Facom News 2017.1

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EDITORIAL

EXPEDIENTE

Fazer essa edição da Facomnews foi uma experiência repleta de desafios. Muitos deles são conhecidos pela maioria das redações: a falta de pautas, de experiência da turma, a correria para cumprir o prazo, o stress para fechar a edição. Mas nossos desafios podem ser resumidos em como se diferenciar das outras edições. Desafio esse que inclusive se encontra na produção desse editorial.

Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia Produto da disciplina de Oficina de Comunicação Escrita do 1º semestre de Jornalismo 2017.1

Parte desse processo de mudança trouxe também uma nova marca para a revista, feita pelo Núcleo de Criação Gráfica da Produtora Júnior. A marca, escolhida democraticamente pela nossa turma, estampa agora a capa dessa edição. A maior parte dos editoriais fala do processo de criação, de apuração. Queríamos fazer diferente. Mas como? Descobrimos então que querer se diferenciar dos outros não devia ser nosso foco. Nosso foco era a descoberta do jornalismo por uma turma de amadores. Crescemos juntos, como profissionais e como pessoas. Apesar das diferenças, estendemos nossas relações para além dos nossos grupos de amigos. Tudo para fechar essa edição. Sabendo que quase tudo já foi feito antes, fomos atrás do novo. Mesmo assim, continuamos desafiados pelo processo de criar um produto jornalístico. Fomos ignorados por entrevistados, sofremos com as correções das reportagens, escrevemos, reescrevemos, editamos. E, finalmente, finalizamos a edição 2017.1 do Facom News.

Reitor da UFBA: João Carlos Salles Diretora da Facom: Suzana Barbosa Professora responsável: Lia Seixas Editoras-chefe: Catarina Lopes e Larissa Costa Editores: Aline Laranjeira (Cotidiano), João Sebadelhe (Infra), Matheus Souza (Facom-faz), Rafaela Dultra (Acadêmico) Repórteres: Adriano Mota, Aline Laranjeira, Annandra Lís, Bianca Carneiro, Bianca Meireles, Carlos Bahia, Danielle Campos, Diego Haase, Dominique Andrade, Erick Barbosa, Flávia Lis, Gisele Oliveira, I’sis Almeida, João Paulo Sebadelhe, Laura Brandão, Luana Gama, Luana Minho, Mateus da Cruz, Matheus Souza, Maria Marta Lima, Mariana Bueno, Pedro Oliveira, Priscilla Dórea, Rafaela Dultra Coordenação de fotografia: Mariana Bueno Diagramadores: Danielle Campos, Erick Barbosa, I’sis Almeida, Matheus Souza Agradecimentos: Cristiane Schwinden (Oficina InDesign), Dudu Assunção (LabFoto), Renato Cerqueira Jr. (foto da turma), Victor Fonseca (monitor voluntário), Brooklyn Atelier (prêmio para ganhador da nova marca), Núcleo de Criação Gráficca da Produtora Jr.

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ÍNDICE INFRAESTRUTURADA? 4----entrevista com suzana barbosa 12---dossiê gestão 18---o caso do elevador

ACADÊMICOA? 22---lá e cá: os processos envolvidos no diálogo entre o ihac e a facom 25---órfãos do audiovisual 31---tcc em foco 34---tudo pela cultura 36---reforma de jornalismo no forno

FACOM-FAZ 40---empreendedorismo faconiano 42---seis na linha

COTIDIANOA? 45---quando as luzes se acendem especial: perfil - marcos palacios -------- 50

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Suzana Barbosa, diretora. Foto: Aline Laranjeira

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“É no dia a dia que a gente vê que esse cargo é administrativo, mas também é político” POR ADRIANO MOTA, CATARINA LOPES, I’SIS ALMEIDA, LARISSA COSTA E PEDRO OLIVEIRA

É o que diz Suzana Barbosa, diretora da Facom, no mês final de sua gestão. Ela relembra os aprendizados que obteve após quatro anos no cargo, junto com seu vice, Fábio Sadao. O trabalho integrado entre diretora e vicediretor, destacado por ambos, foi essencial em seu programa de ações, pensadas no histórico de crescimento da Facom. FA C O M N E W S 2017.1 |

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Diretora e ex vice-diretor deram entrevista a cinco estudantes da revista Facom News na sala da diretoria. A consulta para a diretoria ocorrerá nos dias 30 e 31 de outubro, quando será divulgada a apuração. Suzana Barbosa é candidata à reeleição, em chapa com o professor Leonardo Costa, vice. “Entendo que o que nós construímos nesses 4 anos foi importante e que a gente ainda precisaria assegurar uma continuidade para o que já previmos. Vou colocar meu nome como candidata e saber o que a comunidade nos responderá”, diz. O que representa para você ser a diretora da Facom? Os editais [dos concursos para docentes] nunca falam da questão da gestão que você poderá vir a executar, mas o regimento do estatuto da universidade prevê. Ter chegado à direção da unidade para mim representa

“Ter chegado à direção da unidade para mim representa muito, uma vez que tenho uma trajetória muito ligada à Facom. “

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muito, uma vez que tenho uma trajetória muito ligada à Facom. Isso faz parte de uma escolha, porque eu acredito que essa é uma faculdade com uma função muito importante no panorama nacional. É isso que a gente, ao assumir um cargo desse, tem que ter em mente: que nós assumimos para trabalhar entendendo a unidade acadêmica maior. A representatividade vem daí. De ter o compromisso, acima de tudo, com essa faculdade e desempenhar essa função da melhor maneira possível. Porque o apoio de todos é importante. Eu estou falando de professores, técnicos administrativos e, obviamente, dos estudantes. Vocês chegaram na faculdade com uma estrutura que recebe vocês e isso é fruto de muito trabalho ao longo dos anos. Foi na execução da tarefa que eu posso dizer que saio com muito mais aprendizado. É no dia a dia que a gente vê que esse cargo é administrativo, mas também é político. Quando me inscrevi para ser candidata à direção, o programa foi escrito e pensado em conjunto. É importante ressaltar o trabalho conjunto, porque foi um traço muito forte da nossa campanha. É esse reflexo de uma atividade conjunta que acredito ser um traço da direção. Qual era a intenção inicial de vocês com esse programa? [Sadao] A faculdade alcançou um nível de excelência frente ao panorama nacional que nos coloca entre as mais importantes faculdades de comunicação. O que a gente queria era continuar esse trabalho, não era pensar que a partir da nossa gestão tudo seria diferente. Até porque desconsideraria toda uma trajetória. Eu sei da importância que essa faculdade tem no panorama nacional, então todas as ações que a gente propôs eram justamente para manter o nível de excelência que tem. Não há nada que desconsidere o que a faculdade já é, mas é levando em consideração o que representa.


A Sra. mencionou um trabalho conjunto entre direção, professores, estudantes. Como é esse processo de mobilização? Pode-se dizer que o programa de vocês envolvia como princípio também essa mobilização?

“Desde que cheguei aqui como professora sempre via dois estudantes à frente fazendo tudo. É muito reduzido.” [Suzana] A gente trabalha com a parceria dos colegas. São vários os aspectos da gestão no dia a dia. Quando você fala da coordenação de colegiado, na gestão acadêmica, propriamente dita, junto à chefia de departamento, junto ao colegiado de pós-graduação, aos técnicos administrativos que estão aqui trabalhando diariamente e com vocês estudantes. Eu sei que muitos veem a direção como algo que está acima, que chegar lá é difícil. Acho que nós queríamos sempre ter uma relação de falar diretamente aos estudantes e deixar essa porta sempre aberta, no sentido de trabalhar com essa abertura para um diálogo permanente e de modo transparente também. Às vezes a gente lê, escuta, alguns ruídos dentro da Facom. Quais ruídos? [Suzana] Ruídos de não entendimento do que está sendo dito e de como a

informação chega, quem ouve e quem repassa ela. Todo mundo já brincou de telefone sem fio. Há casos? A sra. pode mencionar? [Suzana] Digo do que eu leio às vezes, alguns casos no Facebook, no nível da universidade e outras questões mais gerais. A representação estudantil tem um papel importantíssimo nisso, porque é a representação de vocês que está nas instâncias, leva o que é interesse dos alunos. Acho que há uma mobilização pequena dos estudantes com seu Centro Acadêmico e isso não é de agora. Desde que cheguei aqui como professora sempre via dois estudantes à frente fazendo tudo. É muito reduzido. Claro, qualquer um pode chegar aqui e trazer sua demanda, seja na direção ou no colegiado ou no departamento, mas todos esses setores fazem a integração disso para que se tenha as melhores respostas de condução do processo, de saber melhor as coisas. Uma preocupação nossa desde o primeiro momento, quando construímos o programa, era a criação de um núcleo de comunicação dentro da Facom. Somos uma faculdade de comunicação, mas tem muito ruído. Não estou falando só a respeito da incompreensão de algumas informações por parte dos estudantes, mas isso também é do nível dos docentes e técnicos administrativos. A gente quer, com a implementação desse núcleo, que a gente, no nosso site, tenha essas informações devidamente colocadas para que todo mundo tenha acesso. No início do semestre que vem, talvez ele já esteja efetivado. Seria uma ouvidoria? [Sadao] Não. A assessoria de comunicação da Facom, que conseguiria ter as informações que partem do colegiado, do departamento e da direção, do CA e das instâncias. Começaria a pensar não só na informação atual, mas também na de registro, que é um problema não só da Facom, mas geral. FA C O M N E W S 2017.1 |

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O que a gente quer é ter condições de ter algum evento no auditório que a gente consiga registrar e disponibilizar. Estamos pensando desde a assessoria interna até em formas de construir uma memória da faculdade, dos projetos que são feitos e da história da faculdade. [Suzana] Com a galeria de todos os diretores desses 30 anos. A comunicação vem desde a escola de biblioteconomia e comunicação, embora o curso de jornalismo tenha começado nos anos 50, junto com filosofia. É esse histórico para a gente compreender a trajetória da faculdade em que a gente estuda. Se a gente se compara com outras unidades da UFBA, podemos nos ver como uma unidade pequena. Mas crescemos bastante. Antes era só jornalismo. Em 96, foi criada a habilitação de produção, que foi um passo muito importante para a Facom. Assim também a pós-graduação, que já tem mais de 20 anos. O site é o lugar onde queremos concentrar as informações da unidade. Esse núcleo de comunicação, para deixar claro, não é uma ouvidoria. Em 2018 irá diminuir o repasse de recursos, mas segundo o relatório de gestão em 2016, a Facom acabou com superávit. Como estamos em relação às contas? [Suzana] A Pró-reitoria de Planejamento [PROPLAN] é quem faz esse controle. Nos últimos anos tem havido contingenciamento no orçamento das universidades. Até 2013, a gente tinha uma situação muito favorável em relação a repasse orçamentário, por conta do REUNI, que foi um programa que fez a expansão das universidades. À área de concentração foi possível a partir dele. A gente tem o valor que chega à universidade, às unidades. Quando assumimos, em setembro de 2013, o prof. Giovandro [Giovandro Ferreira, ex diretor] foi quem geriu o orçamento naquele ano. No governo federal, os repasses acontecem entre março e maio do ano. Cheguei em setembro e 8

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“Não houve repasse [em 2014], mas o que pedíamos era atendido” [sadao] tudo já estava aqui. A unidade precisa receber repasses orçamentários se a administração central os tem. Em 2014 a expectativa era ter o recurso, mas não tivemos repasses orçamentários nesse ano para as unidades. [Sadao] Houve uma mudança de gestão. No período em que o professor Giovandro estava ainda era Dora [Doral Leal] a reitora. Vinha dinheiro para a universidade e ela repassava uma parte para cada unidade. Essas geriam o orçamento. Com a gestão do prof. João [João Carlos Salles], houve uma mudança porque houve diminuição dos recursos. O recurso se concentrou lá e não foi repassado para as unidades. Nós pedíamos para o sistema e lá íamos ver as condições do que era possível para cada unidade. Não vinha mais repasse, mas tinha que pedir no sistema. [Suzana] Em 2014, não houve repasse. No ano de 2015, fizeram várias solicitações no sentido de, se pudesse retomar os repasses, se saber efetivamente com o que se poderia contar. [Sadao] Não houve repasse, mas o que pedíamos era atendido. Com as emendas parlamentares, não foi? [Suzana] Como em 2014 o governo federal começou a fazer cortes e contingenciamento no orçamento, não foi possível esse repasse. Então, as unidades demandavam diante das


Foto: Aline Laranjeira

Fabio Sadao, ex vice-diretor

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suas necessidades para a reitoria e a Pró reitoria de Planejamento. Tem uma parte que já é distribuído e estabelece-se cotas, como papel higiênico. A PROAD [Pró-Reitoria de Administração] faz essa distribuição a partir da nossa demanda. Mas outras coisas que a gente precisa, como um computador, temos que solicitar. Desde que nós assumimos, nós começamos a trabalhar com esse cenário. Em 2015, a reitoria, a partir das solicitações dos dirigentes, retomou os repasses de cotas às unidades, mas em proporções abaixo do que eram em 2013. Isso depende de uma situação de repasse geral, que consta na lei orçamentária geral [LOA], aprovada pelo governo federal. As emendas parlamentares são recursos extra orçamentários, não passam pelo orçamento da unidade. Quando uma unidade da UFBA consegue a atribuição de uma emenda parlamentar, o recurso vem para a PROPLAN e as unidades encaminham o plano para execução daquela emenda. Em 2015 e 2016, contamos com emendas parlamentares que foram atribuídas pelo deputado federal Jean Wyllys, egresso da Facom e amigo pessoal. Ele, embora não sendo deputado da bancada baiana, nos atribuiu uma emenda. No relatório de gestão de 2016, uma das metas para esse ano é a instalação do projeto de Redação de Jornalismo Convergente. O que é exatamente esse projeto? [Suzana] Temos essa coisa da redação convergente já a espera de ser implementada efetivamente, mas isso está previsto com a finalização da obra do CT-INFRA 2008, que está aqui no primeiro andar. Estamos aguardando essa finalização. Deve ocorrer até outubro, novembro. Então conseguiremos outro espaço laboratorial com essa perspectiva de que tenhamos uma redação melhor equipada, por isso chamamos de redação convergente. Inclusive vem de um projeto que eu coordenei, o Laboratório de Jornalismo Convergente. É uma necessidade da área de jornalismo. Então esperamos conseguir, até o final do ano, que essa obra esteja liberada. Para fazermos a implementação efetiva, com um espaço melhor. 10

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[Sadao] O espaço está até bem, não há tantos atrasos. Há alguns reparos que vão ser feitos. Pelas emendas conseguimos uma parte dos macbooks [computadores], não tudo que a gente queria. A ideia é implementar uma sala com pelo menos um número - um pouco maior - de macbooks disponíveis. Esse laboratório de redação convergente tenta se adequar à nova demanda da reforma curricular. Caem as oficinas e entram disciplinas de redações. Estariam nesse laboratório, para atender uma dinâmica de grupo para outra ideia. São pelo menos 6 professores para lidar com determinados produtos. Da mesma forma, ele está tentando contemplar a possível mudança a ser feita no curso de produção cultural, em que estão pensando em ateliês. Então ele também atenderia à demanda dos ateliês. Essa é a ideia para esse laboratório. A reeleição guarda uma previsibilidade maior. Quais os novos horizontes que a reeleição abre. O que deixou de fazer? [Suzana] Como dissemos, nós fizemos um programa prevendo uma continuidade diante do que tinha no histórico da unidade e do que a gente precisava. A gente nunca consegue executar tudo no ano. Se você me pergunta se, de quatro anos, ficou muito por fazer, ficou. O que queríamos era uma atuação conjunta entre diretor e vice. Nós conseguimos uma atuação muito presente e conjunta no dia a dia. Entendo que o que nós construímos nesses quatro anos foi importante e que a gente ainda precisaria assegurar uma continuidade para o que já previmos e para as [medidas] que não puderam ser efetivamente implementadas. Tem a atualização curricular, o segundo ciclo de cinema e audiovisual, o aumento de vagas docentes, vaga para técnico administrativo, que só conseguimos aumentar em uma - porque não depende só da nossa vontade, depende do governo federal. No caso da unidade, mantivemos a sua infraestrutura para acolher da melhor maneira possível os nossos alunos para efetivação das atividades na sala de aula. Vou colocar meu nome como candidata e saber o que a comunidade nos responderá.


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GESTÃO No último dia 15 de setembro chegou ao fim o mandato de Suzana Barbosa, nomeada diretora pró tempore até o dia 30 de novembro no Diário Oficial pelo reitor da UFBA. A Facom News fez um balanço de sua gestão. Dentre as principais metas dos relatórios de gestão, disponíveis no portal da Transparência UFBA, estiveram: modernização dos laboratórios, a criação do Núcleo de Comunicação e Extensão, a reformulação do site da Facom e inauguração da obra do CT-INFRA. Mudanças na estrutura aconteceram, como a inauguração do anexo (onde estão o LabFoto e o LabRádio) e a modernização dos equipamentos. A falta de elevadores ainda está sem solução. O corpo de professores foi expandido de 32 para 38. POR ADRIANO MOTA, ERICK BARBOSA E LUANA MINHO

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.Modernização dos laboratórios .Criação do Núcleo de Comunicação e Extensão .Reformulação do novo site da Facom .CT-INFRA

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Modernização dos laboratórios A diretoria reconhece a importância dos laboratórios para o bom funcionamento da Facom. A melhoria dos espaços foi um desejo constante da gestão. Em 2013, ano que Suzana entrou no cargo, as reformas e a aparelhagem dos laboratórios já apareciam nos relatórios de gestão da faculdade. Apesar disso, o planejamento só saiu do papel ano passado. Para o LabAV foram comprados equipamentos novos. Essa compra só foi possível graças à emenda parlamentar proposta de Jean Wyllys e conquistada pela Facom. Cerca de R$393 mil foram concedidos à faculdade. Metade desse valor foi destinado à compra de equipamentos do laboratório. O LabAV também passou por adequações dos espaços e melhoria de mobílias, bem como a obtenção das licenças dos programas de edição. Mesmo com o ganho de qualidade nos equipamentos, a falta de professores e técnicos ainda compromete o funcionamento ideal do LabAV. “Trabalhamos sempre com um déficit”, afirma o professor Leonardo Reis, coordenador do laboratório, que foi enfático ao isentar de culpa a atual gestão. “Não é uma dificuldade dessa gestão ou de outra gestão. É um problema de toda a UFBA”. A principal ação realizada na Rádio Facom foi a compra de equipamentos e a transferência para o terceiro andar da faculdade em 2015. Entre os pedidos do professor Maurício Tavares, coordenador da rádio, estão a disponibilização de um monitor integral para o laboratório, instalação do Sonex [esponja de tratamento acústico] e os cabos de ligação entre a rádio e a varandinha. Maurício ressalta que algumas reivindicações estão pendentes há muitos anos. O relatório de gestão do ano passado afirma que, apesar dos esforços realizados, ainda não se implementou o tratamento acústico.“No modo geral, ela tem sido uma boa síndica”, defendeu ele, apesar das pendências.

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“TRABALHAMOS SEMPRE COM UM DÉFICIT[..] NÃO É UMA DIFICULDADE DESSA OU DE OUTRA GESTÃO. É UM PROBLEMA DE TODA A UFBA.” [LEONARDO REIS]


“NO BRAÇO DA EXTENSÃO, O NÚCLEO TEM COMO OBJETIVO FUNCIONAR COMO UMA ESPÉCIE DE CENTRO OPERACIONAL QUE VAI ASSESSORAR TODOS OS PROJETOS DE EXTENSÃO.” [NUNO MANNA]

O Núcleo de Comunicação e Extensão está em fase final de gestação. Projeto iniciado em setembro de 2015 e aprovado pela congregação da unidade em abril deste ano, o núcleo será o principal responsável por elaborar e executar as estratégias de comunicação da Facom, divulgando a faculdade tanto para o público interno quanto ao externo, agindo como divulgador de eventos e notícias relacionadas à unidade. O núcleo gerenciará as redes sociais da unidade, atuando como um órgão de assessoria. O projeto inicial sofreu alterações ao longo do ano passado, sendo que a sua versão final foi aprovada na congregação em abril de 2017. A principal mudança é que as atividades do núcleo serão estendidas para além do assessoramento da comunicação da faculdade. “No braço da extensão, o núcleo tem como objetivo funcionar como uma espécie de centro operacional que vai assessorar todos os projetos de extensão”, afirma Nuno Manna, coordenador do projeto. Apesar de aprovado na congregação, o projeto ainda está em fase de estruturação, tanto em relação ao espaço físico que ocupará dentro da unidade, quanto aos equipamentos a serem utilizados. O núcleo conta com dois docentes coordenadores, Nuno e Carla Risso, além de um bolsista, que iniciará no núcleo neste mês. Está à espera da contratação de um servidor técnicoadministrativo, cuja chegada está prevista via concurso da UFBA, que acontece no final do mês.

Criação do Núcleo de Comunicação e Extensão F A C O M N E W S 2 0 1 7 . 1 | 15


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Reformulação do site da Facom O lançamento da reformulação do site deve ser feito na comemoração dos 30 anos da unidade, mas não acontecerá até o final da atual gestão. O site será outra atribuição do novo Núcleo de Comunicação e Extensão, assumindo a tarefa que anteriormente era delegada ao LabMídia. “Esperamos que o site fortaleça a imagem da faculdade e funcione como interface da faculdade com a comunidade”, conta Nuno. O site passará por uma remodelagem completa no aspecto visual e de conteúdo. Conterá informações sobre a história da faculdade e atuará na produção de notícias sobre a Facom com mais constância do que atualmente. Além disso, deve atuar como um repositório das produções acadêmicas da faculdade, onde materiais como monografias, produtos, estarão concentrados e poderão ser encontrados em um único espaço, o que não acontece agora. O site também deverá tornar públicas as atas de reuniões e das instâncias da unidade, algo que não acontece desde 2014. É um movimento que cumpre uma das principais promessas da atual gestão, tornar a unidade mais transparente para o seu público.

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“ESPERAMOS QUE O SITE FORTALEÇA A IMAGEM DA FACULDADE E FUNCIONE COMO INTERFACE DA FACULDADE COM A COMUNIDADE.” [NUNO MANNA]


PARA SER FINALIZADO, O PROJETO DEPENDE APENAS DE UMA LIBERAÇÃO DE RECURSO PARA ACABAMENTO

Uma meta que permanecerá inconclusa, ao final da gestão, é a obra CT-INFRA 2008. A obra, fruto do encaminhamento de recursos da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), visa fortalecer a infra-estrutura e os serviços de apoio à pesquisa técnico-científica, e terá diferentes aplicações na Facom. Os projetos CT-Infra 2009 e 2010, por exemplo, ainda buscam viabilização junto à Pró-Reitoria de Pesquisa, Criação e Inovação. Se pretende reformar o LabAV e implantar o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Democracia Digital (INCT-DD), centro nacional em pesquisa sobre democracia digital, governo eletrônico e comunicação política online. Coordenado pelos professores Wilson Gomes e Othon Jambeiro, o INCT-DD contará com 79 pesquisadores, dos quais 44 brasileiros e 35 estrangeiros. Já a obra CT-Infra 2008, presente dentre as perspectivas para o exercício do mandato em 2017, não foi inaugurada. O projeto aguarda complementação de recursos, e marca uma lacuna significativa na administração que chega ao fim. Para ser finalizado, o projeto depende apenas de uma liberação de recurso para acabamento.

CT-INFRA

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O CASO DO

ELEVADOR DA FACOM

O LOCAL DO FOSSO ESTÁ REBOCADO, APENAS COM OS BOTÕES POR ALINE LARANJEIRA E MATEUS DA CRUZ

Local do fosso do elevador 18

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Foto: Aline Laranjeira F A C O M N E W S 2 0 1 7 . 1 | 19


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Sete anos desde a compra dos elevadores. Hoje parte dos equipamentos se encontra deteriorada no prédio da Facom. O local onde seriam montados está rebocado, apenas com os botões construídos. A SUMAI, diretoria e reitoria, responsáveis pela obra, procuram resolver essa questão. A última ação referente a este caso foi o Ofício nº 53/2017 enviado à diretoria da unidade, no dia 18 de agosto deste ano, pelo Superintendente da SUMAI, Fábio Velame: “Estamos elaborando o Termo de Referência para a licitação de adequação do poço, com intervenções de obra civis, aquisição e complementação de peças e instalação de elevador”. O Ofício foi resultado da denúncia realizada pelo Centro Acadêmico sobre o problema de mobilidade na FACOM, no último Conselho Universitário da UFBA [CONSUNI], realizado no dia 15 de agosto. O CA e a direção da Facom, solicitaram uma posição da universidade referente ao elevador da Facom. “É algo específico daqui? Não. Tem outras unidades da UFBA com problemas. Algumas têm elevador, e ele não funciona por outros problemas técnicos. Temos trabalhado em conjunto com a reitoria e com a Sumai, para que a gente busque resolver”, esclarece Suzana Barbosa, diretora da Facom. A Sumai é o setor responsável pela abertura do edital e classificação dos licitantes de melhor oferta. “Levamos em consideração a empresa que cobrar mais barato, não a sua

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qualidade”, disse João Lacerda, chefe do setor de elevadores da Sumai. Em entrevista ao telejornal 360 graus, Fábio Velame explica que a responsabilidade fiscal é levada em consideração. “Só podemos licitar no momento em que possuímos a dotação orçamentária, ou seja, quando os recursos forem liberados pelo MEC”. A previsão de abertura desta licitação é


em 2017.2, para início das ações em março de 2018, quando da abertura do orçamento de capital da LOA-2018. Há nove anos, a empresa Tyssenkrupp venceu o pregão 90/2008 que determinava a instalação de dois elevadores na faculdade. Os elevadores faconianos foram comprados

em 2010. Ao longo de quase uma década, mudanças ocorreram no prédio quanto à questão da acessibilidade. Foram construídos banheiros para deficientes físicos e a rampa de acesso à unidade. Durante a vigência do contrato, a Tyssenkrupp não pôde realizar a instalação dos elevadores porque sua função não abrangia a adequação do espaço. Com o prazo de equipagem encerrado, uma nova licitação foi requerida pela Superintendência de Meio Ambiente e Infraestrutura [SUMAI], para que a área seja reformada, novos equipamentos sejam adquiridos e o elevador possa ser instalado. A Lei federal nº 13.146/2015 obriga o Estado, a família, a comunidade escolar e a sociedade viabilizar educação de qualidade à pessoa com deficiência. Uma sala foi construída no térreo a fim de possibilitar que Matheus Rocha, aluno cadeirante, assistisse às aulas. Porém, desde que entrou, não pôde participar das matérias de Oficina. Segundo o presidente do C.A., Roberto Júnior, a direção resolveu o problema de forma paliativa. Matheus poderá se matricular, no próximo semestre - 2017.2 - , na primeira disciplina de Oficina, a Escrita, que será ministrada por Nuno Manna no prédio da Superintendência de Tecnologia da Informação [STI], próximo ao Instituto de Matemática.

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LÁ E CÁ:

O S PR OC E SSOS E NV OLV ID O S N O D IÁL O G O E NT R E O I HA C E A F A CO M POR I’SIS ALMEIDA E LARISSA COSTA Os modelos pedagógicos dos Cursos de Progressão Linear [CPL] e dos Bacharelados Interdisciplinares não conversam entre si. O processo de matrícula e distribuição dos estudantes revela a diferença entre a progressão linear e os bacharelados interdisciplinares. Em pesquisa feita para esta reportagem, 30 alunos de todos os BI’s revelaram que já cursaram ou pretendem cursar disciplinas na Facom. A demanda é maior nas disciplinas da área de concentração em cinema e audiovisual: Roteiro [COM326], Direção [COM328], Oficina de Planejamento e Produção [COMA84] e Edição e Montagem [COM327]. Em 2016, foi estabelecida a resolução 03/2016 do Conselho Acadêmico de Ensino da UFBA, que reserva 10% das vagas em componentes curriculares sem pré-requisitos aos alunos dos BI’s. Essa ainda não entrou em vigor devido a problemas nas matrículas do semestre de 2017.1. Caso a resolução fosse usada, os componentes que teriam a reserva de vagas são Teorias da Comunicação, Teorias do Jornalismo e Oficina de Comunicação Escrita. A reserva oficial de vagas para os alunos de todos os BI’s é prevista pelo edital de egressos. Nele, constam 6 vagas por semestre. Na relação de concorrência de 2017.1, mostra-se que houve uma procura de 38 alunos para as 3 vagas residuais. O projeto dos bacharelados requisita que a carga horária dos cursos seja integrada a outras áreas do conhecimento.

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O BI em Humanidades prevê cumprimento em disciplinas de natureza científica e artística. O BI em artes, científica e humanística; o de Ciência e Tecnologia, humanística e artística e o de Saúde em disciplinas científica, humanística e artística. Para o IHAC, os componentes ofertados à comunidade acadêmica pela Facom contam como natureza humanística, pois os códigos dos institutos - no caso da Facom, COM - são os utilizados nessa classificação. Nos casos de reingresso há dois critérios para desempate: o primeiro é o aluno ter cursado disciplinas obrigatórias do curso desejado. O segundo, ter cursado disciplinas optativas. A consequência é então a demanda dos alunos dos BIs pelas disciplinas da Facom. Genaro Costa, vice-diretor e coordenador do BI em Ciência e Tecnologia Noturno, atentou-se a essa questão. Genaro está constituindo um novo modelo de acompanhamento interno, que avalia o número de alunos inscritos em disciplinas de todos os departamentos por semestre e antecipa o apuramento de interesse nos bacharelados por disciplinas de outros institutos. Está em fase de construção. Segundo Leonardo Reis, professor da Área de Concentração em Cinema e Audiovisual e coordenador do LabAv, não há entraves na relação entre os institutos. “Não se pode imaginar que a gente vai trabalhar até resolver os problemas e que os problemas não voltarão. Não é assim que funciona”.


Para chegar a esses resultados uma pesquisa presencial e via Google Forms foi realizada com 30 alunos dos BIs

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Para Leonardo, o fato do curso de Cinema e Audiovisual ser novo, e chegar em conjunto com a proposta dos BIs, faz com que a relação entre as instituições seja um processo naturalmente complexo. A natureza desse processo é demonstrado no caso dos próprios alunos da AC de Cinema e Audiovisual. Mesmo que o curso seja realizado na Facom, os alunos permanecem como pertencentes ao IHAC. Em entrevista coletiva para a Facom News, Suzana Barbosa declarou que o curso de cinema deve se tornar um CPL. Os Bacharelados Interdisciplinares alocados no IHAC surgiram através do projeto apresentado à universidade com uma nova proposta de graduação, baseado em um regime de ciclos e módulo. De acordo com o artigo 5º da Resolução 2/2008 do CONSEPE, o novo regime de formação estrutura-se em 2 ciclos. O primeiro propicia uma formação geral; o segundo, uma especialização.

leonardo reis

Diego Haase e Flávia Ferreira: ex-alunos do BI em Artes com concentração em Cinema e Audiovisual, agora calouros da Facom

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órfãos do audiovisual

FORMADOS NO BI SE SENTEM SEM RUMO NA FACOM POR DIEGO HAASE Estudantes graduados no bacharelado interdisciplinar (BI) em Artes com concentração em Cinema e Audiovisual voltam à condição de calouros em Jornalismo ou Produção Cultural. Não há graduação linear em Cinema e audiovisual, que ainda hoje permanece como uma área de concentração de apenas três semestres.

Umbelino Brasil, professor da Área de Concentração em Cinema e Audiovisual

Foto: Dieoo Haase F A C O M N E W S 2 0 1 7 . 1 | 25


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Há 10 anos, o curso foi pensado para ter dois ciclos. “A ideia era privilegiar a realização de filmes”, explica o professor Umbelino Brasil, que assumiu o projeto em 2007. Por isso, se pensou em um segundo ciclo: “O que observamos foi que os cursos de cinema, ainda hoje, são cursos generalizantes. O indivíduo sai bacharel em arte e audiovisual e tem uma formação ampla. Ele não tem uma função específica que o cinema exige. Não sai diretor, nem roteirista, nem técnico de som. Pensamos que o segundo ciclo poderia privilegiar essas funções específicas”. Hoje, ao se formarem no B.I. em Artes, pela Área de Concentração em Cinema e Audiovisual, os graduados possuem duas opções: uma é ingressar no mestrado, a outra é prosseguir num CPL (Curso de Progressão Linear) dependendo do coeficiente de rendimento. Sem a progressão acadêmica desejada, Luan Gusmão, formado na área de concentração em cinema e audiovisual, cursou Letras para entender melhor sobre roteiro. Ele não se adaptou ao novo curso e acabou abandonando o semestre. Luan afirma que o BI foi uma experiência muito importante para ele, mas que agora se sente perdido na vida acadêmica. “A gente precisa de uma especialização que dê continuidade à formação da área de cinema do BI de Artes para o aluno poder emergir no mercado audiovisual baiano”.

A procura pela Facom Os estudantes formados nesta área entendem que os cursos de jornalismo e produção cultural se aproximam do campo acadêmico desejado. “Após concluir a área de concentração em Cinema e Audiovisual, o desejo era prosseguir

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estudando estes conteúdos em um CPL e ter uma pós-graduação específica em cinema se tornou ainda maior. Senti-me frustrado, em parte, por não ter essa opção na UFBA, de modo que tive optar pelo curso de Comunicação – Produção Cultural para continuar estudando algo que tenha ligações próximas com o universo artístico”, afirma Uri Menezes, há um ano na Facom. Para I’sis Almeida, no primeiro semestre de jornalismo após concluir o BI de Artes, ter a possibilidade de um CPL de Cinema e Audiovisual seria sem dúvida uma opção que a auxiliaria a superar o dilema para escolha de um novo curso. Acabou optando por jornalismo, mas depois de cogitar estudos de gênero e até gastronomia. Para ela, estudar jornalismo tem sido desestimulador em dois sentidos: primeiro, pela própria “estruturação do curso fechada para a interdisciplinaridade”; segundo, pelo perfil dos estudantes de jornalismo. “A maioria dos alunos vem de grandes escolas do ensino médio e estão mais fechados para as questões sociais”, afirma.

Dois ciclos? A universidade nunca definiu o que seria um curso em dois ciclos. Há uma regulamentação para os CPL’s e os bacharelados interdisciplinares. “O conselho acadêmico precisa dizer como se daria esse funcionamento. Essa é uma situação não resolvida”, sugere Umbelino. Umbelino observa que se trata de um curso compartilhado: “O aluno ingressa no BI de Artes e é aluno do IHAC [Instituto de Humanidades Artes e Ciências Milton Santos]. Ele não é aluno da Faculdade de Comunicação. A Facom cede sua infraestrutura, seus professores e oferta a área


de concentração. No início, se imaginava que o aluno, depois do terceiro semestre, seria transferido para a Facom, mas na prática isso é impossível”. Ao ingressar na universidade é como se você tivesse um registro de nascimento, sua matrícula. “O Ministério da Educação não admite que você tenha dois registros dentro da faculdade.” Os alunos da área de cinema são gerenciados pelo colegiado de artes e não pelo colegiado de comunicação. “Na prática meio que ficou que ele está sem pai nem mãe. As unidades não se aglutinam, são isoladas”.

Corpo docente No início da implantação o curso de cinema tinha apenas quatro professores. Hoje, em 2017, são nove, existe corpo docente. O LabAV foi o laboratório com mais recursos no semestre passado (ver reportagem Dossiê Gestão). “Somente agora tem um número razoável

de professores que pode assumir as disciplinas obrigatórias”, explica Umbelino. Desde a primeira turma que se formou na área de concentração em cinema e audiovisual em 2010, 135 alunos conseguiram se diplomar até hoje.“A sensação que passa é que o aluno fica frustrado. Ele queria algo mais, uma complementação. O projeto foi aprovado pelo conselho e está sendo reformulado. Falta colocar na mesa e enviar. Eu penso que o IHAC e a FACOM são um peso duplo. Os diretores dessas unidades deveriam se unir para resolver o ajuste político. Nós queremos resolver”, defende Umbelino. Luan acredita que a UFBA tem todas as condições de ser a instituição que melhore as condições do cinema baiano. Ele afirma que seu desejo é estudar cinema aqui em Salvador; o cinema como forma de arte e não jornalismo ou letras. “É necessário que os estudantes pressionem as autoridades para regulamentar o curso de cinema”, conclui.

os diretores dessas unidades deveriam se unir para resolver o ajuste político. nós queremos resolver. umbelino brasil

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Foto: Coletivo Docicional

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Estudantes da área de Concentração de cinema da UFBA do ano de 2015 F A C O M N E W S 2 0 1 7 . 1 | 29


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Foto: Dominique Andrade 30

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Camila Fiuza, estudante de jornalismo


tcc em foco

RADIOJORNALISMO FOI O TEMA MAIS FREQUENTE NO SEMESTRE PASSADO POR DOMINIQUE ANDRADE E RAFAELA DULTRA Radiojornalismo é o tema mais frequente entre os TCC’s produzidos nesse semestre. O assunto está presente em 11% dos trabalhos, seguido de jornalismo literário, com 7%. Dos 38 alunos que estão para se formar em 2017.1, 45% responderam a uma sondagem que questiona sobre o processo de produção de TCC, quanto a tema, modelo de projeto escolhido, relação entre o tema e aspectos pessoais, e dificuldades na elaboração do projeto. Quanto aos modelos preferidos, 59% optaram por produto, enquanto 41% por monografia.

A nuvem de tags abaixo foi gerada com todas as três palavras chave de cada trabalho apresentado. O tema “rádio”, destaque nos Trabalhos de Conclusão de Curso, foi abordado através de diferentes vertentes: radiodifusão pública, rádio escolar e programas especiais. A estudante de jornalismo Camila Fiuza, atual integrante da Rádio Facom, entrou na faculdade querendo trabalhar na área.

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“Ingressei na Facom já pensando na rádio. Ministrei uma oficina para calouros e percebi que muitos gostam e têm feeling para o rádio”, comenta. Dos TCC’s referentes ao assunto, 75% são produtos e 25% monografias. Apesar do interesse dos estudantes, a Faculdade de Comunicação não oferece uma optativa especializada em jornalismo literário. O professor Nuno Manna, doutor em Comunicação Social e colaborador da revista piauí, não se surpreende com o resultado da pesquisa: “Num cenário de esgotamento das formas tradicionais do jornalismo noticioso, o jornalismo literário é uma forma interessante de dar espaço para a invenção, a criatividade e a autenticidade de escrita, que é uma coisa que cada vez mais o jornalismo industrial perde de vista”. Dentre os trabalhos que versam sobre o tema, 66% são produtos e 33% são monografias. O tema escolhido para pesquisa está relacionado diretamente às vivências dos alunos. A estudante Rayssa Guedes é um exemplo de como o TCC pode ser influenciado por fatores ligados à personalidade. “Sou negra e moro na periferia. Estas são minhas origens e quase todas as minhas iniciativas são em torno disso. Sou uma pessoa política, independente de movimentos”. A maioria dos entrevistados acredita que é incoerente fazer um trabalho de conclusão de curso desvinculado das histórias individuais. “Acredito que não vale a pena um TCC que não irá fazer parte de sua vida.”, diz Larissa Lima, que é youtuber e pesquisa sobre marketing digital.

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Alguns dos obstáculos citados na elaboração dos projetos foram gestão de tempo, bagagem bibliográfica, planejamento e organização de ideias. Apesar dos estudantes considerarem a produção trabalhosa, Fabiana Guia defende que o TCC proporciona tanto o envolvimento do aluno no campo da pesquisa científica quanto o retorno do seu trabalho para o campo de atuação e para a sociedade.

Produto Quanto ao modelo de TCC, há preferência na construção de produtos em detrimento das monografias. Dos 17 entrevistados, 10 fizeram essa escolha. “Escolhi fazer um produto porque tenho mais afinidade com a prática jornalística. Acho que facilita o contato das pessoas de fora da academia com o que se produz aqui.” – explica Laís Matos. A estudante, por exemplo, sempre se incomodou com o fato do jornalismo tratar o suicídio como tabu. Em seu livro-reportagem, Laís conta “cinco histórias de pessoas que perderam algum ente querido por causa do suicídio e como elas lidam com o luto e a dor da saudade”. A carência de especificidade quanto aos prérequisitos de produção dos TCC`s gera diversidade tanto de temas quanto de modelos de trabalho, o que dificulta a análise desses pela banca avaliadora. Para o professor de Políticas de Comunicação e Cultura José Severino, “o que precisamos é ter normas mais definidas”.


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TUDO PELA CULTURA

DUPLA FORMAÇÃO PARA SER JORNALISTA CULTURAL OU ASSESSOR DE IMPRENSA POR GISELE OLIVEIRA E LAURA BRANDÃO O motivo mais frequente para os estudantes que buscam dupla formação é o desejo de aprofundar os conhecimentos sobre cultura. Há 6 anos, a cada semestre, em média, quatro alunos realizam a segunda habilitação, com exceção de 2015, quando só um estudante fez dupla formação. Entre os 30 contatados, 40% trabalham ou trabalharam no ramo de cultura. Os entrevistados relatam que a escolha pela segunda habilitação estava relacionada ao fato de almejarem seguir carreira como jornalistas culturais ou assessores de imprensa. Raulino Júnior é um desses estudantes. Ele afirma que a escolha por produção cultural após jornalismo o auxiliou a potencializar suas habilidades jornalísticas no ramo de cultura. “O curso de Produção em Comunicação e Cultura dá uma visão muito ampla do universo cultural, além de trazer conhecimentos sobre políticas culturais e legislação. Então, para um jornalista que gosta de cobrir cultura, acho fundamental ingressar no curso de Produção”.

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Já Adriana Santana, produtora que optou por jornalismo, também para se aperfeiçoar no ramo de jornalismo cultural, acredita que a nova habilitação não lhe oferecia tantas vantagens. O conhecimento prático adquirido nos estágios para ela já era significativo para exercer a profissão de jornalista. “Percebi que o que eu tinha aprendido com minhas experiências de estágio já eram significativas. Eu não precisava fazer um outro curso para ter essa ‘validação’, especialmente porque nosso campo de trabalho é muito fluido, ou seja, uma formação em Comunicação [ainda que em Produção Cultural] já era suficiente para ingressar em outros campos de trabalho”. Um aprofundamento da bagagem cultural não é a única razão que leva os recémformados a adiarem a entrada no mercado de trabalho. Os motivos vão desde a crise no setor ao sonho de se formar como jornalista ou produtor. Caio Cruz, estudante já formado nas duas habilitações, declara: “Estamos vivendo em um momento difícil em termos de


Foto: Xando Pereira - Ag. A TARDE

mercado. Ter duas formações não necessariamente está garantindo vagas de emprego. Fazer jornalismo não abriu todas as portas do mundo, mas nos dá possibilidades mais amplas”. Marcos Casé, editorcoordenador do Caderno 2 de A Tarde, corrobora com este pensamento. O fato de o jornalista ser formado também em produção cultural não faz diferença na hora de contratar: “Não faz para mim. Texto, disposição para o trabalho e gostar de cultura são fatores mais importantes”.

Já Rebeca Menezes, co-editora do site Bahia Notícias, acredita que um segundo diploma pode fazer diferença na contratação dependendo de como o candidato vai apresentar esse diferencial na entrevista. “Buscar uma nova habilitação sempre mostra que a pessoa continua buscando novos conhecimentos, mas isso não é garantia de que vai ajudar em um processo seletivo. Se você chega a uma entrevista e diz que só escolheu Jornalismo porque Produção Cultural não dá dinheiro ou porque não estava encontrando trabalho, isso diminui bastante as suas chances. Esse discurso vai sugerir que você só está trabalhando com uma nova profissão por falta de opção.

Foto: Cláudia Cardozo

Marcos Casé, editor-coordenador do Caderno 2 de A Tarde

Rebeca Menezes, co-editora do site Bahia Notícias F A C O M N E W S 2 0 1 7 . 1 | 35


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REFORMA DE JORNALISMO NO FORNO

DENTRE AS NOVIDADES, REDAÇÕES INTEGRADAS, JORNALISMO ESPECIALIZADO E ESTÁGIO OBRIGATÓRIO POR ANNANDRA LIS E LUANA GAMA O Núcleo Docente Estruturante [NDE] apresentou, no início de agosto, uma proposta para atualizar a grade do curso de Jornalismo. Com a reformulação, as oficinas devem passar a seis módulos com o nome Redação Integrada, contendo três professores, sendo um coordenador. A reestruturação do fluxograma visa se adequar às Diretrizes Nacionais Curriculares Nacionais [DCN] para os cursos de Jornalismo aprovada em fevereiro de 2013 pelo Ministério da Educação. Há expectativa de que a implementação ocorra no semestre 2018.2, após as ementas e o projeto pedagógico serem finalizados. Este projeto responde à demanda das mudanças com a revolução digital: integra meios, técnicas, linguagens e produção. Carla Risso, professora e coordenadora do colegiado, cita uma vantagem da nova metodologia: “O aluno terá suporte para trabalhar em vários meios”. Carla ressalta que, na elaboração das atividades, os alunos sentem falta do apoio de áreas como fotografia e edição audiovisual. A Redação Integrada alcançará maior autonomia frente ao surgimento de novas mídias, já que não estabelece vínculos com nenhuma em específico. Dentre as novidades estão as disciplinas de História do Jornalismo, pedido escrito também no mural da reforma; Gestão dos Processos Jornalísticos, com foco no empreendedorismo, sugestão das DCNs de Jornalismo; Jornalismo Especializado, demanda reprimida dos estudantes; e Seminários Avançados em Jornalismo Especializado, com objetivo de promover palestras com profissionais de cada ramo. 36

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A matéria sobre dupla formação desta edição da Facom News mostra que o jornalismo cultural tem sido motivo para se fazer o curso de Jornalismo depois de ter se formado em Produção.

Estágio obrigatório O estágio supervisionado passará a ser obrigatório, com carga horária mínima de 200 horas. O estágio poderá ser realizado em instituições públicas ou privadas. Estudantes, como Marianna Nascymento do sétimo semestre, que estagia no Correio*, reiteram a validade do estágio frente aos descompassos entre teoria e prática: “Em seis meses trabalhando em uma redação aprendi como o mercado funciona, me adaptei às rotinas produtivas como deadline, horário de produção e reunião de pauta. Muito além do que a FACOM teoriza. É na prática que descobrimos a graça e as dores da profissão”.

É NA PRÁTICA QUE DESCOBRIMOS A GRAÇA E AS DORES DA PROFISSÃO. Marianna Nascymento


Foto: NDE

Estudantes de jornalismo durante apresentação da nova grade curricular

Atualmente, o estágio pode ser feito a partir do 3º semestre. “O estágio supervisionado é uma adequação que tem que ser feita, mas em relação aos eixos que são requeridos pelo curso, não estamos distantes do que o MEC exige”, advoga Suzana Barbosa, que além de diretora da Facom é professora de jornalismo e membro do NDE. O curso de Jornalismo manteve as 5 estrelas na avaliação Guia do Estudante [GE/Editora Abril] na última avaliação de cursos superiores no país. O estágio e atividades complementares não podem exceder 20% do valor total da carga horária do curso, 3022 horas, 70 a mais do que hoje, com 2952 horas.

Baixa Participação A baixa participação dos estudantes e do Centro Acadêmico dificulta o processo. De acordo com as atas, o C.A só esteve presente em três reuniões do NDE de Jornalismo em

2016 e uma este ano. Segundo Roberto Júnior, coordenador administrativo da atual gestão [CulturAção], nenhum estudante procurou a representação estudantil. No máximo, cinco estudantes de jornalismo responderam à enquete enviada por email, divulgada no dia de apresentação da grade ao alunos. “Pedimos sugestões em sala e pela internet. Não temos como adivinhar o que eles querem”, justifica. A CulturAção pretende enviar, nesta semana, formulário por e-mail. Mateus Costa, da gestão anterior [Baobá], conta que foi traçado um plano com três fases para incluir os estudantes no processo. A primeira foi uma reunião em que a nova diretriz do MEC foi lida para um auditório praticamente vazio. A segunda foi a criação de um mural no qual os alunos escreveram propostas e reclamações, fase com mais resultado. A terceira fase não chegou a ser executada. “Seria como o mural de sugestões, porém, digital”, explica. F A C O M N E W S 2 0 1 7 . 1 | 37


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Há quase um mês, Hilza Soares, aluna de jornalismo, perguntou no grupo ‘Faconianos’ do Facebook quais eram os maiores problemas da Facom. As faltas de disciplinas para jornalismo segmentado - esportivo, cultural e econômico, por exemplo – se repetiu e teve repercussão. “É essencial que os alunos mandem sugestões para o Centro Acadêmico. E que estas cheguem ao NDE, para que possamos analisar, discutir e apresentar as alterações necessárias”, defende Suzana Barbosa, diretora da Facom e membro do NDE de Jornalismo. A dificuldade em oferecer essas disciplinas resulta da falta de professores para ensinar as matérias que o departamento oferece. A carga horária semanal é de 40 horas, divididas em sala de aula, atividades externas, pesquisa e extensão. Muitos docentes já estão com a carga preenchida, o que dificulta a oferta de novas disciplinas. O professor Fábio Sadao, no dia da apresentação para os estudantes no auditório, esclareceu que a oferta de optativas é decisão dos professores. Recentemente, a faculdade fez concurso para sete novas vagas, dentre as quais uma focada em jornalismo. Com aprovação da PEC 55, que limita os gastos públicos em educação e saúde, possivelmente não haverá novas contratações. A nova grade deve começar a valer em 2018.2. Depois de aprovada no Departamento de Comunicação segue para aprovação na Congregação. O projeto pedagógico vai para o Pró-Reitor de Ensino de Graduação, que encaminha à SUPAC, para parecer técnico. Em seguida, vai para a Câmara de Ensino de Graduação, para apreciação e julgamento do mérito. Esse processo deve durar pelo menos três meses.

ENTENDA A REFORMA 38

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DE JORNALISMO

na tabela ao lado

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EMPREENDEDORISMO FACONIANO

OS CONSELHOS DOS ALUNOS DA FACOM QUE ATUAM NO MERCADO POR CONTA PRÓPRIA POR CATARINA LOPES E JOÃO SEBADELHE O desejo de ter autonomia e a oportunidade de trabalhar com o que gosta são motivos que contaram na decisão dos estudantes da Facom de abrir o próprio negócio. A união entre a teoria estudada em sala e o interesse em mercados de nicho construíram sites de referência como Lettera e o Cinesia Geek, ajudaram Caio Messias a fundar seu canal no YouTube e incentivaram sete estudantes a criar o Paredão da Facom. No entanto, esses empreendedores ressaltam o desafio de seguir por iniciativa própria. Estudante do primeiro semestre de produção, Caio Messias é Youtuber, com cerca de 78.700 inscritos em seu canal, e é editor de vídeos. Para as pessoas que desejam seguir carreira na plataforma digital, Caio aconselha: “Boa sorte. É uma área muito complicada, cheia de inconstâncias e incertezas. Quando dá certo traz muitos frutos, claro, mas não é o meio mais seguro”.

Website de nicho Histórias como a de Victor Fonseca, estudante de jornalismo, compreendem a incerteza no negócio independente. Victor teve insucesso com dois sites antes de fundar o Cinesia Geek, com conteúdo voltado para a cultura pop. Recentemente, o Cinesia fechou uma colaboração com a edição do evento Campus Party, ocorrida em Salvador, na Arena Fonte Nova. Conta com cerca de 6 mil visualizações mensais. Ele ressalta a importância do negócio próprio. “Você acaba tendo noções que a sala de aula não iria lhe proporcionar”.

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Cristiane Schwinden, estudante de jornalismo e criadora do site Lettera, desenvolveu sua ideia no nicho de literatura lésbica. O Lettera surgiu da atenção de Cristiane às demandas de seu público, depois que o maior site de literatura lésbica foi desativado. “Foi assim, às pressas, que surgiu o Lettera. Após 36 horas ininterruptas de programação e ajustes, o site foi ao ar, para atender a grande demanda das leitoras ‘órfãs’ do outro site.” O Lettera tem hoje cerca de 12 mil acessos diários e é o primeiro sugerido pelo Google na pesquisa por literatura lésbica.

você acaba tendo noções que a sala de aula não iria lhe proporcionar. Caio messias Victor traz a relevância do conteúdo aprendido em aula. “O que eu usei aqui no Cinesia foram mais as aulas de Lia [Lia Seixas, professora da disciplina Oficina de Comunicação Escrita], sobre você conhecer seu público, saber para quem está escrevendo”, declara. O Paredão da Facom carrega, além do conhecimento das aulas, o nome da faculdade. “O Paredão da Facom mostrou que sabemos


fazer direito. Eu acredito que qualquer outro evento que leva o nome da Facom terá o peso de carregar esse nome”, diz o estudante Renato Cerqueira, organizador do evento e estudante de jornalismo. A festa é destinada ao público universitário em Salvador. Mesmo sem patrocínio, fez um sucesso de três edições, com uma quarta já planejada para o início do próximo semestre. Além de Renato, o Paredão é realizado por seis estudantes: Manuela Bião, Mariana Buente, Rebeca Bohn, Diih Cerqueira, Lucas Arraz e Vinicius Nascimento. Gratuito e com uma playlist eclética, o evento cresceu e mudou de

lugar, organizado primeiramente no Largo de São Lázaro e depois no Centro de Educação Física e Esporte (CEFE). Na Facom, a disciplina Gestão de Processos Jornalísticos atende às Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Jornalismo, que exigem a “ênfase ao espírito empreendedor e ao domínio científico que gerem pesquisas ao conceber, executar e avaliar projetos inovadores capazes de dar conta das exigências contemporâneas e de ampliar a atuação profissional a novos campos, projetando a função social da profissão em contextos ainda não delineados no presente”.

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SEIS NA LINHA

FORA DAS AULAS, ALUNOS CRIAM PROGRAMA NA RÁDIO FACOM POR BIANCA CARNEIRO E PRISCILA DÓREA

Foto: Felipe Carneirro

Equipe do Seis na Linha

Ao fazer uma matéria para o Facom News sobre o Correio Faconiano, os estudantes de jornalismo, Gabriel Rios e Maycon Menezes descobriram que a rádio não tinha muitos programas além das atividades das disciplinas. Eles, então, se juntaram com outros quatro colegas e fundaram o Seis na Linha, programa voltado ao jornalismo esportivo. “Desde o começo, a nossa ideia é poder aprender, aproveitar o espaço de rádio que a faculdade oferece, saber falar sem nervosismo e ter um 42

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material em mãos, pois com a divulgação, um de nós pode ser beneficiado”, afirma Gabriel Rios. O professor de Radiojornalismo, Maurício Tavares, se diz contente com a iniciativa espontânea dos alunos de criarem o Seis na Linha. “Fico impressionado porque eles são seis e o programa é bem organizado. Dei algumas dicas e percebo que eles têm bastante conhecimento. Eles são o futuro da Rádio


Facom”, afirma. Apesar de seu constante incentivo para que os estudantes da Facom venham para a Rádio, a recente falta de monitores reduziu drasticamente o número de programas transmitidos. “Eu sempre ofereci o espaço. Isso também para as instâncias. A rádio hoje é usada basicamente para as aulas das disciplinas obrigatórias e optativas. Sinto falta de gente aqui”.

a nossa ideia é aproveitar o espaço que a faculdade oferece. Gabriel Rios

Semanal O Seis na Linha é transmitido desde maio deste ano, todas as sextas, às 8 horas. Com conteúdo principalmente voltado ao futebol e dosando humor e informação, o programa mostra que existe uma Rádio Facom fora das aulas práticas. O Seis na Linha é independente da rádio e seus membros o usam como modo de divulgação do projeto Fut6 que o grupo mantém ativo nas redes sociais do Instagram, Facebook e Youtube. O nome do programa faz jus à quantidade dos membros: cinco deles no 2º semestre de Jornalismo e o sexto no 5º semestre do B.I. em Humanidades. Cada um possui uma espécie de cargo, escolhido de acordo com sua área de conhecimento. Elias Santana é responsável por cuidar dos assuntos internacionais. Gabriel Moura fala do âmbito nacional. Gabriel Rios

é o comentarista geral. Maycon Menezes apresenta e opera os circuitos do programa. Nuno Krause traz as notícias do time do Vitória e Leonardo Sousa, aluno do B.I., traz as notícias do rival, Bahia. “Nos conhecemos aqui na faculdade mesmo, através de trabalhos em grupo. Fomos conversando e vimos esse interesse em comum de gostar e falar de futebol”, diz Gabriel Rios. O retorno dos ouvintes da Rádio é baixo. “A minha mãe me escuta bastante” comenta Elias entre risos com os colegas. Para Gabriel Rios falta interatividade. “Ficamos de trazer convidados, investir em divulgação, estamos engatinhando, tentando trazer novidades, mudando coisas a cada semana”, conta.

a minha mãe escuta bastante. Elias Santana

Interesse comum A escolha de dar um tema esportivo para o programa baseou-se nos interesses pessoais e acadêmicos dos organizadores. “Se não fosse isso, seria algum programa de política ou musical, temas difíceis de agradar a todos”, declara Maycon. Para eles o mercado local é mais acessível para temas esportivos, principalmente futebol. De início o programa teria foco apenas no Bahia e no Vitória. “A gente queria englobar. Indo até mesmo para fora do país para mostrar o tamanho do nosso conhecimento. Não só dos times Bahia e Vitória, como também de fora”, Gabriel Rios comenta sobre o grupo ter percebido que o programa seria mais interessante se abrangesse o futebol em uma escala maior. F A C O M N E W S 2 0 1 7 . 1 | 43


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O processo de escolha dos assuntos de cada edição do programa é feito democraticamente, durante reuniões feitas nas quintas à tarde, eles discutem o que será noticiado, trazendo os principais destaques segundo as seções do programa. No entanto, nem só de futebol vive o Seis na Linha. O tema é constantemente diversificado, trazendo até resumos de novela. Para Elias, a inovação é necessária, pois ajuda o programa a se tornar mais atrativo. “Começamos a experimentar coisas novas. Sair de um formato que julgamos estar um pouco engessado. Nos baseamos em outros programas que trazem o humor, mas buscamos sempre trazer o conteúdo de forma clara”, diz.

“Estamos fugindo de tudo o que é feito aqui” Maycon Menezes

Por julgarem pouco interativo, Maycon explica que o Seis na Linha tenta se distanciar do que é produzido pelo radiojornalismo esportivo em Salvador. Eles ainda estão tentando chegar a um padrão, mas usam os programas de rádio de São Paulo como referência, tudo isso sem perder de vista a diversão e a adequação ao público de Salvador. “Estamos fugindo de tudo o que é feito aqui. Já que não há vínculo profissional, buscamos um formato onde a gente se diverte, experimenta e oferece conteúdo de forma diferente”, conta. Foto: Felipe Carneirro

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Seis na Linha durante um programa F A C O M N E W S 2 0 1 7 . 1 | 45


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QUANDO

AS LUZES SE ACENDEM COM FLUXO REDUZIDO E FRAGILIDADES ESTRUTURAIS, ATIVIDADES NA FACOM CONTINUAM APÓS O PÔR DO SOL POR CARLOS BAHIA E DANIELLE CAMPOS

Conhecida pela sua ocupação matutina nos cursos de Jornalismo e Produção Cultural, a Faculdade de Comunicação não se restringe a estas atividades. O curso de línguas da ASSUFBA e a área de concentração em cinema do Bacharelado Interdisciplinar, por exemplo, estão alocados na Facom. Além disso, é frequente que instâncias da graduação, mesmo começando durante a tarde, perdurem até a noite.

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Foto: I’sis Almeida

Noite na Facom F A C O M N E W S 2 0 1 7 . 1 | 47


Foto: I’sis Almeida

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Assim como as atividades, o público noturno da faculdade tem um perfil diferenciado. Armando Azevedo, aluno do B.I. de Artes, esboça uma definição: “Mais velho, mais cansado”. E compara: “A manhã é muito mais movimentada. O perfil é completamente diferente”. Exaluno do B.I., Diego Haase salienta a diversidade: faixa etária variada, maior público negro e de periferia. “Com a recente abertura de vagas, pessoas estão cursando neste horário devido à existência de outros compromissos. É gente que trabalha, cuida da família e de outras pessoas”. A conjuntura, porém, apresenta problemas. Os serviços oferecidos pela faculdade não duram até o fim do turno, situação criticada pelos frequentadores do local. Leonardo Reis, professor de fotografia, une voz ao coro: “Os serviços são interrompidos às 20h. Os laboratórios param de funcionar. A vida de quem está aqui, durante a noite, é mais difícil”. Os docentes se queixam da carência de funcionários técnicoadministrativos. Em contrapartida, a diretora Suzana Barbosa ressalta que este problema é institucional, relacionado à falta de vagas

ofertadas pelo Governo Federal. Essa deficiência também interfere na relação dos alunos com o ambiente enquanto espaço de socialização. As aulas que teriam seu término às 22h30, como prevê a matriz curricular, são costumeiramente finalizadas antes da hora. As dificuldades de locomoção interferem na permanência até o horário estabelecido. “O transporte público faz com que os alunos tenham que sair correndo como a Cinderela”, diz o professor Leonardo. O Buzufba, transporte fornecido pela UFBA, funciona até as 22h30. Além disso, a segurança também emerge como questão. O porteiro Raimundo Soares disse que os vigilantes, cuja função é proteger o patrimônio, não podem encarnar o papel da polícia. Câmeras foram colocadas na frente do portão, sob recomendação da Coordenação de Segurança. Mas, apesar de se queixarem da falta de iluminação nos arredores do prédio, frequentadores da Facom relatam tranquilidade. Segundo Leonardo Reis, a Facom é, “de certa forma, um paraíso de tranquilidade”. F A C O M N E W S 2 0 1 7 . 1 | 49


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marcos palacios POR PEDRO OLIVEIRA

Fotos: Aline Laranjeira

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CADA TEMPO EM SEU LUGAR Qual o caminho mais interessante entre dois pontos? O professor Marcos Palacios carrega na voz a serenidade de quem encontrou mais de uma resposta, em mais de um lugar. “Vivi um período de transformação muito grande desde minha juventude”. Entre Belém do Pará, Liverpool e Salvador, o fundador do primeiro grupo de pesquisa em jornalismo online, no Brasil, reuniu modos de equilibrar direitos e deveres: o dever de responder e repensar a máquina do mundo. O direito a se perder, nos prazeres e nas cidades. Palacios guarda, com carinho, uma camisa em que a frase estampada veste com perfeição a trajetória de quem, frente a história das últimas décadas, soube harmonizar ação e quietude: “Não tenhamos pressa, mas não percamos tempo”.

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A frase é do escritor português José Saramago. Portugal, por sinal, viro casa: “Vivo com um pé aqui e outro lá”. O status de professor titular da Universidade da Beira Interior é parte da cereja em um bolo iniciado há bastante tempo. A fatia acadêmica foi gestada com turbulência, para além das aparências europeias: “Toda minha formação universitária foi na Inglaterra. Me graduei e fiz doutorado em sociologia, na Universidade de Liverpool”. O início, porém, guarda ingredientes amargos. Paulista de nascimento, Palacios já havia tentado cursar economia e medicina, quando a realidade pesou: “Vim para a Bahia em 1968, fugindo de São Paulo. Fui forçado a sair devido ao meu envolvimento com o movimento estudantil, de luta contra a ditadura”. Em 1972 foi para a Inglaterra, dada a persistência da situação. Mas cultivou, neste entretempo baiano, elementos que frutificaram: a paixão pela flanagem e o enredamento no campo da comunicação. “Fui o primeiro chefe de reportagem da Tribuna da Bahia”. O trabalho teve precedentes, com os jornais estudantis, mas se destaca pelos efeitos posteriores: “Em Belém, passei a ensinar Sociologia da Comunicação devido a essa vivência jornalística”. O Pará foi um capítulo de 1986, no retorno de Marcos ao Brasil. Mas foi ainda em Salvador que outra paixão, coerente com o andar manso, ganhou esboços firmes: “Gosto muito de viajar, da ideia do flanêur. A melhor maneira de conhecer uma cidade é se perder nela. E antigamente circulava-se muito, conheci uma Salvador mais amistosa”. Os dois frutos se encontrariam adiante, na fundação do Lugar Incomum, primeiro jornal digital da Bahia: “A proposta editorial era noticiar o que não era coberto pela grande mídia: futebol de cegos, campeonato de bilhar. E a resenha dos botecos de bairro”, conta com um sorriso. Leveza e bom humor, aliás, dão o tom de sua presença. Dono de uma trajetória admirável, é também fruto de sua colaboração a criação do primeiro mestrado em Comunicação e Cultura Contemporânea fora do Sudeste. O primeiro artigo sobre internet e comunidades virtuais 52

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“A melhor maneira de conhecer uma cidade é se perder nela.” do Brasil. O GJOL, primeiro grupo de pesquisa em jornalismo online. E, diz com graça, a primeira compra de um computador para a Faculdade de Comunicação: “O professor Ruy Espinheira, diretor naquela época, não via sentido em ter um computador, ‘porque não trabalhávamos com matemática’. Mas enchi tanto o saco que ele liberou a verba”. Após lecionar no País de Gales por um tempo, os interesses por comunicação, computadores e internet desenharam a plataforma de sua produção desde que voltou ao Brasil. E é neste ponto que a leveza sobressai: Palacios é agente e paciente da aceleração nos modos de vida humana. Afinal, quando negociou aquele computador a realidade era menos compacta: “Não tinha nem mouse. E tivemos de improvisar uma salinha só para ele, era um senhor computador”. Alguns anos e vários artigos depois, encontramos na conversa tranquilidade e calma que talvez sejam o segredo para


manter olhar e mente afiados, disponíveis às transformações do mundo. A outra opção é que o mundo transformado, e a busca de um lugar nele, nunca foram novidade. “A década de 60, maio de 68, liberação sexual e das drogas, movimento hippie e ecologia, os anos finais da Guerra Fria e a era digital. Vivi tudo isso, com uma participação política muito intensa”. A reunião de experiências é coerente com o chapéu panamá, marca relaxada da ginga de outra época. Prepara a presença contemporânea: “Estamos em um tempo de contínua ação. É preciso, às vezes, agir com rapidez. Mas existem dimensões da vida em que a pressa é inimiga da perfeição. A reflexão toma tempo”. Outro exemplo, mais temperado, surge, e a frequência

“existem dimensões da vida em que a pressa é inimiga da perfeição. A reflexão toma tempo.” dos sorrisos aumenta: “Slow food. Sempre gostei de cozinhar, e hoje faço com certa habilidade. Desde muito cedo, ainda em São Paulo, era capaz de fazer feijão em um acampamento. E, na cozinha, a pressa não se coloca”. Palacios, entre ação e reflexão, torna palpável versos de Gilberto Gil, colega de geração: “A velocidade, quando for bom. A saudade, quando for melhor”. Os fios de contas e sandália de couro, alinhados com uma camisa branca

- peça simbólica em Salvador - são índices à primeira vista de que a política, na vida de Marcos Palacios, é denominador comum. Suas preferências dão testemunho: “As pessoas normalmente caminham pela orla. Eu caminho pelo centro. Centros antigos das cidades me fascinam”. Caminhar, quadro aberto de possibilidades, é também premissa de uma vida boa: “Considero item um da qualidade de vida morar perto do trabalho. Ir a pé”. A micropolítica, porém, não anda só. “Eu acho que Fome Zero continua sendo um slogan fundamental”. A frase surge naturalmente, momentos após Palacios esmiuçar condições que viabilizaram sua trajetória: “Sei que sou privilegiado, desde o meu nascimento. Num país de extrema desigualdade, nascer em família de classe média, estudar, ter a oportunidade de conviver com pessoas e situações que me fizeram crescer emocionalmente e intelectualmente, são momentos de privilégio”. A consciência derivou em prática e retirou espaço para dúvidas: “Nenhum projeto político, se não contempla a redução imediata da desigualdade. Uma vez mostrei a um professor visitante, de Portugal, crianças vivendo na lama. Literalmente. Ele era adepto do neoliberalismo. Mas um país com gente sem teto, crianças na lama e sem estudar não pode ser. Continuo sendo uma pessoa de esquerda”. A atitude também legou fortes marcas na vida universitária do, agora, professor aposentado. Membro da direção da Faculdade de Comunicação da UFBA por uma década, seu pulso é reconhecível para além dos cargos que ocupou. A tessitura das informações e a transmutação destas em conhecimento; a organização dos excessos e a leitura política das tecnologias são vislumbres de uma carreira que não tem previsão de fechar as portas: “Ainda participo de todas as atividades: pesquisa, orientação, aulas. A mudança é que eu não ganho nada a mais por conta disso”. A atenção, porém, permanece acesa, e, apesar dos percalços históricos, otimista. F A C O M N E W S 2 0 1 7 . 1 | 53


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“...continuo produzindo; e há todo um futuro, de produção e, certamente, de flanagens.” “Não acho que exista excesso de informação. Existe informação desorganizada. Organizá-la, permitir o acesso e a reflexão são passos para o conhecimento. Jornalistas são capazes de interferir, neste sentido”. O otimismo também contagia o modo como Palacios enxerga a tecnologia, ainda que contingências do presente causem desconforto. “Não é apenas projeção para o futuro: a tecnologia também vai para trás, recupera e digitaliza a história acumulada”. Memória, por sinal, é a palavra chave da pesquisa que coordena no programa de pós-graduação em comunicação e cultura contemporânea. E, insiste, ferramenta essencial para repensar realidades: “A noção de privacidade desmoronou. O bolo da economia cresce e são os mesmos que comem. A cidade era mais tranquila, menos congestionada”. No entanto, Salvador, onde mora há 30 anos mesma idade da Faculdade de Comunicação, que ajudou a estabelecer -, também é alvo de uma singular boa vontade, visível na comparação com a cidade materna: “Chega um ponto que é fundo de poço, e que as coisas têm de se resolver. São Paulo começou um movimento neste sentido, com expansão de ciclovias e das linhas de metrô, por exemplo. Aqui, acho que ainda estamos entrando no poço”. Marcos Palacios permanece disponível, em consciência e atuação, para encontrar flores no asfalto. Conectado ao que realmente lhe interessa, interessado nas conexões reais - ainda que digitalizadas. 54

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“Sem saudosismo. Bom tempo é o tempo atual, vivê-lo. Mesmo quando a coisa está complicada. Tenho alegria e reconheço o privilégio de ter sido contemplado com tantas vivências. Mas estou aqui, continuo produzindo; e há todo um futuro, de produção e, certamente, de flanagens”. Frutos que devem, como tantas outras vezes, ecoar no caráter público, no horizonte político que sua vida nunca se furtou a imaginar. Sem pressa. Mas sem perder tempo.




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