O Inesquecível Banquete dos Deuses

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Silvia Morgensztern

em minhas ordens e muitas vezes até cruel com aqueles que ousam me desobedecer. Não me importo. Sei que não sou o único. Outros deuses também são intolerantes com as transgressões. Exercer a autoridade exige pulso firme. Noite passa sobre nós com seu manto bordado de estrelas. Depois de algumas voltas sobre o Olimpo, atiça seus negros cavalos, que disparam no céu. Ergo os olhos para a luminosa imensidão que se abre diante de mim e, pela primeira vez, tenho a coragem de me perguntar: “Será que nós realmente fazemos alguma fatal? Não bastariam apenas a grande e generosa Mão Terra, o previsível Sol e a Noite com seu véu de estrelas, para que a nossa vida fosse perfeitamente completa?” Sem resposta, as palavras ficam bailando desamparadas, em minha mente. Meus companheiros se recolhem em seus palácios e cai um pesado silêncio. Há muito tempo não acontece nada de importante por aqui e nossa expectativa é enorme. Precisamos estar descansados para o grande evento. Durante todo o dia conversamos sobre amenidades e evitamos discussões. Ares, o insuportável deus da guerra, controlou suas explosões de cólera, Hermes não nos fez rir com seus gracejos, minha esposa Hera falou pouco e Hefesto, o deus coxo conteve seus lamentos. Deitado na maciez do divino leito, invoquei Hipno, o Sono. Mas ele ignorou o meu chamado

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