Boletim Salesiano Moçambique Nº 61 pdf 2014

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Boletim Salesiano Nยบ 61 Novemb./Dez. 2014

Moรงambique

BICENTENร RIO DO NASCIMENTO DE DOM BOSCO 2014 + 16 Agosto + 2015


Rezando a Dom Bosco Obrigado, Dom Bosco, pai e mestre dos jovens, pelo teu olhar compreensivo, pela tua total confiança nos jovens. Seguindo as indicações do sonho que orientou a tua vida, puseste os olhos nos jovens necessitados, olhaste-os com carinho, os amaste como um pai

Oração dos jovens a D. BOSCO que quer o melhor para os seus. Soubeste ler o nosso coração jovem: seus medos e dúvidas, suas esperanças e frustrações, suas incompreensões e as suas ocultas alegrias. Obrigado, Dom Bosco. Amem.

Boletim Salesiano Novemb./Dezemb. 2014 Ano XIV Nº 61 DIRECTOR: AUTORES: MAQUETAÇÃO:

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FOTOGRAFIAS:

BS Nº 61 Novembro/Dezembro 2014


Editorial Sumário 2 Rezando a D. Bosco 3 Editorial 4 Reitor-Mor: Somos todos missionários 6 Dom Bosco sonhador 8 Os lugares de Dom Bosco 9 Pensamentos: Luz 10 Jovens com vida 12 2 comunidadores do Amor de Deus 13 As Irmãs da Ressurreição 14 ANS de Moçambique 16 Imaculada e Auxiliadora 17 Bicentenário de D.Bosco 21 O Oratório de São Luis 22 Ano da Vida Consagrada 23 Cristãos em formação 24 Construindo famílias (e 6) 26 Quadro de Referência da PJ 28 Região África-Madagascar 30 Desde Indonésia a Bélgica 32 Mundo salesiano 34 Ni landzi: Filipe Rinaldi

Queridos leitores do Boletim Salesiano: As primeiras palavras, neste novo numero do BS, são as de desejar-vos um FELIZ NATAL CRISTÃO. Que a celebração do nascimento de Jesus, seja a eterna Boa Notícia para os nossos corações e a Alegre Notícia para comunicar aos corações do mundo, dos jovens, dos pobres. Terminamos mais um ano cheio de tantos acontecimentos importantes para o mundo salesiano: - Destacamos a abertura do ano das celebrações do Bicentenário do nascimento de Dom Bosco, o passado 16 de agosto nos I Becchi, pelo Reitor Mor. - Os Capítulos Gerais dos Salesianos e das Filhas de Maria Auxiliadora, com a escolha do novo X Sucessor de Dom Bosco e a confirmação, no serviço, da 9ª Madre Geral das FMA. - Um novo Provincial, vindo de longe, para os Sdb de Moçambique. - A Assembleia Geral, ao início do ano, dos Voluntários Com Dom Bosco (Leigos consagados), com a escolha do seu novo Responsável e a aprovação definitiva das suas Constituições. - A celebração do Congresso Histórico Salesiano, como um dos primeiros actos internacionais da celebração do Bicentenário. Um tempo para dar graças a Deus pelo seu Amor e pelo que nos permite fazer a favor dos jovens e do mundo. Maria Auxiliadora nos acompanhou! Olhamos para o futuro do ano 2015. Muitos os desafios. Muito o que temos para dar e anunciar. O Boletim Salesiano, revista tão querida por Dom Bosco para à sua Família Salesiana e para os benfeitores, continua a ser um instrumento do anúncio das ‘boas noticias’ salesianas, assim como um lugar de ‘encontro’ entre todos aqueles que vivemos o carisma salesiano e os jovens. Um pedido a cada um e a cada uma das pessoas da Família: espalhemos o BS: recebendo a revista impressa (500,00 mts. por ano); recebendo-a gratuitamente por e-mail; enviando-a pela net aos nossos amigos e através das Redes Sociais. Todos podemos fazer mais pelo BS. Obrigado! P. Rogelio Arenal

Feliz Natal Cristão! Feliz Ano Novo 2015! «Recordai-vos, ó jovens, que vós sois o encanto do Senhor» (db)

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Mensagem do Reitor Mor

SOMOS TODOS MISSIONÁRIOS Dom Bosco quis ter Congregações e Institutos ‘em saída’. Somos uma Familia que teve um Pai com um coração tão grande e apaixonado que não parava, nem mesmo quando sonhava, e assim ofereceu-nos tantos sonhos missionários que ainda são os nossos sonhos. Valdocco, Maria Auxiliadora, Expedição Missionária: uma tripla preciosa para oferecer à humanidade, sobretudo aos jovens mais necessitados da nossa aldeia global, o nosso carisma partilhado do qual todos nós somos corresponsáveis. Uma tripla que nos faz chegar até ao fim do mundo! De facto, o nosso amado Dom Bosco fez chegar os seus até à longínqua e quase desconhecida Terra do Fogo, ao sul do sul da não menos inexplorada Patagónia, terra de corajosos povos muito abertos à transcendência e ao amor pela terra, pelo criado. Aquela foi uma aventura que teve necessidade de tantos sacrifícios

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e fadigas das nossas irmãs e irmãos, que nos ajudou a fazer crescer e desenvolver não só a fé, mas também a cultura e a sociedade nos países da região. Hoje, temos um Papa que veio de lá e, na audiência com o Capítulo Geral, manifestou o seu desejomandato: “Peço-vos, não deixeis a Patagónia!”. Quero deixar-vos três lembranças, como fazia Dom Bosco. A primeira inspira-se no profeta Ezequiel e é esta: Ser rectos segundo Deus. Ser rectos significa ser transparentes, não ter dupla linguagem nem intenções escondidas. Somos chamados a ser sinceros, alguma vez expertos no sentido evangélico que nos ensina Jesus, mas sempre homens e mulheres nos quais não há falsidade, como Natanael. Ser rectos significa ser claros nas nossas motivações, ser capazes de nos dizer a verdade sobre nós a nós mesmos e aos outros. Não se vai para a missão (qualquer tipo

de missão, também a do Reitor Maior) se um vai procurando-se a sí mesmo, se procura o poder o impor-se aos outros, se um acredita interiormente que aquilo que leva consigo não só é de um grande valor – que seguramente o é!- mas que é superior, melhor àquilo que encontrará nos outros e nos lugares onde chega. Ser rectos segundo Deus, é lançar-se plenamente no coração de Deus misericordioso que ama o pecador e que sempre lhe dá uma outra oportunidade e sempre está disposto a recebé-lo e a abrazá-lo como filho amadíssimo que vem de longe... Para nos ajudar, o salmo 23 nos ensina a rezar com todo o coração: “Faz-me conhecer, Senhor, os teus caminhos,/ ensina.me os teus senderos./ Guía-me na tua fidelidade e instrue-me...” A carta de Pablo aos Filipenses me inspira uma segunda palavra: Ser servos sem privilégios. O apóstolo deixa à história um dos hinos cristológicos que os

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primeiros cristãos seguramente rezavam na liturgia. Um hino que é também um ato de fé: “Cristo Jesus, mesmo sendo de condição divina, não teve um privilégio ser como Deus, mas esvaziou-se a si mesmo assumindo a condição de servo...” Meus queridos, o nosso privilégio mais precioso é ser chamados a viver como Jesus, que se esvaziou a sí mesmo assumindo a condição de servo! Cada um de nós é, mesmo de diversas formas, servo ou serva dos outros. Também aquí, a natural tentação do poder está vacinada pelo claro e forte exemplo de Jesus. Colocar-se ao serviço daqueles aos quais somos enviados, colocarmo-nos ao serviço também daqueles que são indiferentes, nos rejeitam ou nos combatem. Ser sábios e cuidar de nós mesmos, das nossas comunidades, dos nossos irmãos e irmãs... mas, estando dispostos a dar toda a vida. Ir em missão é responder à chamada a dar a própria vida até ao último respiro, como Dom Bosco para os seus – nossos jovens. O nosso privilégio seja sempre o serviço àqueles que

tem mais necessidade, os jovens que estão em mais perigo e as povoações mais pobres. Chegamos à terceira palavra que quero partilhar convosco: Cumprir a vontade do Pai. Cumprir a vontade do Pai é o unico horizonte válido da nossa vida seja como batizados, seja como consagrados. Não há outra coisa. E a vontade do Pai não se realiza a sós, autonomamente, acreditando-nos os redentores numa versão renovada. Nunca! Ninguém de nós é chamado a ser o Messias! Ninguém de nós está chamado a prescindir do discernimento comunitário, do trabalho em equipa, do compromiso, lado a lado, com os outros educadores e pastores, e, além das distâncias, de não estar em comunhão profunda de espírito e de intenções, de oração e de afecto. Irmãos e irmãs, o Senhor nos chama e nos envia a ser discípulos missionários que vivem não só o grande mandamento de Jesus de nos amar uns aos outros, mas de fazer realidade o sonho-desejo de Jesus que fez oração no momento da partida: “Pai Santo, guarda no teu nome àqueles que me deste,

para que sejam uma só coisa, como nós” (Jn 17,11). Cumprir a vontade do Pai é testemunhar ao mundo que somos capaces de ser irmãos e irmãs entre nós e entre todos os homens e mulheres de boa vontade além das crenças, fé, religião e costumes. Mais uma vez, o Senhor nos chama pelo nome, nos consagra e nos envia a ser como o seu querido filho, Jesus Cristo e a anunciá-lo. Eu vos convido, e vos peço: ser rectos segundo Deus, servos sem privilégios e cumprir sempre a vontade do Pai. Só com a protecção materna e tenra de Maria, a Mestra de Dom Bosco, e com o seu ensinamento quotidiano, podemos chegar a ser verdadeiros discípulos missionários e ajudar para que “...toda língua proclame: «Jesus Cristo é o Senhor! A glória de Deus Pai”. Ángel Fernández Artime, Reitor-Mor

“Só com a protecção materna de Maria, a Mestra de Dom Bosco, e com o seu ensinamento quotidiano, podemos chegar a ser verdadeiros discípulos missionários e colaborar para que «...toda língua proclame Jesus Cristo é o Senhor para glória de Deus Pai»” «Recordai-vos, ó jovens, que vós sois o encanto do Senhor» (db)

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Dom Bosco sonhador Na noite de 18 de junho, Dom Bosco contou aos jovens a seguinte historia ou sonho, como o definiu em outra ocasião. Sua forma de narrar era sempre tal que bem pôde dizer o clérigo Ruffino ao recordá-la o que Baruch diz das visões de São Jeremias: “Pronunciava

com a boca estas palavras como se as estivesse lendo e eu as escrevia no livro com a tinta” (Baruch XXXVI).

“Era a noite do 14 aos 15 de junho. Depois que me tive deitado, logo que tinha começado a dormir, sinto um grande golpe na cabeceira, algo assim como se alguém batesse nela com uma bengala. Incorporei-me rapidamente e lembrei-me em seguida do raio; olhei para uma e outra parte e nada vi. Por isso, persuadido de que tinha sido uma ilusão e de que nada tinha de real em todo aquilo, voltei a me deitar. Mas logo que tinha começado a conciliar o sonho quando, eis aqui que o ruído de um segundo golpe fere meus ouvidos despertando-me de novo. Incorporo-me outra vez, desço do leito, procuro, observo debaixo da cama e da mesa de trabalho, esquadrinho os rincões da habitação; mas nada vi. Então, pus-me nas mãos do Senhor, tomei água bendita e voltei-me a deitar. Foi então quando minha imaginação, indo de uma parte a outra, viu o que agora lhes vou contar. Pareceu-me encontrar-me no púlpito de nossa igreja disposto a começar uma conversa. Os jovens estavam todos sentados em seus sítios com o olhar fixo em mim, esperando com toda atenção que eu lhes falasse. Mas eu não sabia de que

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tema tratar ou como começar o sermão. Por mais esforços de memória que fazia, esta permanecia em um estado de completa passividade. Assim estive por espaço de um pouco de tempo, confundido e angustiado, não me havendo ocorrido coisa semelhante em tantos anos de predica. Mas, eis aqui que pouco depois vejo a igreja convertida em um grande vale. Eu procurava com a vista os muros da mesma e não os via como tampouco a nenhum jovem. Eu estava fora de mim pela admiração, sem saber-me explicar aquela mudança de cena. — Mas o que significa tudo isto?, — disse-me a mim mesmo —. Faz um momento estava no púlpito e agora me encontro neste vale. Será que sonho? O que faço? Então decidi-me a caminhar por aquele vale. Enquanto o percorria procurei a alguém a quem manifestar-lhe minha estranheza e pedirlhe ao mesmo tempo alguma explicação. Logo vi ante mim um

formoso palácio com grandes balcões e amplos terraços ou como queiram chamar, que formavam um conjunto admirável. Diante do palácio estendia-se uma praça. Em um ângulo dela, à direita, descobri um grande número de jovens agrupados, os quais rodeavam a uma Senhora que estava entregando um lenço a cada um deles. Aqueles jovens, depois de receber o lenço subiam e se dispunham em fila um detrás de outro no terraço que estava cercado por uma balaustrada. Eu também aproximei-me da Senhora e pude ouvir que no momento de entregar os lenços, dizia a todos e a cada um dos jovens estas palavras: — Não o abram quando soprar o vento, e se este os surpreende enquanto o estão estendendo, voltem-se imediatamente para a direita, nunca à esquerda. Eu observava a todos aqueles jovens, mas no momento não conheci nenhum. Terminada a distribuição dos lenços, quando todos os moços estiveram no

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O s o n ho da Vi rgem do l e nço

terraço, formaram uns detrás de outros uma fila comprida, permanecendo direitos sem dizer uma palavra. Eu continuei observando e vi um jovem que começava a tirar seu lenço estendendo-o; depois comprovei como também outros jovens foram tirando pouco a pouco os seus e os desdobravam, até que todos tiveram o lenço estendido. Eram os lenços muito largos, bordados em oro com uns trabalhos finíssimos e se liam neles estas palavras, também bordadas em ouro: Regina virtutum (Rainha das Virtudes). Quando eis aqui que do norte, isto é, da esquerda, começou a soprar brandamente um pouco de ar, que foi aumentando cada vez mais até converter-se em um vento impetuoso. Logo que começou a soprar este vento, vi que alguns jovens dobravam o lenço e o guardavam; outros se voltavam do lado direito. Mas uma parte permaneceu impassível com o lenço desdobrado. Quando o vento se fez mais impetuoso começou a aparecer e a estender uma nuvem que logo cobriu todo o céu. Seguidamente se desencadeou um furioso temporal, ouvindo o fragoroso rodar do trovão; depois começou a cair granizo, a chover e finalmente a nevar. Enquanto isso, muitos jovens permaneciam com o lenço estendido, e o granizo, caindo sobre ele, furava-o transpassando o de parte a parte; o mesmo efeito produzia a chuva, cujas gotas parecia que

tivessem ponta; o mesmo dano causavam os flocos de neve. Em um momento todos aqueles lenços ficaram danificados e rachados, perdendo toda sua formosura. Este fato despertou em mim tal estupor que não sabia que explicação dar ao que tinha visto. O pior foi que havendo-me aproximado daqueles jovens aos quais não tinha conhecido antes, agora, ao olhá-los com maior atenção, reconheci-os a todos distintamente. Eram meus jovens do Oratório. Aproximando-me ainda mais, perguntei-lhes: — O que você faz aqui? É você fulano? — Sim, aqui estou. Olhe, também está fulano, e o outro e o outro. Fui então aonde estava a Senhora que distribuía os lenços; perto Dela havia alguns homens aos quais falei: — O que significa tudo isto? A Senhora, voltando-se para mim, respondeu-me: — Não liste o que estava escrito naqueles lenços? — Sim: Regina virtutem. — Não sabes por que? — Sim que sei. — Pois bem, aqueles jovens expuseram a virtude da pureza ao vento das tentações. Os primeiros, apenas se deram conta do perigo fugiram, são os que guardaram o lenço; outros, surpreendidos e não tendo tido tempo de guardá-lo, voltaramse para a direita; são os que no perigo recorrem ao Senhor voltando as costas ao inimigo. Outros, permaneceram com o

lenço estendido ante o ímpeto da tentação que lhes fez cair no pecado. Ante semelhante espetáculo senti-me profundamente abatido e estava para me deixar levar do desespero ao comprovar quão poucos eram os que tinham conservado a bela virtude, quando prorrompi em um doloroso pranto. Depois de me haver serenado um tanto, prossegui: — Mas como é que os lenços foram furados não só pela tempestade, mas também pela chuva e pela neve? As gotas de água e os flocos de neve não indicam acaso os pecados pequenos, ou seja, as faltas veniais? — Mas não sabe que nisto não há matéria leve? Contudo, não te aflijas tanto, vêem ver. Um daqueles homens avançou então para o balcão, fez um sinal com a mão aos jovens e gritou: — À direita! Quase todos os moços voltaram-se para a direita, mas alguns não se moveram de seu sítio e seu lenço terminou por ficar completamente destroçado. Então vi o lenço dos que tornaram-se para a direita diminuir de tamanho, com cerzidos e remendos, mas sem buraco algum. Contudo, estavam em tão deplorável estado que dava compaixão ao vê-los; tinham perdido sua forma regular. Uns mediam três palmos, outros dois, outros um. A Senhora acrescentou: — Estes são os que tiveram a desgraça de perder a bela virtude, mas remedeiam suas quedas com a confissão. Os que não se moveram são os que continuam em pecado e, talvez, talvez, caminham irremediavelmente a sua perdição.

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Os lugares de Dom Bosco

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”Antes de tomar uma decisão definitiva (sobre o destino onde trabalhar), quis dar um salto a Turim para me aconselhar com o padre Cafasso, que desde há vários anos se tornara o meu guia nos assuntos espirituais e temporais”: «Precisa -aconselhou P. Cafasso- de fazer estudos de moral e de pregação. Renuncie por agora a qualquer proposta e venha para o Convitto». (Na fotografia, vê-se o lateral da Igreja de São Francisco de Assis, e debaixo do campanârio encontra-se a porta de entrada para o Convitto)

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”Mal tinha entrado no Convitto de São Francisco, logo me vi rodeado de uma turba de jovenzinhos que me seguiam pelas ruas, pelas praças e até na sacristia do Instituto. Mas não podia tomar cuidado direto deles por falta de lugar”. (Na foto inferior, uma das ruas frequentada por Dom Bosco)

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”Em primeiro lugar, o P. Cafasso começou a levar-me às prissões, onde depressa aprendi a conhecer como é grande a malícia e a miséria dos homens”. (Na fotografia superior o edificio actual que era uma cadéia nos tempos de Dom Bosco).

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(Os textos são tirados das Memórias do Oratório)

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Pensamentos Hoje, pensei na luz.

sol afaste os pesadelos.

Talvez seja da noite que anda a povoar as páginas dos jornais, ou da angústia que o inverno cola às paredes da ilha, ou dos buracos que o vento vai revelando, quando as dores varrem as folhas do chão…

Vamos esperar que amanheça. Vamos esperar.

Talvez seja do desespero que tenho andado a ver nos olhos dos miúdos que não encontram futuro. Talvez a ausência de Deus do tempo dos homens… Pensei na luz. Talvez por causa da falta de resistência aos nãos que a vida traz ou da incapacidade de perceber que só faz sentido quando a linguagem do poder – eu posso – se junta à linguagem da fé – eu creio – ou da incapacidade de dar resposta ao medo, ao vazio, à insegurança.

Lembra-se da voz que mandava embora o papão, num tempo em que os problemas se limitavam ao medo do escuro? Essa era uma voz de luz. Era uma voz com sorrisos de luz. A mesma que continua por dentro de nós.

Luz

Para lhe contar que, amanhã, outras flores nascerão no seu quintal, outras músicas alegrarão a sua vida, outras histórias procurarão por si. Peço-lhe, hoje, que não desista, que olhe as coisas por dentro, que se encontre com os abraços que andam à procura do seu silêncio e que precisam dos seus para continuar a sorrir. Pensei na luz. Trago-a, hoje, para si. Não permita que nada na sua vida seja tarde demais. Não se permita acabar.

E é com essa luz nas mãos que vim, hoje, à sua procura.

Trago-lhe luz.

Para lhe dizer que as andorinhas estão quase a chegar e vão precisar de si para cuidar dos ninhos que vão fazer nos beirais.

Por mim.

Por favor, não a deixe apagar-se. Por si. Por tudo aquilo que ainda temos por fazer. Graça Nóbrega Alves

Pensei na luz, pronto. Apeteceume acendê-la. É que somos muitos maiores do que a noite e que o desespero. Somos muito maiores do que um corpo que tropeça no caminho. Somos muito maiores do que nós. Por isso, espere. Vamos deixar que as sombras se recolham dentro das suas negruras e que o

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Jovens com vida Test emu n h o d e d o i s jove n s C r ist ina e Chi s s a no Sou CRISTINA JOSÉ ALBERTO FAUSTINO, nascida aos 06 de Outubro de 1999, em Moatize, provincia de Tete, e residente no bairro 25 de setembro. Moro com os meus pais e sou cristã católica na Paróquia S. João Baptista de Moatize. Sou estudante na Escola Secundária Samora Machel de Moatize, e frequento a 10º classe. Na minha Paróquia, frequento muitos grupos de adolescentes da minha idade, tal como o grupo dos ADS onde comecei a participar em 2009 a convite do meu irmão Castelo. Pertencer a um grupo juvenil é sempre uma boa ideia, pois para mim foi lá onde pude aprender que, mesmo com a minha idade, posso ser santa a exemplo de S. Domingos Sávio, o meu santo preferido. No grupo dos ADS aprendi que o ADS deve ser sempre alegre e que a verdadeira alegria é a de estar unido a Deus, fazendo sempre a sua santa vontade. Para além de ADS, sou apresentadora do programa infantil

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«Nossa Hora» na Rádio Dom Bosco, de Moatize. Este programa tem por objectivo educar a todos os adolescentes e a mim mesma a ter boas relações para com os demais, sobretudo os mais velhos e os necessitados, a amar ao próximo. O meu primeiro tema da rádio como apresentadora foi a BIOGRAFIA DE DOM BOSCO. Com este programa aprendo a ser util para os outros transmitindo valores e boas maneiras à todos, sobretudo, aos adolescentes da minha idade. Sempre amei este programa «Nossa Hora» pois ele é a como a voz do adolescente nesta parcela do mundo. O sonho de ser jornalista fez sempre parte da minha vida, e com a presença da Rádio Dom Bosco foi mais uma chance para concretizar este sonho. Comecei a trabalhar na radio desde 2013, e quando iniciei este serviço da radio, senti-me realizada por saber que estava a concretizar as palavras de Dom Bosco que diz :

«Deus colocou-nos neste mundo para os outros» e desde então, tornei-me uma rapariga dedicada e empenhada tanto nos estudos como na vida cristã, aprendi a ser paciente com os meus colegas. Agradeço aos Salesianos de Dom Bosco de Moatize que me ofereceram esta oportunidade de concretizar os meus sonhos de futura Jornalista.

Eu chamo-me CHISSANO DOMINGOS MORAIS CINTURAO. Nasci no dia 20 de novembro de 1998, em Moatize, província de Tete. Vivo com os meus pais e pertenço a dois grupos da minha paroquia : os Ads e os acólitos. Iniciei a frequentar o grupo ADS no ano 2008, quando eu tinha apenas 7 anos de idade, e vi que este grupo é um grupo espiritual. No ano 2013 entrei no grupo dos ACÓLITOS, pois era o meu sonho servir o altar do Senhor. Além de pertencer a estes dois grupos, também sou apresentador da rádio Dom Bosco. O nome do programa que apresento chama-se «PROGRAMA NOSSA HORA», cujo objectivo principal é de educar todas as crianças, adolescentes, jovens, adultos e velhos. Iniciei a fazer este programa no ano 2012. Agora eu ja adquirí uma experiência de como falar na rádio e de como fazer um programa. Agradeço muito pessolmente, desde o fundo do meu coração, a todos os salesianos da paróquia de São João Baptista que nos apoiaram em termo de materiais, conselho e temas. Sinto-me muito feliz e orgulhoso de pertencer a estes dois grupos ADSe ACOLITOS. Muito obrigado.

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M

J S No dia 1 de Novembro, realizou-se o tradicional encontro festivo do MJS (Movimento Juvenil Salesiano) do Sul de Moçambique. O lugar escolhido para este ano foi a casa do Noviciado Salesiano de Namaacha. O encontro foi preparado pela equipa nacional do MJS em colaboração com a Pastoral Juvenil das FMA e SDB. Houve momento de Eucaritia, de trabalho em grupo pelas ruas da Vila saindo ao encontro das pessoas do lugar, e momento de convívio e de amizade.

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Em Comunicação

São Fra ncisco de Sales e São João Bosco, dois comunicadores do Amor de Deus

A “grande revolução” realizada por Dom Bosco resultaria pura utopia se não nos referíssemos à pessoa que sabemos que o inspirou: São Francisco de Sales. Olhando para o santo bispo de Genebra como excelente comunicador sob muitos aspectos (foi jornalista criativo e envolvido em muitos outros aspectos da atividade de comunicação) e percorrendo com simplicidade os inícios do Oratório de Valdocco, descobrimos como São Francisco de Sales inspirou profundamente Dom Bosco. Deixamos ao nosso famoso historiador padre Pietro Stella a tarefa de esclarecer este ponto: “No oratório de Dom Bosco, desde os inícios, o centro e o coração de tudo era o quarto-escritório de Dom Bosco e a capela: esses ambientes podiam ser considerados como os depositários de uma série de mensagens que Dom Bosco dirigia

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aos seus interlocutores. Jovens e adultos que entravam no seu quarto podiam ler num quadro pendurado na parede estas palavras: “Da mihi animas, coetera (sic) tolle”, que, além de serem um lema, eram também uma oração jaculatória dirigida a Deus. A capela, posteriormente substituída por uma igreja maior, era significativamente dedicada a São Francisco de Sales para sinalizar, segundo a precisa explicação de Dom Bosco, qual era o seu estilo educativo: não a disciplina severa, mas a doçura do educador e a alegria como manifestação da íntima adesão à graça divina que os jovens deveriam buscar e expressar”.

O que realmente caracterizou São Francisco e Dom Bosco foi a capacidade criativa, o otimismo, o amoroso e ao mesmo tempo constante empenho em superar todos os obstáculos para a difusão do Evangelho da salvação. Em tempos e lugares diferentes (embora não muito diferentes do ponto de vista geográfico e cultural; afinal, ambos admiraram a beleza dos Alpes e dos lagos que os rodeiam), ambos foram autênticos comunicadores do Evangelho do amor de Deus e construtores do seu Reino. (SSCS 2.4)

Podemos ter a certeza de que Dom Bosco não olhou para São Francisco de Sales somente como seu inspirador a respeito de específicos aspectos da atividade de comunicação.

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Em Família Apresentamos mais um grupo da Família Salesiana: as Irmãs da Ressurreição. São todas muito alegres. Mas de uma alegria espontânea. Não esterotipada. Rezam. Mas sem fórmulas ultrapassadas, enjoadas. Como se estivessem conversando directamente com Deus. As palavras dos seus cantos nascem do fundo da alma. Em uníssono: tornamse um único hino de louvor. Saúdam todas as pessoas que encontram com um simples e amigo sorriso.

Trabalham com tanto vigor que é dificil dizer de onde recebem tamanha energia. Vivem em comunidade onde mais que a hierarquia vale o sentimento da fraternidade e da união. Vivem como todas as outras mulheres do lugar, sem nunca esquecer da origem cultural de que provieram. Uma simples cruz ao pescoço é tudo quando as identifica como mulheres consagradas. O seu campo de missão é a mesma amplíssima área rural: deslocam-se de missão em missão utilizando os abarrotados machibombos locais ou graças a boleias de outras pessoas... Exatamente como fazem todos os que moram nestes lugares. Costumam também fazer a pé dezenas de kilómetros para chegar até às pessoas que devem ajudar. Numa como magia, reúnem em derredor ciranças, jovens, mulheres, adultos. São realmente capazes: tanto na gestão e organização de pequenos grupos quanto de grandes massas. Podiamos dizer que o papel de ser líder faz parte intrínseca do seu

DNA. São sempre bem aceitas nas comunidades rurais onde prestam a sua ajuda. Cumprem a sua missão sem nenhum problema tanto com pequenos quanto com grandes. Fica pois evidente que dispõem de uma autoridade interior que as leva a ser guias de outras pessoas e a fazê-lo de modo mais natural, jamais autoritário. Difundem duma forma muito inteligente e eficaz a mensagem do Evangelho através do canto, de teatros, danças, imagens. Jovens e até criancinhas, ficam fascinados por essas suas atividades que são, a um só tempo, oração, divertimento, arte, modo de estar juntos. Essas religiosas são sempre impelidas por um grande desejo de conhecer tudo quanto lhes possa ser útil em sua missão pastoral: compôem textos musicais no computador, criam e difundem programas radiofônicos, estão sempre em mui estreito contato celular com as pessoas que mais as ajudam, escrevem pequenos opúsculos com mensagens catequêticas.

Recentemente, e com aquele entusiasmo que costuma caracterizar as crianças, lançaramse à descoberta do mundo da internet. Têm uma sua net. Aprenderam se nenhum problema a tirar fotos com máquinas digitais e enviá-las por e-mail e, portanto, a usar todo esse material como recurso para o próprio ministério. Estamos falando das Irmãs da Ressurreição, uma congregação cujos membros saem da tribo indígena “Qeqchi”, que vive principalmente na região de San Pedro de Carchà, ao norte da Guatemala, na América Central. A idéia era oferecer um carisma religioso às jovens mulheres indígenas, que não fosse entretanto caracterizado pelos estereótipos do mundo occidental. A idéia, de fato, era sim que fossem religiosas, mas sem terem de renunciar às origens do próprio Povo, da própria Tribo indígena. E a experiência funcionou! E muito bem! Heriberto Herrera

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ANS de Moçambique

Jovens da Escola Profissional de Inharrime

Grupo de vocacionados salesianos no Emaús

Grupo de aspirantes e postulantes Fma no Jardim

Animando a festa dos crismas no Chiúre Participantes no curso de formação para os Escritórios Salesianos de Desenvolvimento de África e Caribe

NOTÍCIAS BREVES Nos dias 2-4 de Dezembro, o Conselho Provincial e os Directores salesianos, reunem-se para preparar o programa para o próximo sexénio. Nos dias 5-6 será o momento da Assembleia anual dos salesianos da Visitadoria para confirmar este programa de vida e acção. Todos os encontros são presididos pelo Provincial P. Marco Biaggi.

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NOTÍCIAS BREVES Os Salesianos de Moçambique estão presentes em 6 províncias: 2 comunidades na Cidade de Maputo; 3 comunidades na Província de Maputo; 1 comunidade na Província de Inhambane e 2 comunidades na Província de Tete. Existe uma obra sem comunidade, na Província de Gaza, no albergue do Bilene.

NOTÍCIAS BREVES Organizado pela União Europeia e a VIS, ONG salesiana de Itália, realizou-se nos dias 25 a 28, na Visitadoria dos Salesianos, um encontro formativo sobre Projectos, dirigidos aos encarregados dos Projectos da Região África e do Caribe. Também foram convidados a participar os ecónomos salesianos da Visitadoria para aproveitarem desta formação.

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Colégio Maria Auxiliadora Fma de Namaacha

Os noviços sdb do Bicentenário de Namaacha

Crianças da Missão de Moatize

Emídio e Jeremias, antigos alunos de Matola NOTÍCIAS BREVES Acompanhamos a Ir. Orsolina Tachis, directora da Comunidade FMA de Pemba, que perdeu a sua irmã Sra. Agnese Tachis, em Itália. Pedimos ao Deus da Vida que a acolha no seu Amor misericordioso. Descansem em paz, todos os defuntos da Família Salesiana.

NOTÍCIAS BREVES As Filhas de Maria Auxiliadora de Moçambique estão presentes em 7 províncias: 2 comunidades na Cidade de Maputo; 3 comunidades na Província de Maputo; 1 comunidade na Província de Inhambane; 1 comunidade na Província de Tete; 2 comunidades na Província de Nampula; 2 comunidades na Província de Cabo Delgado. Na província de Gaza, a obra do Bilene sem comunidade.

Escolina de crianças das FMA NOTÍCIAS BREVES Os participantes na formação dos Escritórios Salesianos de Desenvolvimento vieram dos seguintes paises, representando as suas inspectorias: Haiti, Etiopia, Rwanda, Ghana, Camarões, Angola, África do Sul, Rep. Pop. do Congo, Zambia. O formador do curso veio da Itália e com muita experiência de voluntariado e projectos em África.

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Maria no carisma salesiano

Auxiliadora. Duas faces da mesma mãe que se tornaram para Dom Bosco e para o seu Sistema Preventivo, duas maneiras concretas de amar e imitar Maria. Maria Imaculada, além dos momentos históricos vividos pelo nosso carisma no dia da sua festa, 8 de Dezembro, tambem esteve no centro dos primeiros anos da vida do Oratório. Na bela igeja de São Francisco de Sales encontrase o seu altar (fotografia deste artigo). Diante da sua imagem, São Domingos Sávio se consagrou à Imaculada e lá cresceu o primeiro grupo apostólico juvenil da ‘Companhia da Imaculada’. Ela foi modelo para a santidade juvenil proposta por Dom Bosco.

Maria, está muito unida, seja ao nascimento da Sociedade Salesiana como à vocação salesiana. Por isso, a dimensão mariana é essencial seja na história como na vida da Sociedade Salesiana e da própria Família Salesiana.

é a Mãe dos jovens, e mostrou o seu especial carinho por eles: no sonho dos 9 anos feito por João, e repetido noutros sonhos mais tarde, Maria indica os jovens como o seu campo de acção e a bondade (‘amorevolezza’) como o seu método pastoral.

A Mãe de Deus, como cooperadora na obra da Redenção realizada por Jesus, participa também activamente no nascimento e desenvolvimento de vários Institutos Religiosos. Assim o afirmava Dom Bosco falando de nós: “Maria é mãe e sustento da Congregação”.

Isto leva a dizer a Dom Bosco com total confiança: “Não nos podemos equivocar: é Maria que nos guia!”; “Tudo é obra de Maria”; Ela é “a fundadora e o sustém das nossas obras”.

Maria, a Mãe de Deus, também

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No processo de relação de Maria com Dom Bosco, descobrimos dois aspectos importantes: Maria como Imaculada e Maria como

Mais logo, Dom Bosco sente que Maria lhe convida a abrir os horizontes do seu amor para com Ela: “Ela quer que a honremos com o título de Maria Auxiliadora, titulo muito oportuno, particularmente nos tempos difíceis e de grandes esperanças que estamos vivendo”. Maria “continua desde o céu a sua missão de Mãe da Igreja e Auxiliadora dos cristãos que tinha iniciado na terra”. Dom Bosco nos repete: “Chamai-a Auxiliadora. Ela gosta tanto em nos ajudar”. É : “Auxiliadora dos pais,

Auxiliadora dos filhos, Auxiliadora dos amigos”.

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Bicentenário de D. Bosco Os salesianos da India da Província do Chenai, idealizaram uma série de quadros sobre o Bicentenário de Dom Bosco. As nossas páginas dedicadas ao Bicentenário começam com este original cartaz onde aparece Dom Bosco vestido ao estilo dos jovens de hoje: t-shirt, jeans... Aparece rodeado de crianças, adolescentes e jovens, como eles são hoje. Para alguns pode ser uma falta de respeito apresentar a Dom Bosco sem a batina de padre e com jeans! Mas, olhando para a intenção manifestada pelos autores do cartaz, tal vez nos estão dizendo muito com esta imagem: Dom Bosco é para os jovens de hoje! Dom Bosco estaria com e como os jovens de hoje! Ainda muito mais: os filhos e filhas de Dom Bosco devem saber incarnar no hoje da história da juventude o amor de Dom Bosco pelos jovens pobres. Saõ muitos e muitas que já vivem desta maneira. O que não pode mudar nunca é o porque Dom Bosco quer estar no meio dos jovens: a salvação dos jovens! Uma salvação de tudo aquilo que não lhes permite crescer em plenitude, mas uma salvação que aponta mais alto, mais além: a vida plena dos filhos de Deus. Dizei aos meus jovens, disse Dom Bosco pouco antes de morrer, que os espero a todos no céu!

«O o l h a r de D o m B o sco é mar cado, antes de tudo, pela sim patia. El e m e t e - s e n a pe l e do s seu s ra p a zes. E am adur eceu, dur ante a sua for m aç ão v o c a c i o n a l, um mod e l o de padr e car acter izado pela pr oxim idade, p el a c a p a c i d a d e de empa ti a, de contacto im ediato, de par ticipar no sentim ento do s j o v e n s e d o p o vo . O mod e lo pastor al que Dom Bosco intui, constr ó i e ex p e r i m e nta , so b a g u i a d e Mar ia, é o m odelo do padr e sim pático, não do fa n f a r r ã o o u do ami g a l ho te , mas daquele que faz sentir - se logo à vontade, po r q u e s e faz sen ti r i med i ata m ente am ado por aquilo que se é e naqu i l o qu e s e é » (P J-Q dR , p.2 6 )

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Bicentenário de D. Bosco

Congresso Histórico Salesiano do Bicentenário Entre as grandes actividades organizadas para o Bicentenário, a nível internacional, estava o Congresso Histórico Salesiano Internacional. Iniciou na tarde do dia 19 de novembro. O seu lema central era: “Desenvolvimento do carisma de Dom Bosco até à metade do Século XX”. O Congresso abriu-se com as boas-vindas, pelo P. Francesco Cereda, Vigário do Reitor-Mor, e da Ir. Grazia Loparco, Historiógrafa das Filhas de Maria Auxiliadora (FMA). “Dom Bosco, buscou dar respostas cada vez mais pertinentes às novas necessidades dos tempos; (…) Procuraremos descobrir neste Congresso qual o tipo de desenvolvimento que se teve acerca do carisma de Dom Bosco; desta feita, o nosso Congresso abre-se para o futuro” – disse o P. Cereda, sublinhando igualmente como todo o Congresso foi organizado em plena comunhão entre SDB e FMA. Sucessivamente, o P. Fábio Attard, Conselheiro Geral para a PJ salesiana, e a Ir. Anna Rita Cristaino FMA, mostraram os dados atuais da presença dos Salesianos e das FMA no mundo; o P. José Pastor Ramírez, Delegado Mundial para os Ex-Alunos, apresentou, em pré-estréia, um vídeo sobre a realidade da Família Salesiana. A seguir foi lançado o livro “Fonti Salesiane” pelos coautores, membros do Instituto Histórico Salesiano: P. Francesco Motto, P. José Manuel Prellezo e P. Aldo Giraudo, responsáveis respectivamente por uma das três

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partes do livro, isto é, história, pedagogia, espiritualidade. O P. Motto lançou também “A edição crítica do Epistolário de Dom Bosco”, trabalho que já leva avante por 25 anos, e que está agora na iminência de se concluir. Contará perto de 4600 cartas de Dom Bosco, das quais 1800 praticamente inéditas. Recitadas as Vésperas do dia, o Reitor-Mor, P. Ángel Fernández Artime deu a boa-noite: encareceu vivamente que todos uma vez de volta à própria Casa, em suas Inspetorias, utilizem todos os instrumentos possíveis para partilhar quanto cá se vive neste Congresso; e fez também votos por que, neste Ano Bicentenário, também através do Congresso, se “torne mais clara a nossa identidade carismática, eclesial e de discipulado à sequela do Senhor Jesus”, para “tornar mais forte e segura uma nova fase da vida salesiana”. Antes de terminar o dia, a todos se deu a oportunidade de visitar o Arquivo Salesiano Central. No dia 20 de novembro, pela manhã, o P. Fernández Artime presidiu a Eucaristia para os participantes no Congresso unidos à Comunidade da Casa Geral. Partindo das leituras da Liturgia do dia, convidou historiadores e cultores da historiografia a abrir “os sigilos do mistério humano, do tecido entre céu e terra que se realiza no cotidiano de cada um” para poderem assim ler os livrosem-rolo da história salesiana. Os trabalhos prosseguiram com

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Desenvolvimento do carisma de Dom Bosco até à metade do Século XX três relações, relativas ao aspecto histórico do desenvolvimento do carisma nos anos analisados: “A extensão das presenças e das obras salesianas SDB e FMA”; “As mudanças políticas, sociais, culturais, econômicas, religiosas que incidiram na situação dos jovens”; e “A resposta salesiana aos processos mundiais sociais, culturais, econômicos e religiosos desde o fim do Oitocentos à metade do Século XX”. Na segunda parte da manhã, o P. Bruno Bordignon SDB e a Ir. Grazia Loparco FMA concentraram sua atenção em “A resposta salesiana aos processos mundiais sociais, culturais, econômicos e religiosos, a partir do fim do Oitocentos até à metade do século xx”.

paixão do Da mihi animas, cetera tolle. Que coisa nos move, o que nos impele a procurar respostas certas no momento certo, para ir ao encontro das necessidades dos jovens, senão esta paixão do ‘Da mihi animas, cetera tolle’ (Dai-me almas e ficai com o mais) que nos é comum? E vejamos os desenvolvimentos que podemos contemplar, descrever, comunicar; e também contagiar”. Assinale-se que, antes da boa-noite, foi mostrado aos congressistas a videomensagem do Reitor-Mor “Queridos Irmãos”, lançada oficialmente ontem para todo o mundo salesiano, legendada em 17 línguas na sua primeira edição, e disponível em

YouTube de ‘ANSChannel’. No dia 23 de novembro terminou o Congresso com o discurso de encerramento da parte do ReitorMor: “A nossa fidelidade a Don Bosco como Família Salesiana neste século XXI pede-nos um serviço à Igreja, ao povo de Deus, aos jovens, especialmente os mais pobres, e às famílias, que se distinga e se caracterize pelo serviço na simplicidade, na familiaridade, na humildade, de ser e de viver pelos outros, dar e dar-se aos jovens, porque temos aceite que este é o nosso modo de viver”. Gian F. Romano - Andrés Felipe

Por último, o P. Giorgio Rossi explicou as modalidades de trabalho para os grupos de tarde. “Retomar a história, reler a história como fazia o Povo de Deus, reencontrar os vestígios de Deus presentes em nossa história e relê-la juntos: faz-nos ver como o carisma – iniciado em Dom Bosco e os primeiros salesianos, em Madre Mazzarello e nas primeiras Filhas de Maria Auxiliadora, dos Salesianos Cooperadores – continue. É um carisma que possui a sua encarnação, e que penetra e trasforma a história” – disse a Madre Reungoat aos congressistas durante as BoasNoites. A Madre sublinhou também a importância de conhecer a história e de amá-la como FS. (....) “A história da nossa Família, a história do carisma que se encarna em todo o mundo, é o fruto, o motor, a

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Bicentenário de D. Bosco Santa Fé, Argentina – 18 de outubro de 2014 – A data de fundação foi celebrada no dia 18 de outubro, em Santa Fe, junto com a Abertura do Bicentenário de Nascimento de Dom Bosco. O evento culminou na Concelebração Eucarística, presidida pelo P. Manuel Cayo, Inspetor da Argentina Norte (ARN), com os Salesianos da Obra e a participação de muitos Fiéis e Simpatizantes de Dom Bosco.

Mogofores, Portugal – 26 de outubro de 2014 – No dia 26 de outubro decorreu em Mogofores a Abertura solene das celebrações pelo Bicentenário de Nascimento de Dom Bosco, com uma peregrinação ao Santuário Nacional de Nossa Sra. Auxiliadora, animada pela Banda Juvenil, de Poiares. A Concelebração Eucarística foi presidida pelo Provincial salesiano de Portugal, P. Artur Pereira.

Santa Clara, Cuba – 3 de novembro de 2014 – Por ocasião das celebrações pelo Bicentenário de nascimento de Dom Bosco, o coro “Ad Cor” foi ‘inaugurado’ na igreja do Carmo, numa das etapas da sua turnê nacional. “Ad Cor” é formato por 14 jovens da comunidade salesiana de Camagüey, que apresentaram uma noite inesquecível a todos os presentes, sábado, 1° de novembro, Solenidade de Todos os Santos. No repertório muitíssimos temas conhecidos entre os quais “Don Bosco ritorna” (Dom Bosco retorna), “Salve, Dom Bosco Santo”. A apresentação se concluiu com a boanoite do P. Eduardo Marroquín.

Ashaiman, Gana – Outubro de 2014 – No âmbito das celebrações para o Bicentenário de Nascimento de Dom Bosco foi recentemente inaugurada em Ashaiman, Gana, uma nova obra salesiana dirigida especialmente aos menores mais necessitados: trata-se do ‘Don Bosco Child Protection Centre”. A obra, pertencente à Inspetoria da África Ocidental Anglófona (AFW), é um centro de reabilitação para crianças vítimas de tráfico e de abusos sexuais, e para meninos de rua e órfãos.

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Testemunhos O Oratório São Luis S e g u nd o Orató r i o de D o m Bosco

Uma casa para os jovens Em 8 de Dezembro de 1847, Dom Bosco inicia a sua actividade no bairro chamado Porta Nuova (atualmente San Salvario), abrindo o segundo oratório para os jovens imigrantes, provenientes das zonas rurais do Piemonte, desejosos de encontrar um futuro em Turim, em franco crescimento. É o único oratório na história de Dom Bosco que não nasce de um convite específico de uma autoridade -religiosa ou civil- mas diretamente dos meninos. São os meninos que vão de Porta Nova a Valdocco e, de lá, levam Dom Bosco para conhecer a sua realidade. Realidade de miséria, precariedade, solidão. (Na fotografia a Igreja de São João ( O Giovannino!), mandada construir por Dom Bosco e que é o centro da casa do Oratório).

Desde então o Oratório de São Luis manteve a sua identidade: uma casa para jovens, sobretudo imigrantes, à procura de acolhida, formação e futuro. No decorrer de mais de século e meio, foram numerosos os santos que sucederam a Dom Bosco: seu 1º Sucessor, Beato P. Miguel Rua, São Leonardo Murialdo, São Luis Guanela, o Beato Faà de Bruno, o venerável P. Cimatti, o mártir São Calisto Caravário, o Beato Filipe Rinaldi, o beato Pedro Jorge Frassati. É interessante como a passagem pelo São Luis lhes tenha marcado a própria vida vocacional no seguimento do Senhor e a uma dedicação mais aprofundada num aspecto da condição juvenil. Atualmente, o oratório se desenvolve em três frentes principais: 1) Primeiro, a actividade educativo-social para meninos de 6 a 20 anos. Provém de 40 nacionalidades diversas, de religiões diferentes. Muitos já nascidos na Itália, com frequência filhos de famílias separadas ou estendidas ou de mães solteiras, necessitados de um acompanhamento educativo, social e formativo personalizado. Em seu favor se elaboram projetos de intervenção, em rede com serviços sociais, escolas e outras agências educativas. As principais iniciativas se referem ao apoio escolar, à proposta desportiva, à formação para a vida cristã, a serviços de apoio da ‘paternidade’. 2) Outro âmbito é o centro de acolhida de menores estrangeiros não acompanhados. É um serviço educativo e social implementado em 2005, em convênio com o Município de Turim, mediante o qual, o oratório acolhe doze menores, provenientes de várias nacionalidades, sem pessoas adultas de referência. São confiados ao Director do Oratório e, para eles, o oratório é a sua casa até completarem 18 anos. 3) O terceiro âmbito é o serviço de educação de rua. Existe desde 2007. Surgiu no momento em que Salesianos e educadores se depararam com numerosos menores estrangeiros entre as arcadas que costeiam o rio Pò dentro de Turim e o Parque Valentino, presa fácil de grupos criminosos entregues ao tráfico ou ao assalto. À noite, com a ajuda de um trailer ou motocasa, os educadores procuram encontrar esses meninos, cultivandolhes a confiança e a estima, para depois eventualmente propor itinerários alternativos de inserção social. Mauro Mergola

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Vida da Igreja A N O D A VID A CON S AG R A D A

30 novembro 2014 a 2 fevereiro 2’016

O Papa Francisco, dentro do seu programa de re-vitalizar todas as pessoas e estruturas da Igreja, para estarmos em ‘saída’ como atitude e método da nova evangelização, proclamou um Ano da Vida Consagrada, consciente de que é um sector carismático e vital na vida da Igreja e da Sociedade. Ele mesmo, como jesuita, sabe o que é a vida consagrada, seus desafios e suas infidelidades, suas grandezas e seus pecados. Por isso, este Ano especial quer ser um tempo de recuperar o frescor carismático de todos os grupos religiosos. Na nossa Família Salesiana, muitos dos grupos, começando pelos SDB e FMA, são consagrados. A maior parte são religiosos e religiosas, mas temos vários grupos de Leigos e Leigas Consagradas. Somos convidados como Família a rezar para que todos nós sejamos fiéis ao que o Espírito Santo nos diga este Ano. A continuação apresentamos alguns textos da Carta do Papa Francisco que enviou aos Consagrados por esta ocasião. «Consagradas e Consagrados caríssimos! Escrevo-vos como Sucessor de Pedro, a quem o Senhor Jesus confiou a tarefa de confirmar na fé os seus irmãos, e escrevo-vos como vosso irmão, consagrado a Deus como vós. Os objetivos do Ano da Vida Consagrada: + O primeio objetivo é olhar com gratidão o passado... Neste Ano, será oportuno que cada família carismática recorde os seus inícios e o seu desenvolvimento histórico, para agradecer a Deus que deste modo ofereceu à Igreja tantos dons que a tornam bela e habilitada para toda a boa obra. + Além disso, este Ano chama-nos a viver com paixão o presente... A pergunta que somos chamados a pôr neste Ano é se e como nos deixamos, também nós (como o foi para os Fundadores e Fundadoras), interpelar pelo Evangelho; e este é verdadeiramente o ‘vademecum’ para a vida de cada dia e para as opções que somos chamados a fazer. Isto é exigente e pede para ser vivido com radicalismo e sinceridade. + Abraçar com esperança o futuro é o terceiro objetivo que se pretende neste Ano... Com atenta vigilância, perscrutai os horizontes da vossa vida e do momento actual... Prossigamos, retomando sempre o nosso caminho com confiança no Senhor».

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Cristãos em formação O meu filho, batizado e crismado na Igreja, cresceu na nossa família católica, onde procuramos viver a nossa fé com fidelidade, integrados na comunidade paroquial. Agora, ele decidiu passar para uma igreja evangélica e até vai estudar para ser pastor da mesma. Quando lhe perguntamos porque faz isso, diz-nos que lá se sente bem. Para mim, como mãe católica, é um grande sofrimento. O que devemos fazer?

Jesus e pelas orientações da Igreja; uma fé que se encontra e alimenta com a Eucaristia; uma fé que vive a experiência da misericórdia de Deus através do sacramento da Reconciliação; uma fé comprometida na vida da comunidade e na caridade. O perigo real é viver uma fé desde o sentimentalismo, algo muito promovido por certas igrejas evangélicas no nosso ambiente. A resposta do jovem à mãe que apresenta o problema é clara: ‘lá se sente bem’. A fé é vivida como um sentimento de ‘estar bem’, mas não como um encontro vital com Jesus, encontro que implica Cruz e Ressurreição; encontro que implica viver à vida cristã estando à escuta da Vontade de Deus sobre a nossa vida; fé que implica fidelidade aos compromissos que assumimos livremente no Batismo e que renovamos no Crisma e quando iamos recebendo os sacramentos. A fé vivida dentro da comunidade católica, onde entramos como ‘pedras vivas’ no dia do nosso batismo, é algo sério. Sou parte viva desta comunidade, e mudar para outra qualquer, implica abandonar a minha ‘casa’, a minha ‘família’ de fé, atraiçoar a Jesus e a minha comunidade. E, o que é pior, muitas vezes, mudar para outras ‘igrejas’ que, mesmo que falem de Jesus e utilizem a Palavra de Deus, são comunidades que não vivem em plenitude a Igreja fundada por Jesus e apoiada nos apóstolos. É ir de mais para menos.

Em primeiro lugar, deveis continuar a amar muito o vosso filho. Esta mudança que ele realizou agora, mesmo que dolorosa para vocês, deve ser vivida desde o amor, a paciência, a compreensão, e a vossa fé unida a uma forte oração pelo vosso filho.

Também, um dos problemas importantes é a pouca formação cristã dos batizados. É verdade que foram ao catecumenado muitos anos, mas, por várias causas, a transmissão da fé e da doutrina que se realiza nas catequeses, muitas vezes não é mais do que uma camada de pintura muito fraca, que depois não é capaz de enfrentar as dificuldades (cruz) da vida de cada dia.Cada cristão tem de estar interessado em ‘conhecer’ a sua fé cristã, a sua doutrina, o que diz a Igreja nossa Mãe e os Bispos sobre os diferentes temas actuais da sociedade.

Em segundo lugar, esta situação, muito frequente nos nossos dias e nas nossas comunidades cristãs, em que um batizado muda de igreja como muda de roupa, deve-nos fazer reflectir: porque sucede isto? Quais são as causas? Vamos procurar algumas respostas.

A fé não pode ficar reducida a um conjunto de sacramentos e actos de piedade. Estes são muito importantes, mas deve-se alimentar a fé, deve-se procurar conhecer mais, porque conhecendo mais a Jesus e à sua Igreja, amaremos mais a Cristo e à sua Comunidade que é a testemunha do Reino de Deus.

Uma possível resposta é que a fé é vivida como algo superficial, não é uma fé fruto do encontro experiencial com Jesus, um encontro de amizade e de amor. Não é uma fé alimentada pela Palavra de

Então, eis o convite: passar duma fé ‘sentimental’ a uma fé que vive o encontro com Jesus na sua Igreja; passar duma fé analfabeta a saber dar ‘razão da nossa fé’, como diz o apóstolo.

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Construindo Famílias O p apel do cas al n a educ a ç ão dos filh os (e 6ª p ar te )

Aspectos psicologicos na construção da família 1. De acordo com Tolstoi, “A verdadeira felicidade está na própria casa, entre as alegrias da família.” É fundamental o resgate do respeito, do afeto, do carinho, sobretudo do amor verdadeiro nas famílias. Uma sociedade melhor começa em casa. Cabe aos líderes da família, no caso o pai e a mãe, a responsabilidade de administrar essa instituição. O que nem sempre é muito fácil. Há pessoas que são exímios gerentes, gestores de empresas e tem muitas dificuldades para dirigir a sua própria casa, a sua família, o que muitas vezes acaba falindo. Percebe-se que cada vez mais o ser humano se distancia do afeto, não sabendo como lidar com esse sentimento. E o afeto é a principal

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metodologia de administração da principal instituição da vida humana. Gestir uma FAMÍLIA não é como administrar um negócio, necessita de um profundo equilíbrio entre o coração e a razão. Mesmo sendo parte uns dos outros, são seres muito diferentes convivendo intimamente, assim, por vezes não se compreendem, não se conhecem e não conseguem lidar com os conflitos. Mesmo sendo famílias bem pequenas, composta por três pessoas em alguns casos, pai, mãe e um filho, não conseguem viver em harmonia e a turbulência toma conta das relações. A sociedade actual está em crise de paciência – ciência da paz – sentimento esse que é a base da compreensão entre sujeitos humanos, deixa-se manipular

pela pressa, mergulhando nas frustrações da velocidade no mundo pós-moderno e escutando cada vez menos uns aos outros. O sentimento do egoísmo está em alta, “as minhas coisas..., o que eu tenho... os meus problemas..., o que eu faço...; o “eu em primeiro lugar” impede de compartilhar e permitir que o outro compartilhe as suas vivências, suas histórias e os seus saberes. Impede o olhar para o outro exercitando com sensibilidade a compreensão do seu momento e de suas necessidades. 2. Muitos pais não têm tempo nem para si, que dizer para os filhos. Assim, torna-se mais fácil fazer todas as vontades do que educar, pois educar demanda dedicação, tempo e vínculo. Produzindo com essa postura, um sujeito que não consegue viver num mundo real, com sérios problemas de comportamento e muitos conflitos nas relações humanas, pois o mundo de quem desenvolveu a cultura do ter tudo na hora que

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quer, sem regras, sem disciplina e tendo de uma forma ou de outras vontades atendidas, não está de acordo com a realidade. Aquilo que num primeiro momento, para os pais, poderia ser algo bom para os filhos, mais tarde acaba convertendo-se em dificuldades, sofrimentos e decepções. O Art. 22 do Estatuto da Criança e do Adolescente, lei 8069 de 1990, cita o seguinte: ‘Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educação dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, no interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir as determinações judiciais’. Cumprir com eficácia o papel de pai e mãe é lei, porém, o que deveria ser algo natural, com amorosidade, boa vontade e consciência, ainda precisa estar presente num artigo na legislação para que seja cumprido, evitando muitas vezes o abandono e o desleixo daqueles que deveriam proteger, cuidar e educar.

Portando, ensinar os limites para as crianças também é um gesto de amor, dar carinho e afecto é obrigação, é o papel dos pais. Ensinar os filhos para serem vencedores, superar desafios com coragem e garra, não para serem melhores do que os outros, mas para que saibam usar da melhor maneira possível os seus próprios potenciais e habilidades, mesmo com todos os desafios que o dia a dia reserva. Também fazem parte das tarefas dos progenitores, prepará-los para que tenham consciência critica, saibam dizer não quando é necessário e orientá-los sempre no melhor caminho. A insegurança está em todos os lugares, os jovens naturalmente são ousados e muitas vezes o desafio de transgredir as regras passa a ser fonte de superação e prazer. A competitividade egoísta é o comportamento que impera e passa a ser estimulado na sociedade, as mídia que entram diariamente nos lares, muda a cultura e os valores das

pessoas, cria novas necessidades e convence os que não têm maturidade critica dos modismos que invadem as vidas, com um grande apelo visual, de forma sedutora e criando vícios e dependências precoces. Quando as crianças dessas realidades não têm os seus desejos atendidos, sentem a frustração. 3- Por não ter soluções fáceis para suas “necessidades”, buscam o refúgio nas drogas, nos furtos ou no crime. Portanto, é muito importante dialogar e compartilhar os desejos, sonhos, medos, conquistas, desafios, compromissos e responsabilidades. Queremos uma sociedade melhor, pois é preciso começar em nossos corações e em seguida dentro de nossas casas. Ir. Silvana Monachello, Fma

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Olhando à vida

QUADRO DE REFERÊNCIA A PASTORAL JUVENIL SALESIANA P. Fabio Atard é o Conselheiro Geral para a Pastoral Juvenil, na Congregação Salesiana. A ele, como responsável principal do novo trabalho do ‘Quadro de Referência’, perguntamos para que nos ajude a compreender melhor este documento. P. Fabio: Quais são os quadros gerais de referência eclesial onde nós devemos integrar este novo trabalho da Pastoral Juvenil? O Concílio Vaticano II foi um evento de grande importância na vida da Igreja. Ele deu início, no Interior da Igreja, a um longo processo de reflexão que se reavivou nas fontes das grandes Constituições Conciliares: a Igreja, como comunidade de crentes, encontra na Palavra e na vida sacramental e litúrgica, especialmente na Eucaristia, a força para ser sinal de esperança e alegria para o mundo. O processo foi nutrido e sustentado pelo caminho sinodal, com suas Exortações Apostólicas. As Exortações Apostólicas Evangelii Nuntiandi e Catechesi Tradendae, com a Encíclica Redemptoris Missio e o Diretório Geral para a Catequese, deram novo vigor à missão evangelizadora da Igreja. E, dentro da Congregação? Desde o imediato pós-Concílio, a Congregação empenhou-se profundamente em ler os sinais dos tempos e responder com

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generosidade e criatividade pastoral às novas urgências. Repensando a própria missão, a Congregação ofereceu nestas décadas uma reflexão atualizada sobre o Sistema Preventivo de Dom Bosco.

as Províncias com animação sistemática e contínua. Ação que tinha por objetivo reforçar o conhecimento e a aplicação do modelo pastoral da Congregação que tem as suas raízes nas nossas Constituições (31-39).

Desenvolveu também uma reflexão sobre a Comunidade salesiana, objeto e sujeito da evangelização.

Neste itinerário de animação, o Dicastério encontrou um apoio sólido e claro no Magistério dos Reitores-Mores que ofereceram a própria reflexão de modo contínuo e sistemático e orientaram com sabedoria o processo de evangelização e educação.

Atenção especial foi dada à Comunidade Educativo-Pastoral, com clara visão do seu Projeto Educativo-Pastoral Salesiano, que define a identidade evangelizadora e educativa de todo o tipo de presença salesiana. A Congregação também se empenhou em dar respostas à questão de sentido e à busca espiritual através da proposta da Espiritualidade Juvenil Salesiana, vivida por um vasto movimento de pessoas. Neste sentido, qual foi o trabalho realizado pelo Dicastério da PJ? Nestas décadas, o Dicastério da Pastoral Juvenil acompanhou

Quais os desafios? Na fronteira pastoral, é preciso reforçar este esforço de assimilação, esclarecimento e realização, para que cresça ainda mais. Nota-se um profundo desejo em todos os sujeitos pastorais de responder com as suas melhores forças aos questionamentos da juventude. Deve-se reconhecer que esta edição do «Quadro de Referência» está em continuidade com as

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edições anteriores. Procurouse enriquecê-lo com a reflexão amadurecida pela Igreja nos últimos anos. Esta edição é fruto de um caminho iniciado pelas comunidades e amadurecido no interior de cada Província. Temos aqui uma rica visão de conjunto do património pastoral salesiano, iluminado pelo magistério da Igreja em resposta aos desafios atuais. É uma síntese orgânica que tem sempre presente a leitura empática da história dos jovens, que encontra em Cristo a sua fonte, síntese que se torna

cada vez mais ciente do seu património carismático e da sua identidade pastoral. Um manual que a CEP assume como dom e responsabilidade. Como tornar vida este Quadro de Referência? Por isso, é necessário tradu-lo no PEPS, que oferece a todos os ambientes e a todas as obras uma proposta clara de evangelização e educação seguindo linhas de projetos comuns para a proposta salesiana hoje.

O «Quadro de Referência» é um instrumento oferecido pelo Dicastério da Pastoral Juvenil para iluminar e orientar o itinerário pastoral da CEP provincial e local; para orientar a ação pastoral do delegado provincial e local de Pastoral Juvenil e das suas equipas; para contribuir para a formação de todos os que – salesianos, educadores e educadoras – são corresponsáveis da missão salesiana.

“Queremos f o r m a r, em cada uma de nossas presenças, uma comunidade de pessoas, orientada para a educação dos jovens” (Q dR 10 9 )

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Região África-Madagascar No desejo de conhecer a realidade salesiana da nossa Região África-Madagascar, neste número do BS apresentamos a Visitadoria ‘Nossa Senhora de África’ (ATE: África Tropical Equatorial). Foi criada no ano de 1998 e compreende os seguintes paises: Chad, República Centro-Africana; Congo, Gabão, Guiné Equatorial e Camarões, onde se encontra a sede da Visitadoria. O Superior da Visitadoria é o Padre Manuel Jiménez. Aproveitando a presença do ecónomo provincial da Visitadoria em Maputo, o BS fez-lhe uma entrevista para nos falar desta realidade salesiana de África. Padre Jose Maria Sabe, fala-nos sobre a tua pessoa: - Sou um salesiano, faz agora 32 anos. Trabalhei em Girona (Espanha) num projecto de rapazes emigrantes e os ajudavamos a se integrarem na sociedade espanhola. Logo fui enviado para a África e comecei a trabalhar também num projecto de rapazes da rua, em Libreville (Gabão), para os ajudar a integrar-se nas famílias, nas escolas ou procurando famílias ou internatos que os acolhessem. Desde faz 11 anos sou o ecónomo provincial e coordeno o Escritório de Desenvolvimento. O meu trabalho é ajudar os salesianos que estão sobre o terreno, fazendo obras sociais e de evangelização e que tem problemas para levar adiante a missão. Então, juntos, levamos à cabo a missão: eles estando directamente com os rapazes e eu procurando darlhes apoio desde o exterior. Como é a vossa Visitadoria? - A nossa Província é muito complicada. Está formada por 6 países: o Chad, onde existe o deserto, com um clima muito caluroso, com temperaturas muito elevadas, com uma pobreza muito grande; outros países onde o nível de vida é mais elevado, como a Guiné Equatorial; países como Centro-África que agora estão em guerra; países, como o Congo, que já acabou a guerra. Somos 6 países com culturas e línguas muito diferentes. O deserto sahariano não têm nada a ver com a cultura equatorial. então procuramos estar ao lado dos jovens, vendo quais são as suas necessidades, e respondendo a situações muito diferentes: os que estão em zonas rurais, outros em zonas urbanas ou industrializadas. Ainda há tradição agrícola Quantos salesianos formam a Visitadoria? - Somos 125 sdb, sendo a maioria deles africanos, muitos deles sendo já os directores e ecónomos das comunidades. Os missionários vão fazendo-se maiores e não há missionários para vir. Mas, também ao contrário, agora nós enviamos missionários a Europa e a outros países, porque graças a Deus temos sdb e vocações que podem levar a responsabilidade das comunidades locais, mas também podem pensar em como ajudar os países de longe onde pode fazer falta salesianos para atender aos jovens.

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A nossa Visitadoria é rica vocacionalmente, assumindo responsabilides, com muita juventude que quer unirse às forças salesianas para trabalhar pelos jovens e consagrar a sua vida. Também é verdade que há muitos jovens que se comprometem a trabalhar com os salesianos sem serem salesianos religiosos. Através do voluntariado, do tempo livre, das suas competências profissionáis oferecem uma ajuda às obras salesianas da nossa Província. Também tentamos potenciar agora o voluntariado internacional nos nossos países da Província. Há países que têm mais recursos humanos e materiais e com mais competências. Entaõ, tentamos ajudar uns paises aos outros. Em geral, nos pode dizer 2 ou 3 características gerais dos jovens dessa região africana? - Eu creio que há caraterísticas que se repetem nos jovens em todas as partes do mundo. O jovem tem vontade de fazer coisas, tem ilusão, quer um mundo melhor, mais justiça, quer compromissos: o voluntariado, animadores, alguns que se oferecem para dar aulas gratuitas. Uma grande qualidade da juventude é a vontade de fazer um mundo novo comprometendo-se a fazer este mundo. Outra coisa que eu gosto dos jovens, é a instatisfação com as incoerências. Se, às vezes, os sdb não respondemos aos seus problemas ou nos encerramos a viver em nós mesmos, então os jovens da nossa

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zona falam, criticam e dizem o que pensam. Isto faz-nos bem, porque nos ajudam a descobrir quais são as nossas limitações. Há que escutar aos jovens quando nos criticam e quando nos sugerem o que deveriamos fazer. Quais são os desafios mais importantes que os salesianos procuram responder desde as suas comunidades e as suas obras? - Um grande desafio é dar à juventude uma educação de qualidade para que tenham possibilidades no dia do amanhã e para dar aos seus países gente competente nos diversos serviços. Os nossos projectos educativos tem de ser de qualidade. As escolas profissionáis tem de ser de qualidade para formar técnicos competentes. Um pais não pode desenvolver-se com técnicos mediocres. Fazem falta bons mecânicos, bons electricistas, bons professores, bons médicos. Outro desafio importante é o de transmitir Jesus com profundidade. Jesus e o Evangelho é uma fonte enorme de valores e de possibilidades para um mundo melhor. Se conseguimos transmitir o Evangelho estamos transmitindo os valores que este mundo necessita. Um mundo que queira viver como irmãos, como uma fraternidade universal, com uma solidariedade universal. Se vamos presentando Jesus estamos semando estos valores no coração dos jovens e Jesus pode fazer de cada jovem um actor para criar um mundo novo, com alegria, com vontade de trabalhar, suportando as dificuldades, assumindo os desafios. Eu creio que temos que levar a Jesus com profundidade para que as pessoas se transformem e depois transformem a realidade na qual vivem.

O P. Jose Maria, à esquerda, com os seus colaboradores

Foto superior: o Provincal P. Manolo com crianças do Chade Foto inferior: um salesiano com crianças dos Camarões

Uma mensagem para a Família Salesiana por ocasião do Bicentenário: - Temos de trabalhar juntos ao serviço da juventude. Temos de unir forças. Criar projectos em sinergia. Temos de nos ajudar. Juntos dar-mo-nos as mãos e irmos para o grande desafio que é a juventude e os desafios sociais que estão na nossa sociedade. Não podemos fazer tudo cada um de nós. Juntos podemos fazer muito mais!

«Recordai-vos, ó jovens, que vós sois o encanto do Senhor» (db)

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Páginas missionárias

PROJECTO MISSIONÁRIO SALESIANO ‘EUROPA’ DESDE A INDONÉSIA MISSIONÁRIO A BÉLGICA Durante o meu pré-noviciado li um trecho de Isaías 6,8: “Ouvi a voz do Senhor que dizia: ‘A quem mandarei e quem irá por nós?’. E eu respondi: -Eis-me aqui! Mandeme!-”. Mais tarde, na oração, fiz minha a resposta de Isaías. Por bem três vezes confiei ao meu Mestre de Noviços o desejo missionário de “partilhar o amor de Deus com outras pessoas, como missionário salesiano, tanto no meu país quanto fora dele! A resposta, entretanto, era sempre a mesma: “Por que deseja tornar-se missionário no exterior? Também a Indonésia precisa de missionários”! Com o passar do tempo, não conseguia mais calar a voz de Deus que me chamava a tornarme missionário “ad extra”. Por isso, expressei mais uma vez esse desejo ao meu diretor no pós-noviciado. Mas a resposta foi a mesma: “A Indonésia precisa ainda de muitos missionários”. Mas isso não apagou o meu desejo missionário. Pensava que, embora a Indonésia precisasse de missionários, já havia ali vocações, enquanto em outras Inspetorias Salesianas assim como em outras regiões da Igreja precisavam de operários para a vinha do Senhor. Assim, durante o meu segundo ano de pós-noviciado (sem a

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Antonius Berek licença do meu diretor) decidi escrever diretamente ao P. Francis Alencherry, então Conselheiro para as Missões. Dois meses mais tarde respondeu-me dizendo que me preparasse para ser missionário. Em 2010, durante a sua visita à Indonésia falei do meu desejo missionário ao P. Václav Klement, então novo Conselheiro para as Missões. Um mês depois escreveu-me dizendo que seria enviado à Bélgica. Exultei de alegria: podia finalmente realizar minha vocação missionária. Já se passaram quatro anos desde que aqui cheguei. Durante este tempo, como todos os missionários, em todo o mundo, esforcei-me por aprender a língua, aqui o flamengo, a fim de poderme comunicar com a população local. Tive de adaptar-me à comida, ao clima, à mentalidade e ao seu modo de viver. Fiz aqui o

tirocínio. E agora estudo Teologia em Lovaina. Viver na Bélgica não é assim tão simples: cada momento é um desafio que procuro enfrentar com Fé e alegria. O secularismo, o materialismo e o racionalismo lançam-nos enormes desafios. Seu impacto na sociedade atual limita com frequência as possibilidades de se falar de religião, de Deus, da Fé, sobretudo entre os jovens. Na verdade, dei-me conta de que para a maioria dos jovens, na Bélgica, estes assuntos são considerados temas mui irrelevantes para deles se tratar. Este ambiente secularizado choca-nos também a nós, missionários salesianos: se não se tiver uma profunda espiritualidade,acabar-se-á por ser simplesmente agentes sociais. Ou, pior, nós mesmos poderíamos passar a viver um estilo de vida secularizado. E então?... Como se pode anunciar o Evangelho na Bélgica?

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Gostaria de partilhar uma experiência. Um dia, alguns jovens me viram jogando futebol e me perguntaram se eu era um jogador de futebol. “Não”, respondi. “Eu sou um salesiano”. “E que é um salesiano?”, perguntou-me um deles. “Um salesiano é um religioso, sacerdote ou irmão”. “E o que V. faz aqui?”, perguntou mais outro. Disse-lhe: “Eu sou um missionário”. “O quê?!... Um missionário, na Bélgica?! Não lhe parece estranho isto!?”, responderam com surpresa. Mas

eu insisti: “Eu sou um verdadeiro missionário! Moderno!”. Foi depois desse encontro que ficamos amigos. E agora estamos começando a falar de religião, de Fé, de Deus. Aceitaram-me também como missionário. Antes, descobri que nesta sociedade secularizada, materialista, racionalista, é a amizade que abre o caminho ao... primeiro Anúncio de Cristo.

Sou muito feliz de ser um missionário, aqui, na Bélgica. Com o auxílio de suas orações, um dia o nosso testemunho missionário e o esforço para favorecer o ‘primeiro’ anúncio produzirão muitos frutos.

As Memórias Biográficas de Dom Bosco assim nos relembram o primeiro envio missionário, feito há 139 anos, em 1875, e que a fotografia recolhe muito bem, nos dias anteriores a embarcar rumo à Argentina :

“Raiou finalmente o dia 11 de novembro .... Uma expedição missionária à América do Sul.... tinha qualquer coisa de épico aos olhos daqueles que viviam num cantinho remoto de Turim chamado Valdocco... Apenas o canto das Vésperas chegara ao Magnificat, os missionários ingressaram, dois a dois, no presbitério, trajando os Sacerdotes à espanhola, com chapéu galero na mão; e os Irmãos, em traje preto, também segurando uma cartola na mão. Terminadas as Vésperas, subiu ao pulpito o bem-aventurado

nosso Pai. Quando apareceu no alto, naquele mar de gente se fez um profundo silêncio: um frêmito de comoção perpassou toda a audiência, que lhe foi bebendo avidamente as palavras. Todas as vezes que se referia diretamente aos Missionários, a voz se lhe velava, quase quase a morrer-lhe nos lábios. Ele com esforço... reprimia as lágrimas, mas o auditorio soluçava... “Com isto – disse Dom Bosco – nós damos início a uma grande empresa, não porque se alimentem pretensões ou se creia de converter o mundo inteiro em

poucos dias. Não! Mas quem sabe não seja esta partida e este pouco, uma como semente de que surja uma grande árvore?…” (MB XI,381ss).

Graças a esse espírito missionário, qual elemento essencial do espírito salesiano, hoje o carisma de Dom Bosco está presente em 132 países! A semente plantada em 11 de novembro de 1875 tornou-se uma árvore frondosa! Cagliero11, Novembro 2014

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Mundo salesiano

(ANS – Cidade da Guatemala) – O segundo dia de visita do P. Ángel Fernández Artime, Reitor-Mor dos Salesianos, à Guatemala foi dedicado aos Salesianos em formação inicial. Pelo meio dia, o Reitor-Mor se reuniu com os salesianos irmãos empenhados no curso de formação bisanual, no Centro Regional de Formação do Salesiano Coadjutor (CRESCO). Este Centro regional – definido pelo Reitor-Mor “uma das joias da Congregação” – acompanha atualmente sete Salesianos Coadjutores procedentes do El Salvador, Brasil, Argentina, Peru, México.

Chennai, Índia - De 9 a 11 de novembro fez-se o Seminário anual dos Delegados Inspetoriais para a Animação Missionária da Ásia Sul, com a participação dos representantes da maior parte dos Grupos da FS, sobre o tema: “Família como núcleo de evangelização”.

Madri, Espanha – No dia 7 de novembro, na sede da Procuradoria Missionária de Madri, o P. Jorge Mario Crisafulli, Superior salesiano da Inspetoria da África Ocidental Anglófona (AFW), presidiu a Conferência de Imprensa de lançamento da Campanha “SOS Filhos do ebola”, para a luta contra a epidemia nos países da África Ocidental.

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RMG - Dom Bosco na ‘Expo Milão 2015’ (ANS – Roma)– Dom Bosco participou na Exposição Geral de Turim em 1884, durante a qual montou um processo produtivo composto de variado maquinária: mostrou com tal montagem “a engenhosa obra pela qual a partir do papel, do tipo, da impressão e da costura se chega ao livro”, como testemunha ele mesmo numa sua carta. A história da presença dos Salesianos na Expo de Milão começa, ao invés, em 2012. Os primeiros contatos se dão na primavera (abril-junho); mas o acordo oficial se assina – por indicação do Conselho Geral da Congregação Salesiana – pela ‘Don Bosco Network’ (DBN) e o Voluntariado Internacional para o Desenvolvimento (VIS), em 11 de outubro de 2012. Os Salesianos comprometiam-se a participar com, pelo menos, 30 dias de atividades e iniciativas. A novidade sobreveio em julho de 2014, quando foi dada a possibilidade também aos Participantes da Sociedade Civil (isto é, a Entidades ‘No Profit’ diferentes dos Estados, que são os primeiros e principais participantes das Exposições) de requerer gratuitamente um terreno, sobre o qual poder alevantar a sua própria estrutura expositiva. Logo se nos mostrou o notável compromisso que disso derivaria, seja do ponto de vista econômico (a construção e a gestão do pavilhão), seja do ponto de vista dos eventos por realizar, devendo cobrir não mais apenas 30 dias esparsos mas o período continuado de seis meses (180 dias), isto é, tanto quanto iria durar a ‘Expo2015’ (1º de maio-31 de outubro de 2015, coincidente em grande parte com o Ano Bicentenário de Dom Bosco). Entraram assim em jogo novos sujeitos: vários Grupos da FS, que manifestaram o próprio envolvimento e se dispuseram de algum modo a empenhar-se no empreendimento; e um Ex-aluno Salesiano, apaixonado amigo de Dom Bosco e empresário, que se envolveu tanto no ponto de vista econômico quanto pessoal, em dar visibilidade a Dom Bosco e à sua Obra no Mundo. Em síntese a presença salesiana na ‘ExpoMilão2015’ abarcará uma estrutura de perto de 350 m2 cobertos, num terreno de 747m2, durante seis meses. O pavilhão chamar-se-á “CASA DON BOSCO” (Casa Dom Bosco) e desenvolverá o tema “EDUCARE I GIOVANI, ENERGIA PER LA VITA” (Educar os jovens, energia para a vida). Com esta presença a FS dará ressonância ao Bicentenário de Dom Bosco e à Estreia para 2015 e, sobretudo, chamará a atenção de TODO O MUNDO para os Jovens, “a porção mais delicada e mais preciosa da sociedade humana” – como dizia Dom Bosco. É uma ocasião única, providencial, desafiante, para interagir com quase todo o mundo (mais de 140 Países participantes), a fim de oferecer a nossa contribuição cultural e educativa, inspirada em Dom Bosco, para fazer compreender e testemunhar quão importantes sejam os Jovens para a vida de cada Comunidade social e eclesial, e para todo o PLANETA. Pelo P. Claudio Belfiore, Delegado do Reitor-Mor para a ‘Expo2015’

OPapa visitará Dom Bosco no Bicentenário

Cidade do Vaticano – No dia 5 de novembro o Vigário do Reitor-Mor, P. Francesco Cereda, e o Superior da Circunscrição Especial Piemonte-Vale d’AostaLituânia, P. Enrico Stasi, foram à Audiência Geral do Papa Francisco, durante a qual o Santo Padre anunciou a sua visita a Turim, em 21 de junho de 2015. Uma peregrinação – disse o Papa – que tem dois motivos: “Venerar a Síndone e honrar São João Bosco na recorrência bicentenária do seu nascimento”.

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Ni Landzi - Eu fico com Dom Bosco

Filip e Rin a ld i : Fugia

de

Dom Bosco e foi o o seu 3º Sucessor O Beato Filipe Rinaldi, oitavo de nove filhos, nasceu em Lu, bairro de Monferrato, em Piemonte (Itália), aos 28 de maio de 1856. A sua família era uma família de camponeses abastados abituados às lidas do campo. Seus pais, cristãos praticantes, educavam os filhos na fé. Lu, mesmo sendo um pequeno povoado deu à Igreja centenas de vocações à vida consagrada e Dom Rinaldi explicava esta particularidade, atribuindo-a a educação à fé que se recebia nas famílias: “o segredo das vocações está todo no fé e na piedade das nossas mães, Essas mulheres devotas aos ensinamentos da Igreja, faziam os possíveis para educar os filhos no temor de Deus, estimulando as suas almas sentimentos que são a melhor disposição para escutar a chamada Divina”. Na mesma família Rinaldi três tornam-se sacerdotes.

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O primeiro encontro de Filipe com Dom Bosco aconteceu a 15 de outubro de 1561. Dom Bosco tinha ido a Lu para um passeio de Outono que fazia com os seus rapazes. Filipe tinha apenas 5 anos e meio, mas aquele encontro ficou marcado para toda a vida na sua memória. Criou-se uma simpática relação de amizade entre Dom Boco e a família Rinaldi, e Filipe aos dez anos entrou para o colégio de Mirabello para continuar com os estudos secundários. Aí encontrou-se com Dom Bosco por duas outras vezes e foi-se confessar com Ele. No verão de 1867, por causas de um mau trato que recebeu de um assistente não salesiano, Filipe quis voltar para casa. Se dizia que não era dotado para o estudo e que tinha dificuldade na vista. Posto em Lu voltou a vida dos campos até aos vinte anos. Recordava

com nostalgia os encontros com Dom Bosco, mas dizia também que a vida sacerdotal não o atraia. Porém, Dom Bosco, com muita tenácia, insistia para que Filipe voltasse a casa salesiana. Com nenhum outro jovem vez o mesmo. Naqueles dez anos, viveu como um bom cristão, não pensava em se casar, mas ao mesmo tempo não acreditava ter dom para empreender o caminho sacerdotal. Tinha também pensado em entrar numa ordem religiosa qualquer como leigo, mas Dom Bosco voltou à carga: no Outono de 1876, voltou a Lu e enfrentou de maneira directa o tema da vocação, dissipando todas as dúvidas e as perplexidades que Filipe apresentava. Em 1877 aos 21 anos entrou para o colégio de Sampierdarena, onde se cuidava das vocações adultas.

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Aos 22 de setembro de 1878 fez a sua primeira profissão e em 1880 a profissão perpétua das mãos de Dom Bosco. Iniciou a sua preparação para o sacerdócio, e em 23 de dezembro de 1882 é ordenado sacerdote. Quis partir para a Argentina como missionário, mas Dom Bosco lhe disse que : “não fosse, mas que enviaria outros”. Aos 27 anos é enviado a Mathi Torinese como director e formador de vocações adultas. Depois da morte de Dom Bosco, Padre Rua, primeiro sucessor do Santo dos jovens, enviou-o a Espanha, Barcelona, como director. Ele soube encarnarse muito bem entre a gente do lugar, conquistando a confiança e o afecto de muitos jovens. As vocações locais cresceram e ele teve que abrir muitas novas casas. Em 1892 foi erigida a província espanhola e Dom Rinaldi foi nomeado primeiro inspector. Em nove anos de inspector as casas chegarão a 21, abriu novas obras para as Filhas de Maria Auxiliadora, fundou as leituras católicas em espanhol, a gargantilha dos clássicos para os jovens e estudantes, um jornal semanal para os oratórios. Em 1901 Dom Rua o chamou de volta a Turim para o governo central da Congregação. Foi vigário e ecónomo geral por 21 anos, ocupou-se também das missões, das novas presenças salesianas em todo o mundo e pela formação no instituto teológico salesiano. Não se poupou também no serviço entre as Filhas de Maria Auxiliadora e no oratório feminino que as irmãs animavam em Valdocco. Dinâmico e criativo, reorganizou as Filhas de Maria Auxiliadora, incentivando-as a um

forte compromisso de apostolado. Em 1905 sugeriu a fundação de uma casa de mutuo socorro entre as oratorianas e em 1906 constituiu um grupo de patronas para a defesa das operárias. Em 1908 deu impulso à união dos ex-alunos e em 1911 promoveu o seu primeiro congresso; em 1909 introduziu a assistência médica gratuita, as conferências sociais, a escola de canto, o secretariado do trabalho, as escolas nocturnas. Em 19010 fundou as caixas para pequenas economias, em 1911 o círculo de cultura, em 1912 as catequeses quaresmais para alunas da escola estatal. A sua atenção ao mundo feminino levou-o a iniciar entre as jovens do oratório uma nova forma de vida consagrada no mundo e no espírito salesiano, aquele que é hoje o Instituto Secular das Voluntárias de Dom Bosco (VDB). Em 1922 foi eleito Reitor Maior, terceiro sucessor de Dom Bosco. Para toda a Família Salesiana foi um pai primoroso e atento. Faleceu no dia 5 de Dezembro de 1931 e o Papa João Paulo II declarou-o Beato. A sua festa litúrgica celebra-se no dia 5 de dezembro.

Oração pela canonização do Beato Filipe Rinaldi

Pai, f onte de toda a santidade, agradeço-te por teres chamado o Beato Filipe Rinaldi a actualizar o carisma de São João Bosco, e a dar inicio à várias realidades carismáticas na Família Salesiana. Animado pelo Espírito Santo, peço-te que glorifiques também aqui na terra este Teu Servo fiel que tanto Te amou e serviu nos irmãos, e concede-me por sua intercessão as graças necessárias para realizar o Teu plano de Salvação. Rezo particularmente por ... Tudo isto te peço por Cristo Teu Filho e Senhor Nosso. Amem. Beato Filipe Rinaldi, rogai por nós!

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