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Informação Médica

Crónica Op.4

Enfarte Agudo do Miocárdio

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Estimados leitores, escrevo-vos de novo para mais uma crónica. Como não o fazia desde o ano anterior (e até porque a boa educação é muito bonita), fica-me bem começar este texto com os meus votos sinceros de que tenham passado um Bom Natal, deixando o meu desejo de que 2023 seja um ano de muita saúde e realizações para todos vós. Mas passemos ao que tanto vos interessa! A crónica de hoje traz um tema importante: o enfarte agudo do miocárdio, vulgo “ataque cardíaco”.

Comecemos por dissecar o tema desta crónica, analisando cada palavra que o compõe. Enfarte é o termo correspondente à morte de um conjunto de células de um determinado tecido ou órgão, ou seja, pode aplicar-se a vários órgãos: um enfarte cerebral corresponde à morte de várias células do cérebro, um enfarte renal corresponde à morte de várias células do rim, e por aí em diante. Agudo significa que tem uma apresentação/evolução rápida. Miocárdio é o termo utilizado para designar o músculo cardíaco e que é responsável por bombear o sangue para todo o corpo. Ora, falamos então de uma entidade caracterizada pela morte rápida das células do músculo cardíaco.

De que forma isto acontece? Apesar de o coração ter sangue a ser bombeado dentro das suas cavidades, as suas paredes são demasiado grossas para que o oxigénio e os nutrientes cheguem a todas as células. Assim, este órgão também tem vários vasos que levam o sangue para as suas células. Os maiores e mais falados designam-se de artérias coronárias.

Quando existe a obstrução de um destes vasos sanguíneos, nomeadamente por um coágulo de sangue, deixa de chegar oxigénio e nutrientes, que são essenciais para o bom funcionamento das células do músculo cardíaco. Se isto se prolongar por algum tempo as células começam a morrer, sendo este dano permanente, já que não volta a haver crescimento destas células. Os leitores mais atentos questionam agora: “Mas não é isso que acontece no AVC”? É exatamente o mesmo, sim. Porém, num órgão diferente. Muito Bem! Há uma informação importante de transmitir… A maioria dos coágulos é consequente a uma placa de ateroma. Esta placa é formada pela deposição de gordura, principalmente o conhecido “mau colesterol” (colesterol LDL) mas também pelos triglicéridos. Estas gorduras vão se depositando nas artérias e formam uma placa que vai acumulando mais gordura e que vai crescendo, resultando numa diminuição do calibre do vaso. O crescimento desta placa cria dois problemas: o primeiro é óbvio e todos vós estais a pensar… “Mas se isto cresce dentro do vaso, não o pode tapar?” É claro, e esse é o primeiro problema… O segundo, é que estas placas são instáveis e frágeis e podem romper. Caso isso aconteça, são libertados muitos conteúdos para o sangue que provocam a formação de um coágulo, o que interromperá o fluxo de sangue abruptamente. Regra geral, são estes que dão uma clínica súbita, enquanto que o primeiro vai dar alguns sintomas de dor no tórax quando se fazem esforços maiores.

Quais os sintomas do enfarte agudo do miocárdio? Para ser franco, pode haver muitas apresentações, algumas inclusive muito atípicas, e que podem ser difíceis de diagnosticar mesmo ao médico mais experiente. Interessa-me que conheçam o quadro clássico: o mais comum é uma dor aguda e muito intensa no centro do peito, em forma de aperto, pressão ou peso, geralmente com irradiação para o braço esquerdo, maxilar ou pescoço.

Frequentemente esta dor é acompanhada de um quadro igualmente súbito de náuseas ou vómitos, suores e fraqueza ou tonturas. Pode também surgir uma sen- sação de falta de ar. Atenção: Nem toda a dor no peito é enfarte… Como referi, nem todas as apresentações são as descritas. Particularmente em idosos, mulheres e doentes diabéticos existe maior apresentação “atípica”.

Quais são os fatores de risco para um enfarte agudo do miocárdio? À semelhança do referido na crónica do AVC, falamos dos “fatores de risco cardiovascular”, nomeadamente tabagismo ativo, níveis de colesterol elevado, obesidade e excesso de peso, sedentarismo e ausência de atividade física. Outras doenças como diabetes e hipertensão arterial, ainda mais se mal controladas, também aumentam este risco. A idade acaba por ser um fator de risco, dado ser uma entidade rara em jovens e mais frequente com o aumentar da idade. Parece existir também alguma hereditariedade, havendo um risco maior caso existam familiares que apresentaram esta doença, principalmente se isso ocorreu numa idade precoce (homens antes dos 55 anos e mulheres antes dos 65 anos).

Ponto mais importante deste texto: se reconhecer os sintomas acima identificados, deve contactar de imediato o 112 ou pedir a alguém para o fazer. É extremamente importante o reconhecimento precoce para que seja possível uma intervenção atempada. “Tempo é miocárdio”. Quanto mais tempo passar, mais músculo cardíaco morre e menores as probabilidades de recuperação. Uma vez contactado o 112, será acionada uma corrida contra o tempo, que permitirá confirmar o diagnóstico e realizar o tratamento adequado, que consiste na desobstrução da artéria. Um atraso no diagnóstico e no tratamento, resultará na morte de uma grande massa muscular cardíaca, o que vai diminuir a capacidade de bombear o sangue e resultar num quadro designado de “insuficiência cardíaca”, ou seja, um coração insuficiente, fraco e com dificuldade em desempenhar a sua função.

Que cuidados devemos ter para evitar esta doença? Deixo alguns conselhos… mantenha uma alimentação equilibrada e pobre em gorduras saturadas e pratique atividade física aeróbica de forma regular, idealmente 30 minutos, 5 vezes por semana. Se tiver alguma das doenças que mencionei e se encontrar medicado, cumpra as recomendações que o seu médico sugeriu. Ingira álcool de forma controlada. E por último, se fuma, é uma

Mais de 10 mil portugueses têm um enfarte agudo do miocárdio todos os anos. É necessário saber reconhecer os seus sintomas! Por nós… Pelos outros… E pelos nossos… boa ideia deixar de o fazer. Mais de 10 mil portugueses têm um enfarte agudo do miocárdio todos os anos. É necessário saber reconhecer os seus sintomas! Por nós… Pelos outros… E pelos nossos…

Termino esta crónica com uma curiosidade... Como referi acima, o enfarte agudo do miocárdio poderá resultar num coração “doente”. Curiosamente, o dia do doente coronário, dedicado ao doente que sofre de insuficiência cardíaca, celebra-se no nosso querido “dia do amor”, dia 14 de fevereiro. Coincidência ou consequência?

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