O homem de todas as minhas vidas

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Capítulo 27

Já estou de posse da minha Pajero preta, ano 2008, repleta de acessórios divertidos e um manual bem grosso para estudar. Como odeio manuais, jogo-o de forma displicente dentro do porta-luvas. Quando chego em casa, por volta de uma da tarde, Lucas está no meio fio, apoiado no capô da viatura policial. Vovó chega logo atrás, com seu Opalão brilhando de tão limpo. – Desculpe não ter ido buscar o carro com você, Lise. Mas houve um chamado de última hora e só agora consegui chegar. – Lucas estala um beijo em meus lábios. – Tudo bem. Recebi sua mensagem e a vovó foi me buscar na universidade. – E então? Valeu a compra? Está curtindo o carro? – ele pergunta, alisando a porta da Pajero e dando uma boa olhada lá dentro. – É ótimo, tão bom quanto meu falecido Jeep. – Lucas, meu bem, já almoçou? – vovó pergunta, toda animadinha. – Ainda não, Amelie. A delegacia está um caos hoje. – Então venha, vou fazer macarrão ao pesto. Sei que é um dos seus pratos preferidos. – vovó sabe mesmo como agarrar alguém pelo estômago. – Puxa, Amelie, como vou recusar um prato desses? Se não for dar trabalho... – Ora, não seja bobo, meu filho. Venha, vamos entrar. Enquanto vovó prepara seu famoso pesto, eu e Lucas estamos no meu ateliê, jogados no pufe vermelho gigante que acomoda duas pessoas bem juntinhas. Ele alisa meus cabelos e me convida para ir ao cinema à noite. Digo que já faltei ontem no Amelie, mas ele não aceita a desculpa. Nesse caso, iremos ao cinema essa noite. Quando vovó nos chama para almoçar, preciso fazer uma tremenda força para conseguir parar de beijá-lo. Não sei como Lucas consegue me arrebatar dessa forma, mas eu chego a perder a noção de onde estou. Depois do almoço e de Lucas voltar à delegacia, sinto uma vontade absurda de ir à livraria. Tenho duas opções: a do centro ou a que fica localizada no alto da cidade. Contrariando todas as possibilidades, opto pela livraria em frente à universidade. Dirijo até lá, ainda me acostumando com os pedais do novo carro. Estou concentrada na estrada, mas não deixo de notar os primeiros ares de primavera tomando posse do cenário. Bem devagar, passo em frente ao chalé e não vejo sinal do Mini Cooper preto. A universidade fica no ponto mais alto da cidade, com uma rica vegetação e casas de tirar o fôlego ladeando os três prédios. A nata de Vila Rica está concentrada aqui. Na avenida principal, algumas lojas são todo o comércio do local. Para artigos mais específicos, as pessoas precisam descer até a cidade, que fica a quinze minutos de carro. Estaciono a uma quadra da livraria, o volume de carros ainda é grande em frente à universidade. Além das faculdades, a instituição oferece cursos extracurriculares como línguas, música e aulas de reforço. Também possui uma ampla academia e uma piscina com oito raias, superdisputada pelos associados em dias de calor. Caminho, sentindo a brisa suave afagar meus cabelos. Entro na livraria sabendo exatamente o que quero. Dirijo-me à prateleira lateral e dos sete livros de Natan, o local possui apenas dois títulos em português, sendo que um deles eu já li. Compro o outro: Para


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