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Wakyuu - o arco japonês

Wakyuu (? ? ) ? O Arco Japonês (Yumi-? )

A Katana (? ) é considerada a alma do Samurai (? ), mas estes guerreiros eram acima de tudo arqueiros a cavalo.

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Todos os povos do mundo, em todas as geografias desenvolveram o arco, mais ou menos complexo, como ferramenta de caça e como arma de guerra. Como tal, os japoneses têm a sua versão dessa arma/ferramenta. O arco japonês - Wakyuu (? ? ), ou Yumi (? ), é uma das mais interessantes armas utilizadas pelos Samurai(? ). A sua história é ainda mais antiga que a existência da classe guerreira, como na maioria dos territórios, os arcos eram armas de caça antes de serem utilizadas na guerra e o Japão não é excepção. Pontas de flecha em pedra estudadas por arqueólogos sugerem que o arco e flecha são utilizados no Japão desde 10.000 anos A.C., tendo sido utilizados como arma de guerra no período Yayoi (300 A.C ? 300 D.C.), período em que as guerras eram frequentes e generalizadas no território japonês.

Os arcos primitivos eram bastante simples, denominados por Maruki(? ? ), eram feitos de madeira, direitos e lacados ou enrolados com casca de árvore, de forma a aumentar a sua durabilidade, tendo em conta o clima japonês e já assimétricos. Este tipo de arco é mais fraco, quando comparado com os designsposteriores, mas é também mais fácil de manusear, facilitando a libertação rápida de flechas e a sua efectividade a curtas distâncias. Esta é a base principal do Yabusame (? ? ? ), sendo estes arcos utilizados ainda hoje em cerimónias e competições, para caça, para treino e até nos campos de batalha medievais e mais recentes. No Livro de Wei ( ? ? ) - livro chinês, datado do século III, já era feita referência à pega assimétrica do arco Japonês, esta referência é anterior ao surgimento dos Samurai (? ) e ao tiro com arco a cavalo.

Arcos compósitos e recurvos, como os utilizados pelos Mongóis, eram conhecidos no Japão, pelo menos desde o século IX. No entanto, dada a raridade de couro e tendões (a criação de gado não era comum e a matança e tratamento de peles dos animais era considerado tabu de acordo com os padrões budistas), os japoneses viraram-se para a utilização de bambu e outras madeiras, que abundam no arquipélago. No início do século X, aparecem os primeiros arcos compósitos, sendo esta estrutura descrita num poema de Minamoto Yorimasa (1140-1180). Estes arcos eram designados Fusetake (? ? ? ), sendo constituídos por uma tira de bambu laminado na pare exterior da madeira, normalmente teixo (kaya - ? ), utilizando uma pasta feita com bexigas de peixe (nibe -? ? ). Esta configuração permitia obter a potência necessária para a utilização em batalha, mantendo uma dimensão razoável. Foi ainda neste período que

a estrutura do Wakyuu (? ? ) começou a surgir. Mais tarde, no período Heian (794 - 1185), os arcos tiveram outro avanço tecnológico, sendo adicionada outra tira de bambu na face interna do arco, originando assim o Sanmai Uchi Yumi (? ? ? ? ) aumentando ainda mais a sua potência. Não é clara a transição do arco simples ou direito para o recurvo. Alguns historiadores

Bushido-Aespadaeapena colocam essa transição após a invasão Mongol, mas sendo apenas evidente a forma do arco quando este não tem a corda em tensão, esta transição pode ter ocorrido em período anterior. É unanimemente aceite que a partir do século XIV, os arcos recurvos eram modelados a vapor e ?cordados? contra a sua curvatura. Uma inovação que aumentou muito a sua potência. No século XV, foram adicionadas mais duas tiras de bambu, colocadas nos lados do arco, encapsulando o seu núcleo de madeira, surgindo assim o Shihouchiku Yumi ( ? ? ? ? ).

A evolução final do arco japonês aconteceu por volta do século XVII, no período Edo (1603 1868), quando surgiu o Higo Yumi (? ? ? ). Com um núcleo de 3 a 5 tiras de bambu, com as faces dianteira e traseira de bambu laminado e as laterais de madeira laminada. Outro curioso tipo de arco, é o Tekkyuu (? ? ), uma arco de aço. Feito de aço temperado, permitia um comportamento elástico (retorno à forma inicial após deformação). Não sendo um arco de uso comum, devido à força necessária para o seu uso, aliava também a escassez de recursos necessários para a sua manufactura, eram utilizados principalmente como objectos cerimoniais, em vez de arma.

Todos os arcos arcos eram lacados, sendo as cores mais comuns o vermelho e o preto. A laca tem como principal função a protecção das peças coladas da acção da humidade, que poderia causar a delaminação ou a perda da elasticidade do arco. As cordas dos arcos, Tsuru ( ? ),eram geralmente feitas de fibras de plantas, como por exemplo o cânhamo, enceradas para que apresentassem uma superfície rígida e suave. As cordas extra eram tradicionalmente transportadas junto das espadas, à cintura.

Como já referido acima, os guerreiros japoneses tinham uma predilecção pelo uso do arco como arma de Guerra e, ser proficiente no seu uso era considerada uma proeza marcial. Mesmo com o aumento da utilização de infantaria no fim do século XIV e século XV, os arcos

eram utilizados quer pelos Samurai (a cavalo) quer pelos Ashigaru (apeados). Sendo uma arma, de alguma forma menosprezada, desde o período Heian até ao Muromachi, o arco permaneceu como arma mais eficaz na guerra, sendo a causa de 82% do total de ferimentos, só no século XIV. Com o aparecimento e dispersão do uso das armas de fogo, após 1560 (apresentadas pelos navegadores portugueses), os arcos continuaram a ser amplamente utilizados e mantiveram-se no topo das armas que mais ferimentos provocavam: 45% para os ferimentos de bala e 21% para os ferimentos de flecha.

Os arcos, embora requeiram uma maior perícia e treino na sua utilização, tinham maior alcance, maior precisão e maior rácio de disparo que as primeiras armas de fogo. Isto sem mencionar a inutilidade das armas de fogo quando presentes a outros factores como a chuva ou lama, tornando-as uma arma menos efectiva que os arcos. O arco japonês (yumi) é o maior arco do mundo, com cerca de 2,7 metros de comprimento. Este comprimento é justificado pela necessidade de fazer vergar as várias camadas de bambu, sem que estas se partissem. Outra particularidade destes arcos é a sua assimetria, justificada pela sua dimensão e a necessidade de serem práticos quando a cavalo, embora alguns historiadores discordem desta justificação, uma vez que já existiam arcos assimétricos no Japão, antes do desenvolvimento da guerra a cavalo. A justificação recai então, no material utilizado na sua manufactura. Quando os arcos eram feitos numa só peça de madeira, a forma de equilibrar a diferente rigidez do material, mantendo a sua elasticidade por igual era descentrar a pega. Esta solução minimiza ainda o recuo e o efeito de chicote no braço do arqueiro, diminuindo a sua fadiga. Ainda em comparação com os arcos ocidentais, o arco japonês tem uma ?puxada?maior, de cerca de 1 metro, sendo comum verificar nas imagens antigas, que a corda do arco ultrapassa

a orelha do arqueiro.

Ao contrário da utilização do arco ocidental, a flecha é colocada do lado direito do arco (numa utilização dextra) e a corda é puxada com o polegar, suportado pelos dedos indicador e médio. A cavalo, o arco é elevado acima da cabeça e à medida que se baixa, abrem-se os braços para a extensão do arco. Desta forma o arco é mantido longe do cavalo. Esta técnica é denominada Uchiokoshi.

Quando utilizado de forma apeada, a extensão do arco era muito similar à ocidental, em que a extensão do arco começa com este paralelo ao chão. Para soltar a corda, são relaxados os dois dedos que suportam o polegar e deixa-se deslizar a corda, permitindo ainda a rotação do arco na mão que o segura. Com a utilização moderna dos arcos de Kyudo e mesmo os utilizados no Yabusame (com os alvos a curta distância), perdeu-se a verdadeira noção da potência de um arco japonês. Sendo necessário relembrar que a potência destes arcos nada tem a ver com a potência de um arco de guerra. A potência de um arco de guerra media-se no número de homens necessários para colocar a corda: Sannin-bari (? ? ? ? = necessários 3 homens), Yonnin-bari (? ? ? ? = necessários 4 homens). Se estabelecermos a equivalência entre esta medida antiga para uma forma de medir moderna, pode ser chegado ao valor 70-80kg (176 lbs) para um arco de 5 homens. Valores mais elevados que este, já tornariam a sua utilização muito pouco provável. Com esta ordem de grandeza na potência dos arcos, é razoável admitir que seria uma arma eficaz em distâncias de 100 a 200 metros, dependendo do peso das flechas. Ficando a distância de efectividade reduzida para cerca de 40 metros, quando os alvos vestissem armadura.

Jorge Cabrita

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