Retratos de Mulheres do Renascimento

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Biblioteca da Escola Secundรกria Camilo Castelo Branco | Vila Real 2019

RETRATOS DE MULHERES DO RENASCIMENTO


Título : Retratos de Mulheres do Renascimento Edição : Biblioteca da Escola Secundária Camilo Castelo Branco, Vila Real Coordenação geral do projeto : Adelaide Jordão Coordenação de textos e gravação áudio: Adelaide Jordão, Ana Cecília Mouta , Margarida Soares e Vítor Lousada Capa : A Primavera, de Sandro Botticelli (pormenor) Textos : alunos 10F Grafismo : Adelaide Jordão Projeto Pilotagem do Referencial AcBE | Secundário | Ano letivo 2018-2019 Escola Secundária Camilo Castelo Branco, Vila Real | Rede de Bibliotecas Escolares (RBE) Camilo 2027: Encontros de Leitura(a) | aLeR+ 2027 Junho 2019

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RETRATOS DE MULHERES DO RENASCIMENTO

Não se nasce mulher, torna-se mulher. Simone de Beauvoir Foge da mulher que sabe latim e da burra que faz him. Provérbio popular português

No Renascimento assistimos a um progressivo empoderamento das mulheres, sobretudo as das camadas abastadas (nobres e aristocráticas) que passam a aceder regularmente à educação e a frequentar as Universidades. Em muitas situações, o curriculum lecionado a mulheres e homens era o mesmo. São muitos, os exemplos de mulheres que nesta época ocuparam cargos políticos de relevo e tiveram um papel importante na cultura do seu tempo. Destacamos onze. O presente trabalho foi realizado no decurso do estudo dos “Textos literários de carácter autobiográfico - Camões lírico”, na disciplina de Português, e da abordagem da “Produção cultural” no Renascimento, na disciplina de História A. Na abordagem destes conteúdos, centrados na figura feminina, em articulação com a reflexão sobre as questões suscitadas pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável/ODS, particularmente o ODS5 – Igualdade de género – foi utilizado o referencial Aprender com a Biblioteca Escolar.


CATARINA DE MÉDICIS, RAINHA CONSORTE DE FRANÇA (1519-1589)

Retrato de Santi di Tito. Galleria degli Uffizi, Florença. https://www.altesses.eu/princes_max.php?image=ec1b7a873

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RETRATOS DE MULHERES DO RENASCIMENTO

SOU CATARINA DE MÉDICIS.

Fui uma das mais poderosas mulheres do meu tempo. Para uns, fui uma mulher impiedosa, para outros, a salvadora da monarquia francesa. Nasci em Florença, Itália, em 1519, e fui a última descendente legítima da ilustre linhagem dos Médicis (meu pai foi Lourenzo de Médicis, o Magnífico, “soberano” da República Florentina durante o Renascimento italiano). Aos 14 anos casaram-me com Henrique, filho de Francisco I de França, a quem havia sido prometida, ainda adolescente. Ao longo da minha vida de casada, fui humilhada e preterida pelo meu marido em favor da sua poderosa amante, Diana de Poitiers. Aos 40 anos enviuvei. Sozinha, com seis filhos pequenos, fui por várias vezes rainha regente (dos futuros reis Francisco II, Carlos IX e Henrique II). Como a vingança se serve fria, após a morte de meu marido, obriguei Diana de Poitiers a retirar-se da corte e a devolver todos os bens com que fora presenteada por el-rei. Desempenhei

um

papel

importante

nos

conflitos

religiosos

entre

protestantes (huguenotes) e católicos, iniciados em 1562, que instalaram um clima de guerra civil em França. Enquanto permaneci no poder, até 1574, mandei ampliar o palácio do Louvre e construir o palácio das Tulherias. O acervo documental da biblioteca de Paris foi significativamente enriquecido devido à minha intervenção direta. Faleci em Blois, França, em 5 de janeiro de 1589.

Ricardo Martins e Miguel Rodrigues


ISABEL D’ ESTE, MARQUESA DE MÂNTUA (1474-1539)

Retrato de Ticiano. Museu de Viena, Áustria. http://venice11.umwblogs.org/files/2011/12/empress-isabella-deste-in-black.jpg

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SOU ISABEL D’ESTE. Quando se fala no Renascimento, fala-se obrigatoriamente de mim, porque fui considerada uma das grande mecenas do meu tempo, figura política e cultural de destaque e líder da moda. Nasci a 18 de maio de 1464, em Florença. Sou a filha mais velha do duque de Ferrara, Ercole I d'Este, e de Leonora de Nápoles. Aos 16 anos, casei-me com Francisco II Gonzaga e passei a ter o título de Marquesa de Mântua. Durante os primeiros anos do meu matrimónio, fomos um casal feliz e transformámos a nossa corte na mais refinada de toda a Itália. Tive uma educação esmerada, traduzi textos gregos e latinos, encantei com a minha voz e com o som do alaúde. Nos meus salões, era frequente a presença de Ticiano, Rafael e Leonardo Da Vinci. Este último propôs-se fazer o meu retrato, mas, infelizmente, não chegou a acabá-lo. O esboço ainda hoje pode ser admirado. Sou uma apaixonada pela arte, mas também desempenhei funções de liderança, ficando a meu cargo o governo de Mântua todas as vezes que o meu marido se ausentava para participar nas guerras em que se envolveram os estados italianos. Desempenhei o cargo com tal eficácia que, quando o meu marido regressou a Mântua, três anos após ter sido capturado

pelos

franceses,

teve

uma

crise

de

misoginia.

Provavelmente, na sua opinião de homem de armas, uma mulher não podia ser tão capaz, ou melhor, do que um homem nas artes de governação. Fiquei destroçada com a atitude do meu marido. A desilusão levou ao meu afastamento, passando longas temporadas em Roma. Após a sua morte, regressei a Mântua definitivamente e continuei a desempenhar novas responsabilidades políticas , desta vez, ao lado do meu filho. Faleci em Mântua, a 13 de fevereiro de 1539. Carlos Lage e Juliana Santos


D. ISABEL DE PORTUGAL, IMPERATRIZ ROMANO-GERMÂNICA (1503-1539)

Retrato de Ticiano . Museu do Prado, Espanha. https://pt.wikipedia.org/wiki/Isabel_de_Portugal,_Imperatriz_RomanoGerm%C3%A2nica#/media/File:Isabella_of_Portugal_by_Titian.jpg

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SOU ISABEL DE PORTUGAL. Fui casada com o imperador romano-germânico Carlos V, o monarca mais poderoso do meu tempo que então dominava na Alemanha e em Espanha e estendia a sua influência política e o poder das suas armas ao mundo inteiro. Nasci a 24 de outubro de 1503. Sou filha do rei D. Manuel I e da rainha D. Maria. Após o meu casamento, em 1525, passei a ter o título de imperatriz romano-germânica. Fui considerada a mulher mais bela da minha época, conhecida pelos meus cabelos loiros arruivados e pelos olhos claros. Estudei latim, a doutrina cristã e os clássicos do meu tempo. Possuo uma vasta cultura e uma completa biblioteca composta por obras de cariz espiritual, destinadas à oração e ao enriquecimento cultural, e livros da minha preferência, muitos deles relacionados com cavalaria. Depois de casada, passei os meus dias em Toledo, frequentemente esperando por meu marido que se ausentava por longos períodos. Malhas que o império tece… Herdei da minha avó materna a capacidade de decisão. Fui uma mulher experiente em problemas de governação, sobreponho sempre o bem comum aos interesses particulares. Faleci, após 14 anos de casada, a 1 de maio de 1539, durante o parto do meu terceiro filho. Dizem que o Imperador, meu marido, se apaixonou verdadeiramente por mim e que, após a minha morte, se isolava frequentemente para contemplar o meu retrato.

Beatriz Morais e Mafalda Nóbrega


D. LEONOR DE AVIS, RAINHA DE PORTUGAL (1458-1525)

Retrato iluminado da Rainha D. Leonor, esposa de D. João II, no seu Livro de Horas. Lisboa, Biblioteca Nacional.

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SOU LEONOR DE AVIS. Fui a mais rica princesa da Europa do meu tempo e, hoje, sou conhecida como a rainha fundadora das Misericórdias. Nasci a 2 de maio de 1458, em Beja. O meu pai, D. Fernando, Duque de Viseu, herdou a fortuna de seu tio, o Infante D. Henrique, o Navegador. Fui uma das mais notáveis soberanas portuguesas de todos os tempos e a primeira das ocupantes do trono português com sangue dos Bragança. Casei com João II de Portugal, o Príncipe Perfeito, passando a ser conhecida como “Princesa Perfeitíssima. Reinei

no

apogeu

da

expansão

portuguesa,

quando

Lisboa

se

transformava na Capital Europeia do Comércio e das riquezas exóticas. Depois de ter ficado viúva, assumi a regência do Reino por várias vezes e, mais tarde, refugiei-me no meu Palácio de Xabregas, situado nos arredores de Lisboa. Tive uma vida exemplar marcada pela prática constante das virtudes cristãs, tendo fundado um hospital termal, que ficou conhecido por Caldas da Rainha. Viria a terminar os meus dias no Paço de Xabregas, junto ao convento da Madre de Deus que fundei e onde quis ser sepultada em campa rasa. Faleci a 17 de novembro de 1525, aos 67 anos, na cidade de Lisboa.

José Gouveia, Maria Francisca


D. LEONOR DE PORTUGAL, IMPERATRIZ ROMANO-GERMÂNICA (1434-1467)

Retrato de Hans Burgkmair, o Velho. Museu de História de Arte, Viena, Áustria. https://pt.wikipedia.org/wiki/Leonor_de_Portugal,_Imperatriz_Romano-Ger

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SOU D. LEONOR DE PORTUGAL. Fui a última Imperatriz do Sacro-Império Romano-Germânico a ser coroada em Roma pelo Sumo Pontífice. Nasci no ano 1434, no dia 18 de setembro. Pertenço à Dinastia de Avis por parte do meu pai, D. Duarte, que se casou com D. Leonor de Aragão, minha mãe. Sou neta de D. João l e de D. Filipa de Lencastre. Nasci no seio de uma das famílias mais cultas e ricas da Europa. Sou uma mulher de estatura mediana, com olhos negros e brilhantes, boca pequena e face levemente rosada. Sei falar várias línguas. Sou uma pessoa ponderada e sensata. Vivi até aos dezasseis anos em Portugal com as minhas irmãs. Casei-me com Frederico III, Imperador do Sacro Império Romano-Germânico. Com o casamento tornei-me Imperatriz de um Império dividido por guerras internas. Viajei muito, tive momentos bons e maus. Foi numa viagem a Itália que o meu casamento foi consumado. Do

meu

longo

casamento

tive

cinco

filhos

dos

quais

dois

sobreviveram. Vivi esta dor sem o consolo da parte portuguesa da minha família.

Lara Fernandes e Luana Santos


LEONOR DE TOLEDO, DUQUESA CONSORTE DE FLORENÇA (1537-1562)

Retrato de Agnolo Bronzino. Galeria Nacional de Praga.

https://www.lavanguardia.com/internacional/20140105/5 4398811479/dama-florencia.html

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SOU LEONOR DE TOLEDO. Fui uma amante da arte, convivi com artistas e escritores e dediquei grande parte da minha vida e fortuna a fazer de Florença um dos centros culturais a nível mundial. Nasci em Espanha, em 1522. Com 10 anos mudei-me com a minha família para Itália porque o meu pai, D. Pedro de Toledo, foi nomeado Vice-Rei de Nápoles pelo Imperador Carlos V. Aí passei a minha adolescência em festas, cercada de luxo. A minha família é rica e o meu pai um dos homens mais poderosos e influentes da península itálica. Aos 17, anos casei com Cosme I de Médicis e tornei-me Duquesa de Florença. Em 1547, fundei a Academia Literária Deglo Elevatti. Falo três línguas fluentemente – o francês, o espanhol e o italiano. Como grande amante de arte, também gostei que me pintassem. Um dos meus retratos prediletos foi pintado Agnolo Bronzino.

Laura Costa e Leila Cabral


LUCRÉCIA BÓRGIA DUQUESA CONSORTE DE FERRARA (1480-1519)

Retrato de Bartolomeo Veneto. Städel Museum, Frankfurt, Alemanha. https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Veneto,_Bartolomeo__Lucrezia_Borgia_(alleged),_detail_of_portrait.jpg

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SOU LUCRÉCIA BÓRGIA. A história, a lenda e o mito fizeram de mim uma figura fascinante, sedutora, cruel e perigosa. Nasci em Subiaco, Itália, a 18 de abril de 1480. Sou filha ilegítima de Rodrigo Bórgia, que virá mais tarde a tornar-se Papa com o nome de Alexandre VI. Fui vítima dos esquemas e conveniências políticas do meu pai e do meu irmão César. Os meus casamentos com Giovanni Sforza e Alfonso de Aragão, duque de Bisceglie, foram arranjados por conveniência e por conveniência foram desfeitos: o primeiro casamento foi anulado e o meu segundo marido foi assassinado por ordem de meu pai. Os interesses e alianças políticas entre famílias poderosas italianas tudo justificava. O meu terceiro marido, Afonso D'Este, foi igualmente escolhido por meu pai, tinha eu vinte anos. Desta vez, o alvo da minha família era o filho do poderoso duque de Ferrara. Com ele tive 5 filhos. Criei a chamada “corte das letras” que incluía escritores como Ludovico Ariosto, Pedro Bembo e Hércules Strozzi, da poderosa família Strozzi que meu marido por ciúme assassinou. Morri aos 39 anos devido a um parto complicado e fui sepultada no convento de Corpus Domini em Ferrara.

Eva Santos, José Martins


MARGARIDA DE VALOIS RAINHA CONSORTE DE FRANร A E NAVARRA (1553-1615)

Retrato de Clouet. Castelo de Blois, Loir-et-Cher, Franรงa. https://www.parismatch.com/Royal-Blog/royaute-francaise/La-reine-Margot-une-femme-qui-prenaitsoin-de-sa-beaute-1293476

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SOU MARGARIDA DE VALOIS. A literatura, pela mão de Alexandre Dumas, e o cinema, sobretudo depois da adaptação de Patrice Chéreau, viriam a celebrizar-me como a Rainha Margot. Nasci a 14 de maio de 1553, no Castelo de Saint-Germain-en-Laye, e faleci a 27 de março de 1615, em Paris. Sou filha de Henrique II de França e de Catarina de Médicis. Cedo percebi que o meu destino seria o de selar alianças políticas vantajosas para o reino de França e servir de instrumento

de

celebração

da

reconciliação

entre

católicos

e

protestantes. Infelizmente, o casamento com o meu primo, o monarca protestante Henrique de Bourbon, rei de Navarra, e futuro rei Henrique IV da França, viria a ser tragicamente manchado com o massacre da noite de São Bartolomeu, onde dezenas de milhares de huguenotes protestantes

franceses

foram

assassinados

por

ordem

da

coroa

(desnecessário será dizer que as lutas entre católicos e protestantes se tornaram ainda mais sangrentas). Fui rainha de Navarra e rainha consorte de França. Poderia ter sido a legítima rainha de França, não fosse o princípio da masculinidade, inscrito na Lei Sálica que legitimava a exclusão das mulheres da sucessão da coroa. O casamento sem amor não me impediu de amar os prazeres da vida nem de em várias chamas arder. Amante da arte, patrocinei vários artistas, poetas, eruditos e músicos. Por me querer envolver nos confrontos religiosos, passei

20 anos da

minha vida em Usson, de início como prisioneira, depois como castelã. Aí escrevi as minhas Memórias. Modéstia à parte, dei o meu contributo para o surgimento da moderna autobiografia.

Manuel Palma e Mário Zanettin


MARIA TUDOR RAINHA DE INGLATERRA E IRLANDA (1516-1558)

Retrato de Anthonis Mor. Museu do Prado, Madrid. Espanha. https://www.museodelprado.es/en/the-collection/art-work/mary-tudor-queen-of-england-secondwife-of-philip/aef6ebc4-081a-44e6-974d-6c24aef95fc4

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SOU MARIA TUDOR.

Devido à semelhança dos nomes, por vezes confundem-me com minha tia Maria Tudor, princesa de Inglaterra, rainha da França e duquesa de Suffolk, a irmã mais nova de meu pai, o rei Henrique VIII de Inglaterra. Nasci em Greenwich, em 18 de fevereiro de 1516. A história da minha vida confunde-se um pouco com a história da vida de meu pai. Fui princesa herdeira, e tive uma educação esmerada para suceder a meu pai, enquanto este esteve casado com a sua primeira mulher, Catarina de Aragão, minha mãe. Depois fui despromovida a filha bastarda, proibida de usar o título de princesa e remetida à condição de aia de minha meia-irmã, Isabel, quando meu pai se casou com Ana Bolena. Mas, depois de esta ter sido acusada de adultério, obtive novamente o direito

de

sucessão

depois

do

filho

varão,

mas

fui

novamente

despromovida quando o meu irmão protestante, Eduardo VI, filho Jane Seymour, a terceira esposa de meu pai, se tornou rei e, no seu leito de morte, me deserdou a mim e a minha irmã. Apesar de todos os esforços de meu pai o impedir, acabaria por ser a primeira rainha reinante de Inglaterra, reconhecida como tal e coroada. Pelo casamento com Filipe II, fui também Rainha Consorte de Espanha. Redefini os rituais e a lei, estabelecendo as bases da monarquia de género. Neste sentido, o meu curto reinado de 5 anos foi sobretudo importante para o reinado da minha sucessora, a minha meia-irmã Isabel.

No

entanto,

em

Inglaterra,

país

anglicano,

sou

fundamentalmente lembrada como a Bloody Mary, a Rainha Sanguinária que perseguiu os protestantes e tentou restaurar o catolicismo em Inglaterra.

Inês Balsa e Leonardo Rocha


PROPERZIA DE ROSSI 1ª MULHER ESCULTORA (1490-1530)

Retrato de autor anónimo. https://www.accademiasanluca.eu/it/collezioni_online/pittura/archive/cat_id/1788/id/2352/prop erzia-de-rossi

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SOU PROPERZIA DE ROSSI

Fui a única mulher artista incluída no livro que o biógrafo italiano Giorgio Vasari escreveu sobre os mais proeminentes pintores, escultores e arquitetos do seu tempo. Nasci em Bolonha, Itália, em 1490, num tempo em que, às mulheres, era pedido recato, modéstia e obediência. Por outras palavras, nasci num tempo marcado pela omnipresença dos símbolos da masculinidade, pela recusa da expressão da individualidade e da criatividade femininas e pela ausência da Mulher do espaço público.

Estudei com o famoso gravador Marcantonio Raimondi e mais tarde frequentei a Universidade de Bolonha. Se ser artista mulher era já uma ousadia, imaginem o que seria, à época, querer ser escultora, uma arte tradicionalmente vista como uma arte viril. Lembro, também, que o nu artístico era uma das características da arte renascentista… Ora, os meus trabalhos mostram um profundo conhecimento da anatomia e do movimento do corpo masculino, que soube trabalhar com mestria a partir da rudeza do mármore. Vi o meu trabalho reconhecido - fui um dos artistas selecionados para trabalhar na Basílica de S. Petrónio, em Bolonha – mas não me perdoaram, nem o atrevimento da mulher, nem a arte da artista. Talvez a inveja (das mulheres e dos homens) possa explicar o silenciamento a que a História me condenou.

Beatriz Batista e Sónia Dias


SOFONISBA ANGUISSOLA PINTORA (1532-1625)

Autorretrato. Museu Kunsthistorisches, Vienna, Ă ustria. https://pt.wahooart.com/@@/8XZ97V-Sofonisba-Anguissola-Auto-retrato

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SOU SOFONISBA ANGUISSOLA Fui a primeira mulher pintora a alcançar fama internacional. O mestre Miguel Ângelo, que cheguei a conhecer, pessoalmente, em Roma elogiou os meus trabalhos. Orgulho-me por poder dizer que, depois de mim, muitas mais mulheres passaram a ser aceites nas escolas de artes. Nasci em 1532, em Cremona, Itália. Ainda jovem, com 14 anos, incentivada por meu pai, comecei a estudar pintura no atelier de Bernadino Campi. Desde aí não parei, tendo prosseguido o meu trabalho até me ter tornado numa das pintoras mais famosas de Itália. Durante a minha juventude, pintei sobretudo autorretratos e retratos de família. Na técnica do retrato, fui particularmente influenciada pelo pintor italiano Corregio. A minha fama ultrapassou fronteiras, tendo chegado a ser convidada pelo rei Filipe II de Espanha para me deslocar a Madrid e o retratar a ele e à família. Bendito convite pois, na viagem de regresso a Itália, conheci aquele que viria a ser o meu marido! Por motivos profissionais, viajei muito. Já quase no fim dos meus dias, tinha eu 90 anos, conheci o famoso retratista flamengo Anthony Van Dyck, que me visitou na Sicília. Idosa e quase sem visão, foi este o esboço que de mim fez o artista na ocasião. Fui uma mulher visionária e uma artista criativa, mas, como aconteceu a muitas outras artistas mulheres, fui remetida para o limbo da História da Arte ocidental.

Beatriz Mendes, Lara Sofia Fernandes e Margarida Vilela


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RETRATOS DE MULHERES DO RENASCIMENTO

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“Quando relacionamos o referencial com os programas e as metas curriculares, o trabalho das bibliotecas no âmbito da formação para as diversas literacias ganha substância, uma vez que se verifica uma complementaridade entre os descritores previstos no referencial e as várias disciplinas/áreas de conhecimento. Esta complementaridade precisa de ser considerada no trabalho quotidiano dos professores bibliotecários e dos docentes, cabendo às escolas, à sua direção, às estruturas educativas e aos professores salvaguardar a inclusão da biblioteca nas estratégias e objetivos educativos e curriculares da escola, tendo em vista a criação de situações e modos de aprendizagem favoráveis ao desenvolvimento das literacias. Estas literacias compreendem um conjunto de conhecimentos, capacidades, atitudes e valores de carácter transversal, indispensáveis a um ensino de qualidade, capaz de responder às exigências formativas do mundo atual e de educar para o pleno exercício da cidadania. O domínio de bons níveis de competência nas áreas da leitura, da informação e dos media, cada vez mais presentes nos ambientes digitais, constitui atualmente uma condição base da igualdade, da inclusão social e da participação ética e produtiva na sociedade democrática e as bibliotecas são um lugar de excelência dentro das escolas para os promover.” PORTUGAL. Ministério da Educação. Gabinete da Rede Bibliotecas Escolares. Portal RBE: Aprender com a biblioteca escolar [2017]

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Camilo 2027: Encontros de Leitura(s) | aLeR+ 2027

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<URL:


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