Mentiram e muito para mim flavio quintela

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Mentirinha: o PSDB é um partido de direita

O entendimento do quadro político atual brasileiro passa necessariamente pela análise das últimas eleições presidenciais, e também pelo conhecimento da organização supra-nacional que comanda partidos da esquerda da América Latina, o Foro de São Paulo. Começando com a nossa história recente, voltemos à época da chamada redemocratização brasileira, na transição do último governo militar, de João Figueiredo, para José Sarney , que assumiu a presidência em virtude da morte de Tancredo Neves. José Sarney governou sem a possibilidade de reeleição, que seria estabelecida apenas no primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso, com a emenda constitucional nº 16, em 1997. Naquela época o mandato durava cinco anos, de modo que, em 1989, o Brasil teve sua primeira eleição presidencial por votação direta depois do período militar. Nesta eleição havia 22 candidatos, entre eles Fernando Gabeira (PV), Ronaldo Caiado (PSD), Enéias (PRONA), Aureliano Chaves (PFL), Roberto Freire (PCB), Uly sses Guimarães (PMDB), Guilherme Afif Domingos (PL), Paulo Maluf (PDS), Mário Covas (PSDB), Leonel Brizola (PDT), Lula (PT) e Fernando Collor de Mello (PRN). A disputa foi levada ao segundo turno, com Fernando Collor em primeiro lugar, com 28,52% dos votos, e Lula em segundo, com 16,08% dos votos. Collor tinha como vice Itamar Franco, também do PRN, e Lula tinha como vice José Paulo Bisol, do PSB (esta informação nos será valiosa no decorrer do capítulo). A esquerda política, que tinha como principais expoentes Lula, Brizola e Covas, conseguiu 42% dos votos do primeiro turno, e Lula foi ao segundo turno no lugar de Brizola por apenas 455.000 votos a mais. Importantíssimo ressaltar que Covas e Brizola declararam apoio a Lula no segundo turno, ou seja, PT e PSDB foram juntos contra Collor. No segundo turno Collor foi eleito com 49,94% dos votos, contra 44,23% de Lula, tornando-se o primeiro presidente eleito de forma direta desde 1960. Ele ficaria no poder por apenas dois anos e meio, até sofrer o impeachment em 1992. Vale lembrar que os motivos que levaram ao impeachment de Collor, tanto na qualidade das acusações como nos valores envolvidos, são muito inferiores se comparados aos do processo do Mensalão de Lula, e podem deixar o leitor perplexo e a se indagar o porquê de tamanha impunidade num caso – nenhuma acusação ao ex-presidente Lula – e tamanho rigor no outro. Enfim, das cinzas de Collor surge seu vice Itamar Franco, que assume um governo contra o qual uma oposição de esquerda vinha se unindo, e de forma bastante organizada. Foi em julho de 1990 que aconteceu a primeira reunião do Foro de São Paulo, com a participação maciça dos partidos de esquerda brasileiros e de outros países latino-americanos, com o objetivo declarado de implantar governos socialistas nos países da América Latina, agindo de forma ordenada e com uma estratégia centralizada pelo Foro no estabelecimento de metas e ações para o atingimento das mesmas em todo o continente. Dentro desta estratégia estava a candidatura unida da esquerda nas eleições que estavam por vir, em 1994. Neste cenário, PT e PSDB tinham em vista uma aliança eleitoral, ainda que o PSDB não fizesse parte do Foro de São Paulo,[ 8 ] e não havia nesta época a inimizade e ódio que se vê hoje, mesmo porque a formação programática de ambos os partidos sempre foi semelhante. Mas uma decisão do presidente Itamar Franco


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