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Se envelhecemos como vivemos, vamos envelhecer onde vivemos

Caros leitores, Outubro é o mês dedicado às pessoas idosas e à Terceira Idade. A 1 celebrou-se o Dia Internacional das Pessoas Idosas com a intenção de promover a consciencialização sobre a importância dos mais velhos na sociedade, valorizando o seu contributo ao longo de todo o seu percurso de vida. Por outro lado, a 28 o Dia Mundial da Terceira Idade procurou consciencializar a sociedade sobre os constrangimentos vivenciados por este grupo etário no presente e ampliar a reflexão sobre os problemas que poderão surgir neste contexto. Nesta quarta edição inicia-se uma nova rúbrica com o intuito de melhor compreender o envelhecimento.

Ao longo das últimas décadas existiram avanços em diferentes áreas da sociedade que favoreceram o avanço da idade média da população, a diminuição da mortalidade infantil e ao longo da vida bem como o aumento da esperança média de vida. Este fenómeno é hoje denominado por triplo envelhecimento da população é retratado através das estruturas das pirâmides etárias, já que existe uma diminuição do grupo etário jovem, um aumento do grupo etário das pessoas idosas e um aumento na idade média da população. É certo que ao se observar o fenómeno de envelhecimento do ponto de vista coletivo se demarca enquanto indicador do desenvolvimento positivo da sociedade atual, uma vez que à medida que o tempo avança se chega cada vez mais a idades mais avançadas. Ainda assim, se por um lado estes avanços representam na vida de cada um a possibilidade de se viver mais tempo, por outro nada nos permite aferir que se viva com mais qualidade de vida, sobretudo em idades mais avançadas. Neste contexto existe a ascensão da problematização do envelhecimento enquanto problema das sociedades atuais. Mas, Será o envelhecimento coletivo um problema para as sociedades atuais e, em especial do futuro?

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Esta questão importa para a compreensão do caminho a seguir no modo como a sociedade e cada um prepara o processo de envelhecimento. O envelhecimento coletivo apresenta-se através do perfil demográfico que por si só não se revela como problema das sociedades, sendo um indicador de desenvolvimento em diferentes áreas da sociedade, desde a saúde, a alimentação passando pela tecnologia, entre outras. Ainda assim será que esta sociedade se tem vindo a preparar convenientemente para as implicações que estes avanços poderão traduzir, a curto e longo prazo, nessa mesma sociedade? Chegar a velho nem sempre se traduz em se chegar a velho bem, conceito que é retratado pela esperança média de vida saudável e que tem implicações sobretudo nos sistemas de saúde de cada país, já que a existência de mais pessoas com mais comorbilidades implica mais meios e investimento. Por outro lado, a presença de cada vez mais pessoas mais velhas implica uma maior dispensa de receitas do governo para pensões e complementos, algo que com o processo de triplo envelhecimento demográfico se tornará cada vez mais custoso pela redução da população ativa e em idade potencial de entrada no mercado de trabalho.

O envelhecimento é um processo natural da vida que ocorre de forma gradual ao longo do tempo. É intrínseco ao ser humano e ocorre independentemente da vontade ou não do indivíduo em que o mesmo ocorra.

Definido por Elie Metchnikoff em 1903 a Gerontologia emerge como sendo a ciência que estuda o processo de envelhecimento do ponto de vista biológico, psicológico e social. Ao longo das décadas contributos de vários autores têm ampliado a construção sobre o envelhecimento emergindo mais recentemente a perspetiva do ageing in place, procurando valorizar o ambiente no processo de envelhecimento. Para a Organização Mundial de Saúde (OMS), o ageing in place (Envelhecer no lugar) é a possibilidade de “viver em casa e na comunidade, com segurança e de forma independente à medida que envelhece” (WHO, 2015, p.36).

À medida que envelhece, o indivíduo passa cada vez mais tempo em sua casa, e na comunidade envolvente, reforçando a relação indivíduo-casa-comunidade e a preocupação com a intervenção nas comunidades (WHO, 2015). Ao invés de se institucionalizarem as pessoas idosas esta perspetiva valoriza a manutenção da pessoa na sua comunidade. Ainda assim, quando as pessoas idosas permanecem nas suas residências, nem sempre se mantêm como primeira opção, mas sim como recurso, na impossibilidade de as famílias institucionalizarem as pessoas idosas (Iecovich, 2014). Como tal, programas e medidas que valorizem a manutenção das pessoas idosas com qualidade de vida e bem-estar nas suas residências, torna-se pertinente pelos benefícios de integração social e manutenção dos papéis sociais que traz associados. Porém estes programas têm de ser “feitos à medida” das pessoas idosas, de acordo com as suas necessidades, potencialidades e características, bem como o território onde as mesmas estão inseridas (Fonseca, 2015; 2021).

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