertura] de duas novas [travessias] na Rua Vergueiro criaç~o de uma [praça terapêutica] como atratividade de refúgio aos usu|rios dos hospitais da regi~o, de acordo com o eixo da saúde, utilizando a cobertura como espaço público [referência ao terraço do Centro Cultura São Paulo]

percurso do pedestre dentro do lote promovendo interaç~o e ampliaç~o do [espaço público]

[respeito à topografia natural] do terreno, buscando soluções que acompanhem ao m|ximo os desníveis, evitando muita movimentaç~o de terra e ainda respeitando os limites da faixa de amortecimento da Av. Vinte e três de maio

localizar a [circulação vertical] do edifício na fachada menos interessante da quadra na Rua Santana do Paraíso aproveitar a [via sem saída], rua Santana de Paraíso para acesso de carga e descarga e acesso ao estacionamento respeitar o [gabarito] dos lotes vizinhos e a [paisagem urbana] do fundo de vale promover a [integração] com o Centro Cultural S~o Paulo e com o Metrô Vergueiro

[requalificação da Rua Santana do Paraíso] através de técnicas de “traffic calming” por ser rua sem saída com baixo fluxo de veículos e pedestres [adequação de sistemas eco eficientes e autossustentáveis] ao edifício atrelado a [representatividade] de seu uso, dando força de [identidade] ao tema justificado e a sua [relação com a cidade] e com a consciência ambiental [composição da “ambiência”] do espaço, [plasticidade] da arquitetura e refinamento dos [sistemas estruturais e estéticos] de projeto Considerar manter as [pré - existências] no terreno : |rvores existentes de grande porte pg

4 2

[manifesto do alimento]


fonte: produção da autora

PERCURSO DO PEDESTRE DENTRO DO

EIXO D A CULT URA E

ARTE

ÁREAS C

EIXO DA SÁUDE

OMPLEM

ENTARE S

“ARQUIT

ETURA ENTERR A

PRAÇA PÚBLICA

DA

EDIFÍCIO PRINCIPAL

CIRCULAÇÃO VERTICAL

FRUIÇÃO PÚBLICA PRÓXIMO DO METRÔ NOVA TRAVESSIA DE PEDESTRES

EIXO DO C

OMÉRCIO

árvores existentes a manter

NOVA TRAVESSIA DE PEDESTRES SEM ESCALA

E EDUCAÇ

ÃO

[mapa síntese das primeiras ideias] [estudo de projeto]

pg

4 3


[inspiração] De acordo com o arquiteto japonês Sou Fujimoto os conceitos de fenomenologia inspiram a volta {s raízes do ser humano e a abstraç~o da arquitetura a da natureza, relacionadas a “estranha similaridade entre as coisas naturais e as artificiais”, mesmo que se tenha um contraste entre elas. A busca incessante do entendimento do “entre”, ou ainda o [dentro e fora] na arquitetura traça algumas relações importantes para a concepç~o de um projeto:

entre arquitetura e paisagem entre mobiliário e arquitetura entre dentro e fora entre natureza e arquitetura

fonte: produção da autora

pg

4 4

[manifesto do alimento]


[maquete de primeiros estudos]

fonte: produção da autora

[estudo de projeto]

pg

4 5


[ o partido arquitetônico] A expressividade arquitetônica do Centro Cultural S~o Paulo em relaç~o a paisagem urbana inspirou a concepç~o do partido de projeto. As referências de princípios arquitetônicos empregados no CCSP buscam solucionar a continuidade da paisagem morfológica de fundo de vale de toda a extens~o da calha da Av. vinte e três de maio. A preocupaç~o de transmitir a sensaç~o de linearidade contextual e complementariedade se faz presente nas decisões de partido do novo projeto: desde o tratamento arquitetônico e topogr|fico, das soluções em níveis, dos sistemas construtivos e refinamento de sua volumetria até a sua implantaç~o aérea. Poeticamente, pode-se considerar o projeto como uma adiç~o arquitetônica ao CCSP, relacionado ao encaixe “macho-fêmea” de suas coberturas. Como agregador de disseminaç~o de conhecimento e fomentaç~o cultural ao CCSP, o novo espaço “estica” a relaç~o da arquitetura com a cidade, expandindo suas soluções. A forma do projeto, enfim, homenageia a identidade espacial e contextual do Centro Cultural S~o Paulo.

pg

4 6

[manifesto do alimento]


[manifesto do alimento] centro experiencial de agricultura urbana

projeto estudo arquitetônico de projeto

fonte: produção da autora

fonte: produção da autora

[projeto ]

pg

4 7


fonte: produção da autora

[paisagem urbana de fundo de vale: horizontalidade em primeiro plano e continuidade linear]

fonte: produção da autora

pg

4 8

[manifesto do alimento]


fonte: produção da autora

[fluxo de pedestres dentro do edifício e a relação com a cidade]

[projeto ]

pg

49


fonte: produção da autora

799

806 793,5

791

787

[circulação e acessos dentro do edifício em diferentes níveis]

pg

5 0

[manifesto do alimento]


fonte: produção da autora

[composição explodida da estrutura integrada com a circulação]

[projeto ]

pg

5 1


[saguão principal] Espaço dedicado | exposições tempor|rias além de promover congressos e eventos formais (n~o espont}neos).

[cobertura verde] Referência direta tanto de experiência de projeto quanto experiência social ao terraço do CCSP, a cobertura verde do projeto ensaia a expans~o do programa de necessidades do edifício, dando uso { cobertura através da alameda inclinada, ensaiando novos usos do espaço público e de espaços verdes na cidade de S~o Paulo. A ideia de n~o conectar a cobertura verde diretamente com o edifício se deu por tratar o espaço como legítimo, resignificando a ideia de praça pública por uma rua de acesso, sem descaracterizar a sensaç~o de livre acesso em qualquer hora do dia. Além disso, pensando no eixo de hospitais que envolvem o entorno do terreno, o terraço jardim promove paradoxalmente um refúgio terapêutico e horta

urbana cercado predominantemente por plantas medicinais e plantas comestíveis.

[cursos e oficinas] O conceito de sala de aula é desconstruído nesse ambiente, uma vez que sugere a integraç~o total ou parcial do espaço, com layout flexível conforme a necessidade de uso. Esse espaço é destinado { realizações de cursos, apresentações, workshops e rodas de discuss~o, e ainda sala de estudos e biblioteca quando possível. Para diferentes usos, adaptado a cada situaç~o, o espaço fomenta a produtividade teórica, como estratégia de apoio { agricultura urbana.

[hortas divisórias] Ainda que os ambientes promovam uma vis~o geral e o conceito de “ser e ser visto” pelos níveis do projeto, a presença de um mobili|rio integrado com a arquitetura setoriza o espaço. Com altura de 1,30m as divisórias de marcenaria recebem hortas e arm|rios que organizam o espaço, contendo um acervo de livros e materiais necess|rios para livre acesso aos usu|rios.

[exposição permanente] Além de ser um espaço de convivência, o espaço contém conteúdo did|tico sobre agricultura urbana e sustentabilidade nos espaços vazios .

[cozinha do restaurante] É o setor mais restrito do projeto, no qual o usu|rio n~o tem acesso. Tanto a cozinha do restaurante quanto o ateliê de cozinha pr|tica est~o próximos da circulaç~o vertical do edifício, no qual engloba toda a |rea de suprimentos e suporte ao funcionamento de sua din}mica, podendo ser inclusive, espaços complementares quando necess|rio.

[restaurante mirante] O restaurante mirante ganha esse nome por conta de sua vista panor}mica para a avenida vinte e três de maio de aprox. 20m de altura. Além disso, é o estabelecimento que fomenta e atrai a populaç~o para o interior do edifício. Com acesso direto { cota do metrô Vergueiro e ao CCSP, o restaurante promove a alimentaç~o (org}nica e agroecológica) para a regi~o, dando suporte { demanda de usu|rios que visitam o CCSP e aos frequentadores da regi~o. O conceito do restaurante est| intimamente ligado { gastronomia social, com um card|pio que utiliza ingredientes da horta urbana do edifício e seus resíduos destinados { composteira.

pg

5 2

[manifesto do alimento]


cobertura verde terraço terapêutico horta urbana

cozinha do restaurante com aberturas de vidro para integração com o espaço

restaurante mirante hortas divisórias

agroecológico gastronomia social

mobiliário integrado com a arquitetura

exposição permanente circulação vertical áreas de apoio

áreas de convivência

cursos e oficinas saguão principal

rodas de discussões

área de exposições temporárias

fonte: produção da autora

[projeto ]

pg

53


[cafeteria e loja de agroecológicos] Espaço destinado a incentivar o comércio

[museu aberto - alamedas das sensações] A percepç~o visual e o passeio do pedestre se inicia desde o viaduto Beneficência Portuguesa e ao CCSP. Com a ampliaç~o e criaç~o de um boulevard que complementa o viaduto, a ideia é melhorar a fruiç~o pública ligada ao metrô e ao projeto, remetendo novas experiências sensoriais, de domínio da escala humana em meio { proporç~o com o corredor Norte-Sul. Com características de parque linear, os percursos orientam sutilmente ao acesso ao térreo superior do projeto na cota 799, e a cobertura relacionando a quest~o do entre - dentro x fora, e a relaç~o da arquitetura com o indivíduo. O museu aberto ensaia o conteúdo do programa do edifício, convidando o usu|rio a explorar e experimentar as sensações (através do paisagismo com plantas comestíveis e cheirosas) de pertencimento do lugar.

de produtos ecologicamente corretos e socialmente justos, de produções artesanais de pequenos agricultores e produtores da rede associativa. O mini mercado e a cafeteria estrategicamente se encontram na praça enterrada, convidando o usu|rio { circular pela cota mais baixa do espaço.

[anfiteatro - palestras e convenções] O auditório pode ser considerado um espaço de troca de conhecimento e promoç~o de eventos, conferências, debates, apresentações e palestras em prol da cultura de apoio { agricultura urbana e assuntos relacionados ao tema da sustentabilidade e ecologia. É a difus~o do conhecimento e a troca de experiências, empoderando e dando visibilidade { projetos de transformaç~o social. Com 240 m², sua estrutura comporta aproximadamente 80 lugares.

[ateliês de criação] O usu|rio vivencia neste ateliê experimental novas formas de explorar seus potenciais criativos e capacitaç~o em empreender novos projetos, desde o produto até a embalagem. O espaço conta com uma cozinha pr|tica e é destinado {quelas pessoas que queiram enriquecer o repertório gastronômico, exercer o paladar, e criar/compartilhar novas receitas e produtos, sendo ent~o ora sala de aula, ora ateliê de trabalho. Uma espécie de “Laboratório de criação” , sendo um incentivo de pesquisa e desenvolvimento relacionado ao universo da agricultura urbana e da produç~o artesanal e pequena escala.

[praça enterrada] A intenç~o da praça é organizar horizontalmente - pela cota mais baixa do terreno - os espaços públicos dentro do projeto (arquibancada, sagu~o, cafeteria) e atrair a circulaç~o de pedestre para o edifício. A praça abriga a sensaç~o do “entre” e a relaç~o do exterior e interior com a arquitetura e a cidade. É na praça enterrada que se espera acontecer os chamados “eventos espont}neos”, destinando o espaço { feiras org}nicas e gastronômicas, e festivais de agricultura urbana.

pg

5 4

[manifesto do alimento]


cobertura verde museu aberto

terraço terapêutico horta urbana

hortas divisórias anfiteatro palestras e convenções

mobiliário integrado com a arquitetura

Ateliês de criação cozinha experimental

alamedas das sensações

acesso ao edifício principal

rampa de acesso

praça enterrada

rua vergueiro cota 791

pavimento 1 (guarda-corpo incorporado a arquitetura)

acesso ao jardim de inverno

fonte: produção da autora

[projeto ]

pg

5 5


[eficiência energética - placas fotovoltáicas ] geraç~o de energia limpa

[arquitetura sustentável] O desenho sustent|vel contém soluções de projeto arquitetônico que concebem sistemas ecologicamente mais eficientes, integrados a uma consciência dos impactos ambientais e econômicos gerados pelo edifício.

através da radiaç~o solar instaladas na cobertura é uma estratégia passiva de conforto térmicos sendo assim uma fonte de energia renov|vel e alternativa que ajuda a reduzir o desperdício de transmiss~o de energia que ocorre ao longo da linha elétrica.

[reuso de água - captação de água de chuva] As águas pluviais coletadas na ampla cobertura do edifício ser~o reutilizadas, primeiramente estocadas em um espelho d’|gua técnico, que passar~o por um tratamento superficial em cisternas encontradas no subsolo. Sendo assim, sua reutilizaç~o para fins n~o pot|veis como irrigaç~o do paisagismo e hortas, limpeza do edifício, sistema de ar condicionado e ainda, descarga de vasos sanit|rios por sistema de redistribuiç~o.

[conforto térmico - cobertura verde] N~o apenas como iniciativa sustent|vel de soluç~o parcial para reduç~o de impactos ambientais em centros urbanos (reduç~o da poluiç~o do ar e sonora), a cobertura verde auxilia em soluções inteligentes para o conforto térmico do projeto, auxiliando na drenagem das |guas pluviais e amenizando a temperatura do ambiente, mantendo um clima mais agrad|vel, diminuindo economicamente o uso de ar condicionado.

[ventilação e iluminação natural] As fachadas principais do projeto est~o orientadas para as faces leste e oeste, - por estar no Hemisfério Sul, recebem no ver~o abundantemente mais raios solares, gerando calor para o ambiente. Sendo assim, a inclinaç~o estrutural do edifício promove soluções de sombreamento e diminuiç~o direta de incidência solar, garantindo o controle térmico, mesmo com o uso de vidros para contemplaç~o visual do entorno. Como partido arquitetônico, o p|tio central interno, traduz a relaç~o com a natureza e est| exposto a iluminaç~o natural. A cobertura que protege a |rea de circulaç~o ao redor desse p|tio abriga um pergolado com ripas de madeira de reflorestamento certificada FSC que estruturam a instalaç~o das placas fotovoltaicas intercaladas com vidros que filtram os raios solares garantindo uma iluminaç~o zenital. pg

5 6

[manifesto do alimento]


LESTE

cobertura verde placas fotovoltaícas

OESTE

captação de água de chuva

madeira de reflorestamento certificada FSC

conforto térmico proteção solar iluminação natural ventilação natural

Reservatório de águas pluviais geração de energia limpa

(espelho d’água técnico)

fonte: produção da autora

[projeto ]

pg

5 7


planta

térreo inferior - cota 787

1A PRAÇA ENTERRADA (ESPAÇO PARA FEIRA ORGÂNICA) 1B PRAÇA ENTERRADA (ARQUIBANCADA 1C PÁTIO CENTRAL INTERNO 2 SAGUÃO PRINCIPAL (ÁREA DE EXPOSIÇÕES TEMPORÁRIAS) 3 RECEPÇÃO E APOIO 4 ESPELHO D’ÁGUA TÉCNICO (RESERVATÓRIO DE ÁGUAS PLUVIAIS) 5 CAFETERIA E LOJA DE PRODUTOS ARTESANAIS E AGROECOLÓGICOS 6 COMPOSTEIRA 7 DEPÓSITO DE JARDINAGEM

pg

5 8

[manifesto do alimento]


[fachada principal para a Rua vergueiro] topografia do terreno permitindo diferentes níveis de acesso ao edifício

fonte: produção da autora

[projeto]

pg

5 9




planta

térreo intermediário - cota 791

8A ACESSO AO EDIFÍCIO PRINCIPAL PELA RUA VERGUEIRO 8B BOULEVARD DE LIGAÇÃO ENTRE OS EDIFÍCIOS 9 ACESSO AO PAVIMENTO COMPLEMENTAR (ÁREAS ADMINISTRATIVAS)

pg

6 0

[manifesto do alimento]


[fachada para a Av. Vinte e três de maio e acesso ao subsolo pela rua Santana do Paraíso] relação do edifício com a faixa de amortecimento e o fundo de vale

fonte: produção da autora

[projeto]

pg

6 1




planta

térreo intermediário e pavimento 1 - cota 793,5 9 ACESSO AO PAVIMENTO COMPLEMENTAR (ÁREAS ADMINISTRATIVAS)

10 RECEPÇÃO E ÁREA DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA E ATENDIMENTO AO PEQUENO PRODUTOR 11 SETOR ADMINISTRATIVO DO EDIFÍCIO 12 ARQUIVO 13 DIRETORIA 14 SALA DE REUNIÕES 15 APOIO 16 HALL DOS ELEVADORES E ACESSO A CIRCULAÇÃO VERTICAL 17 ÁREA DE APOIO E ELEVADOR DE SERVIÇO / DEPÓSITOS 18 ESPAÇO DE CONVIVÊNCIA E EXPOSIÇÃO PERMANENTE 19 ESPAÇO PARA CURSOS E OFICINAS / RODA DE DISCUSSÕES 20 EXPOSIÇÃO PERMANENTE

pg

6 2

[manifesto do alimento]


[arquibancada da praça enterrada] ponto central do edifício - interligação entre os espaços e relação entre dentro x fora

fonte: produção da autora

[projeto]

pg

6 3




planta

térreo superior e pavimento 2 - cota 799 20 EXPOSIÇÃO PERMANENTE 21 ANFITEATRO PARA PALESTRAS E CONVENÇÕES 22 ATELIÊ DE CRIAÇÃO E COZINHA EXPERIMENTAL 23 SANITÁRIOS E VESTIÁRIOS 24 APOIO ÀS COZINHAS / CÂMERA FRIA 25 COZINHA DO RESTAURANTE

26 RESTAURANTE MIRANTE - AGROECOLÓGICO - GASTRONOMIA SOCIAL 27 MUSEU ABERTO “ALAMEDA DAS SENSAÇÕES - ACESSO SUPERIOR AO EDIFÍCIO PRINCIPAL 28 PRAÇA DE CONEXÃO COM CENTRO CULTURAL DE SÃO PAULO - FRUIÇÃO PÚBLICA 29 RAMPA DE ACESSO À COBERTURA - “JARDIM TERAPÊUTICO E COMESTÍVEL”

pg

6 4

[manifesto do alimento]


pilares em árvore homenageando as árvores do local - diferentes acessos [diferentes sensações de pertencimento do lugar]

fonte: produção da autora

[projeto]

pg

6 5




planta

cobertura - cota 806

29 RAMPA DE ACESSO À COBERTURA - “JARDIM TERAPÊUTICO E COMESTÍVEL” 30 ESPAÇO PARA ENCONTROS E EVENTOS ESPONTÂNEOS 31 HORTA URBANA 32 ESTRUTURA DE MADEIRA E VIDRO INTERCALADA COM PLACAS FOTOVOLTÁICAS

pg

6 6

[manifesto do alimento]


[entrada superior pelo restaurante] estrutura aparente [transparência] e mobiliário como parte integrante da arquitetura

fonte: produção da autora

[projeto]

pg

6 7




planta

subsolo - cota 782

33 ESTACIONAMENTO PARA 34 VAGAS 34 PORTARIA E SALA DE SEGURANÇA 35 HORTA URBANA 36 TRIAGEM E APOIO DE ENTRADA E SAÍDA DE MERCADORIAS 37 CÂMARA FRIA PARA ESTOCAGEM DE ALIMENTOS 38 DEPÓSITO DE LIMPEZA 39 DEPÓSITO GERAL 40 SALA OPERACIONAL 41 CAIXAS D’ÁGUA 42 COLETA SELETIVA DE LIXO 42 ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ÁGUA PARA REUSO

pg

6 8

[manifesto do alimento]


[saguão principal] relação do espelho d’água externo com o interior do edifício,

fonte: produção da autora

[projeto]

pg

6 9




elevação frontal

rua Vergueiro escala 1/500

1

pg

7 0

[manifesto do alimento]



elevação lateral

rua Santana do Paraíso escala 1/500

2

pg

7 2

[manifesto do alimento]


[projeto ]

pg

7 3


corte longitudinal

A

escala 1/500

pg

7 4

[manifesto do alimento]



corte transversal

B

escala 1/500

pg

7 6

[manifesto do alimento]


[projeto ]

pg

7 7


corte transversal

C

escala 1/500

pg

7 8

[manifesto do alimento]


[projeto ]

pg

7 9


corte transversal

D

escala 1/500

pg

8 0

[manifesto do alimento]


[projeto ]

pg

8 1


corte transversal

E

escala 1/500

pg

8 2

[manifesto do alimento]


[projeto ]

pg

8 3


[manifesto do alimento] centro experiencial de agricultura urbana

pg

8 4

[manifesto do alimento]


[projeto ]

pg

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANDO, Tadao. “Por novos horizontes na arquitetura”. In: NESBITT, Kate (Org.). Uma nova agenda para a arquitetura. Antologia teórica 1965-1995. Traduç~o Vera Pereira. S~o Paulo: Cosac & Naify, 2006.

Manual do Slow Food - Site Slow Food Brasil - Disponível em <http:// www.slowfoodbrasil.com/documentos/manual-do-slowfood-2013.pdf>

Slow Food: princípios da nova gastronomia - Carlo Petrini—Editora Senac S~o Paulo, 2009.

Artigo “Paisagem urbana, arquitetura e representação” de Gislaine Moura do Nascimento e Katia Azevedo Teixeira , USJT - Arquitetura e Urbanismo Publicaç~o número 12, segundo semestre de 2014. Disponível em <http:// www.usjt.br/arq.urb/numero-12/9-gislaine-moura.pdf>

Dissertaç~o “A representação do lugar no projeto de arquitetura pósmoderno” - Gislaine Moura do Nascimento, USJT - Arquitetura e Urbanismo, 2013 - Disponível em <https://www.usjt.br/biblioteca/mono_disser/ mono_diss/2014/254.pdf>

“Produção agrícola de alimentos e sustentabilidade no Brasil” - Jo~o Martins da Silva Junior, 2015 - Disponível em <http://www.ictsd.org/bridgesnews/pontes/news/produ%C3%A7%C3%A3o-agr%C3%ADcola-de-alimentos-e->

TSCHUMI, Bernard. Arquitetura e limites I. In: NESBITT, Kate (Org.). Uma nova agenda para a arquitetura. Antologia teórica 1965-1995. Traduç~o Vera Pereira. S~o Paulo: Cosac & Naify, 2006.

Site do Centro Cultural S~o Paulo - http://centrocultural.sp.gov.br/ pg

8 6

[manifesto do alimento]

Dissertaç~o de Mestrado “Cooperapas: agricultura e cooperativismo no extremo sul do município de S~o Paulo “ de Angélica Campos Nakamura (Cat|logo USP), S~o Paulo, 2016. < Disponível em <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8136/tde-18082016-124530/ pt-br.php>

Dissertaç~o de Mestrado “Agricultura urbana como ativismo na cidade de São Paulo: o caso da Horta das Corujas “ de Gustavo Nagib (Catálogo USP), S~o Paulo, 2016. < Disponível em <http://www.teses.usp.br/teses/ disponiveis/8/8136/tde-18082016-124530/pt-br.php>

“ 7 benefícios da agricultura urbana para a sociedade atual” de Thiago Tadeu Campos, 21 de fevereiro de 2017 - Ciclo Vivo, Vida Sustent|vel. Disponível em <http://ciclovivo.com.br/noticia/7-beneficios-da-agriculturaurbana-para-a-sociedade-atual/>

“Ligue os Pontos - fortalecer agricultura local e promover a sustentabilidade na Zona Rural Sul de SP” - Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento SMUL, (2017). Disponível em <http:// gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/noticias/os-desafios-do-ligue-os-pontosfortalecer-agricultura-local-e-promover-sustentabilidade-na-zona-rural-sul-de -sp/>

Arquitetura Ecológica - Dominique Gauzin-Müller. Editora Senac, São Paulo, 2002.


REFERÊNCIAS DE IMAGENS

Imagem 1. Horta das Corujas. Disponível em momento/?pg=leitura&id=5688&cat=0>

créditos: Mônica Pinto|Pratos e Travessas

<http://www.fiamfaam.br/

Imagem 2. Vista da Horta Comunitária do CCSP. Disponível em <https:// siagutatemp.wordpress.com/2014/05/26/telhado-verde-no-centro-cultural-saopaulo> Imagem 3. Croqui da Catedral da Sé. Disponível em <https://www.flickr.com/ photos/114711401@N02/12528317733> Imagem 4 e 5. Croquis do MASP e do teatro do Ibirapuera. Disponível em < http://ebbilustracoes.blogspot.com.br/2016/01/> Imagem 6. Croqui do Centro Cultural de São Paulo. Disponível em <https:// kikipedia.wordpress.com/tag/centro-cultural-sao-paulo/> Imagem 7. Vista da Universidade Paulista - UNIP - Campus Vergueiro. Disponível em <https://www.apontador.com.br/local/sp/sao_paulo/ faculdades_e_universidades/582S3W88/unip_paraiso.html> Imagem 8. Vista do Centro de Controle Operacional do Metrô. Disponível em <https://www.flickr.com/photos/metrosp_oficial/5436214303> Imagem 9. Paróquia de Santo Agostinho. Disponível em www.csa.osa.org.br/missa-de-acao-de-gracas-9o-ano/>

<http://

Imagem 10. Vista do Hospital Municipal do servidor público. Disponível em <http://homenagemfunebre.com.br/cemiterios/SP/ hospitaldoservidorpublicomunicipalaclimacao/> Imagem 11. Vista do Hospital Particular Beneficência Portuguesa Disponível em <http://healthcaremanagement.grupomidia.com/beneficencia-portuguesa-desao-paulo-anuncia-novos-superintendentes/> Imagem 12 e 23. Vista área do Centro Cultural São Paulo. Disponível em <http://www.spbairros.com.br/centro-cultural-de-sao-paulo/> Imagem 22. Vista da Av. Vinte e três de maio do Centro Cultural São Paulo, Disponível em <http://www.insidesaopaulo.com/2012/12/introducing-centrocultural-sao-paulo.html>

[bibliografia]

pg

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