Agudas 118 anos. Seu povo, suas histórias

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s o d u g A

118 ANOS

Seu povo Suas histórias Uma produção do jornal Sabadão do Povo e Grupo LER

2016


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Editorial Agudos, sua história e seus personagens

As várias cidades da região estão entrelaçadas pela história que, aos poucos, foi dando, a cada uma, suas próprias características, seja por sua localização geográfica, por seu povoamento ou mesmo por curiosidades, que definiram suas características e sua importância para o desenvolvimento do Estado e do país. Mas, ter como apelido “Açucena da Serra”, é um privilégio que apenas Agudos tem. Fundada inicialmente como São Paulo dos Agudos, após a doação de cerca de 100 hectares de terras, por Faustino Ribeiro, o nome fazia referência ao seu padroeiro, mas também à uma de suas marcantes características, estar localizada em uma região de serra que faz parte do sistema da Serra do Mar, com com alguns morros isolados, tendo seus cumes a forma de tabuleiro. Tem nomes de importância histórica em seus primórdios, como Coronel Delfino Alexandrino de Oliveira Machado e o

Capitão Benedito Otoni de Almeida Cardia, primeiros agricultores da região. Mas possui personagens únicos, que construíram com esforço e dedicação a cidade que se mostra pronta para o futuro. Como os integrantes das famílias Cardia, Ottoni. Napoleone, Crema, Rosa, entre tantas. Em 118 anos foram idas e vindas nos registros oficiais, inicialmente com a emancipação para município, sede da Comarca de Agudos, passando pela simplificação do nome para Agudos, depois como sede dos distritos de Piratininga, Tupã, Bandeirantes, Santa Cruz da Boa Vista e Tupá. Até que com o passar dos anos e a emancipação dos demais municípios chegou à condição atual de possuir o distrito de Domélia, ex- Santa Cruz da

Boa Vista, que também se chamou Dona Amélia. Após a tradição de seu setor rural, definitivo para seu crescimento inicial, nestes 118 anos , Agudos se fortaleceu com o comércio e as indústrias de grande, médio e pequeno porte. Sua mais recente grandeza ocorreu com a aposta no setor de turismo, que solidificou as bases para o seu desenvolvimento no futuro, respeitando o seu meio ambiente e seu passado, ao colocar à disposição do mundo, suas atrações naturais, arquitetônicas e históricas. São belezas que encantam tanto quanto a gentileza, a força e o empenho de seu povo em fazer desta a flor mais bonita entre todas as açucenas.

EXPEDIENTE: A revista Agudos - 118 anos - Seu povo, suas histórias é uma publicação do Jornal Sabadão do Povo e Grpo LER. Jornalista Responsável: Tania Morbi (MTB 52.193) - Projeto Gráfico: Billy Mao (MTB 39.650) Contato Comercial: Matheus Pedro. Tiragem: 3.000 exemplares - 27 de julho de 2016


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Respeito pela história Maria Helena Napoleone Cardia é o tipo de pessoa com quem se quer sentar para conversar, sem se preocupar com o tempo. Mulher forte, agropecuarista, apaixonada pela história de Agudos, assumiu desde muito cedo a responsabilidade de ser descendente direta dos fundadores da cidade, através do pai Plínio Machado Cardia, herdeiro dos primeiros fazendeiros da região, mas também o amor por Agudos, como herança do avô materno Arcângelo Napoleone, dono de um talento único e responsável, ainda na juventude, pelo projeto e construção dos principais prédios históricos da cidade Maria Helena domina o conhecimento da formação de Agudos, quando diversas famílias vieram de Lençóis Paulista, após 40 anos de sua fundação, para instalar suas fazendas. Segundo ela, seis fazendas deram início a Agudos: Serraria, São João, Santa Cândida, São Pedro, Santo Antônio e São Benedito. Entre os primeiros moradores estão nomes como Joaquim Gabriel de Oliveira Lima e Mamede de Oliveira Rocha, dono de áreas onde hoje é o bairro Mamedina, em Lençóis. E por este conhecimento conhece histórias únicas, contadas por seus antepassados. Entre elas, como surgiu o nome de Pelintra, para o córrego que nasce na região. “Quando os coronéis vinham de Lençóis para Agudos, paravam em uma mina e os escravos iam se lavar, porque saiam da terra roxa para entrar na areia, e na areia

não se sujava. Então o córrego ficou conhecido como Pelintra, que significa ‘pessoas humildes que querem se embelezar’”, conta. A mesma água nascida no Pelintra, foi fundamental para que a cidade fosse escolhida no país para receber a cervejaria Vienense, atualmente Ambev, na década de 1950. O grande desenvolvimento de Agudos ocorreu com a chegada dos imigrantes italianos, com a produção do café, mas a história também

A agropecuarista Maria Helena, na casa que construiu para sua mãe; abaixo, a antiga casa da família, atual Espaço Histórico

foi escrita por famílias portuguesas, espanholas e austríacas, e Maria Helena destaca ainda a contribuição da educação alemã, através das freiras do Colégio e do Seminário Santo Antônio. “Tivemos uma educação europeia”, afirma.

Avô é referência de vida As ligações com o passado permeiam a própria história de Maria Helena Napoelone Cardia, dedicada à família, embora tenha sido filha única. “Tenho o privilégio de ter a minha história dividida entre os fundadores e os construtores de Agudos. Os fundadores vieram abrir fazendas para plantar café, chamados pela Serra dos Agudos. E meu avô Arcângelo foi responsável por pelo menos 30 prédios e todas as igrejas da cidade”, contou.

A forte admiração pelo avô Arcângelo Napoleone aparece na emoção que demonstra ao falar sobre sua trajetória. De pedreiro, que aos 13 anos chegou ao Brasil para construir uma igreja em São Manuel, ele alcançou o posto de Agente Consular do Brasil. “Chegar em um lugar com dinheiro, com muitos funcionários é fácil desenvolver uma cidade, mas com 13 anos, fazendo massa para assentar tijolo e deixar 30 casas para


5 os filhos e netos, não é para qualquer um. Todo mundo pensa que eu me mirei muito na família do meu pai, e é verdade, porque sou agropecuarista, mas um dia conversando com meu nono pedi para ele me ensinar a construir. Aprendi com ele a construir na fazenda. Uni o que precisava da família do meu pai e trouxe o que tinha dentro de mim da família da minha mãe”, contou. Arcângelo Napoleone chegou em São Manuel, com os primos, depois que seu pai, que já havia vindo ao país para trabalhar em Campinas, voltar à Itália com a notícia de que aqui faltava mão de obra. Depois de São Manuel, chegou a Agudos, com cerca de 15 anos. Foi contratado pelo Coronel Delfino Alexandrino de Oliveira Machado, bisavô de Maria Helena, fundador de Agudos, para construir a matriz da cidade, mas acabou construindo todas as igrejas existentes no município até hoje. “Sua imagem

era do arquiteto, que fazia o projeto embora tivesse apenas o terceiro ano de colégio, mas também do operário que colocava a mão na massa”, lembra a neta. A emoção de Maria Helena dá lugar às lembranças de contos engraçados passados pelo avô. Como na vez em que teve que voltar à noite, ao cemitério onde havia deixado suas ferramentas de trabalho, durante a obra de uma das igrejas, e entrando pelo necrotério, trombou com o corpo de um homem. Aterrorizado só teve tempo de pegar as ferramentas e correr. “A história de Agudos é muito bonita porque foi escrita com amor”, resume. A herança dos antepassados também move a empreendedora para o futuro. Ela planeja criar um espaço cultural em homenagem à mãe, Helena Napoleone Cardia, no quintal da casa onde instalou o Espaço Histórico em homenagem ao pai, além da restauração da Fazenda São João.


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Turismo rural mostra futuro de Agudos O turismo cultural e rural é um caminho que vem sendo traçado com passos firmes em direção ao futuro de Agudos. Uma das principais atrações está na Fazenda São Benedito um ponto importante para a solidez do setor, agora através do projeto Ushuai São Benedito. A proposta atual, que oferece novos atrativos aos visitantes e turistas, já vem sendo desenvolvida no município há mais de 15 anos, com o Circuíto Turístico Olho d´Àgua, tendo à sua frente a agropecuarista Maria Helena Napoleone Cardia. Mas, ganhou um incentivo com seu sobrinho Ricardo Arcângelo Paschoal através da parceria com uma empresa especializada no setor. “Tínhamos as fazendas, que eram conhecidas por causa da formação de Agudos, que começou por elas. Em 1999, com o incentivo ao setor feito pelo Governo Federal, aproveitei para divulgar o turismo, primeiro com os amigos, que levava para conhecer o local”, contou Maria Helena. Ela e seu sobrinho foram pioneiros no incentivo ao turismo rural e ecológico na região. A ligação das propriedade com o Aquífero Guarani é uma das vantagens, uma vez que as nascentes dos principais rios da região – Lençóis, Batalha e Turvo – estão em suas terras. Mas, Ricardo explica que o projeto inicial precisava ser profissionalizado para atender às expectativas dos turistas, as exigências do setor e ao mesmo tempo oferecer todo o potencial das propriedades. Por isso nasceu o Ushuai São Benedito, uma vez que foram feitos importantes investimentos na preservação do local com o objetivo de abrigar um projeto turístico. Segundo Ricardo, o projeto está em fase inicial, mas uma primei-

ra experiência, bem sucedida deu mostras de que a proposta tem perspectivas para impulsionar o setor em Agudos, em um futuro próximo. O primeiro acampamento de férias reuniu jovens das cidades de Campinas, Bauru, São Manuel e Agudos, que puderam fazer rapel, tiroleza e aproveitar todo o amplo espaço da fazenda, com passeios de trenzinho, jogos e conhecer as cachoeiras da propriedade. A estadia é outra atração, uma vez que os visitantes ficam no casarão da fazenda, que possui dois pavimentos mobiliados e decorados com móveis e peças da época de sua construção, concluída em 1895. A propriedade foi a primeira na área rural aberta em Agudos por seu fundador, Coronel Delfino Alexandrino de Oliveira Machado, bisavô de Maria Helena. “Nosso projeto agora está mais profissional, com a parceria que temos com a empresa de turismo. Somos responsáveis por parte da hospedagem, mas eles é que fazem o atendimento direto, oferecem todo o monitoramento aos visitantes”, contou Ricardo.


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Espaço de memória e emoção Não da para pensar em Agudos e seus personagens sem pensar pelo Espaço Histórico Plínio Machado Cardia, onde estão guardados e bem preservados trechos da história da cidade, desde sua fundação. Fotos, pertences, móveis e memórias quase se fundem à estrutura do próprio imóvel, onde residiu por mais de 40 anos a família de Plínio, sua esposa e sua única filha Maria Helena Napoleone Cardia, criadora do espaço em 1993. No prédio de dois andares, construído em 1907, estão fotografias dos fundadores da cidade e a ramificação de suas famílias, como de Coronel Delfino e Benedito Otoni, mas também pertences das famílias, como o piano do século 19, comprado pelo Coronel para sua neta Maria Januária. No entanto, a peça mais antiga do museu é de 1830, pertencia à igreja de São Domingos de Tupá e representa a catequização dos índios da região. O altar em madeira quase rústica é a última prova da existência do povoado, que existiu no século 19, serviu de embrião para várias cidades da região, mas desapareceu com a saída de seus moradores, deixando para trás um rastro de mistério, que perdura até hoje. Em um espaço especial do museu está o estojo de desenho de Arcângelo Napolone, avô de Maria Helena, imigrante italiano que veio ao Brasil, aos 13 anos, e construiu com as próprias mãos todas as igrejas da cidade,. Móveis, peças e artigos de soldados que participaram da Revolução Constitucionalista e da 2ª Guerra Mundial - como alguns usados pelo soldado Andirás, único morto na batalha - também povoam o local, mas lembranças mais recentes também estão preservadas, como a primeira cerveja produzida na cervejaria Vienense, na década de 1950, hoje Ambev. Além da história, o espaço hoje é povoado por novas iniciativas, como a Confraria, que uma vez por mês reúne escritores, professores e apaixonados

Museu guarda a primeira cerveja envazada em Agudos entre outras peças únicas. Apoio de doadores foi fundamental pela literatura. O espaço também é povoado por crianças e jovens que participam do Projeto de Turismo Pedagógico, criado em 2006, que leva semanalmente alunos do ensino fundamental da rede pública para conhecer os prin-

cipais pontos históricos da cidade. A proposta é despertar nos jovens a valorização do patrimônio histórico e cultural da cidade, como ferramenta para sua preservação. O projeto já levou até o Espaço Histórico quase cinco mil alunos.

Turismo é porta para o futuro O turismo rural pode representar para Agudos um salto no desenvolvimento que já registra atualmente, como uma realidade no incremento da economia do município. Esta é a avaliação que o turismólogo Flaviano José Garcia, secretário de Turismo do município e orientador do projeto Agudos “É preciso conhecer para Amar” e Desbravando o Seminário. Como você definiria a importância do turismo para Agudos? A cidade em si oferece oportunidade para o desenvolvimento do turismo. O poder público faz sua parte na infraestrutura e na sequência fomen-

ta o potencial, e os empresários também não deixam de investir nas oportunidades. Podemos dizer que tudo melhorou. Novos empreendimentos, mais eventos, mais geração de emprego e renda, mais demanda turística e mais fluxo de turistas. O quanto avalia que essa importância cresceu nos últimos anos? O turismo é um fenômeno ainda pouco entendido nas pequenas cidades. Quem trabalha com a atividade conhece os desafios, nem todos acreditam no potencial, nas oportunidades, mas elas existem. Mesmo diante dessa realidade o desenvolvimento


9 do turismo tem crescido e melhorado a cada dia, por parte do poder público, que investe e acredita nesse potencial e nas oportunidades, por parte do empresariado do trade turístico, proprietários de museus, fazendas e comércio diferenciado. Como vê o futuro deste setor para o município? Recentemente, confeccionamos o Plano Diretor Municipal de Desenvolvimento do Turismo, que possui todas as diretrizes para o desenvolvimento do turismo em Agudos a médio e longo prazo. Essas diretrizes foram apontadas através de inúmeras audiências públicas e com setores do trade turístico local, através de análise de pontos fracos, pontos fortes, ameaças e

oportunidades. O desenvolvimento do turismo em Agudos sem dúvida gera e irá gerar muitas oportunidades, porque existe um enorme potencial a ser explorado. Quais os principais projetos? Agudos é uma cidade que já possui infraestrutura turística, avenidas planejadas, sinalização turística, segurança, iluminação, Posto de Informações Turísticas, Casa do Artesão, comércio, UPA. Além disso, o potencial da cidade é indiscutivelmente o turismo cultural, agregando o religioso, rural e histórico. Temos projetos já estruturados em parceria com os atrativos turísticos, como é o caso, o pioneiro turismo pedagógico Agudos: “É preciso conhecer para Amar” e Desbravando o Seminário ambos parceiros com a rede municipal de ensino. O City Tour Agudos Histórico, explora o eixo histórico da cidade, passando por praças, comércio, museu e construções históricas.

O Secretário de Turismo, Flaviano; “Educação e história com gosto de aventura”


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A recuperação de um patrimônio Uma obra em construção ao lado da prefeitura de Agudos chama a atenção de quem passa. O Cine Theatro São Paulo vem sendo restaurado pela Adepha (Associação de Defesa do Patrimônio Histórico de Agudos), com o objetivo que permeia a cidade - preservar sua história. O personagem principal da atualidade ligado ao cineteatro é José Mauro Napoleone, que passou a conviver e viver com a proposta de recuperar o único prédio construído por seu avô Arcângelo Napoleone tombado como patrimônio histórico do município. Ele lembra que o prédio foi construído em 1910, sob encomenda feita a seu avô por uma família próspera da cidade. Em 1925, a família Lima decidiu construir uma nova residência, e para isso, a proposta foi de doação do


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Obra do cine theatro em andamento e seu mentor e condutor José Mauro, ao lado

cinema para Arcângelo, como forma de pagamento ao construtor. Na época, o novo proprietário fez a reinauguração e o cinema funcionou até a década de 1970, sendo que durante 20 anos foi arrendado, o que levou a alterações em sua estrutura. A restauração, iniciada em 2006, vem recuperando minuciosamente seu projeto original. Mas, além do cuidado com a preservação do patrimônio histórico e cultural, , José Mauro ressalta que a principal característica da obra é sua sustentabilidade, através do uso da materiais do próprio prédio. Como a madeira usada no mezanino, que era do telhado original do teatro, trocado por medida de segurança. A fidelidade com os detalhes do projeto original, mesmo os que não são tão fáceis de perceber pelo público em geral, é outra característica da proposta. A obra é custeada com recursos captados através da Lei de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet), e de repas-

se do ICMS de empresas. O primeiro repasse foi recebido em 2010. Com o término desta etapa do projeto, a Adepha vai tentar aprovar novos recursos para a conclusão do restauro. A dedicação à obra, segundo José Mauro, é uma forma de homenagear o legado de seu avô, através das obras que construiu. “Eu passava pelo cinema para ir para escola, era como se fosse meu quintal na infância. Quando ele foi alterado e o prédio foi perdendo suas características, meu avô evitava de passar em frente, pois sofria muito em ver sua obra sendo depreciada. Por isso, tenha o objetivo de recuperar o cinema como homenagem ao meu avó, em respeito a tudo que ele fez”, resume. A restauração do Cine Theatro São Paulo tem projeto aprovado pelo Ministério da Cultura e pela Secretaria de Cultura do estado de São Paulo. Como o prédio pertence ao município, a Prefeitura também tem colaborado.


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Talentos afloram em Agudos A beleza de suas terras e a força de seu cenário natural, fruto da água de excelente qualidade que corre em seus veios deram a Agudos o nome carinhoso de “Açucena da Serra” . Mas, toda essa riqueza natural também foi responsável por “produzir” talentos entre seus filhos, que contribuiram para que seu nome fosse perpetuado mundialmente. Na literatura, os nomes se dividem em estilos diversos. Como Aziz Ansarah Rizek autor dos livros Médicos, Clientes e Cia.;Gaveta de Médico; Histórias Agudas e crônicas de um médico. Em Mogi das Cruzes, foi um dos fundadores do Hospital Santana e da Clínica São Nicolau, além de professor na Universidade de Mogi das Cruzes. Joaquim Elíseo Mendes era apaixonado pela Educação e teve 11 obras publicadas no estilo Roteiro Administrativo de Educação, os únicos do gênero. Residindo em Bauru, foi diretor regional de Ensino e presidente do Lar Escola Rafael Maurício.

José Benedito Silveira foi autor de Noites Brasileñas, e para registrar a história de Agudos, José Carlos Rocha publicou A Urbanização da Cidade de Agudos Sob a Lógica da Acumulação e Agudos: Seu passado, Sua gente. Uma perspectiva para as futuras gerações. Regina Maria Sormani Ferreira dedicou seu talento à produção de livros infantis. É conhecida nacionalmente, tendo iniciado, em 1983, sua carreira de escritora de livros sobre animais, aventuras e mistério, destinados ao público infantojuvenil. Tem mais de 20 livros publicados, vários traduzidos para o Espanhol. Ruth Alves de Souza Lopes, foi primeira dama de Agudos entre os anos de 1969 e 1972, quando seu marido Manoel Lopes governou a cidade. Após a morte se seu esposo, escreveu Acalantos, tendo rica produção de poemas. As irmãs Maria de Rosa, carinhosamente apelidada de Lya, e Maria da Glória de Rosa são um capítulo a parte.

Ambas viveram a história com carinho ímpar por Agudos. Lya é autora do livro que homenageia o centenário da cidade e também de A Rua 13 de Maio Antiga, Uma rua, muitas histórias”, lançado em 2014, que conta a evolução da Rua 13 de Maio, centro comercial da cidade. Na música, Carmo Barbosa demonstrava seu amor pela música erudita desde muito jovem. Dono de um talento nato, deixou Agudos em busca de lapidar seu dom, que lhe rendeu projeção internacional ao vencer o prêmio Emmy Award, considerado o Oscar da televisão norte-americana, em função de seu desempenho em “La Boheme” ao lado de Luciano Pavarotti. Em 1986 foi convidado da ONU para cantar na abertura de seus trabalhos. Foi convidado de diversos nomes internacionais da música lírica e é até hoje o cantor erudita brasileiro mais premiado mundialmente. Sua extensa e premiada carreira o transformou em professor de canto renomado e respeitado.


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Homens do mundo Empreendedores que fizeram Agudos

A grandeza do italiano Luigi Crema, que viu seu sogro Arcângelo Napoleone construir a maior parte dos prédios históricos de Agudos, está justamente na simplicidade e humildade, que disfarçam o tamanho de sua própria bagagem de vida, que inclui uma vasta cultura e aquela inquietude encantadora de quem não se cansa de adquirir conhecimento, mesmo que com mais de 90 anos. Em uma conversa informal, ele prefere falar do sogro, um dos personagens mais fortes da história de Agudos, que veio da Itália aos 13 anos, fugindo da situação impiedosa que atravessava o país e que aqui no Brasil deixou um legado de inteligência e empreendedorismo, pelas obras que realizou desde muito jovem. Um referência é a casa de número 864, da Rua 13 de Setembro, não só por sua estrutura, mas por sua finalidade, já que foi cedida por Arcângelo para a instalação da Sociedade de Mútuo Socorro São Paulo de Agudos Regina Elena, inaugurada em 1924. O espaço recebia imigrantes italianos que deixavam seu país para tentar uma vida melhor no Brasil. “Eles mudaram de lá, da Itália, onde a condição não estava boa, mas trabalhavam de sol a sol aqui. Vieram com o sonho da América. A maior parte trabalhava sem conseguir prosperar. Então, criaram a sociedade para ajudar um ao outro”, lembra. O prédio, segundo a filha de Luigi Maria Tereza, tinha um salão de baile, sala de reunião, mas também um quarto para quem precisasse


15 de repouso. Além de várias personalidades, segundo Luigi, em 1930, esteve no local o general italiano Bardoglio, que após conhecer a situação dos imigrantes nas lavouras, voltou para a Itália e foi um dos responsáveis pela proibição da imigração para o Brasil. Anteriores às lembranças do sogro, Luigi tem suas próprias, de um jovem de 25 anos, que em 1950 desembarcou sozinho no Brasil, já que o pai havia decidido permanecer na Itália. Nestas terras acrescentou a experiência adquirida em diversos países que conheceu, como França, Suíça, África, Canadá, entre outros. “A pessoa vive em um lugar, mas para ter conhecimento tem que rodar o mundo”, ensina. Em Agudos, Luigi chegou em 1953, para fazer a parte elétrica da Companhia Vienense, agora Ambev. “Agudos era muito boa. Eu admirei ver Agudos, porque tinha muitas fábricas, tinha duas estações ferroviárias funcionando, grande movimento agrícola, campo de aviação, agências de carro, restaurantes e rádio funcionando. Não tinha malandragem. A cidade era pequena, mas bem estruturada e com vida própria”, relembrou. Após conhecer a também italiana Clélia Napoleone, se estabeleceu na cidade e desde então contribui como referência de inteligência, humildade e dedicação para os filhos, familiares e todos que o conhecem, além de fazer parte da memória viva de Agudos.

Ao lado, o imigrante Luigi; acima, o prédio onde funcionava a Sociedade de Mútuo Apoio (1ª sociedade Italiana de Agudos). Abaixo, familiares de Luigi


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Serra dos Agudos e não da Jacutinga

O topo da Serra dos Agudos, difundida como Serra da Jacutinga

Quem já não ouviu falar da Serra da Jacutinga, que fica em Agudos? Pois ela não existe, o que existe é a Serra dos Agudos, que deu nome à cidade, há 118 anos, mas uma placa de sinalização, que indicava a distância da cidade com a fazenda Jacutinga acabou por perpetuar o outro nome do local. A história da busca pela regularização do nome da serra é contada por Maria Helena Napoleone Cardia, criadora do Espaço Histórico Plínio Machado. Foi ela a responsável pelo contato, em 2008, com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística), explicando o que havia ocorrido. Após sua insistência, o IBGE garantiu que todos os mapas do Estado de São Paulo passassem a conter o nome certo da serra. Maria Helena contou que a Jacutinga é uma propriedade rural pertencente à sua família, localizada no término do asfalto da SP-273, próximo do Seminário de Santo Antônio. “A placa de sinalização seminário / Jacutinga, levou as pessoas a acreditarem que Jacutinga era um município. Mas a propriedade era nossa, então sabíamos que estava errado. Mandei várias cartas


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até que o IBGE reconheceu e corrigiu o erro”. A Serra dos Agudos começa a seis quilômetros de Botucatu e segue até Marília, próximo de Pompéia. A serra atravessa o território municipal e possui picos bem elevados (front), contendo trechos grandes de planícies onduladas (reverso). Possui ainda alguns morros isolados, tendo seus cumes a forma de tabuleiro (depressão). O Rio Turvo nasce a oeste da Serra dos Agudos e faz parte da bacia hidrográfica do Rio Paraná, desaguando no Rio Paranapanema.


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Ariosto Da Riva: O último Bandeirantes A saga do colonizador Filho do músico Luiz Da Riva, Ariosto nasceu em Agudos em 1915. Viveu sua infância e adolescência na cidade e o que mais o atraia, segundo relatos de parentes próximos, era a Serra dos Agudos, ou serrinha de Agudos. Ariosto da Riva, o último dos bandeirantes, por muitos considerado “louco, insano”, “sonhador”, foi um colonizador, um verdadeiro fazedor de cidades. Nascido em Agudos, filho de um músico, aos 17 anos, saiu de casa em sua primeira aventura, para

se tornar garimpeiro de diamantes. Mais tarde, trabalhando para Geremia Lunardelli, principal responsável por toda a colonização do Paraná, ele aprenderia os caminhos de sua definitiva profissão, colonizador. Com Lunardelli, o empresário-bandeirante aprendeu que “terra boa não tem distância” e, já nos anos 50, começou sua primeira experiência como desbravador. Com um grupo de amigos, Ariosto da Riva fundou Naviraí, no hoje Estado do Mato Grosso do Sul. Nessa primeira experiência, muitas dúvidas e conflitos com os índios locais fizeram o colonizador reavaliar seus projetos na região do Sul do Mato Grosso. Dirigiu-se então para São Felix do Araguaia, no hoje Estado de Mato Grosso, onde permaneceu por pouco tempo. Logo o solo da região se mostrou impróprio para a agricultura, a base do sonho da colonização. Ariosto da Riva sonhava com uma reforma agrária particular, sem a burocracia do governo federal, onde os pequenos agricultores fossem privilegiados por uma terra produtiva acessível, e uma estrutura de cidade adequada. Com essa missão de vida, em 1974, ele partiu para a selva amazônica, antes quase nada explorada, onde hoje está a cidade de Alta Floresta, no Norte do Estado do Mato Grosso, quase na divisa do Estado do Pará. Ariosto da Riva comprou 418.000 ha (quatrocentos e dezoito mil hectares) de terra de uma firma do Rio de Janeiro/RJ, por um preço razoavelmente baixo, pois ninguém se atrevia a pensar em desbravar estas terras,

não havia acesso terrestre, aéreo ou marítimo. O Governo Federal através de uma licitação passou para o colonizador mais 400.000 ha (quatrocentos mil hectares) como incentivo ao desenvolvimento da região norte do Estado do Mato Grosso, antes unificado. Dessa iniciativa surgiu a INDECO - Integração, Desenvolvimento e Colonização, empresa montada para iniciar o desbravamento e atrair colonos do sul do país. Fundou, ainda, na mesma região, as cidades de Paranaíta e Apiacás. Os resultados obtidos como colonizador se devem, segundo ele próprio, principalmente a uma coisa: “trabalho, muito trabalho”. Sempre foi muito atento e se envolvia até nos detalhes aparentemente mais insignificantes nos negócios. Se dependesse de Ariosto da Riva, a INDECO e seus projetos de colonização seriam sempre tocados com o coração. Quem garante são os seus filhos e os colaboradores que conviveram com ele. Cidadão honorário em muitas cidades, contar o que fez Ariosto da Riva, nas áreas onde ele deixou seu olhar, é tentar reproduzir a difícil simbiose que une o homem a terra, que os funde na vocação de gerar fluxo. Quando se trata especialmente de um homem que pôs o coração à frente de cifras e valores materiais, é querer transformar o sublime no grotesco de números, e mesmo correr o risco de diminuir os valores morais que dele emanaram. Por onde passou, a impressão que se tem, ao conversar sobre Ariosto, com quem ele tinha contato, é uma só


19 - e até parece combinada. Foi um homem voltado para o trabalho, um empreendedor por natureza, e, sintetizando esta e outras qualidades e atributos que lhe são conferidos, foi um homem que amava seu País e tinha imensurável fé nas perspectivas que este oferecia. Sofreu não só com as barreiras impostas pela natureza, mas também da vida. Quando pensou que tudo já lhe tinha acontecido, um desastre familiar abalou o “velho Ariosto” como era carinhosamente chamado pelos amigos, e pelo seu filho Ludovico da Riva Netto, falecido em 1990, em acidente aéreo no município de Barra do Garças/MT, quando almejava uma carreira política mesmo contra a vontade de seu pai. Foi um golpe do destino jamais sentido pelo colonizador, pois Ludovico era seu braço direito nas empresas e na família. Toda região Norte do Estado também sofreu, pois o sucessor de Ariosto, também no carisma, na bondade e no trabalho, partia de uma forma triste e sofrida. Na madrugada de 25 de julho de 1992, Ariosto da Riva, 77 anos, falece vítima de um infarto do miocárdio, na cidade de Alta Floresta/MT. O bandeirante do século XX morreu, mas deixou ao povo mato-grossense um legado de modernidade, de seriedade, de moralidade e de trabalho. Durante mais de 30 anos se dedicou a construir, a escrever a história moderna de Mato Grosso com seu trabalho e sua visão empresarial de vanguarda. Ariosto da Riva se foi, mas deixou um exemplo a ser seguido por muitos. Contar o que fez Ariosto da Riva, nas áreas onde ele deixou seu olhar, é tentar reproduzir a difícil simbiose que une o homem a terra, que os funde na vocação de gerar fluxo. Quando se trata especialmente de um homem que pôs o coração à frente de cifras e valores materiais, é querer transformar o sublime no grotesco de números, e mesmo correr o risco de diminuir os valores morais que dele emanaram. Por onde passou, a impressão que se tem, ao conversar sobre Ariosto, com quem ele tinha contato, é uma só - e até parece combinada. Foi um homem voltado para o trabalho, um empreendedor por natureza, e, sintetizando esta e outras qualidades e atributos que lhe são conferidos, foi um homem que amava seu País e tinha imensurável fé nas perspectivas que este oferecia. Sofreu não só com as barreiras impostas pela natureza, mas também da vida. Quando pensou que tudo já lhe tinha acontecido, um desastre familiar abalou o “velho Ariosto” como era carinhosamente chamado pelos amigos, e pelo seu filho Ludovico da Riva Netto, falecido em 1990, em acidente aéreo no município de Barra do Garças/MT, quando almejava uma carreira política mesmo contra a vontade de seu pai Ariosto. Foi um golpe do destino jamais sentido pelo colonizador, pois Ludovico era seu braço direito nas empresas e na família. Toda região Norte do Estado também sofreu, pois o sucessor de Ariosto, também no carisma, na bondade e no trabalho, partia de uma forma triste e sofrida.

Ao lado, estátua em homenagem a Arisosto na cidade de Alta Floresta, norte do Mato Grosso, e acima o desbravador nascido em Agudos


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Seminário de Agudos se abre para a comunidade O Seminário Santo Antônio se mistura com a história dos últimos 50 anos de Agudos. O conjunto arquitetônico é o maior da América Latina, e sua majestosa construção, sua riquíssima arquitetura e a beleza dos detalhes do local continuam a serviço da evangelização, não mais de seminaristas, mas de leigos e do clero de toda região. O Seminário começou a ser projetado em 1947, com a primeira visita dos frades a Agudos e a compra da fazenda Santo Antônio para sua construção. Desde então, algumas datas marcam sua instalação, como em 31 de janeiro de 1950, com a transferência dos primeiros 80 alunos do Seminário de Rio Negro (Paraná) para o novo seminário de Agudos, ainda em construção. Em agosto do mesmo ano, a abertura dos alicerces da segunda ala, e dois anos depois, dois terços da casa já estavam prontos e abrigava 210 seminaristas. Em 1954 teve início a construção da terceira ala e da igreja, e no ano seguinte a inauguração e benção da igreja dedicada à Imaculada Conceição.

Em 1955, o Seminário entra em funcionamento de forma completa e é inauguração em dezembro de 1960. O órgão começou a ser construído em 1961, por Siegfried Schürle e August Pfau, da cidade de São Bento do Sul (SC), e foi inaugurado em 28 de Junho de 1962. Apesar do projeto original servir à formação de novos religiosos, com o passar dos anos a vocação do Seminário foi se atualizando e hoje o espaço pode servir à comunidade de forma mais ampla, segundo Frei James Neto. “Desde o início de 2016 o projeto é abrir sempre mais a estrutura do seminário para a comunidade de Agudos. As missas agora são dominicais, a visitação à casa e ao Museu Natural está sempre aberta. A hospedagem para um final de semana já é possível e o auditório com capacidade para 500 pessoas, já há algum tempo acolhe eventos da Prefeitura de Agudos como teatros, shows, etc. A piscina já e usada pelos Bombeiros Municipais de Agudos para treinamento. A cada final de semana o Seminário

recebe grupo de pessoas para encontros, retiros e eventos comunitários. Também o clero de diversas dioceses da região faz aqui seu retiro anual”, contou. Com as mudanças, o Seminário pretende ingressar com mais intensidade ao projeto turístico da cidade. “Tem-se a proposta de fomentar eventos maiores, em parceria com a Prefeitura de Agudos e o Conselho Municipal de Turismo, eventos como a Semana Cultural Franciscana, com apresentações de artistas locais e convidados, audições e recitais do órgão na igreja, Caminhada Luminosa até a gruta de Nossa Senhora, Cavalgada Franciscana, exposições de imagens e pinturas de São Francisco, exposição de presépios. E ainda a semana gastronômica com oficinas de bolos, pães e biscoitos, com a participação de chefs locais e convidados”, contou o Frei.


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Moradora mais antiga declara amor por

Domélia Sentada na sala de sua casa, aos 104 anos completados em março, a mineira de Montes Claros, Emília Gonçalves dos Reis guarda uma parte deliciosa da história de Agudos, que se refere especialmente ao distrito de Domélia. Emília é a moradora mais antiga do distrito. Com uma lucidez invejável, se lembra de quando veio de Minas com o marido Orsino da Fonseca Correia e três filhos para trabalhar na Fazenda Santa Maria. Após o nascimento de outros três filhos, quando ainda eram pequenos, um acidente de trator vitimou o marido fatalmente. A saída, então, foi se instalar em Domélia, onde o filho mais velho já residia com a esposa. Hoje, estão vivas apenas as três filhas Maria Aparecida, com quem mora, Arlete e Luciana. A partir de então, a vida foi de trabalho duro, já que sem o marido, Amélia conta que passou a lavar roupas para as famílias da região para sustentar os cinco filhos. Além de trabalhar na colheita do algodão. Mas, engana-se quem pensar que a senhora frágil lembra com tristeza do passado. “Trabalhei muito, tinha que tirar água do poço para lavar as roupas das famílias, lavava roupa o dia todo, a semana toda. Na

época do algodão, ia para a colheita. Era uma boniteza, ver aquela roça branquinha. As crianças iam para a escola e quando voltava ajudavam a apanhar algodão. Era gostoso aquele tempo”. Além de abastecer a casa apenas com água do poço, Emília viveu muito tempo sob a luz do lampião, até que foi instalada a iluminação em algumas ruas do distrito, à base de um gerador. Mesmo assim, a igreja organizava as festas religiosas, momentos de confraternização entre os moradores do local. “O povo era muito unido, todo mundo se conhecia. Não tinha briga, todo mundo se respeitava”. De Agudos, a referência era para comprar aos artigos que precisava. “Eu lembro como era diferente Agudos também. Lembro quando chegamos de Minas Gerais, passamos por Agudos e viemos de jardineira para Domélia, porque não tinha ônibus”. Embora tenha relutado em mudar-se para a região, o que aconteceu, segundo ela, depois de muita insistência do marido, Emília se declara apaixonada, ainda hoje, pelo pequeno distrito. “Eu gostava muito de Domélia naquele tempo e hoje gosto muito de Domélia”, diz.


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Dona Emília, apaixonada por Domélia, lucidez e muitas histórias. Abaixo, pracinha na entrada da cidade para quem chega de Agudos pela estrada de terra: AMOR



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