O homem de todas as minhas vidas

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Capítulo 17

Estou em casa, tomando uma sopa fria com canudinho. Meu lábio desinchou bastante e o médico liberou alimentos sólidos a partir de amanhã. Faz uma semana desde o acidente e Lucas avisou, pelo celular, que meu Jeep sofreu perda total. Ah, não acredito, eu amava aquele carro! Vovó senta-se na beira da cama, encarando-me indagadora. Espera que eu lhe dê uma resposta satisfatória, coisa que não quero fazer. – Vai mesmo embora, Lise? Vai me deixar sozinha? Fugirá dos problemas como sempre fez? Não consigo acreditar nisso. – Não tenho outra escolha. Não posso ficar na mesma cidade que ele. Não quero nem pensar no que pode acontecer. – meus nervos estão em curto-circuito. – E Lucas? Vocês estavam se entendendo. – vovó balança a cabeça, tristemente. Acaricia a colcha, desenhando com o dedo por cima das flores estampadas. – Não acho que Natan seja o tal homem, não acho mesmo. Sua mente está pregando uma peça. E outra: como pode ter certeza de que aquelas vidas realmente pertenceram a você? – Eu tenho certeza. – o canudinho ronca quando sorvo o último gole de sopa. – Vó, eu não tenho intenção de abandoná-la, não quero deixar Vila Rica. Também não gostaria de deixar Lucas e o meu ateliê. Mas não consigo pensar em outra coisa. Tenho que ir embora, é a coisa certa a fazer. – Não podemos fugir do destino, Lise. Quantas vezes terei que repetir isso para você? O destino sempre nos encontra, cedo ou tarde. – Vou evitar o destino enquanto puder. Farei de tudo para isso. – coloco o prato sobre a mesa de cabeceira. – Está sendo covarde. – Não. Estou tendo a coragem de fazer alguma coisa. – Isso não me parece coragem. É covardia, na sua pior forma. – há um brilho melancólico no fundo dos olhos azulados da minha avó. Sei que ela está magoada e meu coração está partido por fazê-la sofrer. – Faça o que achar que deve, você conhece a minha opinião. – O que você faria? – ajeito-me na cama, afofando o travesseiro. – Eu ficaria e encararia de frente. Jamais fugiria. – Não sou tão forte assim. – percebo então que vovó tem razão, não há coragem na decisão que tomei. É um ato covarde, de quem não quer encarar o que poderá acontecer no futuro. Eu só quero estar segura, isso é crime? – Pense bem no que vai fazer. É só o que peço. – vovó recolhe o prato e sai do quarto, fechando a porta atrás de si. ∞∞∞ Lucas chega no mesmo horário de sempre. Está abatido e explica que o plantão foi longo, está há quase trinta horas sem dormir. Estamos na sala. Há um som de fundo tocando Pink Floyd, uma coletânea dos maiores sucessos da banda. Vovó está no Amelie. Lucas se aproxima, acariciando o meu rosto com as costas da mão. Desde que vovó


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