A Descoberta do brincar

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O brincar e a escola

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Além dos espaços já mencionados, os profissionais destacaram a importância da escola, especialmente para crianças até 12 anos. Como visto anteriormente, para os entrevistados, o brincar se aprende brincando. Ele tem, portanto, uma função socializadora e integradora. A interação presente na ação foi e é responsável pelo fato de muitas atividades lúdicas perdurarem ao longo dos anos. Apesar de a sociedade moderna ter sofrido transformações em relação à maneira, ao espaço e ao tempo de realização do brincar, sabe-se que desde o nascimento os bebês aprendem ativamente. As relações são fundamentais para esse aprendizado. É assim que ocorre o brincar, que se inicia no seio da família, nas interações com as mães, com quem as crianças estabelecem uma forte relação. Na interação com os pais, durante a brincadeira, a criança se desenvolve, ri, chora, pronuncia palavras, movimenta-se, conhece as primeiras normas. Nesse sentido, as pessoas e os brinquedos atuam como mediadores, criando condições para que as crianças adotem condutas, valores, atitudes e hábitos. Enfim, aprendam. Na sociedade moderna, pais e filhos têm pouco tempo para ficar juntos e brincar. Tal realidade se mostra presente nos depoimentos dos especialistas e dos pais. A família tem deixado de exercer a sua função integradora e transmissora da cultura, restando à escola – um dos poucos espaços remanescentes que ainda possuem áreas para as crianças brincar, tendo os professores como transmissores da cul-

tura – a incumbência de ensinar e resgatar as brincadeiras. Sob essa perspectiva, seria extremamente interessante que a escola abrisse um espaço para o jogo. Por isso, os entrevistados opinaram que o brincar deveria integrar as atividades realizadas no cotidiano das escolas. Os profissionais entrevistados que estudaram mais profundamente o assunto, por exemplo, foram além desse modo de pensar. Sustentaram a tese de que o brincar deveria ser parte das formas de ensinar praticadas na escola. Argumentaram que tal necessidade se deve ao fato de que a atividade lúdica é benéfica ao aprendizado. Atualmente, há muitos estudos, como os de De Vries e Kamii (1991), Kishimoto (1994), Wajskop (1995), Bassedas e Solé (1999), Moyles (2002) e Carneiro (2003), que apontam para a importância dos jogos na escola. Os trabalhos desses e de outros autores mostram as diversas formas de utilização do brincar, desde a sua prática pela livre escolha até como uma atividade dirigida pela escola. Eles mostram que a escola poderia utilizar os jogos para o desenvolvimento do raciocínio lógico e das competências cognitivas, além do desenvolvimento físico-motor e social, já realizado em muitas escolas pelas brincadeiras de quadra. Há, hoje, para os professores, recursos e metodologias adequados para ensinar brincando. Segundo os entrevistados, seria desejável que a escola se apropriasse da brincadeira, porque isso traria resultados mais interessantes e adequados às necessidades do mundo atual.

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