Caderno de Educação Popular em Saúde - volume 2

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fechar-se, sempre, antes das fronteiras policiadas da ordem estabelecida. Entre este ensino “funcional” (escolar, extra-escolar) e a educação conscientizadora, há inimizade irreconciliável.

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livremente, o movimento de constituição de sua consciência como existência: conscientiza-se. A conscientização não é exigência previa para a luta de libertação, é a própria luta. O retomar da consciência se identifica com a reconquista do mundo: em práxis li5. A educação é, pois, processo histórico bertadora. no qual o homem se re-produz, produzindo A conscientização é este esforço do seu mundo. Todos que colaboram na propovo por retomar seu destino histórico, sua dução deste, deveriam reencontrar-se, no cultura, em suas mãos. Cultura do povo, processo, como sujeitos própria destinação pois, e não cultura para o povo: cultura pode sujeito só pode ser preenchida pelos que pular. trabalham o mundo. Esses são verdadeiraDe tudo que antecede, se depreende, mente o povo - a comunhão pessoal só tem inevitavelmente, que cultura popular não é um nome: colaboração no mundo comum. extensão das sobras do sistema de ensino esNo sistema estabelecido, os que dotabelecido para a multidão dos ignorantes e minam pelo trabalho. O miseráveis, que não tiveram trabalho, por sua vocação valor suficiente para incorA conscientização original, deveria intersubporar-se a ele.Seria, pois, não é exigência prévia jetivar as consciências, ao algo necessário ao sistema contrário da dominação educacional, que serviria para a luta de libertação, que as objetiva e escraviza. aos objetivos de adaptar, Os que têm este título, o do trabalho, o uniformizar e mistificar, transformando o único que legitima a dominação do mundo, dominado em mais funcional à dominação. são excluídos da direção ativa do processo Para nós, cultura popular é cultura do histórico-cultural, eles e os que nem sequer povo – do homem que trabalha e humanitêm oportunidade de trabalhar, marginalizaza o mundo, e ao fazê-lo, reproduz-se a si dos pelo sistema. E são Povo de Deus, pormesmo, livremente em comunhão com os que ajudam a edificar o Reino. Os que traem demais. Em vez de ser extensão secundaria a colaboração humanizadora, deixando-se do sistema educacional estabelecido, nela, vencer pela sedução luciferina da dominação na cultura popular, a institucionalização dinão são povo, são opressores do povo. nâmica do ensino deveria, pois, enraizar-se Esta é a missão da luta libertadora do e nutrir-se. O mais alto saber não seria o povo oprimido; devolver-lhe a situação de mais distante, senão, isto sim o mais prosujeito de seu próprio processo históricofundamente comprometido com uma refle-cultural. Na alienação cultural, é objeto. xão critica, em que a cultura deve, continuaAo desalienar-se, retoma, reflexivamente, mente, rever-se, promover-se, renovar-se. E

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