Revista Antártica

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antartica O CONTINENTE GELADO

Universidade Federal de Santa Catarina


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Carta ao Leitor

N André Luiz Gomes

Estudante da 4ª Fase de Psicologia na UFSC Membro do grupo de pesquisas sobre Fatores Humanos em Regiões Polares

@andropamina

Caroliny Duarte da Silva

Estudante da 4ª Fase de Psicologia na UFSC Membro do grupo de pesquisas sobre Fatores Humanos em Regiões Polares

@carolinyduarte_

Eduarda Vieira Cardoso

Estudante da 4ª Fase de Psicologia na UFSC Membro do grupo de pequisas sobre Fatores Humanos em Regiões Polares

@duda.vc

esta primeira edição da revista, pensamos em oferecer ao leitor uma experiência de descoberta deste local tão inóspito e aparentemente distante chamado Antártica. Ao longo da leitura você vai encontrar diversas matérias abordando curiosidades, informações e muito conhecimento científico sobre este continente gelado. Você poderá conhecer um pouco mais das Estações que os diversos países possuem lá, incluindo o Brasil. Além disso uma entrevista exclusiva com uma pesquisadora brasileira que já esteve na Antártica seis vezes, ela te mostra que sim, é possível ir até lá! Depois, uma seção vai te mostrar os principais animais que passeiam pela Antártica, incluindo os fofíssimos pinguins, leões marinhos e focas. Você vai também descobrir as histórias que não são contadas na sala de aula sobre as primeiras pessoas que chegaram ao continente gelado e os desafios que eles tiveram que superar. Em seguida leia a seção que vai te mostrar o que o Espaço Sideral tem em comum com a Antártica. Por fim, aproveite as recomendações culturais para que você possa ler, assistir e ouvir mais sobre a Antártica. Tudo isto pensado para que você conheça este lugar tão fascinante e fique tão apaixonado pela Antártica quanto nós somos. Nós, autores da revista, somos membros do grupo de pesquisas sobre Fatores Humanos em Regiões Polares da UFSC, além de sermos entusiastas para qualquer assunto que envolva Antártica e Espaço. Atualmente estamos nos preparando para o treinamento anual que acontece no Rio de Janeiro Brasil para pesquisadores que vão para a Antártica. Além disso também estamos escrevendo um capítulo de livro sobre a Psicologia Polar no Espaço.


Sumário Curiosidades 4

Mapa das Estações 5

Entrevista 7 Animais na Antártica

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Era Heróica das Expedições Antárticas 11

Viagens espaciais: o que a Antártica tem a ver com isso?

Recomendações Culturais 15

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Ei você!! Já pensou em fazer pesquisa na Antártica?

Vestibular UFSC 2020 Um mundo de possibilidades

Inscrições: 14/09 a 13/10/19 Pedido de Isenção: 14/09 a 04/10/19

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Curiosidades Quem é o dono da Antártica? A Antártica não pertence a nenhum país. De acordo com o Tratado da Antártica, oficializado em 1959 mas assinado pelo Brasil em 1975, nenhum país pode reivindicar o território como sendo seu ou explorá-lo comercialmente. As Estações servem para fins pacíficos e científicos que devem ser compartilhados entre os países que assinaram o tratado. É Antártica ou Antártida? As duas formas estão corretas, mas a primeira é a preferida para se utilizar em textos acadêmicos e a segunda é mais utilizada em Portugal. Uma coisa curiosa é que Antártica se refere a “anti-ártico” ou oposto ao ártico, pois o Ártico e a Antártica estão diametralmente opostos na Terra. Já a segunda opção de grafia, Antártida, se refere a cidade da mitologia Atlântida. Além de gelo, o que mais tem lá? Obviamente o gelo é muito abundante, mas existem outras coisas por lá. Há a presença de minérios, porém estes não podem ser explorados devido ao Tratado da Antártica. Existem plantas mas estas não são nem variadas ou abundantes. A fauna, por sua vez, é bastante diversificada e interessante, você pode aprender mais sobre ela na página 9 e 10.

Spoilers podem ser mortais! Em outubro de 2019, o engenheiro Sergei Savitsky tentou atacar o colega Oleg Beloguzov com um facada no peito. O motivo teria sido (acredite se quiser) um spoiler sobre o final do livro que Serguei estava lendo (que infelizmente não temos a informação sobre qual era o livro). Às vezes, na Antártica, as pessoas ficam sem ter muito o que fazer se as condições climáticas não permitirem trabalhar. Por isso, leituras e passatempos são tão importantes, sendo inclusive motivos para crimes.

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Se um crime acontece lá, quem é o responsável por julgar? De acordo com o Tratado da Antártica, as pessoas que vão para lá estão sob responsabilidade do seu país de origem, ou seja, se alguém comete alguma infração ou crime estará sujeito às regras do seu país. Existem vulcões na Antártica?! Em 2017, cientistas descobriram 91 vulcões na Antártica que, se somarmos esse número com os outros 47 vulcões já catalogados, podem representar a maior área vulcânica da Terra. Quantos graus faz na Antártica? As temperaturas na Antártica ficam entre -30°C e -65°C, mas a mais baixa já registrada (na Antártica e no mundo) foi de -89,2 ºC. Apesar de o continente ser coberto de gelo, ao contrário do que muitos pensam, ele é considerado o maior deserto do mundo, já que possui um clima extremamente seco. Todas as portas ficam destrancadas na Antártica. Por ser um local extremo, é necessário que todos cooperem e ajudem ao máximo uns aos outros, tanto a equipe de uma mesma estação quanto as de outras estações. Por isso, as portas na Antártica devem ficar destrancadas, para que qualquer pessoa que precise possa conseguir abrigo e auxílio da maneira mais rápida e fácil. E se eu quiser comprar algo lá na Antártica? Existe apenas um caixa eletrônico no continente inteiro, mas apesar disso você não sentirá muito a falta do dinheiro. Na base brasileira por exemplo, não há nada que você possa comprar ou que necessite o uso de dinheiro.


Mapa das Estações No verão, cerca de 4000 pessoas, divididos entre pesquisadores, militares, jornalistas e outros estão presentes no continente mais gelado do planeta. Durante o inverno o número de habitantes do local cai para 1000 devido ao clima extremo. A Antártica tem quase o drobro do tamanho do Brasil! Ao lado podemos ver um mapa com as estações que as 29 nações signatárias do Tratado da Antártica possuem.

Estação Brasileira

Informações Tamanho no verão: 14.000.000 km² Tamanho no inverno: 26.000.000 km² Número de Estações: 75 Habitantes no verão: ~4000 Habitantes no inverno: ~1000


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Entrevista

Como surgiu o interesse em pesquisar na Antártica? Entrei no curso de psicologia com a intenção de um dia fazer pesquisa com astronautas, logo, a psicologia polar abarca a psicologia espacial e o interesse pelos fenômenos psicológicos em pessoas expostas ao contexto antártico garantiria um análogo aos estudos com astronautas. Quantas vezes você já foi para a Antártica? Seis vezes, sendo uma delas em um voo de inverno (ou seja, pisei brevemente na Antártica, mais sobrevoei). Como foi a sensação de olhar e pisar na Antártica pela primeira vez?

Paola Barros Delben atualmente é pesquisadora na Universidade Federal de Santa Catarina. Estudando fatores humanos em ambientes polares, já foi à Antártica 6 vezes, sendo que a primeira vez foi durante a graduação em Psicologia. Hoje comanda um grupo de pesquisas sobre o tema em parceria com pesquisadores da Polônia.

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Conheça mais o trabalho de Paola:

l @paolabarrosdelben_ f /polar.ice

Indescritível. Foi como pisar em um outro planeta. A gente se “monta” com toda a roupa especial, bota, óculos, é como se estivesse literalmente saindo de uma nave (o navio) e pisando em um solo inexplorado. Todos ao redor também sentiam-se assim e coincidentemente foi um dia “perfeito”, atípico, pois fazia Sol, pouco vento e só tínhamos, literalmente, um dia para poder conhecer a região, embora o planejamento fosse de 10 dias. Você poderia falar sobre seus momentos favoritos na Antártica? O silêncio e a visão panorâmica que nos dá a sensação de sermos menores do que realmente somos, embora estejamos lá, mostrando que fomos capazes de enfrentar tantos desafios e vencer barreiras. Passei aniversários lá, sempre fizeram festa, como fazem para todos, mas acho que um dos momentos mais bacanas foi acompanhar a troca de um dos grupos-base, no momento em que eu questionava se deveria continuar insistindo para voltar e via naquelas pessoas o motivo para seguir em frente. Minha admiração pelos militares que mantém as ações abaixo do paralelo 60º é honesta e cresce ano após ano. O que você menos gostou na experiência? Assistir a disputas de poder, tanto do meio militar quanto do meio civil. Por diversas vezes fui questionada quanto minha presença naquele local e, também, diversas vezes desqualificada por participantes, seja por não ter título de doutora, seja por fazer pesquisa tida como “inútil”, por ser da área de ciências humanas. Muito embora, algumas pessoas reconhecessem a importância e exaltassem isso. O que levar na mala para viajar para lá? Principalmente itens práticos. Dois conjuntos de segunda pele são essenciais, duas calças jeans e camisetas. Geralmente levo uma roupa para vestir por dia (ou


Página 8 seja, sete mudas), pois como há máquina de lavar e é possível lavar semanalmente, as- nunca falta. Uma necessaire, dois tênis, um chinelo e o computador. É o básico, mas obviamente há itens extras, além disso, gosto de levar “lembrancinhas” para as pessoas que conheço no local. É uma “cultura polar”. Como é a comida na Antártica? Todas as vezes que estive lá tive a sorte embarcar ou ir para a estação a comida foi excelente, os melhores cozinheiros são selecionados e nas bases ainda há a possibilidade de cada um, eventualmente, ajudar na cozinha e fazer seus próprios pratos. Há um abastecimento contínuo, inclusive no inverno (lançamento de carga) de víveres, alimentosdos mais variados, inclusive ovos, leite e carnes, temperos brasileiros e até o feijão preto.

Como você fazia para se divertir e passar o tempo lá na Antártica? Particularmente acho que todos os momentos, até os de “descarregamento” (quando todos fazem uma fila para levar os materiais que chegam aos navios ou à estação) são divertidos. Estou no lugar onde mais desejo estar para fazer uma pesquisa em um ambiente quase totalmente controlado, o laboratório “natural”, como dizem os autores mais proeminentes da área. Entretanto, há espaços de confraternização, além de formações de grupos espontâneos com jogos e assistindo filmes ou seriados. O que te surpreendeu na Antártica? Conseguir ficar um mês sem usar a internet (o celular, principalmente) e isso não comprometer a vida. Quando estamos “fora da Antártica”, a sensação é que ficar um dia sem acessar as redes sociais, e-mails e etc. poderá prejudicar a produção, mas isso não acontece na prática.

Como foi ficar com acesso limitado à internet? Foi até bom. Sinto falta dessa sensação de “conexão” absoluta com o meio em que estou inserida, de interações mais reais, em que temos que contar as histórias, pois não adianta postar. Você ficou com medo em algum momento das suas viagens para lá? Teve uma ocasião que fiquei com medo das ondas quando embarcada na primeira viagem. O navio fazia movimentos bruscos, todas as portas se abriam e não podíamos ficar em pé. Entretanto, tinha curiosidade de entender como os trabalhadores estavam, como faziam com os enjoos e se equilibravam em pé. Você tem vontade de voltar para lá? Sempre. Se eu pudesse ficaria lá por seis meses, ou até mesmo um ano. Se houver a oportunidade buscarei. Após voltar da Antártica, você se sentiu diferente de alguma forma? Acho que mais tranquila. Minha família diz que não dou mais tanta importância para algumas coisas, embora eu ache que dou mais relevância a questões que antes passavam desapercebidas por mim. Também aumentou a consciência ambiental (lá todo o lixo é cuidadosamente separado e há inúmeras palestras para entender a importância da Antártica no clima do planeta). Outro ponto a destacar é a habilidade interpessoal de interagir com todos os tipos de pessoas que o ambiente exige. Antes das viagens eu não era muito comunicativa e provavelmente não iniciava nenhuma conversa. Por último, qual a recomendação que você daria para alguém que pensa em ser um cientista que pesquisa sobre a Antártica? Sobre a Antártica ou na Antártica? Essa é uma questão importante também a ser feita. Se for sobre a Antártica, é importante notar que não é sequer necessário ir ao local. Se for “na Antártica”, exige uma aproximação maior, mesmo que seja virtual. A recomendação é “não criar muitas expectativas”, trabalhar a tolerância à frustração e entender que há um número limitado de pesquisas sendo realizadas, por razões até logísticas. Entretanto, que se tem essa vontade, deve insistir, leve o tempo que levar, pois chegar à Antártica, de alguma forma, é recompensador. Gostaria que todas as pessoas tivessem essa oportunidade um dia, nem que fosse em visitas breves.


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Animais na Zooplânctons

O Kril é um crustáceo que boa parte do ecossistema circumpolar se alimenta (desde peixes, até baleias, focas, pinguins e outras aves). Para se ter uma noção, uma baleia come entre 300 e 400 kg de Kril por dia! O Kril, por sua vez, se alimenta de fitoplanctons. Cada fêmea pode liberar até 10.000 ovos por vez várias vezes durante o verão. Krill

Focas e Leões Marinhos Eles aproveitam as oportunidades que as difíceis condições geográficas oferecem já que caçam principalmente no mar. Eles são capazes de ocupar tanto a terra quanto a água. A colônia mais importante da espécie Lobo-marinho-sul-americano fica em uma península da Antártica. A foca-caranguejeira é a espécie de foca mais abundante na região.

Lobo-marinho-antártico

Baleias As baleias aproveitam a abundância da vida marinha antártica para se alimentar durante suas rotas migratórias. A região já foi muito utilizada como local de caça de baleias, e um dos registros disso é a presença de uma ossada de baleia na baía do almirantado, na região da Antártica brasileira.

Ossada de Baleia na Baía do Almirantado

Pingu


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a Antártica

uim-de-Barbicha

Humanos

Além dos pesquisadores e militares esporádicos que viajam para a Antártica, a porção chilena possui uma cidade que permite a moradia permanente (embora ninguém possa ficar por mais de 2 anos lá), a Villa Las Estrellas.

Peixes São mais de 8.500 espécies de peixes! Algumas dessas espécies se desenvolveram ali no continente, o que torna difícil a comparação com outras espécies de zonas mais quentes. Mas se sabe que nesses peixes há a presença de proteínas anticongelantes em seu sangue e tecidos. Dois peixes bem peculiares que existem lá são o Bacalhau Antártico, que pode chegar a até 2 metros de comprimento, e o Draco Antártico, que é transparente. Draco Antártico

Aves Em todo o continente há 21 espécies de aves residindo, as outras chegam ao longo do ano de forma esporádica. Além de pinguins, aparecem ali na Antártica albatrozes, petréis, cormorões, palomas e gaivotas, por exemplo. Dessas aves, somente o pinguim imperador é natural da Antártica, os outros migram da América do Sul, Austrália etc.

Pinguim-Gentoo

Pinguim-Macaroni

Pinguim-de-Adélia

Pinguim-Imperador

Espécies de Pinguins na Antártica


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Bélgica

Era Heróica das Exp Expedição Antártica Belga (1897-1899)

Expedição Southern Cross (1898-1900) Reino Unido

No início da segunda revolução industrial, no final do século X róica” das navegações para a Antártica. Apesar de serem cham interesse em encontrar riquezas nessa região tão pouco explor plo, da lâmpada, do termômetro e da anestesia, e muitas dessas Apesar de serem movidos pelo interesse em riquezas, esses pr como o difícil acesso e as baixas temperaturas, tais adversidad

Expedição Discovery (1901-1904) Reino Unido Expedição Gauss (1901-1903) Império Alemão

ROBERT FALCON SCOTT

Scott foi um oficial da Marinha Real Britânica, mas, além disso, foi um explorador que liderou duas expedições à Antártida: a Expedição Discovery Expedição Antártica Sueca (1901–04) e a Expedição Terra Nova (1910– (1901-1903) 13). Esta segunda tinha como objetivo ser a Suécia primeira a chegar ao Polo Sul. Em 1912, Expedição Nacional Antártica Escocesa Scott saiu com quatro homens, deixando (1902-1904) o resto da tripulação no navio, e conseguiu Reino Unido chegar ao seu destino, porém lá viu a bandeiTerceira ExpediçãoAntártica Francesa ra da Noruega hasteada, o que indicava que Ro(1903-1905) ald Amundsen já havia realizado o feito antes. Ao França regressar dessa segunda expedição, todos os 5 homens, incluindo Scott, morreram devido a exaustão, frio Expedição Nimrod (1907-1909) extremo e fome, o restante da tripulação sobreviveu. Reino Unido O corpo de Scott foi sepultado na Antártica no local Quarta ExpediçãoAntártica Francesa de seu último acampamento, e por cima da sua tenda (1908-1910) foi colocado um monte de neve e uma cruz. França

Japão Noruega

Expedição Antártica Japonesa (1910-1912) Expedição de Amundsen ao Polo Sul (1910-1912)

Expedição Terra Nova (1910-1913) Reino Unido Segunda Expedição Antártica Alemã (1911-1913) Império Alemão Expedição da Australásia na Antártica (1911-1914) Austrália Expedição Transantártica Imperial (1914-1917) Reino Unido Grupo do Mar de Ross (1914-1917) Reino Unido Expedição Shackleton–Rowett (1921-1922) Reino Unido Todas as datas são referentes a Era Heróica de exploração da Antártica

Bandeira hasteada pelo norueguês Amundsen


pedições Antárticas

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XIX e início do século XX, teve início o que chamamos de “Era Hemados de heróis, essas pessoas foram movidas principalmente pelo rada e pelo patriotismo. Nesse período houve a invenção, por exems invenções foram importantes para tornar possível tais expedições. rimeiros exploradores tiveram que encarar os desafios do território, des exigiam uma grande adaptação digna de feitos heróicos.

ERNEST HENRY SHACKLETON Shackleton esteve na expedição Discovery junto a Scott. Apesar de ter passado por maus bocados, ele tomou gosto pela coisa e resolveu retornar para a Antártica comandando o navio Nimrod, em 1907. Nesta viagem Shackleton tentou ir além do ponto que Scott havia alcançado, mas resolveu retornar por conta dos poucos suprimentos que haviam restado. Em 1914, ao tentar fazer a travessia do Mar de Weddell ao Estreito de McMurdo o seu navio, o Endurance, ficou encalhado durante meses e acabou afundando. Shackleton e seus 26 homens partiram então com barracas, suprimentos e três barcos pelo gelo até chegarem a Ilha Elefante. Shackleton estava convencido que só conseguiria socorro se chegasse até as Ilhas Geórgia do Sul, que ficavam a 1,3 mil quilômetros dali. Assim, o comandante se lançou com cinco de seus homens nessa aventura, só para perceber que se direcionaram ao lado errado da ilha. O comandante resolveu caminhar com 3 dos seus 5 homens até que chegaram a uma estação baleeira. Assim conseguiram resgatar os outros 2 homens que ficaram para trás e chegaram até os outros 21 tripulantes que aguardavam na Ilha Elefante. Em 1920 Shackleton liderou mais uma expedição para a Antártica, dessa vez a bordo do navio Quest. Foi durante esta viagem que Shackleton morreu, devido a um ataque cardíaco. Muitos historiadores colocam a data da morte do explorador, 5 de janeiro de 1922, como o marco do fim da Era Heróica.

ROALD AMUNDSEN O norueguês Amundsen esteve a bordo da primeira expedição em direção à Antártica, a Expedição Antártica Belga, em 1898. Já em 1911 liderou a primeira expedição que realmente alcançou a Antártica. Depois disso o explorador se dedicou principalmente a explorar a região do Ártico. Em 1928 Amundsen partiu com seu hidroavião Latham 47 tentando resgatar um explorador e aviador italiano cujo dirigível Italia caiu a nordeste do arquipélago Svalbard ao retornar do Polo Norte. Amundsen acabou morrendo nesse trajeto.


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Viagens espaciais: o que a Antártica tem a ver com isso? A Antártica e o Espaço Sideral tem muito mais em comum do que você pode imaginar. Os dois são considerados ambientes ICE e cientistas têm estudado variáveis humanas do espaço na Antártica.

Mas o que é um ambiente ICE? Ambientes ICE são lugares Isolados, Confinados e Extremos.

Isolados Você estará longe da sua família e amigos e longe também de suporte social. Pense em uma base na Antártica: você está com uma pequena equipe em um local de difícil acesso, não dá para simplesmente sair a qualquer momento para dar uma volta no shopping e ver pessoas diferentes.

Confinado

Extremo

No geral, as acomodações nesses ambiente ICE são pequenas, restringindo um pouco a mobilidade. De novo, sua mobilidade é restringida também pelo fato de que não poderá sair a qualquer momento que deseja pois é muito perigoso.

Há muitos riscos físicos nesses locais. Você pode ser pego de surpresa por uma mudança rápida do clima e ter que enfrentar uma nevasca. Você pode estar em um local muito alto e o oxigênio faltar. você pode enfrentar um frio absurdo de -30 a -65 ºC. Os diversos tipos de ambientes que nós humanos não somos naturalmente adaptados podem ser considerados ambientes extremos.

Porque o espaço é considerado um ambiente ICE? Imagine agora uma nave espacial voando pelo espaço. Dentro dela, a pequena equipe de astronautas está em cabines apertadas, realizando atividades muito planejadas e que necessitam de muita atenção e precisão. Ao olhar pela janela, eles vêem aquele pequeno ponto azul que chamam de casa, mas ele está muito longe e isso faz com que os astronautas fiquem com uma sensação estranha. Assim fica fácil entender porque o espaço também é um ambiente isolado, confinado e extremo. Os astronautas ficam longe da família e dos amigos e longe também

de possibilidades de resgate e auxílio em caso de alguma emergência. Em alguns casos, até a comunicação por mensagens de voz e e-mails é complicada. As cabines das naves são pequenas e as equipes também, o que torna as coisas meio monótonas já que os astronautas estão presos em um espaço sem muita privacidade com as mesmas pessoas por bastante tempo. Pra piorar isso tudo temos o fato de que, para sair da nave, é preciso utilizar os equipamentos de proteção corretos, pois seria letal abrir as portas sem estar vestindo o traje espacial.


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Mas e essa história de estudar o espaço através da Antártica? Existem muitos riscos envolvidos em um missão espacial. Seria muito bom se existisse alguma forma de estudá-los e prevê-los, não é? O problema é que não dá para dar um pulinho no espaço e mapear os possíveis riscos. Dessa forma, muitos pesquisadores têm utilizado ambientes análogos ao espaço (a Antártica por exemplo) como laboratórios de estudo. Por exemplo, psicólogos podem estudar que efeitos o isolamento tem na saúde mental de expedicionários polares e utilizarem esses resultados para prever e minimizar os riscos do isolamento em uma missão espacial. Obviamente que a Antártica não é o único lugar onde estes estudos podem ser feitos, existem outros locais análogos. Submarinos são exemplos, mas talvez os mais utilizados, além da Antártica, sejam as simulações especialmente feitas para isso. Estas simulações são locais especialmente montados com a intenção de se parecerem uma espaçonave, onde os cientistas podem controlar o maior Comparação entre o tranúmero de variáveis e assim estudar je dos expedicionários polares na Antárticacomo os indivíduos reagem e se com o dos astronautas comportam naquele ambiente. Um ponto importante é que, falando assim, até parece que o único propósito que se tem ao estudar a Antártica é utilizar seus dados para as pesquisas espaciais. Bom, não é bem assim. Estudar os humanos em um ambiente tão inóspito quanto a Antártica é importante por si só. É fascinante demais pensar em como nós, criaturas frágeis, conseguimos chegar ao continente gelado. Além do mais, ainda que não se possa explorar comercialmente a Antártica, é importante garantir um espaço e realizar pesquisas lá, para que nosso país garanta sua soberania.

Curiosidade Pode parecer estranho, mas até asilos podem ser considerados ambientes ICE. podem até não ser os locais mais extremos do planeta, mas com certeza são isolados e confinados. As pessoas que vivem nos asilos estão longe de suas famílias e geralmente não podem sair a hora que querem.

Suave na Nave Astronautas em espaço confinado


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Recomendações Culturais

Livro

A Incrível Viagem de Shacketon Preço: R$49,90 (2009) O livro descreve a aventura de Sir Ernest Shackleton a bordo do Endurance em direção ao Atlântico Sul. Através dos diários e entrevistas com a tripulação do navio, o autor relembra as dificuldades encontradas nessa história de superação e heroísmo.

Livro Parati - Entre dois polos Preço: R$50,30 (1992) O aventureiro Amyr Klink conta em seu livro sua jornada onde cruza o oceano Atlântico, percorrendo mais de 50 000 quilômetros durante 22 meses, alcançando o Polo Sul e o Polo Norte.

Livro A Pior Viagem do Mundo Preço: R$72,00 (1999) A história da épica expedição de R. F. Scott é contada neste livro. Junto da sua equipe, estavam determinados a serem os primeiros homens a alcançarem o Pólo Sul. Enfrentando condições extremas a tripulação teve de fazer o possível para sobreviver e atingir seus objetivos.

Podcast Disponível no Spotify Estadão Notícias: Especial Expedição Antártica Nesta edição do podcast a jornalista Luciana Garbin conversa sobre sua visita ao continente e conta os detalhes das obras de construção da nova Estação Brasileira. Além de várias outras curiosidades.


Página 16 Antártica por um ano (2019) O filme conta a experiência de um grupo de expedicionários polares que passam um ano na Estação Brasileira, enfrentando baixas temperaturas do inverno, o isolamento e a saudade de casa.

Filme

O filme foi lançado em maio de 2019 e ainda não está presente nas plataformas de streaming. Mas fique ligado!!

Filme Trópicos Gelados (2016) No ano de 1982 ocorre a primeira expedição brasileira rumo à Antártica. 30 anos depois o jornalista que cobriu o primeiro evento volta para o continente para descobrir o que mudou neste período. Disponível no HBO NOW

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Referências

Seções “Carta ao Leitor” e “Sumário” Fotografias: Fotografias de fundo: Paola Barros Delben e NASA;

Seção “Curiosidades” Fotografias:

Fotografia de fundo: Paola Barros Delben;

Conteúdo:

Decreto nº 75.963 de 1975, que promulga o Tratado da Antártica; Matéria publicada pelo site Mundo Educação sobre a geografia da Antártica, de Tiago Dantas; Notícia “cientistas descobrem 91 vulcões debaixo da Antártida” da revista Veja, publicada em 14 de agosto de 2017; Postagem do site lista de curiosidades sobre o dinheiro na Antártica, publicada em 18 de fevereiro de 2017; Notícia Autoridades investigam caso de esfaqueamento em base na Antártida da Revista Galileu, publicada em 7 de novembro de 2018;

Seção “Mapa das Estações” Fotografias:

Fotografia do mapa retirada da Wikipédia;

Conteúdo:

Informações sobre geografia e demografia da Antárticas retiradas da Wikipédia;

Seção “Animais na Antártica” Fotografias:

Fotografia dos pinguins que serve como fundo: Paola Barros-Delben; Fotografia da ossada de baleia: TV Folha; Imagem do Kril: Página da Divisão Antártica do governo Australiano; Ilustrações dos cinco diferentes tipos de pinguins: Enciclopédia Visual da Antártica, desevolvida pelo Instituto Antártico Chileno;

Conteúdo:

Enciclopédia Visual da Antártica, desenvolvida pelo Instituto Antártico Chileno; Notícia “A exploração na Antártica” do jornal Estadão, de 22 de fevereiro de 2019;

Seção “Era Heróica das Expedições Antárticas” Fotografias:

Fotografia de fundo: Paola Barros-Delben; Fotografia de Robert Falcon Scott retirada do site Cool Antarctica; Fotografia de Amundsen retirada do Wikipédia; Fotografia de Ernest Henry Shackleton retirada do site do jornal irlandês independent.ie; Fotografia da bandeira norueguesa hasteada retirada do site Cool Antarctica;

Conteúdo:

Capítulo “Ciências humanas em regiões polares: O diálogo interdisciplinar na Antártica e no Ártico” de Cardoso, Oliveira-Ramos, Freitas, Barros-Delben e Cruz ainda não publicado; Wikipédia “Idade Heróica da Exploração da Antártida”; Matéria “Nas pegadas de Shackleton” escrita por Daniela Silvestre na Revista Extremos, de 27 de março de 2017

Seção “Viagens Espaciais: O que a Antártica tm a ver com isso?” Fotografias: Fotografia de fundo: NASA; Fotografia do homem de traje azul na neve: retirada do site Fresher; Fotografia do astronauta na lua: NASA; Fotografia do traje espacial: NASA; Fotografia do traje utilizado na Antártica: Paola Barros Delben; Montagem do senhor de idade no espaço: retirada do site pleated jeans; Fotografia do interior da nave espacial: retirada do site da NASA;

Conteúdo:

Artigo de Peter Suedfeld, Antarctica and space as psychosocial analogues; Artigo de Palinkas, Johnson e Boster, Social support and depressed mood in isolated and confined environments; Artigo de Suedfeld, Halliwell, Rank e Buckley, Psychosocial aspects of spaceflight and aging; Artigo de Sandal, Leon e Palinkas, Human challenges in polar and space environments;

Seção “Recomendações Culturais” Fotografias:

Fotografia do livro A incrível Viagem de Shackelton: Amazon; Fotografia do livro Paratii - Entre dois polos: Saraiva; Fotografia do livro A Pior Viagem do Mundo: Companhia das Letras; Fotografia do filme Antártica por um ano: AdoroCinema; Fotografia do filme Trópicos Gelados: HBO NOW; Fotografia do podcast Estadão Notícias: Estadão;

Conteúdo:

Daniela Silvestre;



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