opinião
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Acessibilidade digital
Ruben Ferreira Duarte
A forma como as marcas e os criativos podem tornar o digital um lugar feito de, com e para todos. Este é o ponto de partida da reflexão de Ruben Ferreira Duarte, UX/UI Designer na Innovagency, sobre acessibilidade digital
UX/UI Designer na Innovagency
Não se pode dizer que o tema da acessibilidade digital seja algo recor-
Nos dias de hoje é inegável que as marcas – e, por consequência, os cria-
rente na esfera da criatividade. Não que as marcas ou os criativos não o
tivos – através do seu trabalho, são não só agentes económicos funda-
considerem um tema importante, mas simplesmente porque está, de facto,
mentais, mas também atores de grande relevância na nossa “cultura digi-
rodeado de mitos que o tornam, só por si, um tema complexo de ser tra-
tal”. Contudo, analisando em detalhe muitos dos sites que povoam os nos-
balhado no dia a dia.
sos “bookmarks” não é difícil concluir que a maior parte deles não estão
Por entre os mitos que se criaram em torno desta temática, um dos mais
preparados para ser utilizados por pessoas com algum tipo de deficiência.
recorrentes é o de que o número de utilizadores que possamos eventual-
Por incrível que pareça, o mais curioso deste contexto é que a maior parte
mente falar associado a estas necessidades especiais pode não ser re-
destes problemas se resolve com pequenas coisas nos projetos. Pequenas
levante. O tema da acessibilidade reduz-se muitas vezes a uma questão
coisas, seja na componente de design ou de código. Por exemplo, no de-
de aritmética, o que, analisada desta forma, só pode ser uma premissa
sign quantas vezes testamos os contrastes das nossas cores em diferentes
enganadora.
tipos ecrãs garantindo uma leitura aceitável em todos eles? Ou então no
Se não vejamos: segundo os censos de 2001, em Portugal, o número de pessoas
código, quantas vezes nos perguntamos o que aconteceria se um invisual
com algum tipo de deficiência física ou psíquica era de 636.059, ou seja, cerca de
tivesse que visitar o nosso site e utilizasse um leitor de ecrã para nave-
6% da população. Neste caso estamos a falar apenas de deficiências extremas,
gar? As respostas a estas questões estão muito longe de ser complexas
mas, dentro do trabalho da acessibilidade poderemos incluir ainda muitos ou-
ou necessitar de grandes investimentos, mas são estas pequenas coisas e
tros tipos de incapacidades, porventura menos evidentes, mas igualmente re-
testes que melhoram em muito os nossos sites e os tornam cada vez mais
levantes. Por exemplo, o daltonismo, que inibe de diferentes formas a perceção
inclusivos.
da cor, um dos pilares da comunicação contemporânea, afeta cerca de 10% da
O consórcio W3C, responsável pela implementação de boas-práticas na
população masculina em todo o mundo.
internet, desenvolveu um conjunto de orientações de acessibilidade, as
Aquilo que é um dos mitos mais recorrentes na acessibilidade é afinal um enga-
WCAG. Estas orientações definem que os sites podem ser classificados
no, porque, se começarmos a somar todo o tipo de incapacidades que o utiliza-
segundo três níveis de conformidade: A, AA ou AAA. Através de ferramentas
dor dos nossos sites pode ter, numa série de dimensões sensoriais, os números
online gratuitas como o Access Monitor da FCT, é possível a qualquer uti-
estão muitos longe de não ser relevantes.
lizador perceber em que ponto desta classificação se encontram os sites
É precisamente no momento em que o debate em torno da acessibilidade se
que visita no seu quotidiano.
torna simplesmente numa guerra de números que as marcas e os criativos po-
Curioso? Porque não experimenta? Qual é a classificação dos sites que
dem fazer toda a diferença.
costuma visitar no seu dia-a-dia?
“No design quantas vezes testamos os contrastes das nossas cores em diferentes tipos ecrãs garantindo uma leitura aceitável em todos eles? Ou então no código, quantas vezes nos perguntamos o que aconteceria se um invisual tivesse que visitar o nosso site e utilizasse um leitor de ecrã para navegar?” 40 OUTUBRO 2017