Querido john

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reboque. Ela parou diante de um quarto que estava com a porta aberta e virou-se para mim. "Acho que devo entrar primeiro", disse ela. "Voce pode esperar aqui?" "Claro." Ela demonstrou gratidão e virou-se em seguida. Deu um longo suspiro antes de entrar na sala. " Oi querido", a ouvi dizer com a voz animada. "Você está bem?" Não ouvi mais do que isso nos dois minutos seguintes. Fiquei no corredor, absorvendo o mesmo ambiente estéril e impessoal que conhecera enquanto acompanhava meu pai. O ar cheirava a desinfetante genérico, e ví um auxiliar de enfermagem empurrar um carrinho com comida para dentro de um quarto. Na metade do corredor, notei um grupo de enfermeiras atrás de um balcão. Atrás da porta da frente, alguém vomitava. "Tudo bem", disse Savannah, colocando a cabeça para fora. Por baixo da aparência corajosa, eu ainda notava sua tristeza. "Pode entrar. Disse para ele esperar uma surpresa." Eu a segui, me preparando para o pior. Tim estava sentado na cama com um cateter ligado a seu braço. Parecia exausto, e sua pele estava translúcida de tão pálida. Ele havia emagrecido ainda mais do que meu pai, e quando o vi, meu único pensamento era que ele estava morrendo. Só a bondade em seus olhos não fora afetadas. Do outro lado da sala havia um jovem no final da adolescência, talvez com vinte anos, balançando a cabeça de um lado para o outro, e soube imediatamente que era Alan. O quarto estava repleto de flores: dezenas de buquês e cartões espalhados por todas as mesas.Savannah sentou na cama ao lado do marido e pegou sua mão. "Oi, Tim", eu disse. Ele parecia cansado demais para sorrir, mas conseguiu mesmo assim. "Oi, John. É bom ver você de novo." "Você também", disse. "Como você está?" Assim que falei, percebi como soava ridículo. Tim devia estar acostumado, pois não hesitou. "Estou bem", disse. "Estou me sentindo melhor agora." Concordei. ALan continuou a balançar a cabeça. Fiquei olhando para ele e me sentindo um intruso em eventos que gostaria de poder ter evitado. "Este é meu irmão, Alan" ele disse. "Oi, Alan." Como Alan não respondeu, Tim susurrou: "Ei, Alan. Tudo bem. Ele não é médico. É um amigo. Vá dizer olá." Levou alguns segundos, mas Alan finalmente se levantou da cadeira. Ele caminhou com dificuldade pelo quarto e, apesar de não me olhar nos olhos, estendeu a mão. "Oi, eu sou o Alan", disse com a voz surpreendentemente monocórdica. "Prazer em conhecê-lo", respondi, apertando sua mão. Era flácida. Ele chacoalhou uma vez, depois soltou e voltou ao seu lugar. "Há uma cadeira se você quiser sentar", disse Tim. Atravessei o quarto e me sentei. Antes que pudesse falar, Tim respondeu à pergunta em minha cabeça. "Melanoma" , disse ele. " Caso você esteja se perguntando." "Mas você vai ficar bem, certo?" Alan balançou a cabeça ainda mais rápido e começou a bater suas coxas. Savannah se virou. Eu já sabia a resposta e desejei não ter feito a pergunta. "Isso é o que os médicos acham", Tim repondeu. "estou em boas mãos". Sabia que a resposta era mais para Alan que para mim, e Alan começou a se acalmar. Tim fechou os olhos e os abriu novamente, tentando reunir forças. "Estou contente de ver que você voltou inteiro", disse ele. "Rezei por você o tempo todo que você esteve no Iraque." "Obrigado", disse eu. "O que você tem feito?Ainda no exército, suponho." Ele indicou meu corte de cabelo, e eu passei a mão no cabelo. " Sim. Parece que estou virando um


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