Uni/Versos, ano 1, nº 6 - dezembro de 2013

Page 1

ISSN 2317-756X

Uni/Versos Uni/Versos

publicação da Biblioteca Alphonsus de Guimaraens Ano 1, nº 2, maio de 2013

publicação da Biblioteca Alphonsus de Guimaraens

Carro Biblioteca da UFOP

Ano 1, nº 6, dezembro de 2013

Oficina de paleografia

As licenciaturas a distância da UFOP contos e mais...

Evento Literatura Campanha E mais...

EDUFOP


expediente

Universidade Federal de Ouro Preto UFOP

Reitor - Marcone Jamilson Freitas Souza Vice-Reitora - Célia Maria Fernandes Nunes

Uni/Versos Coordenação Geral Michelle Karina Assunção Costa Editores

Sistema de Bibliotecas e Informação SISBIN Coordenadoria Executiva - Celina Brasil Luiz Coordenadoria Técnica - Luciana Matias Felicio Soares Chefia do Núcleo Administrativo - Marilene Vasconcelos de Melo Instituto de Ciências Humanas e Sociais ICHS Diretor - William Augusto Menezes Vice-Diretora - Glícia Salviano Gripp Biblioteca Alphonsus de Guimaraens (Biblioteca do ICHS) Bibliotecária - Luciana de Oliveira (CRB/6-2630) Bibliotecária - Michelle Karina Assunção Costa (CRB/6-2164)

Marcos Eduardo de Sousa Michelle Karina Assunção Costa Editora Assistente Luciana de Oliveira Projeto gráfico e editoração eletrônica Marcos Eduardo de Sousa Colaboradores desse número (em ordem alfabética) Adriano Soares Rodrigues Ana Eliza Teixeira Elias Theodoro Mateus Flávia Cristina Michel Reis Gustavo Moreira Alves Juliana Soares de Resende Santos Letícia Silva Batista Lucas Samuel Quadros Michelle Karina Assunção Costa Thalles Simplício de Faria A publicação Uni/Versos recebe textos para publicação, os conteúdos, opiniões e ideias desses textos (devidademente assinados) não necessariamente refletem a opinião dos Editores da resvista, sendo responsabilidade de seus respectivos autores.

----------

Uni/Versos é uma publicação mensal da Biblioteca Alphonsus de Guimaraens.

Contatos: Telefones: (31) 3557-9414 / (31) 3557-9415 Site: www.sisbin.ufop.br/bibichs/ Uni/Versos de Biblioteca Alphonsus de Guimaraens / UFOP Email: bibichs@sisbin.ufop.br é licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivados 3.0 Não Adaptada. universos.bibichs@gmail.com Permissões além do escopo dessa licença podem estar disponível em Mariana - MG http://www.sisbin.ufop.br/bibichs/index.php/fale-conosco. EDUFOP ISSN 2317-756X Uni/Versos - ano 1, nº 6, dezembro de 2013 www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos


editorial Chegamos ao fim de mais um ano! Agradecemos a todos os nossos leitores e colaboradores nesse trabalho que iniciamos no primeiro semestre desse ano! Nessa última edição do ano trazemos dois textos que abordam o trabalho com documentos, arquivos, um sobre a Oficina de Paleografia (iniciativa de discentes do curso de História) e outro sobre a importância da paleografia nos estudos históricos. Além disso, temos ainda um balanço da Campanha ‘Estudante Solidário’ em João Monlevade, texto literário, análise da estrutura de uma peça teatral, entre outros textos. Informamos aos nossos leitores e colaboradores que a periodicidade da Uni/ Versos pode não ocorrer como proposto (mensalmente), em virtude dos recessos escolares, inventário, entre outros motivos. Além disso, a previsão da primeira publicação de 2014 é para o mês de março, assim, aguardamos o envio de textos! Esperamos que todos apreciem a publicação do nosso último número do ano, boa leitura a tod@s! Desejamos a tod@s Boas festas de fim de ano, e um ano novo repleto de felicidades e realizações!

Marcos Eduardo de Sousa Uni/Versos - ano 1, nº 6, dezembro de 2013 www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos


sum Oficina de Paleografia da UFOP: os desafios da constituição e suas atividades Letícia Silva Batista Juliana Soares de Resende Santos Lucas Samuel Quadros Adriano Soares Rodrigues Elias Theodoro Mateus

Reflexões sobre linguagem, escrita e paleografia Letícia Silva Batista Juliana Soares de Resende Santos Lucas Samuel Quadros Adriano Soares Rodrigues Elias Theodoro Mateus

12

O realismo fantástico contemporâneo presente na obra “Mamãe não pode saber” de João Falcão Ana Eliza Teixeira

20

Uni/Versos - ano 1, nº 6, dezembro de 2013 www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos

6


mário Campanha Estudante solidário, realizada nos dias 12 a 16 de agosto de 2013, na Biblioteca do ICEA Flávia Cristina Michel Reis

26 Encontro Regional de Bibliotecas Universitárias (ERBU) Michelle Karina Assunção Costa

28 M – P&B Gustavo Moreira Alves

32

O Curso Política Thalles Simplício de Faria

32

Lançamento de livro

34 col@bore conosco!

36 Uni/Versos - ano 1, nº 6, dezembro de 2013 www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos


Artigo

Oficina de Paleografia da UFOP: os desafios da constituição e suas atividades Os desafios da constituição

O presente artigo visa abordar e reconhecer os desafios da constituição da Oficina de Paleografia da Universidade Federal de Ouro Preto. A iniciativa discente, atuante desde o início de 2013, tem há muito refletido sobre a carência do estímulo à pesquisa em arquivo e do reconhecimento do documento como fonte de conhecimento e especialização profissional. Muitas vezes tal indagação permanece apenas nos grupos de pesquisa que têm na documentação manuscrita sua fonte de trabalho, o que delimita ainda mais a circulação e alargamento das experiências e interesse aos demais discentes. As discussões sobre arquivísticas, paleografia e problematização do documento enquanto fonte foram instigadas em larga escala pela a disciplina de Seminário de Brasil IV, ministrada pelo professor Dr. Francisco Eduardo de Andrade, que se pautava, principalmente, nas discussões sobre arquivos e historiografia. A princípio, a disciplina atentou-se para as discussões de cunho teórico. Estas, por sua vez, resultaram numa interação mais reflexiva e atenta as características estruturais e conjunturais do império luso-brasileiro, quanto dos próprios documentos, como inventários, testamentos, atas e processos crimes. Isto estimulou entre os alunos discussões mais instigante sobre a importância do exercício de leitura paleográfica no

6

Uni/Versos - ano 1, nº 6, dezembro de 2013 www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos

ofício do historiador. A experiência dos debates ao longo da disciplina de alguma forma constituíram questionamentos mais maduros a cerca da necessidade da troca de experiências e da teorização do trabalho empírico no arquivo. No mesmo ano de 2013 ocorreu o Encontro de Pesquisa em História da Universidade Federal de Minas Gerais, o evento que estava em sua segunda edição, proporcionou além de comunicações, mesas-redondas, palestras e mini-cursos sobre várias temáticas. Um deles se destacou na escolha do grupo: “Mini-curso 2: Introdução à Paleografia Portuguesa Moderna.”, os encontros consistiram no total de três dias, nos quais foram explorados diversos aspectos metodológicos e teóricos do estudo paleográfico. O contato com os ministrantes do mini-curso possibilitou a troca de experiências no arquivo e o conhecimento do funcionamento da Oficina de Paleografia da UFMG. A possibilidade de estabelecer uma Oficina regular também na UFOP tornou-se algo compartilhado entre os integrantes das duas universidades, que contam ainda com a efetivação da mesma Oficina na Universidade Federal de Juiz de Fora. O intuito seria a criação destas para estimular e ampliar o desenvolvimento de leitura paleográfica, do conhecimento arquivístico e de suas inúmeras possibilidades para a pesquisa histórica. Além de concretizar um constante diálogo entre as universidades, proporcionando aos alunos confe-


Oficina de Paleografia da UFOP: os desafios da constituição e suas atividades rências, debates e visitas aos arquivos. As aproximações foram consolidadas e uma comissão organizadora constituída na UFOP, foi definido que a iniciativa permaneceria integralmente discente e que o grupo deveria ser heterogêneo, dois mestrandos e três graduandos, o que colabora para uma dinâmica maior e corrobora para a continuidade da proposta. A institucionalização deu-se de maneira satisfatória e unânime pelo Departamento de História da Universidade Federal de Ouro Preto. A Oficina ainda conta também com o apoio dos grupos de estudos JALS (Justiça, Administração, Luta Social) e o ILB (Impérios e Lugares do Brasil).

Atividades da Oficina de Paleografia da UFOP

Após apresentar o intuito da Oficina de Paleografia da UFOP, sua origem e institucionalização, cabe abordar, nessa segunda parte do artigo, as atividades que esta já realizou, bem como se realizará ao longo de todo o semestre. Antes é válido compreender o que entendemos como oficina, pois caracterizá-la permite-nos justificar a programação que optou pela interdisciplinariedade, troca de experiências entre convidados, monitores e alunos e, excepcionalmente, a participação dos discentes da Universidade Federal de Ouro Preto. Aos coordenadores, oficina é um espaço de reunião de pessoas a fim de ensinar e aprender com todos os membros que por ela se interessaram e

fazem parte. Em suma e especificamente ao nosso caso, oficina é um espaço por excelência de troca de experiências, no que tange a leitura paleográfica, entre alunos de distintos cursos e níveis da Universidade Federal de Ouro Preto. A proposta enquadra-se em encontros regulares com atividades práticas e teóricas de leituras de manuscritos setecentistas e oitocentistas. Como dito, a programação da Oficina de Paleografia da UFOP concentrou-se em atividades que atendesse o público discente da universidade, que se preocupasse com a disciplinariedade (História, Arquivologia, e Paleografia) e que propusesse encontros a favor do diálogo, troca e compreensão conjunta da prática paleográfica entre os participantes.

Aula de Brasil I

A convite do professor Álvaro de Araújo Antunes, ministrante da disciplina de História do Brasil I no curso de História da UFOP, realizamos um encontro com os seus alunos do primeiro período do curso. Neste priorizamos a apresentação da nossa oficina e uma atividade prática de leitura paleográfica de um Inventário do Século XIX. Ao longo do encontro evidenciamos a importância de uma oficina de paleografia para a pesquisa histórica, a região ouropretana e marianense e para a UFOP como instituição universitária de ensino-aprendizado. Praticamos a leitura paleográfica de um inventário datado de 1807, pertencente ao acervo da Casa Setecentista de Mariana. Uni/Versos - ano 1, nº 6, dezembro de 2013 www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos

7


Oficina de Paleografia da UFOP: os desafios da constituição e suas atividades Através do exercício incentivamos aqueles alunos a participar no semestre seguinte das atividades da Oficina de Paleografia.

Ao fim, o encontro foi de grande significação para os coordenadores, alunos e professor Álvaro de A. Antunes, nele pudemos apresentar a Oficina, intuitos e estimular a participação dos recém-chegados na universidade nas atividades futuras da Oficina.

Conferência Inaugural

Inventário Post-mortem: Documento escolhido para a transcrição conjunta com os alunos do primeiro período de História. (ACSM, 1º. Ofício, 25, 645)

Diferentemente da proposta e intuito do encontro realizado com os alunos matriculados na disciplina de Brasil I do curso de História, a Conferência Inaugural privilegiou o encontro de profissionais de distintas áreas científicas em um debate sobre a prática paleográfica, pesquisa histórica e arquivística.

A conferência intitulada “A prática paleográ-

Aula de Brasil I: Atividade de leitura e prática de um inventário oitocentista com os alunos do primeiro período de história.

8

Uni/Versos - ano 1, nº 6, dezembro de 2013 www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos


Oficina de Paleografia da UFOP: os desafios da constituição e suas atividades fica: entre os arquivos e a história” foi a efetivação da Oficina de Paleografia da UFOP dentre os discentes e docentes da instituição. Realizada no Auditório Francisco Iglesias no Instituto de Ciência Humanas e Sociais, proporcionou o encontro de três conferencistas que nas suas respectivas áreas apresentaram seus trabalhos sobre a Paleografia, Arquivística e pesquisa histórica.

Conferência Inaugural: Da esquerda para direita: Pablo Menezes, Elias Theodoro, Fábio Montanheiro e Suely Perucci.

Conferência Inaugural: Coordenadores da Oficina de Paleografia da UFOP e conferencistas. Da esquerda para direita: Adriano Rodrigues, Juliana Soares, Elias Theodoro, Pablo Menezes, Suely Perucci, Fábio Montanheiro, Letícia Batista e Lucas Quadros.

Uni/Versos - ano 1, nº 6, dezembro de 2013 www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos

9


Oficina de Paleografia da UFOP: os desafios da constituição e suas atividades O diálogo entre o Prof. Dr. Fábio César Montanheiro (DELET/UFOP), Profª Ms. Suely Maria Perucci (AHMI) e Prof. Dr. Pablo Menezes e Oliveira (DEHIS/UFOP) comportou as três temáticas principais abordadas pela Oficina e demonstrou o caráter interdisciplinar que esta possui a todos os ouvintes da Conferência Inaugural. Nas suas disciplinas mostraram como estas ciências são hoje complementares umas das outras. Em suma, a interdisciplinaridade que a Oficina de Paleografia da UFOP defende estava em voga nessa conferência inaugural.

Encontros em atividades semanais

Após a apresentação e efetivação da Oficina de Paleografia da UFOP no meio discente e docente de variados cursos da universidade, começamos no dia 09 de Outubro de 2013 as atividades de fato da oficina. Ao todo mais de 50 alunos interessaram-se e inscreveram-se para os encontros semanais. Os encontros foram organizados e divididos em quatro módulos que seguirão entre os meses de Outubro a Dezembro de 2013 e Janeiro de 2014. Em todos os módulos ocorrerão quatro encontros, destes priorizamos para uma sequencia de aulas que abordassem, respectivamente, perspectivas teóricas, prática da leitura paleográfica e uma conferência científica. Detalhadamente, nos encontros que priorizamos uma abordagem mais teórica daremos uma aula expositiva aos inscritos sobre alguma temática que achamos pertinente a prática paleográfica,

10

Uni/Versos - ano 1, nº 6, dezembro de 2013 www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos

como: noções básicas da Arquivologia, Paleografia, tipos de transcrições e banco de dados. São temáticas que dialogam entre sim e com as restantes atividades da oficina. O segundo e o terceiro encontro de cada módulo serão integralmente para o treino e leitura paleográfica. Serão dois encontros que priorizarão a prática da leitura de manuscritos setecentistas e oitocentistas. Nele levaremos fragmentos de documentos aos inscritos e realizaremos uma transcrição conjunta, respeitando as dificuldades e as habilidades e, a cima de tudo, defendendo a troca de experiências entre todos os integrantes da Oficina de Paleografia da UFOP. Ao fim de cada módulo, o último encontro será uma conferência científica com um pós-graduando do curso de história da UFOP. Nesta o conferencista priorizará uma apresentação a cerca da sua pesquisa e o documento ou o tipo documental que elegeu como fonte da mesma. Inclusive os documentos que transcreveremos nos dois encontros anteriores são parte do acervo utilizado pelo conferencista em seu trabalho. Assim propomos um diálogo, entre o exercício de transcrição do documento que o próprio convidado escolheu para apresentar como fonte de pesquisa em seus trabalhos e dissertação de mestrado. O intuito é apresentar aos inscritos as possibilidades que aquele documento já transcrito por eles possui como fonte de pesquisa científica em distintas e variadas áreas acadêmicas. Em suma, os encontros comunicam-se e defendem a proposta da Oficina de Paleografia da UFOP. Ou seja, na programação da Oficina prio-


Oficina de Paleografia da UFOP: os desafios da constituição e suas atividades rizamos um espaço troca de conhecimentos e experiência, de respeito e de participação integral de alunos da Universidade Federal de Ouro Preto.

Letícia Silva Batista1

Referências Bibliográficas:

Juliana Soares de Resende Santos2

ACIOLI, Vera Lúcia Costa. A Escrita no Brasil Colônia: Um guia para leitura de documentos manuscritos. Recife: Fundação Joaquim Nabuco/ Massangana, 1994. MIRANDA, Marcia Eckert Miranda. Os arquivos e o ofício do historiador. Anais eletrônicos do XI Encontro estadual de História, Rio Grande, 2012.

Lucas Samuel Quadros3

RODRIGUES, Ana Marcia Lutterbach. A Teoria dos arquivos e a gestão de documentos. Perspectiva, ciência e informação. Belo Horizonte, vol. 1, n.1, 2006.

Adriano Soares Rodrigues4

Elias Theodoro Mateus5

Licenciada e bacharelanda do curso de História da UFOP. Integrante do grupo de pesquisa Justiça, Administração e Luta Social (JALS) e coordenadora da Oficina de Paleografia da UFOP. 2 Graduanda do curso de História da UFOP. Integrante do grupo de pesquisa Justiça, Administração e Luta Social (JALS), coordenadora da Oficina de Paleografia da UFOP e bolsista PROBIC/FAPEMIG desde maio de 2013. 3 Mestrando em História pela Universidade Federal de Ouro Preto. Bacharel e licenciado em História pela mesma instituição. Bolsista da CAPES. Membro dos grupos de estudo Justiça, Administração e Luta Social (JALS) e de Núcleo de Estudos sobre o Corpo (NEC). Coordenador da Oficina de Paleografia da UFOP. 4 Bacharel e Licenciado em História pela Universidade Federal de Viçosa. Mestrando do PPGH da Universidade Federal de Ouro Preto, bolsista PROPP-UFOP e integrante do Núcleo de Pesquisa Impérios e Lugares no Brasil (ILB). Coordenador da Oficina de Paleografia da UFOP. 5 Graduando em História pela Universidade Federal de Ouro Preto, bolsista de Iniciação Científica CNPq, atualmente desenvolve o projeto “A justiça e a prática do perdão nas Minas setecentistas”, sob orientação do Prof. Dr. Marco Antônio Silveira. É também um dos coordenadores da Oficina de Paleografia da UFOP. 1

Uni/Versos - ano 1, nº 6, dezembro de 2013 www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos

11


Artigo

Reflexões sobre linguagem, escrita e paleografia

Introdução

O artigo a seguir tem como objetivo tecer algumas considerações acerca da importância da paleografia na pesquisa histórica tendo como base o estudo de caso de uma escritura de venda lançada em livro de nota do século XIX em Mariana. Entende-se que das ciências auxiliares da História, a Paleografia é uma das mais importantes. No estudo das escritas antigas destaca-se o principal instrumento não apenas da análise estrutural dos documentos, mas reserva um caráter essencial de questionamento dos documentos que fundamentam o fazer da História, analisando, sobretudo, aspectos relacionados à escrita (TONIAZZO, ANDRADE e KRAUSE, 2009). Realça-se que a escrita não é, de maneira nenhuma, a substituição da palavra falada. Ela é a memória do percurso e desenvolvimento da própria língua e do grupo ou comunidade que a fala. Escrita e oralidade estão dessa forma imbricadas numa espécie de mediação entre a faculdade natural e biológica do falar com o registro e representações dos signos das infinidades de permanências e ausências da fonia, bem como das infinitas formas de relação entre o que está escrito e o que se lê. Ou seja,

ao analisarmos a ortografia (etimologicamente, do grego, quer dizer escrita correta), de uma língua, situamo-nos num terreno que não se restringe, obviamente, à grafia, isto é, ao mero registro dos sons da língua por meio de sinais ou de símbolos gráficos, alcançando-se desse modo a imobilização e a preservação daquelas produções vocais (GONÇALVES, 1992: 11).

12

Uni/Versos - ano 1, nº 6, dezembro de 2013 www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos

Nesse sentido, a paleografia figura como percurso fundamental para o estudo dos usos da linguagem. Por se tratar de uma área de fronteira entre a História, Filologia e Linguística, o estudo paleográfico é capaz de proporcionar um panorama de como os sistemas de escrita se constituem histórico e culturalmente, analisando-os enquanto forma (organização e conjugação de palavras), enquanto recurso (a escrita tem uma finalidade e um pretenso leitor) e enquanto História (os documentos que fundamentam os argumentos historiográficos). Privilegiou-se para análise que se segue, uma escritura, primeiro, por se tratar de um documento onde a importância do registro de escrita se manifesta no nome da tipologia documental, e segundo, porque as escrituras e os livros de notas são uns dos instrumentos jurídicos mais utilizados na América Portuguesa, logo, de inegável importância ao historiador do Brasil colonial. Análise do documento O documento selecionado para análise se trata da cópia de uma escritura de venda de terras lavrada no cartório do Tabelião e Advogado Fortunato Rafael Arcanjo da Fonseca1, de Mariana, em 1806 com o título de “escritura de venda, paga e quitação de terras de cultura”2. Lavrada em 25 de setembro de 1806, o público instrumento de 1 Foi tabelião, era advogado e foi presidente da Câmara de Mariana já no período imperial, primeiro entre 1829-32 e depois entre 1837-40. Sobre a trajetória do Tabelião e advogado Fortunato Rafael Arcanjo da Fonseca. (CHAVES et al., 2008) 2 A original se registrou no livro de notas 62, a folhas 34 a 35v, sob a guarda do referido tabelião. O exemplar transcrito e analisado neste artigo é uma cópia feita por outro escrivão, infelizmente não identificado.


Reflexões sobre linguagem, escrita e paleografia escritura de venda, pagamento e quitação foi feito pelo Tabelião em casas onde morava o Capitão Francisco Rodrigues de Castro Guimarães, na cidade de Mariana. Sem estes dados preliminares, tornava-se inválida a escritura de compra e venda. Na primeira parte, o Tabelião apresenta as partes contratadas por seus nomes e moradias, a saber, os outorgantes vendedores Francisco Roberto de Moraes e sua mulher Benta Gomes de Sampaio, moradores na freguesia do Sumidouro, e o outorgante comprador Antônio Gonçalves da Silva, morador na Freguesia de São Caetano. No Manual do Tabelião, de José Homem Correa Telles, o primeiro capítulo se debruça nas chamadas Escrituras. Em sua “advertência geral das escrituras”, o jurista fala da amplitude e do alcance do termo, que muitas vezes pode aparecer como carta ou instrumento, sendo mais usual encontrarmos escritura. A escritura pública, “a que foi por escrivão, ou tabelião, em que ele, e os mais assinam” (BLUTEAU, 1713: 228), tinha um aparato normativo na legislação específica das Ordenações Filipinas, das quais em muito se apropria o referido Manual do Tabelião. José Homem Correa Telles enfatiza, também, que para ser verdadeira uma escritura do tabelião “a declaração, se conhecem as partes; ou se são conhecidas das testemunhas do contrato ou de outras, que devem ser dignas de fé” 3. Na escritura analisada, o tabelião declara que as partes outorgantes vendedores e comprador eram conhecidas das testemunhas e estas dele. Novamente, como parâmetro de observação as Ordenações Filipinas, tudo estava de acordo na 3 O autor remete ao primeiro livro das Ordenações Filipinas, T. 78, § 6. (TELLES, 1830: 19)

transação comercial em questão, pois “se os ditos Tabeliães não conhecerem algumas das partes, que os contratos querem firmar, não façam tais escrituras: salvo se as partes trouxerem duas testemunhas dignas de fé, que os ditos Tabeliães conheçam, que digam que as conhecem.” (Ordenações Filipinas. L. 1, t. 78, § 6, 1985: 181) Esta apresentação corresponde ao modelo proposto pelo Manual do Tabelião em todos os seus quesitos. Especialmente quando dispõe, nas determinações para as escrituras de compra e venda, que ambas as partes outorgantes e contratadas deveriam estar presentes para facção, leitura e assinatura da escritura lavrada no Livro de Notas do Tabelião, como, com efeito, estavam. A segunda parte, repartida em três subpartes, corresponde às declarações dos outorgantes vendedores. Primeiramente, fornecem a localização das terras que venderam para o dito Antônio Gonçalves da Silva, terras que ficavam para os lados do Ribeirão de Santo Antônio, cabeceiras da Prata, na mesma freguesia onde morava o comprador. Os vendedores apareceram juntos, marido e mulher, na presença do tabelião, como prescrito pelo Manual do Tabelião, para fazer “boa” a escritura. As terras de cultura eram herança da mãe da outorgante vendedora, Inês da Silva e faziam limite com terras do Seminário de Mariana. Essa “porção de terras tinham eles vendedores vendido por papel particular ao comprador em o dia doze de Julho do ano de mil oitocentos e dois”.( AHCSM. Livro de notas 06, 2º Ofício. Papel avulso, fl. 1.) Ora, depois de colocadas as cláusulas pelas partes outorgantes que reconhecem o tabelião como autoridade e pessoa pública, estipulante e

Uni/Versos - ano 1, nº 6, dezembro de 2013 www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos

13


Reflexões sobre linguagem, escrita e paleografia aceitante, pedem a ele que, por estas características, reconheça a veracidade do contrato, mediante a presença das testemunhas a diante assinadas (ANDRADE, 2010). Foram testemunhas o Capitão Francisco Manoel Martins, morador no Inficionado, e o Capitão Francisco Rodrigues de Castro Guimarães, morador na cidade de Mariana e na casa do qual foi requerida a escritura, lavrada e assinada. Sobre as testemunhas, as Ordenações Filipinas dispõem que uma escritura deveria ser feita mediante a presença de no mínimo duas testemunhas. O que parece ser corrente nos registros notariais que encontramos em Vila do Carmo/Mariana e Vila Rica. Telles sustenta que este é um dos fatores que a torna verídica e digna de fé. As mesmas testemunhas presenciavam a leitura da escritura, para “declararem estar a sua vontade” e em seguida, juntamente com as partes, assinavam-na. No caso de alguma das partes não saber escrever, solicitava-se a alguém que por ele assinasse4, caso da outorgante Benta Gomes de Sampaio, a rogo de quem assinou Bernardo José Vilela. Como sobredito, a transcrição diz respeito a uma cópia do livro de notas original. Por mais que não tenha sido o Tabelião Fortunato Rafael a fazer cópia da escritura original, ele fez uma criteriosa revisão e a autenticou por meio de uma breve declaração e sua assinatura, passando tudo “na verdade”. De modo geral, existem duas formas de 4 “E se cada uma das partes não souber assinar, assinará por ela uma pessoa, ou outra testemunha, que seja além das duas, fazendo menção, como assina pela parte, ou partes, porquanto elas não sabem assinar.” Ver: Ordenações Filipinas, L. 1, t. 78, § 4. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1985, p. 181.

14

Uni/Versos - ano 1, nº 6, dezembro de 2013 www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos

escritura. A mais comum é a de compra e venda que, basicamente, é um registro da transação de bens entre duas partes, onde há uma movimentação financeira em troca de um bem imóvel. Os bens podem ser dos mais variados tipos: casas, casas comerciais, sítios, fazendas ou terras de cultura – que é o caso do documento selecionado. Há também a escritura de doação, onde uma parte doa um bem à outra sem que seja feita uma transação financeira, esta forma geralmente é utilizada para a transmissão de bens entre familiares. Embora esta última não seja tão recorrente quanto a primeira, ela tem um valor muito grande para o pesquisador, principalmente, àquele que busca investigar as redes de sociais, parentesco e compadrio. A escritura em questão é um registro de terras de cultura, ou seja, uma propriedade rural onde era desenvolvida alguma forma de produção/cultivo. Este tipo documental possibilita, por exemplo, que sejam feitas análises sobre o uso e os ritmos de ocupação territorial. Para o historiador Ângelo Carrara, que faz uso das escrituras em seu trabalho, estes registros devem ser vistos como um mapa, no sentido de tentar entender a estrutura fundiária, ou estrutura de posse, da sociedade em questão (CARRARA, 1999). O documento selecionado nos fornece, por exemplo, a localidade e extensão da propriedade que está sendo quitada. No caso, ela faria divisas com três outras fazendas, sendo elas a do Seminário de Mariana, do Padre José Inácio de Araújo e a de Francisco Nunes. Já as descrições da fábrica, ou seja, o tipo de atividades desenvolvidas nas propriedades, tais como, lavras de ouro, lavouras ou criação de animais, são recorrentes neste tipo


Reflexões sobre linguagem, escrita e paleografia de documentação, mas não seguem um padrão. Por vezes elas aparecem de forma detalhada, mas em muitos casos há apenas citações superficiais como no caso da escritura seleciona que, apenas, cita se tratar de uma propriedade de “cultivo”. Estes dados podem ser utilizados pelo pesquisador, por exemplo, para tratar da ocupação territorial e das dinâmicas econômicas e de produção. Como vimos, o documento também informa a quantia paga pela propriedade e a forma de pagamento: trezentos mil réis (300$000 réis), pagos num período de quatro anos. Na escritura consta que o processo de compra e venda teria iniciado em 1802 e que este se conclui em 1806, com a quitação do valor e a feitura da escritura. Estes dados (valor e forma de quitação) podem ser utilizados em pesquisas sobre a economia local e formas de obtenção da terra. A paga e quitação do valor de trezentos mil réis é o escopo da terceira parte. Mais de quatro anos depois, as partes recorrem às instâncias judiciais para oficializar o acordo particular e declarar por meio do instrumento escrito o acerto de contas. Através desta declaração perante um oficial da justiça de Sua Majestade, concediam todo o direito daquela propriedade ao comprador que acabara de pagar a dívida, já que as terras foram vendidas a crédito. A propósito da transferência de direitos daquela propriedade no Ribeirão de Santo Antônio, freguesia de São Caetano, o outorgante comprador faz sua declaração de que já estava de posse das terras e aceitava a geral quitação de sua dívida. A forma de quitação, também pode ser base para as análises sobre as relações de poder e justiça. Por exemplo, na escritura selecionada é

possível perceber, que a parte compradora já havia se instalado na propriedade, ou seja, as partes iniciaram o processo de negociação e contrato fora da esfera da justiça formal, o que nos possibilita supor que havia uma espécie de código informal cujas ambas as partes se submeteram. Eles recorrem ao poder formal somente para evitar que o acordo firmado entre eles seja questionado no futuro por outras partes. Ou seja, há uma certa ordem estrita às partes, onde a justiça exerce o papel legitimador na tentativa de evitar o seu questionamento por outrem. Considerações finais Em qualquer estudo sobre a ortografia – em que a Paleografia tem muito a contribuir – se torna fundamental determinar as especificidades da língua escrita em face à língua oral, bem como a interação entre ambas. A língua é, sobretudo, um instrumento de comunicação baseado num sistema de signos vocais específicos aos membros de uma mesma comunidade. Contudo, observandose a complexidade e variabilidade dos usos da escrita e da fala entre cada comunidade ou grupo, a linguagem – seja escrita ou oral – torna-se um observatório da experiência humana entre os indivíduos e seu meio. Percebeu-se que na escritura observada a importância e integração da escrita na História de Minas – seja da justiça ou agrária. Além disso, nos permitiu analisar a perpetuação das relações históricas através da escrita, bem como a importância e legitimidade da escrita numa sociedade basicamente tida como iletrada no

Uni/Versos - ano 1, nº 6, dezembro de 2013 www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos

15


Reflexões sobre linguagem, escrita e paleografia período em questão. Como sobredito, mais do que registrar, as escrituras enquanto ferramentas jurídicas significam a própria representação – representar como “estar em vez de” – do indivíduo frente às questões que perpassam seu cotidiano (HESPANHA, 2008). Realça-se, que não se pretendeu apenas examinar um documento cujo objetivo elementar é o fechamento de uma negociação, mas, através dele intentou-se estabelecer reflexões concernentes à relação das sociedades – nesse caso, Mariana do século XIX – com as suas ambiências políticas, mercantis, econômicas e contratuais (MATHIAS, 2010), onde a escrita como certidão de um acordo provavelmente firmado na fala, figura como principal fio condutor de compreensão.

Transcrição do documento5 Fl. 1 Escritura de venda, paga e quitação de terras de cultura que fazem Francisco Roberto de Moraes e sua mulher a Antônio Gonçalves da Silva 6 Saibam quantos este público Instrumento de Escritura de venda, paga e quitação, ou como em Direito melhor Lugar haja virem, que sendo no Ano do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo 5 Para a transcrição deste documento manuscrito, adotamos o método de transcrição popular, que consiste em atualização e modernização da ortografia e da pontuação, a fim de viabilizar a compreensão do leitor a partir de seu próprio contexto linguístico e ortográfico. 6 AHCSM, Livro de notas 06, 2º Ofício, folha avulsa. Escritura de venda de terras de cultura, 1806. Livro original nº 62, fl. 34 v e 35.

16

Uni/Versos - ano 1, nº 6, dezembro de 2013 www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos

de mil oitocentos e seis aos vinte cinco dias do mês de setembro do dito ano, nesta Leal Cidade de Mariana, em casas de morada do Capitão Francisco Rodrigues de Castro Guimarães, onde eu Tabelião ao diante nomeado vim, aí apareceram presentes partes outorgantes havidas, e contratadas a saber de uma como outorgantes vendedores Francisco Roberto de Moraes, e sua mulher Benta Gomes de Sampaio, moradores na Freguesia do Sumidouro deste Termo, e da outra, como comprador, Antônio Gonçalves da Silva, morador na Freguesia de São Caetano deste Termo, aqueles e este reconhecidos das testemunhas a diante expressadas, e estas de mim Tabelião pelas próprias, em presença das quais pelos vendedores uniformemente me foi dito que eles eram senhores, e possuidores de uma porção de terras de cultura com seu rancho sitas no Ribeirão de Santo Antônio, cabeceiras da Prata Freguesia de São Caetano, que parte com terras da Fazenda do Seminário desta Cidade, com as do Padre José Inácio de Araújo, e Francisco Nunes, e com quem mais deva e haja de partir, e confrontar por herança que à vendedora coube por falecimento de sua Mãe Inês da Silva, e de que tinham tirado por sesmaria com outros seus Irmãos, cuja porção de terras tinham eles vendedores vendido por papel particular ao comprador em o dia doze de Julho do ano de mil oitocentos e dois pela quantia de trezentos mil réis fiados, e agora novamente lha vendiam por este Instrumento as ditas terras, benfeitorias e rancho e seus pertences pela referida quantia; e como dele a tinham recebido, dela lhe davam plena e geral paga, e quitação, para mais lhe não ser pedida em tempo algum per sis, nem por outrem, seus Procuradores, Testamenteiros


Reflexões sobre linguagem, escrita e paleografia herdeiros, ascendentes e descendentes, e nele cediam toda a posse, jus, ação, Direito, e Senhorio que nas ditas terras tinham, para que as logre, e possua como suas que ficam sendo, e delas poderá tomar posse, e quer a tome quer não, desde já lha hão por dada, largada, e nele incorporada pela cláusula constituti, e que por suas Fl. 1 v Pessoas e bens se obrigam a por ao comprador a paz, e a salvo de qualquer dúvida, ou embaraço que sobre esta venda se mova, fazendo-a a todo o tempo boa, e que igualmente se obrigavam a não contravir o presente Instrumento, nem reclamá-lo por ser feito de suas livres vontades, antes sim a cumpri-lo: E pelo Outorgante comprador me foi dito perante as mesmas testemunhas que por ter conhecimento das terras vendidas, e delas estar já de posse, aceitava a venda e quitação que lhe era feita, e obrigação que se comprometiam, de opor a salvo de qualquer dúvida que se possa mover, e que igualmente se obrigava a não contravir este trato, por ser feito de sua livre vontade antes sim a cumpri-lo: E nesta forma de seus ajustes, pediram a mim Tabelião nesta Nota lhes lançasse estipulasse o presente instrumento, o qual eu como pessoa pública, estipulante, e aceitante, nesta Nota lhes lancei, estipulei, e aceitei o presente Instrumento, em nome deles partes presentes e de quem mais ausente tocar possa o Direito dos mesmos, sendo a tudo presentes as testemunhas os Capitães Francisco Manoel Martins, Francisco Rodrigues de Castro Guimarães, aquele do Inficionado, este desta Cidade de mim reconhecidos que se assinam com as ditas partes depois deste Instrumento ser lido por mim e declararem estar a sua vontade e de

que dou fé; e a rogo da vendedora por não saber escrever assina o Alferes Bernardo José Vilela desta Cidade de mim reconhecido, e este Instrumento fiz por bem da distribuição, que me foi feita Fortunato Rafael Arcanjo da Fonseca Tabelião que o escrevi // Francisco Roberto de Moraes // A rogo de Benta Gomes de Sampaio Bernardo José Vilela // Antônio Gonçalves da Silva // Francisco Manoel Martins // Francisco Rodrigues de Castro Guimarães. Nada mais continha a Escritura que se acha Lançada em o meu Livro atual de Notas número sessenta e dois a folhas trinta e quatro verso et trinta e cinco ao qual me reporto, e vai na verdade sem coisa que dúvida faça pela ler conferir, e achar em tudo conforme a própria e a subscrevi, e assinei, em o dia, digo e assinei em público, e raso em o dia mês e ano a princípio declarado Fortunato Rafael Arcanjo da Fonseca Tabelião o subscrevi conferi e assinei em público e raso. Em tudo de verdade Fortunato Rafael Arcanjo da Fonseca

Referências: Bibliografia: ANDRADE, Francisco Eduardo de. “Estipulante e aceitante de direitos: o ofício de tabelião nas Minas do ouro (Vila de Nossa Senhora do Carmo)”. In: MOLLO, Helena Miranda; SILVEIRA, Marco Antônio (orgs.). Termo de Mariana: história e documentação. Vol. III. Ouro Preto, MG: UFOP, 2010, p. 53-66. CARRARA, Angelo Alves . Contribuição para a História Agrária de Minas Gerais. Ouro Preto: Editora da UFOP, 1999. Uni/Versos - ano 1, nº 6, dezembro de 2013 www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos

17


Reflexões sobre linguagem, escrita e paleografia

CHAVES, Cláudia Maria das Graças et al. Casa de vereança de Mariana: 300 anos de história da Câmara Municipal. Ouro Preto, MG : Editoria UFOP, 2008. GONÇALVES, Maria Filomena. Madureira Feijó, ortografista do século XVIII: para uma História da Ortografia Portuguesa. Lisboa: Ministério da Educação/Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, 1992. HESPANHA, António Manuel. Imbecillitas: as bem-aventuranças da inferioridade nas sociedades de Antigo Regime. Belo Horizonte: UFMG/ FAFICH, 2008. MATHIAS, Carlos Leonardo Kelmer. Escrituras de “procuração bastante”: potencialidade e possibilidades de análise, o caso de Minas Gerais na primeira metade do século XVIII. Anais do III Simpósio do ILB, Mariana, 2010.

TONIAZZO, Carmem Lúcia; ANDRADE, Elias Alves de; KRAUSE, Maria Margareth Costa de Albuquerque. Edição de manuscritos: características paleográficas. Polifonia, Cuiabá, n.19, 2009. Fontes impressas: BLUTEAU, Raphael. Vocabulário Portuguez e Latino. Coimbra: impresso no Colégio das Artes da Companhia de Jesus, 1713. Ordenações Filipinas. L. 1, t. 78, § 6. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1985. TELLES, José Homem Correa. Manual do Tabelião ou ensaio de jurisprudência eurematica. Lisboa: na impressão régia, 1830. Fontes manuscritas: AHCSM. Livro de notas 06, 2º Ofício. Papel avulso, fl. 1.

Letícia Silva Batista1 Juliana Soares de Resende Santos2 Lucas Samuel Quadros3 Adriano Soares Rodrigues4 Elias Theodoro Mateus5

Licenciada e bacharelanda do curso de História da UFOP. Integrante do grupo de pesquisa Justiça, Administração e Luta Social (JALS) e coordenadora da Oficina de Paleografia da UFOP. 2 Graduanda do curso de História da UFOP. Integrante do grupo de pesquisa Justiça, Administração e Luta Social (JALS), coordenadora da Oficina de Paleografia da UFOP e bolsista PROBIC/FAPEMIG desde maio de 2013. 3 Mestrando em História pela Universidade Federal de Ouro Preto. Bacharel e licenciado em História pela mesma instituição. Bolsista da CAPES. Membro dos grupos de estudo Justiça, Administração e Luta Social (JALS) e de Núcleo de Estudos sobre o Corpo (NEC). Coordenador da Oficina de Paleografia da UFOP. 4 Bacharel e Licenciado em História pela Universidade Federal de Viçosa. Mestrando do PPGH da Universidade Federal de Ouro Preto, bolsista PROPP-UFOP e integrante do Núcleo de Pesquisa Impérios e Lugares no Brasil (ILB). Coordenador da Oficina de Paleografia da UFOP. 5 Graduando em História pela Universidade Federal de Ouro Preto, bolsista de Iniciação Científica CNPq, atualmente desenvolve o projeto “A justiça e a prática do perdão nas Minas setecentistas”, sob orientação do Prof. Dr. Marco Antônio Silveira. É também um dos coordenadores da Oficina de Paleografia da UFOP. 1

18

Uni/Versos - ano 1, nº 6, dezembro de 2013 www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos


Serviços

Guia para os usuários da Biblioteca do ICHS

Desde final do mês de outubro, a Biblioteca do ICHS disponibiliza em seu site o link para o ‘Guia para os usuários da Biblioteca do ICHS’. Nesse documento os usuários encontrarão as informações básica sobre os serviços prestados pela Biblioteca, assim como orientações sobre os prazos de empréstimos/renovação, multas, solicitação de carteira. Clique no link para conhecer o ‘Guia’. http://goo.gl/6906aY

Universidade Federal de Ouro Preto Instituto de Ciências Humanas e Sociais Biblioteca Alphonsus de Guimaraens

Guia para os usuários da Biblioteca do ICHS

Mariana - 2013

Uni/Versos - ano 1, nº 6, dezembro de 2013 www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos

19


Artigo

O realismo fantástico contemporâneo presente na obra “Mamãe não pode saber” de João Falcão

“Mamãe Não Pode Saber” peça com doze personagens interpretados por cinco atores, utiliza um recurso eficaz para impulsionar ritmo a textos teatrais que é o revezamento de vários personagens para um mesmo ator. Este recurso visa atingir diferentes objetivos. Muitas vezes é visto como uma simples economia de atores, mas na verdade remonta às origens da arte teatral. No caso das tragédias gregas, esse método era aplicado diante das questões sociais da época, até porque somente pessoas do sexo masculino poderiam trabalhar como atores. Certamente não foi esta a primeira vez que personagens e atores estiveram desvinculados. Para sermos mais exatos: assim nasceu o teatro. Na tragédia grega, dois e depois três atores alternavam entre si a interpretação de todos os personagens constantes no texto. Para isso, utilizavam máscaras, o que evitava a confusão da platéia. (BOAL, 2005, p. 256)

No teatro brasileiro, temos outro tipo de revezamento, agora de atores, que é o “sistema coringa” proposto por Augusto Boal, nele estão presentes outros objetivos, diante de outra sociedade e cultura, onde diversos atores, entre eles homens e mulheres revezam entre si as mesmas personagens e investindo no teatro épico e crítico: CORINGA (SISTEMA): Técnica concebida pelo dramaturgo teórico e diretor teatral Augusto Boal, análoga ao efeito de distanciamento (ou estranhamento) da teoria brechtiana. [...] Em linhas gerais, consistiria na desvinculação ator*/ personagem, ou seja, diferentes atores

20

Uni/Versos - ano 1, nº 6, dezembro de 2013 www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos

revezavam-se nos papéis*, utilizando a ‘máscara*’ (características psicológicas e sociais) das personagens para que o espectador pudesse reconhecê-las [...]. (GUINSBURG, 2006, p. 97-98)

Nesta peça, o revezamento tem outro atributo, diferente do teatro grego e do Sistema Coringa. Tem por objetivo causar estranhamento através de traços semelhantes entre as personagens, a reação diante isso é observada tanto no expectador que hesita diante do fato não-naturalista quanto na personagem Armando, que até certo ponto da história não passa por esse revezamento. Com estas particularidades, é possível observar a existência de traços do realismo fantástico neste texto: o estranhamento, a hesitação, os fatos extraordinários acontecendo em um ambiente familiar e a ambigüidade. Além disso, o expectador pode encarar esses fatos de forma cômica, pois os observa sem participar da história e sabe exatamente o motivo de toda esta confusão, mas tendo consciência de que está diante de uma ficção, não se preocupa em encontrar uma explicação racional para isso, acompanha os acontecimentos e se mantém curioso para como será o desfecho da história. O evento sobrenatural surge em meio a um cenário familiar, cotidiano e verossímil. Tudo parece reproduzir a vida cotidiana, a normalidade das experiências conhecidas, quando algo inexplicável e extraordinário rompe a estabilidade deste mundo natural e defronta as personagens com o


O realismo fantástico contemporâneo presente na obra “Mamãe não pode saber” de João Falcão impasse da razão. (MARÇAL, não datado, não paginado)

A peça se inicia com um monólogo de Flora, narradora-personagem, o autor sugere que a personagem tenha gestos trágicos e fale como dublagem de filmes, dessa forma, observa-se a fusão da comicidade e do fantástico, presentes na repetição de falas, como por exemplo: “Apaixonada por um homem que não tem absolutamente nada a ver com ela” e na forma como esta personagem fala e age que são exageradas e nada cotidianas, principalmente quando se refere a si própria, que é o foco desta cena. O emprego do discurso figurado é um traço do enunciado; passemos agora a enunciação, e mais exatamente ao problema do narrador [...] Nas histórias fantásticas o narrador diz habitualmente “eu”: é um fato empírico que se pode verificar facilmente. (TODOROV, 2007, p. 90)

Flora tem desejos delirantes que fogem do realismo puro, que estão expressos nos diversos momentos. Está atenta para o modo como Armando fala com ela, tentando concertar, segundo suas aspirações, suas entonações como quem dirige uma cena teatral. Esta metamorfose terá conseqüências sobre a técnica do gênero. Se anteriormente o herói com que se identifica o leitor era um ser perfeitamente normal (a fim de que a identificação seja fácil e possamos com ele nos surpreender diante da estranheza dos acontecimentos), aqui, é a própria personagem principal que se torna ‘fantástica’. (TODOROV, 2007, p. 182)

Flora deseja ser uma personagem e quer transformar os fatos em histórias, segundo seus objetivos pessoais, tentando trazer à cena cotidiana, os recursos para que uma história aconteça: “música

de fundo” e direção das falas, entonações e ações. Há também, um jogo com as palavras, como por exemplo, quando Flora diz a Armando “Pensando alto? Você sabe? Me ensina.” (FALCÃO, 1993, p. 21), faz uso da expressão popular “pensar alto” para tentar traduzi-la exatamente ao pé da letra para a cena, o que contribuiria para a encenação dos fatos. Um dispositivo narracional clássico do texto fantástico – o narrador que se erige em testemunha e conta uma história já sucedida – ocupa-se de registrar realisticamente o fenômeno insólito, para obter a credibilidade do leitor. [...] Tanto o saber como as evidências sensoriais visam a interditar as deformações da subjetividade, mas a realidade neles investida é de uma perspectiva falsamente tética, posto que o efeito de real construído pelo discurso é simultaneamente desconstruído pelo efeito do fantástico. (CHIAMPI, 1980, p.57 - 58)

Armando, o herói da peça, é a única personagem que estranha a semelhança entre as personagens, chegando a confundi-las. Diferentemente de Flora, que sabe dessa semelhança entre as personagens, mas isso é um evento cotidiano para ela e convive com isso com a maior naturalidade possível. Outro aspecto relevante para a ideologia do fantástico é o conteúdo alienante da passividade do herói, que não age, mas que sofre e aprecia o acontecimento insólito. A narração desencadeada pela questão “o que me aconteceu?”, coloca-se sob o signo do acontecimento e não da ação – o que sugere, neste ‘estranhamento da atualidade’, que o agir não é pertinente no mundo da alienação. (Bessière, 1974, não paginado)

O estranhamento e a hesitação de Armando diante dos fatos estão presentes em falas como Uni/Versos - ano 1, nº 6, dezembro de 2013 www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos

21


O realismo fantástico contemporâneo presente na obra “Mamãe não pode saber” de João Falcão “Porque as pessoas fingem ser outras pessoas além do que elas são de verdade?” (FALCÃO, 1993, p. 15) e em momentos de devaneio, de divagação, onde sua voz aparece gravada em conjunto com sua presença em cena, causando a ampliação do real. O fantástico é uma percepção particular dos acontecimentos estranhos, tais acontecimentos não são consistência do fantástico, mas uma condição necessária. [...] os acontecimentos inexplicáveis serem contados por alguém que é ao mesmo tempo um dos heróis da história e o narrador: trata-se de um homem como os outros, sua palavra é duplamente digna de confiança; em outros termos, os acontecimentos são sobrenaturais, o narrador é natural: excelentes condições para que o fantástico apareça. (TODOROV, 2007, p. 92)

Como esse é um fato comum para Flora, ela não demonstra preocupação com isso, mas tem o objetivo de ser como Priscila, que seria uma forma de ela realizar essa “troca” que ela observa nas outras personagens e que para ela parece natural. A ação infrutífera da personagem em se assemelhar a outras pessoas é uma “gag” utilizada para ironizar e agilizar a ação para reforçar o potencial cômico do texto. Os flash backs que ocorrem em diversos momentos, fazem com que o tempo da peça se modifique, voltando a acontecimentos passados como uma forma de narração e explicação para determinados fatos que ocorrem em tempo real. Isso funciona como uma ferramenta de redução de tempo para a história que está sendo contada, focando apenas em acontecimentos importantes que tentam ajudar Armando a compreender o que está aconte-

22

Uni/Versos - ano 1, nº 6, dezembro de 2013 www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos

cendo, mas que na verdade, só o deixa mais confuso. Com isso consegue-se também a expansão do tempo real, trazendo acontecimentos passados para o presente. O flask back não resolve o estranhamento em relação aos acontecimentos, pelo contrário, colabora para que o mistério seja maior e permaneça até o final. Assim se explica a impressão ambígua que deixa a literatura fantástica: de um lado ela representa a quinta-essência da literatura, na medida em que o questionamento do limite entre real e irreal, característico de toda literatura, é seu centro explícito. Por outro lado, entretanto, não é senão uma propedêutica à literatura: combatendo à metafísica da linguagem cotidiana, ela lhe dá vida; ela deve partir da linguagem, mesmo que seja para recusá-la. (TODOROV, 2007, p. 176)

A hesitação que é causada no leitor/expectador não é motivada pela identificação com uma personagem, porque a hesitação nem sempre está presente no texto e o leitor/expectador não se identifica com qualquer personagem. Sendo assim, a identificação não é uma condição obrigatória do fantástico. O Fantástico coloca um impasse à razão e não o resolve, retira o indivíduo de sua estabilidade cotidiana e não lhe proporciona, ao final, uma saída racional ou metafísica. Joga-o na zona do “não sentido” e deixa-o aí, estupefato, paralisado, sem apoio tanto na teologia quanto na ciência. [...] A permanência da ambigüidade significa a permanência do mistério no Fantástico. (MARÇAL, não datado, p. 7)

A exaltação da beleza de Priscila, evidência um fato muito comum na sociedade contemporânea que é a padronização da beleza. A apologia à sua perfeita formosura é descrita através de uma fala que é decorada e


O realismo fantástico contemporâneo presente na obra “Mamãe não pode saber” de João Falcão repetida diversas vezes por Glória e Flora.

ARTUR - E o que é que você acha?

Dona Glória acredita que a beleza da filha seja a solução dos problemas financeiros da família. Além disso, Glória finge ser astróloga, realiza atendimentos por telefone. Sempre que há algum acontecimento que tira esta personagem de sua estabilidade ela ou a empregada Flora referem-se à necessidade de um bom banho para resolver seus problemas. Isso é repetido diversas vezes. O autor faz uma metáfora à utilização da função curativa dos populares “banhos de descarrego”.

MOREIRA – Quanto é 353 + 958 vezes 573.224 dólares?

O marido de Glória, Artur, está sempre tentando se candidatar, passando todo o tempo tentando treinar um discurso, inclusive nas conversas mais comuns da família, mas tem problemas de memória e não consegue lembrar palavras simples de seu discurso. Além da comicidade, demonstra de forma irônica um problema muito comum em nosso país: o descaso com a saúde e a educação. Em um de seus discursos, ele revela sua despreocupação com a importância e o sentido do que está falando: “ARTUR – Não. Entrou uma palavrinha nova que eu não me lembro. Eu não sei se foi no lugar de ‘mais saúde’ ou no lugar de ‘mais escolas’. Ou será que foi no lugar de ‘mais empregos’? Não sei. [...]”. (FALCÃO, 1993, p. 08). O jogo de palavras é uma característica marcante neste texto, presente em diversos momentos, como por exemplo, no trecho: ARTUR – Quer dizer que o partido acha que eu não somo nem multiplico? MOREIRA – Você só subtrai e divide.

ARTUR – 766 milhões, 973 mil, 709 dólares. MOREIRA – Errou. Por três dólares. (FALCÃO, 1993, p. 10) Moreira afirma para Artur que este não sabe calcular, dando um novo sentido para seu argumento de que Artur não soma (não acrescenta) para o partido. Esta cena é um recurso para uma comicidade garantida e imediata, na qual o expectador rapidamente observa a duplicidade das falas e os exageros presentes nela. A palavra literal que empregamos aqui poderia ter sido utilizada, em outro sentido, para designar esta leitura que acreditamos própria da poesia. É preciso precaver-se de confundir os dois empregos: em um dos casos, literal opõe-se a referencial, descritivo, representativo; no outro, o que nos interessa agora, trata-se antes daquilo que se chama também o sentido próprio, por oposição ao sentido figurado, aqui o sentido é alegórico. (TODOROV, 2007, p. 69)

A naturalidade com que as personagens reagem ao fato do sequestro de Mamãe durante toda a história, por exemplo, quando o sequestrador telefona pedindo uma receita de strogonoff e Glória apenas passa a receita sem perguntar por Mamãe e diversos outros momentos em que o assunto do sequestro é tratado sem preocupação, como um fato cotidiano, contribui para o caráter fantástico da peça, pois se fosse numa representação naturalista, provavelmente as personagens demonstrariam preocupação com ocorrido, teriam como foco o resgate da personagem. Para o leitor/espectador Uni/Versos - ano 1, nº 6, dezembro de 2013 www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos

23


O realismo fantástico contemporâneo presente na obra “Mamãe não pode saber” de João Falcão essa reação das personagens além de lhe causar estranhamento, chega também de forma cômica. Vê se agora porque a leitura poética constitui um obstáculo para o fantástico. Se, lendo um texto, recusamos qualquer representação e consideramos cada frase como pura combinação semântica, o fantástico não poderá aparecer; este exige, recordamos uma reação aos acontecimentos tais que se produzem no mundo evocado. Por esta razão, o fantástico não pode substituir a não ser na ficção; a poesia não pode ser fantástica (ainda que haja antologias de “poesia fantástica”...). Resumindo, o fantástico implica ficção. (TODOROV, 2007, p. 68)

O modismo adolescente é apresentado em cena através do comportamento de Juninho e Zepa que são capazes de trocar rapidamente de uma ação para outra, de acordo com o modelo do jovem atual. O momento em que Priscila entra em casa e não responde as perguntas que sua mãe, dona Glória, lhe faz e fica apenas desfilando, é uma forma de ampliação do real, além de causar hesitação no espectador diante da figura masculina que interpreta uma menina de 15 anos e é vista pelas outras personagens como tal. Dessa forma, o espectador se vê forçado a acreditar que é mesmo uma menina de 15 anos, mas como já observou esse fato (semelhança entre as personagens) em outros momentos da peça, aceita a ação, mas continua estranhando. Armando fica totalmente confuso e começa a divagar, a “pensar alto” e fica inseguro até sobre si mesmo, acreditando não ser mais a mesma pessoa de antes, sai de cena e volta como Detetive Gomes como se estivesse entrando no jogo das outras personagens. Mas Flora não consegue acreditar, tem

24

Uni/Versos - ano 1, nº 6, dezembro de 2013 www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos

dificuldades para tratar esse novo fato como a naturalidade de sempre, ela vê Armando como alguém que mudou e está do jeito como ela desejava. Essa mudança de Armando pode ser vista como uma experimentação dele para compreender o que ocorre na casa com as outras personagens. Para o espectador não fica claro se é mesmo outra personagem ou se é uma farsa de Armando, permanecendo o mistério até o final. A chegada de Mamãe é mais um elemento que reforça o mistério da história. Na primeira cena em que esta personagem aparece, uma de suas falas é “Ih, será que raptaram a minha filha” (FALCÃO, 1993, p. 32), demonstrando que esta personagem está sabendo de tudo que ocorre nesta casa, ao mesmo tempo em que parece assumir a farsa realizada através da duplicidade de personagens, causando inquietação causada no público, uma vez que nada é esclarecido e as situações estão cada vez mais sem solução. Se o que lemos descreve um acontecimento sobrenatural, e que exige, no entanto que as palavras sejam tomadas não no sentido literal, mas em outro sentido que não remeta a nada de sobrenatural, não há mais lugar para o fantástico. Existe, pois uma gama de subgêneros literários, entre o fantástico (que pertence a este tipo de textos que devem ser lidos no sentido literal) e a alegoria pura [...]. (TODOROV, 2007, p. 71)

A utilização do black-out possibilita o uso convincente da duplicidade e multiplicação das personagens onde todos os atores podem estar em cena, possibilitando que personagens interpretadas pelo mesmo ator contracenem. O público tem consciência de que isso não é possível, mas encara os black-outs de forma cômica e aceita a proposta


O realismo fantástico contemporâneo presente na obra “Mamãe não pode saber” de João Falcão como algo que possa solucionar os fatos estranhos. Flora está atenta às entonações das palavras que fala ou escuta, fica “repassando sentimentos”, como ela mesma diz. Assim ela arquiva e ensaia para transformá-los em cenas. Priscila é o exemplo de personagem com quem pretende se parecer, esse objetivo é alcançado em algumas cenas finais da peça em que Priscila aparece em cena vestida de Flora e realiza ações do cotidiano do trabalho da empregada. A atmosfera fantástica de toda a obra, o absurdo, o plano dos sonhos, a extensão do tempo é acompanhado pelo espectador que assisti à encenação. Em cada caso, o fantástico se acha posto em questão. É preciso insistir no fato de que não se pode falar de alegoria a menos que dela se encontrem indicações explícitas no interior do texto. Senão, passa-se à simples interpretação do leitor; por conseguinte, não existiria mais texto literário que não fosse alegórico, pois é próprio da literatura ser interpretada e reinterpretada infinitamente por seus leitores. (TODOROV, 2007, p. 81)

Mamãe é a personagem que assume saber o mistério que prevalece nesta história e age com naturalidade e ironia diante dos fatos e questionamentos das personagens. Em suas falas demonstra que é impossível ela e a filha estarem presentes no mesmo local (sem black out), pois são interpretadas pela mesma atriz. Podemos interpretar a atitude de Mamãe de duas formas diferentes: como a de quem está vivenciando um fato sobrenatural (ela e a filha se revezando em um mesmo corpo); a outra forma (mais provável) a ser considerada é o conhecimento de Mamãe de que isso é uma peça e se assumir como personagem para o público, brincando

com a lógica da impossibilidade de isso ocorrer na realidade. Com isso o mistério permanece, não há solução para os fatos. REFERÊNCIAS: BESSIÈRE, Irène. Le récit fantastique. La poétique de’l incertan. Paris: Larouse, 1974. BOAL, Augusto. Teatro do oprimido e outras poéticas políticas. 7. ed. rev. e ampliada. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005. CHIAMPI, Irlermar. O realismo maravilhoso: Forma e Ideologia no Romance Hispano-Americano. São Paulo: Perspectiva, 1980. FALCÃO, João. Mamãe não pode saber. Recife: [s.n.]. 1993. GUINSBURG, J.; FARIA, J.R.; LIMA, M. A. de. (orgs.). Dicionário de Teatro Brasileiro: temas, formas e conceitos. São Paulo: Perspectiva, 2006. MARÇAL, Marcia Romero. A tensão entre o realismo fantástico e o maravilhoso. (Não datado) TODOROV, Tzevetan. Introdução à literatura fantástica. 3. ed. Tradução de Maria Clara Correa Castello. São Paulo: Perspectiva, 2007. 188 p.

Ana Eliza Teixeira Universidade Federal de Ouro Preto – Graduanda em Artes Cênicas – Bacharelado.

Uni/Versos - ano 1, nº 6, dezembro de 2013 www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos

25


Campanha

Campanha Estudante solidário, realizada nos dias 12 a 16 de agosto de 2013, na Biblioteca do ICEA

A campanha Estudante Solidário, realizada no período de 12 a 16 de agosto de 2013, foi bem sucedida na Biblioteca do ICEA. Tivemos elogios de vários usuários. O objetivo da campanha era ajudar os usuários a pagarem suas multas, com valor de até R$100,00 (Cem Reais), por meio de doação de alimentos não perecíveis e leite, e, consequentemente, ajudar instituições carentes com estas doações. Participaram da campanha 146 usuários desta biblioteca.

Recebemos ao todo: 410 kg de açúcar, 180 kg de arroz, 24 litros de óleo, 144 litros de leite, 20 kg feijão, 5 kg de café, 2,5 kg macarrão. Estes alimentos foram doados para as instituições: Colônia Bom Samaritano (recuperação de dependentes químicos), Asilo Lar São José, Assistência Social de Rio Piracicaba – Asilo Padre Pinto, nos dias 20 e 21 de agosto. A experiência da biblioteca do ICEA com esta campanha foi positiva, tendo em vista a

Bibliotecária Flávia Reis na entrega das doações

26

Uni/Versos - ano 1, nº 6, dezembro de 2013 www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos


Campanha Estudante solidário, realizada nos dias 12 a 16 de agosto de 2013, na Biblioteca do ICEA

boa receptividade da mesma pelos usuários. E a possibilidade de poder ajudar instituições carentes foi muito gratificante. É importante salientar que o usuário quando faz empréstimos de obras (livros, Cds...) nas bibliotecas, está ciente do prazo de devolução. Trata-se de um compromisso assumido. Quando este usuário não faz a devolução na data marcada, outro usuário ficará sem fazer o empréstimo daquela obra. A multa é uma medida para que o usuário tenha mais responsabilidade e faça a devolução no prazo correto. O usuário que extrapola o prazo de devolução não prejudica a biblioteca e sim outro usuário. As multas são necessárias porque muitos usuários se esquecem de entregar o livro na biblioteca ou ficam com ele por mais dias quando não dá para renovar. Em períodos de avaliações, por exemplo, muitos não gostam de devolver o livro. Outros ficam com preguiça ir à biblioteca para devolver o mesmo, sobretudo nos dias que não vão à faculdade. Há usuários que realizam empréstimos de férias e quando voltam não se lembram de devolver o livro. Tempos depois, encontram o livro em seus armários e ao devolverem os mesmos se vêem com uma multa altíssima.

tas, e sim ajudar aqueles que por um descuido, não intencional, as contraiu. É nesta ótica que a Biblioteca do ICEA apóia outras edições desta campanha.

Flávia Cristina Michel Reis Bibliotecária Universidade Federal de Ouro Preto

A campanha Estudante Solidário não é para incentivar os usuários a adquirirem mul-

Uni/Versos - ano 1, nº 6, dezembro de 2013 www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos

27


Artigo

Encontro Regional de Bibliotecas Universitárias (ERBU)

Nos dias 3 e 4 de outubro de 2013 foi realizado o Encontro Regional de Bibliotecas Universitárias (ERBU), regiões Sudeste 1 (Minas Gerais e Espírito Santo), Centro-Oeste e Distrito Federal na Universidade Federal de Uberlândia (UFU), organizado pelo Sistema de Bibliotecas (SISBI) da UFU. O tema foi “A eficácia da avaliação e planejamento de bibliotecas universitárias no processo de tomada de decisão”. As palestras que ocorreram no evento trataram sobre O planejamento no Desenvolvimento de Coleções, Avaliação do MEC: desafios e perspectivas do Sistema de Bibliotecas da UFU; Software de Gerenciamento de Bibliotecas: aplicabilidade do módulo de aquisição de material informacional; Leitores de livro digital: passivos e ativos, uso e aplicação; Produção de material multiplataforma: desenvolvimento e administração de bookstore digital; Modelo de negócios dos editores; Eficácia na avaliação de cursos nas instituições; O Bibliotecário como gestor de unidade de informação. Um dos destaques neste evento foi a visita guiada à Biblioteca Central Santa Mônica (Implantação de autosserviços), onde foi possível conhecer os terminais de autoempréstimo e autodevolução disponíveis aos usuários desta biblioteca. Este tipo de evento colabora para a troca de experiência entre os profissionais bibliotecários, para a aquisição de conhecimento sobre metodo-

28

Uni/Versos - ano 1, nº 6, dezembro de 2013 www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos

logias de trabalho das bibliotecas universitárias através de relato de experiências, para atualização profissional, possibilitando também conhecer novos recursos tecnológicos que permite modernizar o trabalho nas unidades de informação. As bibliotecárias da UFOP Jussara Santos Silva (ICEB) e Michelle Karina Assunção Costa (ICHS) estiveram presentes neste evento.

Michelle Karina Assunção Costa Mestranda em Ciência da Informação - UFMG


Serviços

Renovação de livros online (tutorial) Você sabe como renovar seus livros de casa? No intuito de facilitar o acesso do usuário a esse recurso, a Biblioteca do ICHS elaborou um vídeo explicando todo o processo de renovação. Caso mesmo após assistir ao vídeo persista alguma dúvida, procure um dos funcionários da biblioteca e peça que ele lhe auxilie. http://goo.gl/icFCn

Uni/Versos - ano 1, nº 6, dezembro de 2013 www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos

29


Conto

M – P&B

A vassoura cabia-lhe nas duas mãos. Varreu a casa inteira, tirou teias de aranha... Nenhuma formiga. Talvez, se varresse o quintal, talvez encontrasse alguma minhoca. Estava cansada, muito cansada. Irritada como uma dona-de-casa que no solavanco deixa cair os ovos. Resolveu sair para a Av. José Candido da Silveira. Maquiladíssima, lembrou-se da mãe: “Você não está na idade de usar Chanel Nº 5”. Saía daquele jeito, durante o dia, mesmo assim. Pensava em se tatuar para eternizar aquela aparência, o processo diante do espelho todo dia era tedioso demais. Mal sabia Daniela, mas eu sei, porque mando na história, que o preto-e-branco de pêlos-e-peles, respectivamente, era muito mais bonito. Combinava com os olhos negros. O conjunto todo, enfim, era impecável. Ah, como eu adorava aquela franjinha! Ela conduzia a bicicleta pelo guidom Casmurro na estradinha de alvenaria, não sabia pedalar. No meio do caminho me encontrou – yupi, apareci na história! – coaxando como naquela poesia muderna, quero desprezar onomatopéias. Não quis me beijar, não queria saber de beijos. Sem mais delongas porque Danielas são muitas – não quero ofendê-las. Sozinho, à noite, caminho comigo mesmo pelas ruas. Gorjeio a canção de um filme musical admirado com os pingos iluminados. Primeiro duas gotas, depois a tempestade. Parece que caem mais devagar... Antigamente um beijo na chuva parecia mais possível. Hoje há apenas a possibilidade solitária da canção. Gustavo Moreira Alves Formado em Jornalismo pela PUC-Minas e atualmente é estudante do último período de Letras na UFOP

30

Uni/Versos - ano 1, nº 6, dezembro de 2013 www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos


Serviços

Portal de Periódicos Capes O Portal de Periódicos científicos, da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), reúne e disponibiliza um rico conteúdo científico internacional online, dentre eles, bases referenciais, bases dedicadas à patente, livros, estatísticas, conteúdo audiovisual, enciclopédias, obras de referência e normas técnicas. Diante do alto custo para atualizar o acervo das Universidades Federais, e a impossibilidade de acesso as bibliotecas brasileiras à informação científica internacional, o portal foi criado com intuito de atender ao universitário que tem necessidade de buscar novos conhecimentos em diferentes países e diminuir a disparidade regional no acesso a essa informação. O Portal de Periódicos científicos atende questões dos setores acadêmico, produtivo e governamental, além de propagar o conhecimento científico brasileiro no exterior. Com a responsabilidade de desenvolver avigoramento dos programas de pós-graduação no Brasil, ele tem o propósito de democratizar o acesso online ao conteúdo científico internacional de alto nível. O acesso aos materiais disponibilizados pelo Periódicos Capes é realizado através da rede das instituições associadas, ou seja, somente será possível acessar esse serviço utilizando um computador dentro da instituição. Algumas instituições, inclusive a UFOP, disponibiliza aos seus usuários mecanismo que possibilitam o acesso de casa; na UFOP esse serviço se chama CAPES at Home (http://www.nti.ufop.br/capes-at-home.html). Mediante solicitação, o SISBIN pode agendar treinamentos para a utilização do Portal de Periódicos; fora dessa situação, as bibliotecas possuem pelo uma pessoa capacitada a orientar os usuários na utilização do serviço.

Uni/Versos - ano 1, nº 6, dezembro de 2013 www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos

31


Opinião

O Curso Política

Um dia desses me deparei com o artigo “Regulamentação da Profissão”, do site sbc. org.br. Veja o trecho que bem define a regulamentação: “Antes de regulamentar qualquer profissão, é levado em consideração se o exercício profissional da área pode causar danos sociais ou expor vidas humanas a riscos. Aí sim, para a defesa da sociedade, impõe-se o cumprimento de cursos específicos, obtenção de diplomas de nível superior e submissão dos profissionais às regras de órgãos fiscalizadores.” É nessa perspectiva que médicos, engenheiros, integrantes do poder judiciário, além de uma gama de profissionais, necessitam estar legitimados para exercerem seus cargos, ou seja, estão sujeitos a uma obrigatória formação profissional. Não fosse assim, não seria raro observarmos pontes e prédios no chão e ‘médicos’ receitando Aspirina a pacientes com Anemia. Um caos. O Governo também é um serviço. A diferença é que não temos a opção de contratá-lo, é um serviço imposto, e sendo assim, existem os impostos. A quantia arrecadada sobre cada cidadão é a força motriz do Governo. Deixamos nas mãos dos políticos o dinheiro e a responsabilidade das melhores estratégias para o bem comum. Mas estariam eles preparados? Será que estariam verdadeiramente engajados ao bem da Nação? A política é uma profissão inteiramen-

32

Uni/Versos - ano 1, nº 6, dezembro de 2013 www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos

te ligada à sociedade. Suas diretrizes e ações inferem diretamente no processo de desenvolvimento ou retrocesso social. É necessária uma política de qualidade, sem erros. Vemos que não vence a eleição o melhor político, e sim o que faz mais propaganda. Muitos entram no poder somente em busca de poder. É um erro deixar a sociedade no controle dessas pessoas. Assim como demais profissionais, o político deve se capacitar. Deve conhecer sua nação na totalidade e saber do que e onde ela mais precisa. Para tanto, deve estudar. E por que não um obrigatório Curso Superior ‘Para Políticos’? Regulamentamos as profissões que causam impacto na vida das pessoas. E Política não se enquadra nesse grupo? Não influencia a qualidade de vida com os desvios de verba? Com o fomento à desigualdade não gera a criminalidade? O Curso ‘Para Políticos’ seria chato e difícil para muitos. Afinal teríamos disciplinas como Ética, Responsabilidade Social e Cidadania. Ética por exemplo, deveria ser estendida a Ética I, Ética II, Ética III; e com os professores mais carrascos. Outras disciplinas poderiam ser História do Brasil, Brasil Atual, Igualdade de Oportunidade, Desafios, Patriotismo, Corrupção, Impunidade. As notas dos alunos seriam um ótimo índice no processo decisório dos votos. O cur-


O Curso Política

so não seria indicado apenas aos vereadores, a fim de não elitizar também tal classe. É muito errado o candidato gastar muito com folhetos e comícios e se eleger com base nisso. Ele tem que estar apto. Tem que saber cuidar bem da sociedade, assim como o médico cuida de seu paciente e o engenheiro cuida de sua edificação. Nos meus sonhos está o Curso ‘Para Políticos’. Um curso que possua na essência a (re) construção do caráter, secundariamente a indução ao amor à pátria e ao povo, e por último e não menos importante, a formação profissional. A educação e o conhecimento são os pilares do desenvolvimento real, que comecemos com os modeladores da sociedade!

Thalles Simplício de Faria Estudante de Engenharia Ambiental Servidor lotado no SISBIN Escritor

Uni/Versos - ano 1, nº 6, dezembro de 2013 www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos

33


Artigo

Lançamento de livro

O CONCEITO Autores: Reinhart

DE HISTÓRIA Koselleck, Chris-

tian Meier, Odilo Engels, Horst Günther Prefácio: Sérgio da Mata (UFOP) e Arthur Alfaix Assis (UnB)

A palavra “História”, cujo primeiro registro conhecido remonta a Heródoto, no século V a.C., é um patrimônio de diferentes culturas ocidentais que há quase 2.500 anos é cultivado, expandido e ressignificado. Ao longo de todo esse espaço de tempo, porém, ela passou por inúmeras transformações. A partir do Iluminismo e da Revolução Francesa, este conceito passou a significar algo novo. Por um lado, “História” passa a denotar tanto a disciplina que estuda os eventos passados quanto o processo histórico em si mesmo. Por outro, difunde-se a ideia de que “História” compreende a totalidade das incontáveis histórias humanas. A “História” torna-se “História Universal”, adquirindo não apenas uma unidade desconhecida para os antigos gregos, mas acima de tudo uma direção: ela se torna indissociável da noção de “progresso”. Um complexo processo de reconfiguração semântica sem o qual o surgimento do marxismo, por exemplo, seria inconcebível. A fascinante história do conceito de “História” nos é contada neste clássico estudo escrito por Christian Meier, Odilo Engels, Horst Günther e Reinhart Koselleck. Publicado originalmente no grande léxico Geschichtliche Grundbegriffe: Historisches Lexikon zur politisch-sozialen Sprache in Deutschland, obra de referência sobre a história dos conceitos, O conceito de História, lançamento da Autêntica Edito-

34

Uni/Versos - ano 1, nº 6, dezembro de 2013 www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos

ra, apresenta pela primeira vez a tradução integral do verbete “Geschichte, Historie”. A obra analisa em detalhe os usos do termo e as concepções de história vigentes na Antiguidade Clássica, os rearranjos semânticos decorrentes de sua absorção no horizonte cultural cristão, os diferentes gêneros historiográficos medievais, bem como a dinâmica do pensamento histórico sob os influxos do Renascimento, da Reforma e das transformações que deram origem ao mundo contemporâneo. Concebida para atender professores e alunos de história com livros ainda não traduzidos para o Brasil, a coleção História e Historiografia já conta com dez títulos. Coordenada pela historiadora e pesquisadora Eliana de Freitas Dutra, as obras da coleção foram escritas por autores que têm se notabilizado pela contribuição para a renovação temática, as reflexões de método e os debates teóricos no interior da historiografia contemporânea.


Boas Festas!!!

A equipe da Uni/Versos e da Biblioteca do ICHS deseja a todos os usuários, leitores e colaboradores um próspero ano novo, cheio de felicidades e realizações!!! Boas Festas!!!

Uni/Versos - ano 1, nº 6, dezembro de 2013 www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos

35


col@bore conosco! A publicação Uni/Versos convida todos os seus leitores a enviarem seus textos para o nosso próximo número. Aceitaremos textos nas seguintes temáticas: • que abordem a inter-relação entre a universidade e a sociedade; • sobre os projetos de Extensão e Pesquisa da UFOP; • resenhas de livros que tenham sido publicados (ou reeditados) nos últimos 5 anos; • textos literários e artísticos nas seguintes modalidades: prosa (como conto, por exemplo), lírica (como poesia, por exemplo) e quadrinhos/charges; • textos que abordem temáticas relevantes da área de humanidades. Orientações para envio * Os trabalhos de divulgação, técnico-científicos, ensaios e contos deverão conter no máximo 08 páginas, incluindo anexos, tabelas e gráficos; não incluir resumo e palavras-chave (incentivamos o uso de imagens em todos os textos, com as devidas referências). * Quadrinhos e charges o limite é de 1 (uma) página em tamanho A4. * Todos os textos devem ser digitados em papel A/4, fonte Arial ou Times, 12; o espaçamento entre linhas de 1,5 cm; com tabelas e gráficos na mesma versão (fonte Arial ou Times, 11); as margens superior e esquerda de 3 cm; margens inferior e direita de 2 cm.

* Notas (colocadas no rodapé com espaçamento simples, tamanho 10): devem ser evitadas, utilizá-las em casos especiais, não utilizando este espaço para referências bibliográficas. * As citações longas (mais de três linhas), as legendas das ilustrações e/ou tabelas devem ser digitadas com espaçamento simples. * As referências devem ser digitadas com espaço simples e separadas entre si por um espaço em branco simples, alinhadas à esquerda.

Lembramos ainda que os textos serão avaliados e podem ser publicados até mesmo em números futuros (informaremos aos autores se for essa a situação). Os autores deverão enviar juntamente como texto uma pequena nota biográfica contendo: nome completo, instituição de formação e curso e o atual vínculo institucional (se tiver). Deve ser encaminhado ainda, uma foto (preferencialmente em arquivo do tipo *.jpeg ou *.png) que irá acompanhar o texto da publicação. Os textos deverão ser encaminhados para o e-mail universos.bibichs@gmail.com O prazo máximo de envio do texto para a publicação no próximo número é dia 28 de fevereiro de 2014!!! 36

Uni/Versos - ano 1, nº 6, dezembro de 2013 www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.