mais afetada. Estima-se que tenham saído cerca de 4000 trabalhadores e que atualmente os DIM sejam metade do que eram há três anos. Além disso, o marketing farmacêutico, tal como o restante marketing, está em evolução e tem de se adaptar aos novos meios. E, de facto, hoje a comunicação é feita sobretudo através de meios digitais e os profissionais preferem este acesso livre e independente, em vez de contactos durante o dia de trabalho. Briefing | O marketing farmacêutico, tal como o restante marketing, visa resultados. Como é que se promovem esses resultados, que, em relação a medicamentos, passa por influenciar a prescrição e a dispensa? FN | É muito importante distinguir o marketing farmacêutico e a comunicação das vendas. Aqui falamos de transações comerciais entre os laboratórios e os grossistas ou entre os laboratórios e os hospitais. O objetivo do marketing farmacêutico é levar a informação aos profissionais de saúde sobre os últimos desenvolvimentos que tenha havido com o medicamento, por exemplo novos ensaios clínicos, novos efeitos adversos para os quais seja importante alertar. A função é só essa – exclusivamente informar, salientando as vantagens do medicamento. Obviamente que o prescritor, conhecendo os diversos medicamentos que possui para tratar determinada patologia, vai escolher o mais adequado para tratar essa patologia num determinado doente. Briefing | Mas os laboratórios não visam o lucro como empresas que são? FN | Os laboratórios da indústria farmacêutica, como empresas que são, obviamente que procuram o lucro. Contudo, na indústria farmacêutica, apenas se consegue isso optando por dois caminhos – um é o da indústria de inovação e outro o da de genéricos. Ambas têm lugar no mercado e coexistem em todos os mercados. A opção da indústria de genéricos é ter economias de escala através da produção de moléculas antigas, não há nenhum investimento em inovação e na www.briefing.pt
“O desemprego entre os profissionais da indústria farmacêutica cresceu enormemente nos últimos dois, três anos e os delegados de informação médica foram a área mais afetada”
procura de novos tratamentos. A indústria de inovação, ao contrário, apenas consegue sobreviver se desenvolver novos medicamentos que sejam melhores do que os que existem. A distinção que eu queria fazer é que, na indústria farmacêutica e por oposição a outros sectores, a comunicação é extremamente regulamentada e nem pode ser de outra maneira. Daí que a comunicação que é feita com os profissionais de saúde seja apenas essa – salientar as diferenças e benefícios obtidos nos ensaios clínicos realizados e que levaram à aprovação do medicamento pelas autoridades. Briefing | Diz que a regulamentação é bem vinda. Mas não é excessiva e não dificulta a vida aos laboratórios? FN | Estamos a falar de medicamentos, de substâncias químicas que, tomadas de maneira errada, podem ter efeitos adversos. Aliás, qualquer medicamento, mesmo bem administrado, pode ter efeitos adversos, pelo que a informação que vai para o doente tem de ser muito específica sobre tudo o que é esperado, dos efeitos mais frequentes aos mais raros. Daí que a regulamentação determine que não se pode comunicar nada para além do que foram os resultados clínicos e a sua aplicação seja, aliás, muito controlada pelas autoridades.
Briefing | Os medicamentos sujeitos a receita médica não podem ser alvo de comunicação comercial dirigida ao público. Concorda? FN | Concordo. É com essas premissas que tenho de trabalhar necessariamente. Contudo, acho que o paradigma deve mudar. Ou seja, voltamos à questão que, de facto, mudou a vida de todos e que é a comunicação digital: hoje em dia, qualquer pessoa, com maior ou menor formação, tem acesso à Internet. É cada vez mais comum que um cidadão, tendo uma patologia que já lhe foi diagnosticada ou tendo um sintoma e não sabendo de que patologia é, procure informação na Internet e há uma probabilidade muito grande de ir parar a blogues em que a informação é completamente desprovida de rigor científico. A realidade é que as pessoas já têm acesso direto a informação sobre patologias, sintomatologia e medicamentos, o que não acontecia há dez anos ou até menos. E o facto de não ser permitida uma comunicação direta da indústria com o público priva o doente de informação rigorosa. Se fosse legislada, pelo menos tal como existe nos Estados Unidos e na Nova Zelândia, a sociedade em geral tinha a garantia de acesso a informação correta e ficava efetivamente informada. Teria de ser obviamente regulamentada e de ser diferente da que é dirigida aos profissionais de saúde. Sem essa comunicação, o que acontece que é deixamos as pessoas a absorver informação que está, na maior parte das vezes, errada. Na melhor das hipóteses, procuram informação em sites com qualidade, por exemplo de sociedades médicas ou de associações de doentes e até da indústria. Ou então em sites alojados nos Estados Unidos, quando deviam ter informação em português sobre medicamentos que são utilizados em Portugal.
“A função (do marketing farmacêutico) é só essa – exclusivamente informar, salientando as vantagens do medicamento”
Briefing | Para os medicamentos não sujeitos a receita médica é permitida a publicidade. Neste caso, é como promover outro produto qualquer… FN | Ao contrário dos medicamentos sujeitos a receita médica, que só podem ser comunicados
>>> Abril de 2013
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