UMA NOVA ERA: A GUERRA DOS DISCURSOS Alfredo Jerusalinsky1 ... Little boxes. Little boxes Al the same... (Malvina Reynolds) ... agora eu era o herói E meu cavalo só falava inglês... (Chico Buarque e Nara Leão)
Imortalizados, esses versos, respectivamente por Janis Joplin em Woodstock (1969) e por Chico Buarque no seu retorno do exílio (1977), constituem símbolos de um protesto pelo ataque às diferenças culturais e subjetivas selvagemente desatado pela globalização capitalista e pela farsa social-burocrática do estalinismo a partir da segunda guerra mundial. A ilusão que a revolução francesa e a revolução industrial inauguraram de uma construção progressiva de igualdade de direito e econômica como auspicioso destino da civilização contemporânea acabou naufragando na cobiça da apropriação de todo objeto representante de qualquer promessa de “plus de juissans”2 e no “narcisismo das pequenas diferenças”. A invenção do capital anônimo e o nascimento do cientificismo da Eugenia criaram as condições discursivas para uma nova moral social: o semelhante não existe. E, ainda, as novas tecnologias eletrônicas implementadas sob a forma de novas linguagens, ao transformar as relações de tempo e espaço estabeleceram novas formas de funcionamento do princípio de realidade na lógica da vida cotidiana do sujeito contemporâneo.
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Psicanalista Membro da Association Lacaniènne Internationale (A.L.I.). Especialista e Mestre em Psicologia Clínica. Doutor em Psicologia da Educação e Desenvolvimento Humano. Presidente Honorário e Fundador da Fundación para el Estudio de los Problemas de la Infancia e do Centro Clínico Dra. Lydia Coriat de Buenos Aires, Argentina. Consultor e Professor do Instituto Travessias de Infância Centro de Estudos Lydia Coriat – São Paulo. Consultor de Prevenção de Problemas de Desenvolvimento na Infância do Ministério de Saúde do Equador. Professor convidado na Universidad Nacional Tres de Febrero – Buenos Aires. Professor Convidado da FAFIRE – Recife. Professor do CEP – São Paulo. 2 Nos referimos ao conceito de Jacques Lacan em sua conferência ditada na Capela do Hospital SaintAnne em 1º de junho de 1972. Nela destaca que o problema crucial para nossa espécie não é a verdade acerca do saber senão o saber sobre a verdade. Nele o que hoje está em jogo é quanto espaço destinamos à conquista desse agregado de gozo que o discurso social nos promete. + de gozar que hoje vem aderido à representação de qualquer objeto. Modo de representação que acaba norteando o ideal coletivo a uma poderosa estruturação de enlace do desejo ao objeto e não ao outro. De tal forma que poderíamos unificar a procedência universal de toda e qualquer coisa hoje (assim como em outras épocas essa atribuição era atribuída aos Deuses) o estribilho Made in No Man (Feito pelo Não Humano).
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