Revista Sindcomercio - Agosto 2012

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do – jogavam fora para virar carvão. Então eu resolvi utilizar esse material para fazer algumas prateleiras com correntes, que funcionavam como expositores. Me recordo que a garagem ficou parecida com um casarão antigo e tínhamos uma mesa central muito bonita, onde a gente também mostrava nossos produtos. Tudo isso aconteceu no fim dos anos 80, começo de 90. Atualmente temos uma estrutura bacana, que atende bem o nosso público. C.A. – Naquela época era comum ver comerciantes viajar para outros estados para comprar roupas. Você também fazia isso? E.O. – Viajávamos muito, principalmente para o Rio de Janeiro e São Paulo, e só paramos quando começaram as representações. As marcas cresceram e colocaram representantes para facilitar a vida da gente, o que – por sinal – só dificultou, pois esses profissionais não tinham e ainda não têm perfil igual ao do lojista. A galera que cresceu dentro da Kim & Kris sabe que não somos só moda, mas todo um estilo de vida. A maioria dos representantes que começou a vender na época não sabia nem por onde passou o rock, o skate. Então no começo da loja eu viajava muito e estava acostumado a comprar. Mas aí surgiu o representante que se fechava dentro do escritório em Belo Horizonte e achava que você tinha a obrigação de ir a ele. No entanto, se fosse pra ir a Belo Horizonte, eu preferiria continuar indo a São Paulo e no Rio de Janeiro. Eu estava na estrada e teria a opção da fábrica com melhores condições, quantidades maiores de mercadoria. Até hoje a gente enfrenta essa dificuldade. Era melhor escolher a dedo as roupas e fazer parte do contexto. Nós criamos esse contexto: não só eu como cada um que participou ou foi cliente da loja. C.A. – Como é esse diálogo, essa relação direta com o público jovem? E.O. – Eu nunca parei para pensar

COMÉRCIO EM AÇÃO • Agosto 2012

nisso, mas a gente está muito arraigado com esse negócio de mudança e acho que isso tem muito a ver com essa idade: a juventude quer essa mutação rápida e o próprio corpo está modificando, crescendo. Tem muito jovem que frequentou e comprou na Kim & Kris e já está “na casa” dos trinta, dos quarenta anos. A loja sempre foi um ponto de encontro referência da juventude do Vale do Aço. Lembro que juntos enfrentamos muita repreensão e discriminação, pois – quando comecei com esse estilo rock – eu estava praticamente sozinho e encontrei muito preconceito, pois as pessoas tinham medo do jeito do roqueiro. Enfrentamos tanto preconceito e resistência que não achávamos locais para fazer shows de rock, uma vez que ninguém queria alugar seu espaço para um bando de roqueiros fazer festa, até porque o perfil de Ipatinga é de uma zona de segurança. Enfrentávamos uma repressão policial e política: éramos repreendidos por contestar as coisas. A geração mais nova está pegando tudo mais filtrado. Hoje tenho orgulho de dizer que sou padrinho de quase todas as casas roqueiras que existem no Vale do Aço, como o Cocafé, em Coronel Fabriciano, o Garajão, o Bom Ré Mi

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Fá e o Bar do Gordo, em Ipatinga. Todas cresceram junto com a loja. C.A. – A loja sempre foi um ponto de encontro de músicos e dos adeptos de esporte radical. Como isso teve início? E.O. – Os esportistas na linha radical assimilaram bem o estilo da Kim & Kris. O que sobressaiu foi o skate, que na época era um esporte mais barato. Rapel é caro, páraquedismo nem se fala e praticar ciclismo também não é barato. A música é uma negociação constante: uma banda perdendo guitarrista, outra iniciando. Então muitos grupos de rock nasceram aqui dentro da Kim & Kris. Havia negociação entre as bandas e aqui era e ainda é uma área de discussão, até pelo ativismo cultural da gente com a galera. C.A. – Você foi um dos idealizadores da pista de skate do Complexo Esportivo do Ferreirão, no Bairro Ideal, em Ipatinga. Como isso aconteceu? E.O. – Quando o Sebastião Quintão era prefeito ele me chamou para sentar à mesa dele e pediu um projeto de pista de skate. Eu convoquei algumas associações para participar, lutei

“Takim” e dois de seus funcionários: muitos jovens conseguiram o primeiro emprego na loja


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