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Cultura Viva e o Digital

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LÉVY; LEMOS, 2010), deve-se assinalar que o significado social da informática foi profundamente transformado com movimentos sociais na década de 1970 que pretenderam oferecer acesso à técnica e suas possibilidades aos indivíduos, aspiração posteriormente apropriada pela indústria. A informática pessoal não era prevista por governos ou empresas, mas foram os movimentos sociais que preconizaram sua reapropriação individual em contradição com seu monopólio por grandes burocracias públicas e privadas. O movimento se desdobrou no fim dos anos 1980 com a construção da internet como espaço de encontro, compartilhamento e criatividade coletiva – interconexão entre servidores de informação –, aprofundada depois na década de 1990 com a criação da web – com a interconexão entre documentos textuais, de imagens e sonoros. Portanto, o papel dos movimentos sociais e da sociedade civil foi central na construção da internet como parte de opções coletivas e culturais. A internet é exemplo de construção cooperativa internacional, expressão de um movimento amplo alimentado por centenas de iniciativas dispersas, individuais, locais, redes de empresas, associações, universidades, iniciativas estatais, articuladas e articuladoras de mídias tradicionais, como jornais, televisões, bibliotecas, museus etc. O espaço construído (ciberespaço) permite práticas de comunicação interativa, recíproca, comunitária e intercomunitária. Esse horizonte cultural é vivo, heterogêneo e intotalizável, embora admita o desenvolvimento de uma ética do respeito e do reconhecimento. Como afirma Lévy, (…) qualquer tentativa para reduzir o novo dispositivo de comunicação às formas midiáticas anteriores (esquema “um – todos” de um centro emissor em direção a uma periferia receptora) só pode empobrecer o alcance do ciberespaço, mesmo se compreendemos perfeitamente os interesses econômicos e políticos em jogo (1999, p. 126).

Portanto, a interconexão – sempre preferível ao isolamento – está na origem da cultura digital e implica que cada computador do planeta – ou outras tecnologias, como torradeira e automóvel, para ficar em exemplos de Lévy –, poderia estar conectado em rede de cabos ou sem fio. Entretanto, a interconexão é uma das peças do quebra-cabeça; as outras duas são a criação de comunidades virtuais e a inteligência coletiva. Ambas prolongam a primeira, já que dependem da interconexão. As comunidades virtuais são criadas a partir das afinidades de interesses comuns, projetos, trocas, tudo isso independentemente de proximidades geográficas e posições sociais e institucionais. Deve-se dizer que essas comunidades são reais e as interações na rede são em muitos casos desdobradas em laços sociais presencias. A inteligência coletiva é o ideal de coletivo mais imaginativo e criativo, refere-se à capacidade de aprender e inventar de forma mais rápida e intensa a


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