MC_000M - Livro #04

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E que, vendo como eu não tinha feito nada que ela havia pedido, desta vez a garota cortaria muito mais do que apenas a gengiva. Foi mais ou menos então que o tele fone tocou. Era minha amiga Cee Cee, querendo saber se eu toparia ir com ela e Adam McTavish ao Coffee Clutch tomar ice tea e falar mal de todo mundo. Falei que sim imediatamente, porque não tinha notícias deles há um tempão. Cee Cee estava fazendo estágio de férias no Pinhão de Carmel (o nome do jornal local, dá para acreditar?) e Adam tinha passado a maior parte do verão na casa dos avós em Martha’s Vineyard. No minuto em que escutei a voz dela percebi como sentia saudade de Cee Cee, e como seria ótimo co ntar sobre o maligno Paul Slater e seus truques. Mas então, claro, percebi que teria de contar a parte sobre o irmãozinho de Paul, e que ele realmente pode falar com os mortos, caso contrario a história não teria muito pique, o fato é que Cee Cee não é do tipo que acredita em fantasmas, e por sinal nem em nada que ela não possa ver com os dois olhos, o que torna problemático o fato de estudar numa escola católica, com a irmã Ernestine insistindo o tempo todo na fé e no Espírito Santo. Mas tanto faz. Era melhor do que ficar em casa, olhando um buraco gigantesco. Corri escada acima, tirei o uniforme e vesti um dos vestidos J. Crew, lindinhos, que comprei e não tive chance de usar porque fiquei o verão todo com o medonho short cáqui. Nenhum sinal de Jesse, mas tudo bem, já que eu não saberia mesmo o que lhe dizer. Sentia-me totalmente culpada por ter lido suas cartas, porque o fato de saber sobre suas irmãs e os problemas na fazenda fez com eu me sentisse mais perto dele. Só que era uma proximidade falsa porque ele não sabia que eu sabia. E, se quisesse que eu soubesse, você não acha que ele contaria? Mas Jesse não gosta de falar sobre si mesmo. Em vez disso, sempre quer falar coisas como a ascensão do Terceiro Reich e como é que nós, como país, pudem os ficar parados e deixar milhões de judeus morrerem sufocados por gás antes de fazermos alguma coisa a respeito. Você sabe. Coisas assim. Na verdade, algumas das coisas que Jesse quer discutir são muito difíceis de explicar. Eu preferiria falar das irmãs dele. Por exemplo, será que ele achava difícil morar com cinco garotas quanto eu acho difícil morar com três garotos? Imagino que provavelmente não, dada a situação invertida com relação ao tempo da privada. Será que havia privadas na época? Ou será que eles simplesmente iam numa daquelas horrendas latrinas do lado de fora, como em Uma pequena casa na campina ? Meu Deus, não é de espantar que Maria estivesse com tamanho mau humor. Bem, isso e o negócio de estar morta. De qualquer modo, mamãe e Andy me deixaram sair para comer com os amigos porque não tinham nada para jantar mesmo. E, afinal, as refeições em família não eram a mesma coisa sem Mestre. Fiquei surpresa ao descobrir que sentia falta dele e mal podia esperar sua volta. Ele era o únic o de meus meios-irmãos que não me enfurecia regularmente. Mesmo não podendo contar a Cee Cee sobre Paul, me diverti um bocado. Foi bom vê la, e Adam, que, de todos os garotos que eu conheço, é o que menos age como um, mesmo não sendo gay nem nada, e rea lmente fica furioso se você sugerir isso. E Cee Cee também , que está apaixonada pelo Adam desde... tipo, sempre. Eu sentia grandes esperanças de que Adam sentisse o mesmo por ela, mas dava para ver que as coisas tinham meio que esfriado – pelo menos da parte dele – desde o início das férias. Assim que ele foi ao banheiro perguntei a Cee Cee o que estava acontecendo, e ela começou a contar que achava que Adam conheceu alguém em Martha’s Vineyard. Devo dizer que foi legal ouvir outra pessoa reclamar duran te um tempo. Quero dizer, minha


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