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A República Japonesa de Ezo

O Japão fechou-se para o mundo durante cerca de 250 anos, após a vitória do clã Tokugawa, na Batalha Sekigahara, em 1600, que confirmou Tokugawa Ieyasu como Xógum, findando uma vivência de séculos de guerrilhas anarquistas feudais. Entre 1600 e 1868, o ?Período de Edo?, o Imperador e a família imperial, apesar de respeitados e tratados com reverência cerimonial, exerciam pouquíssimas funções práticas, vivendo como captivos de luxo na antiga capital, Kyoto. Verdadeiramente, era o regime do Xógum, o ?Bakufu?, que governava o país. A sua medida mais conhecida, pelo menos no Ocidente, foi a proibição de contacto com os poderes europeus, pois, consideravam relevantes as consequências negativas advindas do contacto com os missionários cristãos portugueses. Apenas os Holandeses tiveram permissão para manter alguns contactos comerciais em Nagasáqui. Este isolamento terminou abruptamente em 1853, nos finais de Maio e princípios de Junho, com a chegada ao Japão do Comodoro Matthew Perry, da marinha dos USA, na imagem ao lado. Ameaçados pela superior tecnologia marítima da armada estado-unidense, o regime japonês autorizou Perry a acostar na Baía de Edo, em 14 de Julho, aí tendo entregado una carta do então Presidente Fillmore, o qual pretendia estabelecer relações diplomáticas e comerciais. Iniciou-se o Período conhecido como ?Bakumatsu?, ou ?Fim do Xogunato?, tendo ocorrido a assinatura da Convenção de Kanagawa, em 31 de Março de 1854, onde se estabeleceu a abertura dos portos de Shimoda e Hakodate à marinha mercante americana. Posteriormente foram assinados tratados similares com a França, a Inglaterra, a Rússia e a Holanda. Esta abertura tinha sido forçada pela força da superioridade militar das potências estrangeiras, situação que levou a divisões dentro do governo do Xógum. Por um lado, o clã Tokugawa e os seus aliados pretendiam uma abertura gradual e controlada do país e a modernização dos recursos; por outro lado, a família imperial e aliados, defensores da honra e das tradições nacionais, que achavam errado fazer mais concessões aos «bárbaros» estrangeiros. Foi este o motivo principalmente para a restauração Meiji ? a restauração do poder imperial na condução dos destinos do País. Nesse sentido, foram levados a cabo diversas acções militares contra alvos estrangeiros, na esperança de os mesmos serem conotados com as forças do Xógum, na esperança dos poderes estrangeiros deporem este regime. Em Março de 1863, o Imperador emitiu uma ordem formal para a «Expulsão dos Estrangeiros», contrariando as políticas do Xógum. Como resposta, a meados de Julho,

Bushido-Aespadaeapena a marinha americana e a marinha francesa bombardearam várias zonas costeiras onde tinham ocorrido as expulsões, o que fez aumentar ainda mais o ódio para com os estrangeiros. Aproveitando esta situação, o clã Chosu iniciou uma série de campanhas contra o exército governamental do Xógum, complicando a situação interna, a qual se agravou no final desse ano com as mortes do Xógum Tokugawa Iemochi e do Imperador Komei. O novo Xógum Tokugawa, Yoshinobu, iniciou de imediato uma série de medidas de modernização militar, tendo convidado uma missão militar francesa para esse efeito, em Janeiro de 1867, com o beneplácito de Napoleão III que assim esperava aumentar a sua influência nas ilhas nipónicas, através da reorganização do exército de acordo com o modelo ocidental. Relativamente à marinha, a reformulação da mesma ficou a cargo da Marinha real Britânica. Em Fevereiro de 1867, o novo Imperador inicia a Restauração Meiji, tendo o Xógum resignado à sua posição, em Novembro desse ano. No ano seguinte iniciou-se uma nova guerra civil que opôs os clãs Chosu, Satsuma e Tosa, aliados do Imperador, e o clã Tokugawa e seus aliados, entre os quais o clã Aizu. A situação que despoletou esta guerra foi a ameaça de confiscação das terras e bens do clã Tokugawa, o que levou o antigo Xógum a renegar os termos da Restauração imperial. Seguiram-se várias batalhas entres as diferentes forças, as quais foram na maioria das vezes favoráveis às forças imperiais, o que levou Tokugawa Yoshinobu a refugiar-se em Edo, a 7 de Fevereiro de 1868.

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Também na frente diplomática o antigo Xógum perdeu importância, pois, inicialmente era visto como o governo legítimo, passou a ser visto como um grupo de rebeldes após os imperialistas terem conseguido acordos de neutralidade com as diferentes potências estrangeiras. A 4 de Julho, em Ueno, o exército revoltoso foi devastado e Tokugawa Yoshinobu foi destituído de todos os seus títulos e ficou em prisão domiciliária. Apesar da derrota, o Almirante

Bushido-Aespadaeapena

Enomoto Takeaki, juntamente com Jules Brunet, líder da missão militar francesa, e o «verdadeiro último samurai», não o de Hollywood, conseguem furar o bloqueio e refugiam-se em Ezo, onde será criada a

República Japonesa de Ezo, antiga Hokkaido, onde, pela primeira vez, se instaura uma democracia no arquipélago japonês.

Na foto vimos os líderes da República, com o

Almirante Enomoto Takeaki, sentado à direita, no centro, eleito Presidente, passando Brunet a agir como Delegado do General Otore Keisuke, e na verdade, como comandante táctico das forças

militares da nova República. As tentativas do Presidente da nova República de obter reconhecimento internacional falharam, pois, por esta altura, estava praticamente consumada a Restauração Meiji, tendo o novo Imperador suavizado as posições do seu governo relativamente aos estrangeiros e abandonado a retórica isolacionista. A modernização da marinha imperial permitiu a destruição da marinha da nova república, levando ao início da queda dos independentistas. No início de Junho de 1869, Jules Brunet e outros conselheiros franceses conseguem escapar para um navio de guerra francês ancorado na Baía de Hakodate, e, a 27 de Junho, após violentos combates corpo-a-corpo as tropas imperiais impõem a derrota sobre as forças de Enamoto Takeaki, o qual acaba por se render.

Jorge Costa Renshi Ungoshin Aikido 6º dan Shindo Goshinkai Aiki Jujutsu 2º dan

Após 268 anos de Xogunato e 9 meses de República, o centésimo vigésimo segundo imperador do Japão voltava a comandar os destinos do seu país. Para a história fica esta nota de rodapé de uma República com eleições baseada no modelo francês.

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