Portfólio Betânia Silveira

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Bet창nia Silveira Portfolio


TELLUS 2010/2014

Comporto-me diante das coisas com olhos novos de criança. O mundo é o que intenciono e dos seus objetos escolho a argila, da qual me aproprio e transformo... Quais podem ser suas possibilidades e seu uso? O que encontrar nesta relação que ultrapasse seu uso corriqueiro para mim? Quais poderiam ser suas novas funções? O que posso fazer com ela e o que ela pode me incitar? O que pode dizer-me e aos outros, o objeto escolhido, seleção fruto da minha afetividade aplicada às coisas inanimadas? É possível animá-la e dar a esse objeto nova existência? Como fazer valer, de sua transversalidade, “o que nele permanece de inquietante estranheza.”? Para Baudrillard (2002) a troca da qual o objeto é o suporte, permanece inesgotável e assim, numa busca incessante da possibilidade de alcançar suas qualidades múltiplas, aplico-me na relação com a argila e com a cerâmica. Procuro, com o deslocamento dos gestos usuais empregados na manipulação destes materiais, estabelecer novas situações. Busco propulsionar transformações por meio da ficção, reinvento para eles outras utilidades e, com isso, torno possível a presentação de novas realidades ao explorar sentidos novos para coisas.

Betânia Silveira


Tellus I experimento I Performance - 2010


Tellus I experimento II Performance - 2013


Tellus II experimento I Performance - 2010


Amuletos da Prosperidade Performance - 2013 Praia do Mo莽ambique. Florian贸polis, SC


Amuletos da Prosperidade Performance - 2013 Praia do Mo莽ambique. Florian贸polis, SC


Aceita um presente? Performance - 2011 Florian贸polis, SC


Aceita o presente? Performance - 2012 Florian贸polis, SC


Primeiro plano “Talismãs” Exposição Tellus - vista parcial - 2014 Museu de Arte de Santa Catarina. Florianópolis, SC


Primeiro plano “Rastros de processo” Exposição Tellus - vista parcial - 2014 Museu de Arte de Santa Catarina. Florianópolis, SC


Primeiro plano “Talismãs” Exposição Tellus - vista parcial - 2014 Museu de Arte de Santa Catarina. Florianópolis, SC


Detalhe “Talismãs” Exposição Tellus - 2014 Museu de Arte de Santa Catarina. Florianópolis, SC


Primeiro plano “Talismãs” Exposição Tellus - vista parcial - 2014 Museu de Arte de Santa Catarina. Florianópolis, SC


Tellus II experimento II Performance - 2013


Tellus Metr贸polis, Livro - Performance Exposi莽茫o Tellus - 2014 Museu de Arte de Santa Catarina. Florian贸polis, SC


Tellus Metr贸polis Performance - 2014 Belo Horizonte, MG


Exposição Tellus - vista parcial - 2014 Museu de Arte de Santa Catarina. Florianópolis, SC


TECERÊ 2004/2015

Esta série tem início, em 2004, com minha pesquisa de mestrado denominada, Tecer o Barro. Anteriormente, meu trabalho poético havia adotado outro material, o silicone, bem diverso da cerâmica e que lhe conferiu leveza e amplitude espacial, além de transparência e sutileza relacionada à sua percepção visual. Em 2004 decidi trazer as tramas de Diaphana, de volta à argila e à cerâmica. Assim, a questão “como tramar com o barro?” moveu minha busca por desenvolver estruturas de cerâmica nas quais o ar também fosse elemento positivo no desenvolvimento formal das peças. A ideia que sustentava minha procura, na época, é muito bem explicitada pelo pensamento de Pierre Levy em seu livro A Conexão planetária: o mercado, o ciberespaço, a consciência e o mundo entrelaçados: Trata-se, de fato, de uma amarração ou de uma implicação recíproca porque não somos corpos limitados por uma bolsa de pele, nem imagens sociais, mas fluxos de experiência, de vulneráveis sensibilidades, corações, almas, consciências; porque as consciências estão inteiramente abertas para um mundo único e comum no qual as intenções, os pensamentos, as emoções e os atos de uns fazem parte da experiência dos outros, contêm-se e condicionam-se mutuamente. Eis o fundamento do amor universal.

Portanto, a proposta reúne objetos que foram construídos durante o desenvolvimento da pesquisa de mestrado e outros trabalhos mais, produzidos ao longo desses anos, até 2015.

Betânia Silveira


Tecerê é uma palavra inventada à partir da palavra tecer, para enfatizar o contínuo e repetitivo tecer com o barro. Os entrelaçados que se mostram nesta série não obedecem uma metódica ordem de tramar os fios, mas sim, revelam o gesto intuitivo e caótico de um fazer tridimensional que desenha o espaço e constrói delicadas e intrincadas estruturas.


RESTOS PETRIFICADOS É a pesquisa de Tecer o Barro que continua... Naquele momento, meu objetivo era trazer a cerâmica, tecnologia e arte da reunião e do coletivo, tão milenares, para as redes da hipermídia... mas o trabalho teve vida mais longa e com o tempo que a tudo transforma, modificou-se. Hoje percebo que estas estruturas cada vez mais se aproximam de algo que a própria natureza produz com seus anos de ação sobre as coisas e os seres. Não numa tentativa de imitá-la, mas na feliz coincidência de encontrar nela o berço do que realizo, vejo surgir da minha poética restos petrificados. Aproprio-me de vegetais já mortos, às vezes, tramando-os ainda, quando me utilizo de raízes e fibras pra dar corpo tridimensional às suas linhas e os recubro de terra. Outras vezes, os faço desaparecer sob as camadas de argila, que deposito sobre eles, para depois ir buscá-los novamente com a ação repetida de cavar, própria da arqueologia. Estou em busca de rastros, de restos petrificados que trazem a baila o tempo e a memória do ser que já não é mais. As memorias que se solidificam como objeto denunciam a presença a efemeridade. Alguns destes trabalhos se tornam matrizes para a criação de imagens frutificadas por outras linguagens, o que acentua o carater transversal desta pesquisa poética.

Betânia Silveira


Matriz - Gravura fotoc贸pia em Canson 20 cm x 20 cm x 3 mm 2015


Matriz - Grés com barbotina de porcelana e óxido. Q.e. 1220ºC < 15 cm x 10 cm x 1 mm > 11 cm x 11 cm x 1 mm 2015


Matriz - Gravura fotoc贸pia em Canson Montagem - 20 cm x 20 cm x 3 mm 2015


Matriz - vis茫o geral - gravura fotoc贸pia em Canson Montagem - 20 cm x 20 cm x 3 mm 2015


Cerâmica esmaltada, fibra vegetal fossilizada.Q.e. 1220ºC 43 cm x 21 cm x 30 cm 2015


Cerâmica esmaltada, fibra vegetal fossilizada. Q.e. 1220ºC > 13 cm x 10 cm < 5 cm x 7 cm 2015


Cerâmica com esmalte. Q.e. 1050ºC 105 cm x 21 cm x 20 cm 2014


Cerâmica com esmalte. Q.e. 1050ºC 50 cm x 20 cm x 18 cm 2014


Vestígios Cerâmica com esmalte. Q.e. 1050ºC 49 cm x 17 cm x 15 cm - 2013


Detalhe - VestĂ­gios


Cerâmica com esmalte, espelho e impressão. Q.e. 1050ºC Museu de Cerâmica de Camaguey, Cuba 22 cm ø x 20 cm x 20 cm - 2009


Detalhe, texto Jorge Luis Borges.



Cerâmica esmaltada, fibra vegetal fossilizada. Q.e. 1050ºC e 1200ºC Dimensões variadas - 2009


Da série Quiasma Cerâmica com esmalte. Q.e. 1050ºC > 37 cm ø x 18 cm < 12 cm ø x 12 cm - 2009


Da série Quiasma Cerâmica com esmalte. Q.e. 1050ºC 15 cm x 30 cm ø - 2009


LIAME 2010/2011

O trabalho sob o nome de “LIAME” é a união de dois momentos de concepção e produção dos meus tridimensionais. O primeiro deles tem inicio no ano de 2000 com a exposição “Diaphana”, obra instalativa que percorre espaços expositivos e alternativos adequando-se a eles e modificando-se nessa itinerância. O segundo momento, refere-se à produção de objetos de cerâmica através dos quais exploro sonoridades próprias deste material ligado a outros elementos e ao toque do corpo em ação de quem com eles empreender contato, projeto antigo que começa a ser concretizado a partir de 2009. Com esta união proponho a demarcação de um lugar, um sítio circundado por uma aparente barreira de diáfana membrana que é preciso transpor para ir além da forma e transformar matéria e materialidades, por meio da ação,em sonoridades. E então vivenciar o espaço soante. O que oferto são partes da minha construção de mundo, meus objetos díspares, minhas antagonias, agonias, inquietação e fúria, meu tempo de bonança, minha resignação, re-significados no deleite com matérias duras e moles, transparentes e opacas, leves e pesadas, densas e etéreas. Minha subjetividade que se transforma em materialidade para transbordar no mistério do outro e reverberar nas sinapses de seus encontros. O que espero ao expor é essa fruição de um corpo-sujeito que vai ao mundo, que com ele se envolve, e que ao fazer dele - o mundo - seu projeto, lapida a joia preciosa do conhecimento de si mesmo. A proposição convida para uma experiência que se inicia no sensorial e reúne a possibilidade dos sentidos convergindo para o regozijo da experimentação, da relação com o que está concretamente posto e da sinestesia conseqüente da poesia própria de cada um.

Betânia Silveira


Partitura para Liame Fundação Hassis, Florianópolis, SC - 2015


Partitura para Liame Fundação Hassis, Florianópolis, SC - 2015


Cerâmica, silicone, madeira, metal, sementes e água. Museu Histórico de Santa Catarina - Palácio Cruz e Souza Florianópolis, SC - Brasil - 2010/2011


Performance - Cerâmica, silicone, madeira, metal, sementes e água. Museu Histórico de Santa Catarina - Palácio Cruz e Souza Florianópolis, SC - Brasil - 2010/2011


Performance - Cerâmica, silicone, madeira, metal, sementes e água. Museu Histórico de Santa Catarina - Palácio Cruz e Souza Florianópolis, SC - Brasil - 2010/2011


Performance - Cerâmica, silicone, madeira, metal, sementes e água. Museu Histórico de Santa Catarina - Palácio Cruz e Souza Florianópolis, SC - Brasil - 2010/2011


Performance - Cerâmica, silicone, madeira, metal, sementes e água. Museu Histórico de Santa Catarina - Palácio Cruz e Souza Florianópolis, SC - Brasil - 2010/2011


Interação - Cerâmica, silicone, madeira, metal, sementes e água. Museu Histórico de Santa Catarina - Palácio Cruz e Souza Florianópolis, SC - Brasil - 2010/2011


Interação - Cerâmica, silicone, madeira, metal, sementes e água. Museu Histórico de Santa Catarina - Palácio Cruz e Souza Florianópolis, SC - Brasil - 2010/2011


Silicone e cerâmica. Faiança e Terracota. Q.e. 1050 ºC


Cerâmicas com metais, óxidos e esmaltes. Faiança e Terracota. Q.e. 1050 ºC


Cerâmicas com metais, óxidos e esmaltes. Faiança e Terracota. Q.e. 1050 ºC


Cerâmicas com esmaltes e fumaça. Terracota. Q.e. 1050 ºC


Cerâmicas com esmaltes e fumaça. Terracota. Q.e. 1050 ºC


Cerâmicas com esmaltes e fumaça. Terracota. Q.e. 1050 ºC


Cerâmicas com metais. Terracota. Q.e. 1050 ºC


Cerâmicas com fumaça. Faiança e Terracota. Q.e. 1100 ºC


TRANS-BORDADOS, LIAME Numa das salas do antigo Palácio do Governo de Santa Catarina o espectador se depara com um estranho tipo de rede avariada que pende do alto e forma uma outra espécie de entorno, dentro do qual encontram-se diferentes objetos dispostos sobre uma mesa. Convidado a adentrar e compartilhar uma deriva sensorial, objetos esféricos e cônicos feitos em cerâmica o aguardam: bandejas- bacias oferecem texturas e cheiros, enquanto cilindros e discos- tambores esperam que suas sutilezas sonoras sejam descobertas. Trata-se de uma instalação que inclui materiais diversos (fios de nylon e silicone ocupando espaço de 3m de diâmetro X 2m de altura; cerâmicas com inserção de metal na massa, vitrificadas e com óxidos, obtida através de queima elétrica a 1050º C e com dimensões variando entre 10cmX15cmX6cm e 60cm de diâmetro X 20cm de altura), porém ocorre que na experimentação deste lugar, as semelhanças vão se alterando. Nem rede nem teia, pelos fios de silicone um vestido, uma meia longa e outras formas parecem se oferecer para, logo em seguida, perturbar nossa relação de familiaridade com as coisas. Tramando e destramando as contra-formas do corpo para torná-las, ao mesmo tempo, esconderijo e armadilha, é possível deslindar o gesto artístico que busca misturar cultura e natureza, orgânico e inorgânico. A composição gradeada também leva a reconhecer o gesto que desenha os movimentos contraditórios que penetram e escapam, invadem e desviam, construindo o inesperado que espreita entre a linha e a matéria, a forma e o manuseio. Estão ali ainda, as marcas da manualidade artística que premeditou o encontro com uma outra mão que fará o pião dançar, outra boca que irá soprar, outras narinas que não resistirão ao cheiro das folhas, outro ouvido que alcançará o delicado murmúrio dos seixos e sementes. Enfim, sentidos abertos a lembranças e associações, fenda lúdica pela qual a sensibilidade e a imaginação poderão escapar. De um lado a imagem da rede, tanto recurso de sobrevivência do pescador e armadilha para o peixe, como trama com que o artista pensa o mundo e artifício para fisgar o fascínio do observador.


Enquanto os olhos se alongam tentando apreender o visual que se faz visível, num dos lados da trama, formas perturbadoras lembram notações de uma partitura. Em seguida , esta imagem se torna um varal onde formas que lembram coadores, toalhas, peças de roupa, leves e flutuantes, parecem brincar de roda, fazendo surgir uma estranha ciranda que suspende e sobrepõe movimento, sons, cheiros, formas, cores, cujas matizes terrosas vão do gelo ao carvão. Enleado neste dispositivo, o espectador é esperado para um último encontro: desvendar o conteúdo de uma pequena caixa branca dentro da qual um corpo- cauda ou ser tramado em silicone e cravejado com pequenas escamas-flores aguarda um toque e demanda uma pergunta: quem sou? Mas eis que a resposta é a mesma: pense minha forma e invente meu nome, pois em mim há sempre algo que nunca deixou de ser você.

Rosângela Cheren Profª Drª Ceart/UDESC e curadora


QUIASMA 2009

As obras de Betânia Silveira compõem uma trajetória tecida de inteirezas e fragmentos. Suas obras são um modo de visibilidade que apresenta uma trajetória complexa, em que a artista apalpa e desposa o mundo com seu “olhar”, mundo esse nunca estranho ao seu “olhar”, desde que sua existência é o próprio mundo: quiasma. Suas obras são geradas na intimidade da experiência com a existência. O Quiasma – ou entrelaçamento – dá-se, então, na tessitura dos desejos e das forças inomináveis da existência, essas que compõem a vida de todos nós. Por isso não há como não nos aproximarmos das obras de Betânia sem senti-las muito próximas de nossas vidas. Betânia trabalha com as fendas, com os labirintos, com os fragmentos, com as fissuras espontâneas, com a vida das plantas, com experiências de vida e de morte, com variedades de matérias: vidros, espelhos, fibras, ninhos de pássaros colhidos em seu quintal – a fragilidade da morte e a força da vida. Suas obras são em si mesmas a ambiguidade da própria vida, um fazer-se e refazer-se contínuo, a reversibilidade, em que a obra é mundo e o mundo é obra. Fazer e refazer-se continuamente é o exercício artístico de Betânia, que, diante da fragilidade de suas obras, deve, de quando em vez, reelaborar os fragmentos, juntar os pedaços, fazê-los retornar à vida de obra de um modo outro. Assim, a artista desloca o que resta para outro espaço e tenta construir novamente outra obra a partir do que dispõe: fragmentos. Exercício constante de reconstrução e elaboração das perdas. Nas fendas, Betânia fotografa incessantemente o que insiste em nascer, apesar de toda estreiteza de promessa quanto à possibilidade de vida. Seu olhar espreita nas fendas aquilo que elas ainda podem oferecer como possibilidade de vida, ou de morte. Fotografa o esforço imenso da vida de vir à luz. Nas fendas fotografadas, sempre há vida: alento da busca. A artista faz da possibilidade de sobrevivência das plantas um exercício semelhante ao que a própria existência realiza com a vida humana. Impõe a elas situações: a algumas dá água, a outras, impele-as a modificar “hábitos”, quando as priva da água. Qual o limite da resistência? Ou, até que ponto suportamos o sofrimento, a perda, as incertezas? Não seria esta a indagação da artista?


Suas cerâmicas são ninhos em que a fibra natural tece um poema à existência. Esses ninhos frágeis solicitam leveza na aproximação. São frágeis ninhos revestidos de fina cerâmica. Encantam. Descansam sobre a visibilidade ambígua do espelho e repousam em palavras: sonhos. São labirintos infinitos, guardadores de mistérios, que conferem ao nosso olhar uma impotência enorme quando desejamos abarcá-los, como as “pausas” que a vida oferece, e que, por muito pouco, e, subitamente, podem ser ceifadas. Há de se carregar esses ninhos com muito zelo, pois são esconderijos da vida. Há de se dizer que as obras de Betânia inauguram alentos, proximidades, quiasmas – confortos poéticos para nossas almas.

Anita Prado Koneski Profª. Drª. Ceart/UDESC


Exposição Quiasma - vista parcial - 2009 Cerâmica, vidro, espelho, fotografia digital, impressão backlight e plantas Museu de Arte de Santa Catarina. Florianópolis, SC


Ítalo, Valeska, o Pássaro e Eu - Exposição Quiasma - 2009 Cerâmica, vidro, espelho, impressão Museu de Arte de Santa Catarina. Florianópolis, SC


Ítalo, Valeska, o Pássaro e Eu - detalhe - Exposição Quiasma - 2009 Cerâmica, vidro, espelho, impressão Museu de Arte de Santa Catarina. Florianópolis, SC


Ítalo, Valeska, o Pássaro e Eu - detalhe - Exposição Quiasma - 2009 Cerâmica, vidro, espelho, impressão Museu de Arte de Santa Catarina. Florianópolis, SC


Exposição Quiasma - 2009 Cerâmica esmaltada e fio de nylon. Q.e. 1050ºC Museu de Arte de Santa Catarina. Florianópolis, SC


Exposição Quiasma - 2009 Cerâmica esmaltada e espelho. Q.e. 1050ºC Museu de Arte de Santa Catarina. Florianópolis, SC


Exposição Quiasma - 2009 Cerâmica esmaltada e espelho. Q.e. 1050ºC Museu de Arte de Santa Catarina. Florianópolis, SC


O que nos perpassa nos constitui - Exposição Quiasma - 2009 Cerâmica esmaltada, flores secas parafinadas e sementes. Q.e. 1050ºC Museu de Arte de Santa Catarina. Florianópolis, SC Menção Honrosa 9ª Bienal Internacional de Cerâmica de Aveiro, Portugal


O que nos perpassa nos constitui - detalhe - Exposição Quiasma - 2009 Cerâmica esmaltada, flores secas parafinadas e sementes. Q.e. 1050ºC Museu de Arte de Santa Catarina. Florianópolis, SC Menção Honrosa 9ª Bienal Internacional de Cerâmica de Aveiro, Portugal


Exposição Quiasma - 2009 Cerâmica esmaltada, azulejo e vidro espelhado. Q.e. 1050ºC Museu de Arte de Santa Catarina. Florianópolis, SC


Exposição Quiasma - 2009 Cerâmica esmaltada e vidro espelhado. Q.e. 1050ºC Museu de Arte de Santa Catarina. Florianópolis, SC


Exposição Quiasma - 2009 Cerâmica esmaltada e impressão backlight. Q.e. 1050ºC Museu de Arte de Santa Catarina. Florianópolis, SC


detalhe - Exposição Quiasma - 2009 Cerâmica esmaltada e impressão backlight. Q.e. 1050ºC Museu de Arte de Santa Catarina. Florianópolis, SC


Exposição Quiasma - 2009 Cerâmica esmaltada e espelhos. Q.e. 1050ºC Museu de Arte de Santa Catarina. Florianópolis, SC


Exposição Quiasma - 2009 Cerâmica esmaltada e espelhos. Q.e. 1050ºC Museu de Arte de Santa Catarina. Florianópolis, SC


Exposição Quiasma - 2009 Cerâmica esmaltada e impressão backlight. Q.e. 1050ºC Museu de Arte de Santa Catarina. Florianópolis, SC


Exposição Quiasma - 2009 Cerâmica esmaltada e impressão backlight. Q.e. 1050ºC Museu de Arte de Santa Catarina. Florianópolis, SC


Exposição Quiasma - 2009 Fotografia e impressão backlight. Q.e. 1050ºC Museu de Arte de Santa Catarina. Florianópolis, SC


Exposição Quiasma - 2009 Cerâmica, planta, fotografia e impressão backlight. Q.e. 1050ºC Museu de Arte de Santa Catarina. Florianópolis, SC


Exposição Quiasma - vista parcial - 2009 Cerâmica, plantas, fotografia e impressão backlight. Q.e. 1050ºC Painel: 200 cm x 150 cm e menor peça: 11 cm x 7 cm x 10 cm


Exposição Quiasma - vista parcial - 2009 Cerâmica, plantas, suportes de ferro, fotografia e impressão backlight. Q.e. 1050ºC Museu de Arte de Santa Catarina. Florianópolis, SC


Exposição Quiasma - vista parcial - 2009 Cerâmica, plantas e suportes de ferro. Q.e. 1050ºC Museu de Arte de Santa Catarina. Florianópolis, SC


Exposição Quiasma - vista parcial - 2009 Cerâmica, plantas, água e suportes de ferro. Q.e. 1050ºC Museu de Arte de Santa Catarina. Florianópolis, SC


Exposição Quiasma - 2009 Cerâmica, plantas, suportes de ferro, fotografia e impressão backlight. Q.e. 1050ºC Museu de Arte de Santa Catarina. Florianópolis, SC


CATAPTRORAMA 2007

A fragmentação sempre fascinou como processo dinâmico. Desde que a Terra é Terra, a fragmentação está presente em todos os planos. No nascimento do planeta havia apenas um continente, Pangea, e um oceano Pantalassa. Hoje os continentes seguem subdividindo-se e há oceanos em gestação: lagos centrais, mares interiores crescerão na medida em que as placas continentais continuam sua deriva, flutuando e se partindo em novos fragmentos/continentes sobre o magma interior. Na escala da paisagem, o processo não é diferente. Marcha a fragmentação, induzida ou não pelo homem, os pedaços cada vez menores, fragmentos da natureza, antes territorial, agora cultivada em vasos, dentro de apartamentos. Se não percebemos o processo, é porque a mente humana tende a recompor o que seria uma idealização, a (pré)conceitualização de que “coisas inteiras” são saudáveis, as que perderam sua integridade, nem tanto! Refletindo agora sobre espelhos, eles duplicam as fragmentações que a mente humana não parece ou não quer perceber. E se os próprios espelhos constituem-se de fragmentos, refletem fragmentos de fragmentos, uma geometria fractal das paisagens que os veem ou que eles mesmos refletem ao infinito. Tais reflexões sobre reflexos, longe de apontar algo de negativo ou positivo, pois revelam um processo que, sempre em marcha, a cada interação faz com que, à luz daquela ideia geométrica, possamos decidir de onde e em que escala vamos olhar a paisagem embora, na realidade, ela seja a mesma de qualquer ponto e em qualquer escala.

José Tabacow

Arquiteto, paisagista


Exposição Cataptrorama - 2007 Espelhos e vidro sobre MDF com rodinhas. Galeria Oficinas de Arte do MASC. Florianópolis, SC


Exposição Cataptrorama - 2007 Espelhos e vidro sobre MDF com rodinhas. Galeria Oficinas de Arte do MASC. Florianópolis, SC


Exposição Cataptrorama - 2007 Espelhos e vidro sobre MDF com rodinhas. Galeria Oficinas de Arte do MASC. Florianópolis, SC


Exposição Cataptrorama - 2007 Espelhos e vidro sobre MDF com rodinhas. Galeria Oficinas de Arte do MASC. Florianópolis, SC


Exposição Cataptrorama - 2007 Espelhos e vidro sobre MDF com rodinhas. Galeria Oficinas de Arte do MASC. Florianópolis, SC


Exposição Cataptrorama - 2007 Espelhos e vidro sobre MDF com rodinhas. Galeria Oficinas de Arte do MASC. Florianópolis, SC


Exposição Cataptrorama - 2007 Espelhos e vidro sobre MDF com rodinhas. Galeria Oficinas de Arte do MASC. Florianópolis, SC


Exposição Cataptrorama - 2007 Espelhos e vidro sobre MDF com rodinhas. Galeria Oficinas de Arte do MASC. Florianópolis, SC


Exposição Cataptrorama - 2007 Espelhos e vidro sobre MDF com rodinhas. Galeria Oficinas de Arte do MASC. Florianópolis, SC


Interação - Exposição Cataptrorama - 2007 Espelhos e vidro sobre MDF com rodinhas. Galeria Oficinas de Arte do MASC. Florianópolis, SC


Interação - Exposição Cataptrorama - 2007 Espelhos e vidro sobre MDF com rodinhas. Galeria Oficinas de Arte do MASC. Florianópolis, SC


Interação - Exposição Cataptrorama - 2007 Espelhos e vidro sobre MDF com rodinhas. Galeria Oficinas de Arte do MASC. Florianópolis, SC


MOVIDECANTAÇÃO 2005/2006

Dois Pontos •Na segunda ocasião em que Narciso se aproxima da imagem, a pergunta se parte e transforma-se em muitas outras. Mas é a mesma pergunta, repetida e repetida, que perde o embrião, ficando-lhe a angústia. Apenas o aguilhão do desconforto pulsa na imagem repartida de Narciso que busca a salvação em meus olhos. E se perde antes da estabilidade. Narciso fugidio e repartido que não cansa de não ser representado.

•A luz caminha pela sala esquadrinhada por aparelhos de reflexão do espectro. É preciso paralisar o corpo: primeiro os olhos devem se aquietar. Depois a respiração. E somente após o tempo adequado à pausa, pode-se perceber o caminho da luz na sala. Cada água de areia no chão congela por instantes o acontecimento. E o dia acompanha os passos da luz na sala. A luz se perde entre os vãos dos espelhos. E repartida não cessa de não ser percebida.

Fernando Lindote

Artista Plástico


A propósito de una historia que comenzó al nivel del suelo Algo capta nuestra atención. Algo que reposa en el suelo. Algo que, en un primer momento, puede que no identifiquemos con claridad. A partir de un destello, de un hueco en lo mirado o de una figura incompleta que hemos observado, podemos haber visto algo. Si nos dirigimos hacia ello, nos encontraremos con una especie de cuerpo formado por una multitud de fragmentos: fragmentos de espejo. Antes de eso, nos habremos encarado con un tipo de imagen que vibra, cambiando su aspecto mientras nos movemos. Si nos paramos, empezaremos a descubrir sobre qué descansa nuestra mirada. Por fin, cuando estamos quietos, vemos que aunque es equívoca o incompleta, tenemos ante nosotros una imagen. Una imagen constituida por medio de diversos fragmentos de (otras) imágenes (reflejadas). Nos estamos refiriendo a un cuerpo que (como imagen) tiene su historia. Un cuerpo que comenzó al nivel del suelo y por eso es de forma plana. Un cuerpo que es desde su materialidad de espejo cuando es capaz de referirse a cualidades de imagen. Nos estamos refiriendo a una imagen basada en consideraciones de forma-materialidad: y por ello, una imagen que es una lección de Escultura.

Pello Mitxelena

Artista Plástico e professor na Universidade de Bilbao, Espanha


Exposição Movidecantação - 2006 Espelhos e vidro sobre chão, 40 dias de trabalho em processo. Museu Histórico Palácio Cruz e Souza. Florianópolis, SC


Exposição Movidecantação - 2006 Espelhos e vidro sobre chão, sala de 8,33 x 9,20 m. Museu Histórico Palácio Cruz e Souza. Florianópolis, SC


Exposição Movidecantação - 2006 Espelhos e vidro sobre chão, sala de 8,33 x 9,20 m. Museu Histórico Palácio Cruz e Souza. Florianópolis, SC


Exposição Movidecantação - 2006 Espelhos e vidro sobre chão, sala de 8,33 x 9,20 m. Museu Histórico Palácio Cruz e Souza. Florianópolis, SC


Exposição Movidecantação - 2006 Espelhos e vidro sobre chão, sala de 8,33 x 9,20 m. Museu Histórico Palácio Cruz e Souza. Florianópolis, SC


Exposição Movidecantação - 2006 Espelhos e vidro sobre chão, sala de 8,33 x 9,20 m. Museu Histórico Palácio Cruz e Souza. Florianópolis, SC


Exposição Movidecantação - 2006 Espelhos e vidro sobre chão, sala de 8,33 x 9,20 m. Museu Histórico Palácio Cruz e Souza. Florianópolis, SC


Exposição Movidecantação - 2006 Espelhos e vidro sobre chão, sala de 8,33 x 9,20 m. Museu Histórico Palácio Cruz e Souza. Florianópolis, SC


Exposição Movidecantação - 2006 Espelhos e vidro sobre chão, sala de 8,33 x 9,20 m. Museu Histórico Palácio Cruz e Souza. Florianópolis, SC


Exposição Movidecantação - 2006 Espelhos e vidro sobre chão, sala de 8,33 x 9,20 m. Museu Histórico Palácio Cruz e Souza. Florianópolis, SC


Exposição Movidecantação - 2006 Espelhos e vidro sobre chão, sala de 8,33 x 9,20 m. Museu Histórico Palácio Cruz e Souza. Florianópolis, SC


Exposição Movidecantação - 2006 Espelhos e vidro sobre chão, sala de 8,33 x 9,20 m. Museu Histórico Palácio Cruz e Souza. Florianópolis, SC


Exposição Movidecantação - 2006 Espelhos e vidro sobre chão, sala de 8,33 x 9,20 m. Museu Histórico Palácio Cruz e Souza. Florianópolis, SC


Exposição Movidecantação - 2006 Espelhos e vidro sobre chão, sala de 8,33 x 9,20 m. Museu Histórico Palácio Cruz e Souza. Florianópolis, SC


Exposição Movidecantação - 2006 Detalhe de reflexos - Espelhos e vidro sobre chão. Museu Histórico Palácio Cruz e Souza. Florianópolis, SC


Exposição Movidecantação - 2006 Registro de processo e “skate-bunda” para locomoção. Museu Histórico Palácio Cruz e Souza. Florianópolis, SC


DIAPHANA 2002/2005

BETA BETA BETA BETÂNIA; please send me a letter, I wish to know things, or getting better... (Caetano Veloso, 1970) Na estranha canção, falava com sua irmã longe. Longe dos olhos e do coração, no Brasil de exilados políticos, vivendo na fria e bem sacudida Londres dos anos 70. Caetano queria saber melhor desta sua Bethânia, também cantora, envolta em mistérios. Esta Beta Betânia, aqui do Sul, também envolta em misteriosas capsulas, que revelam seu interior. Peles tramadas ou entretecidas como aracnídeo ser. Ou corpo casulo, aberto em seu interior (que se pode investigar). Penetrar com os olhos, saber do que é feito seu interior de ar e luz. NO PRINCÍPIO, ERA O BARRO, COZIDO ERA CERÂMICA. Este o corpo matriz de todo seu extenso trabalho. Os casulos são como memória do corpo. Existem além de si. Não carecem de matéria densa; são existências em si. As redes são corpos abertos. Ou ainda, capturam corpos, gestos; olhares através do que se não vê MIRAÇÃO Carlos Asp

Artista Plástico


Silicone e fios de nylon. Dimensões variadas, 120 x 48 x 48 ø cm a 46 x 46 x 21 cm - 2000. Galeria das Oficinas de Arte, Centro Integrado de Cultura. Florianópolis, SC


Silicone e fios de nylon. Dimens천es variadas - 2000.


Silicone e fios de nylon. Dimens천es variadas - 2005.


Silicone e fios de nylon. Dimens천es variadas - 2005.


Silicone e fios de nylon. Dimens천es variadas - 2002.


Silicone e fios de nylon. Dimensões variadas - 2003. Intervenção no espaço urbano.


Silicone e fios de nylon. 193 cm x 300 cm x 320 cm - 2004. Intervenção no espaço urbano. Praia da Joaquina, Florianópolis, SC.


Silicone e fios de nylon. 193 cm x 300 cm x 320 cm - 2004. Intervenção no espaço urbano. Praia da Joaquina, Florianópolis, SC.


Fotografia digital - 2004.


ORIGEM E EVOLUÇÃO 1999/2000

Betânia Silveira é ceramista. Não apenas ceramista. Ela é uma consumada criadora de universos plásticos. Em técnica escusamos de falar, porque da técnica do ofício ninguém melhor do que ela entende, não tendo para ela o barro e o fogo muitas surpresas mais. E em conseqüência disso, a liberdade de operar o que lhe vem à cabeça, para proveito da expressão artística, se exerce em plenitude. De técnica, paradoxalmente, deve-se falar; porque só do esforçoso braço do aprendiz, só do tirocínio do oficial, só da experiência inflexível do mestre artífice proviriam sugestões e soluções formais para dar àquela liberdade um sentido construtivo; para guiar as ousadias de um trabalho que começa com a intuição e se conclui na calmaria fecunda onde a reflexão decide. Como o de todo artista de sazonada carreira, o itinerário de Betânia supõe sob as cesuras forte unidade, o que longe está de expressar inerte coerência, mais não sendo do que o fio condutor a mover os segmentos fenomenológicos para uma identidade superior. Por díspares que pareçam as transições. É provável que aquele fio represente uma vontade constante de relacionar, de instruir, de inocular na cabeça do intérprete, em plena fluidez da contemplação, o atrito de um problema. Arte como fator de consciência. Para quê mais? A realização dos objetos cerâmicos de Betânia Silveira corresponde a uma série de operações interligadas, que adquirem seu pleno sentido na montagem, montagem onde se resguarda a chave da proposta. A artista elabora seus trabalhos a partir de um elemento básico, modelado ou moldado em argila e intuitivamente concebido. Não se trata de componente; seria antes mônada que fundamenta toda a concepção; é pressuposto da montagem e por conseguinte determina-lhe a equação final. Essa unidade tem a conformação de um cone ou, para seguir a intenção da artista, a forma de uma “oca”(ó). Oca(ô). Na verdade, pode também aludir ao seio feminino, à glande, ou até aos topos de montanhas de sua terra natal, Minas Gerais. Porque tanto se vincula às mensagens que deseja colher na pictografia


dos nossos índios, ou que inventa seduzida por ela, quanto, ao interpretar o império das energias naturais corporificadas na força genésica e reprodutiva, pode fundamentar-se em conceitos mais abstratos como o da centralidade ou o da convergência aos quais se agregam, em rico campo semântico, significantes tais como o seio, o sêmen, a semente, o promontório e, em macroescala, a crosta terrestre. Como integram o objeto expondo-se invariavelmente pelo lado convexo, essas ocas-mônadas também comportam, substancialmente, o conceito de envoltura. Daí o cuidado refinadíssimo de Betânia com o manto cutâneo, que nelas se torna ora cuticular, crustáceo, ora polido, esmaltado; pele que a artista matiza, alisa, raspa, rala, lacera, semeia com fosfóreas incrustrações; que lhe serve para nela aplicar veladuras de requeimas, para inscrever, para “escrever” ou apenas para revelar - superfície que é - as enigmáticas composições da derme: produto da terra e seus ingredientes. Poderíamos perguntar: o que vêm fazer, no trabalho de artista tão moderna, essas alusões e operações todas que se inscrevem não no cotidiano da vida urbana, mas no mundo natural e até cosmológico? Convém logo dizer: aqui nesses objetos se encontra o homem atual, de corpo inteiro. Seja com o seu perfil construtivo, seja como presença predadora, que degenera com o mundo que ele agride. Por exemplo, ao incorporar o acrílico em suas concepções, posto que o considere sujeito aos arranhões do tempo assim mesmo Betânia o emprega. A superfície branca do acrílico, de cuja transparência se orgulha a tecnologia, escoriando-lha o tempo, nela deixa registrado, com as arranhaduras, o desgaste e a roedura do próprio homem, espécie inteligente que não sabe o que fazer com seus dejetos. No recente conjunto de objetos, o acrílico, por essas e outras razões, foi o material que Betânia escolheu para formar uma polaridade conveniente com a matéria cerâmica; polaridade que também se estabelece na união disjuntiva do translúcido e do opaco, do impermeável e do poroso; na integração sempre precária da leveza e do peso, do planar e do gravitar. Nexos mutantes se criam quando os cones de barro se jungem aos fragmentos de acrílico trabalhados à chama do gás; quando, pelas retorcidas pétalas desse acrílico, auxiliados por uma rede de fios plásticos, são liados, envolvidos, semi-encobertos, presos; nexos talvez mais rarefeitos


se estabelecem quando na placa de acrílico estirada em curvatura são simplesmente justapostos segundo uma ordem que depende da disposição da artista e na qual pode entrar o ludismo necessário para que a arte não caia na aborrecida seriedade. Nunca avulsos, às vezes potencialmente erráticos, outras vezes se alinhando em simetria (em geral trina), os cones são ligados por fios de náilon, que partem umbigos, ou a eles chegam descrevendo curvas que em virtude do capricho das direções não sabemos de onde vêm ou para onde vão. Sobre o acrílico outras vezes respinga-se plástico derretido e o padrão assim obtido, submetido a uma incidência especial de luz, suscita na parede uma extensão luminosa do objeto sobre cujos acordos e correlações formais compete ao fruidor decidir. Sempre rigorosas estruturas. Sempre os mesmos, os cones variam sem descanso. Na substância; na aparência. Temo-los de massas misturadas, de argila e vidro moído, temperados com todas as misturas minerais disponíveis: cobalto, cromo, óxido de cobre, latão, manganês, pós mágicos de difícil controle, responsáveis pelas inesgotáveis modulações de cores que se derivam, por capricho da artista, das quatro que compõem a bandeira nacional - azul, amarelo, branco e verde -, mas podem adquirir todas as cambianças e intensidades desde que se atenham à escala mediana de valores, que é esse o limite que lhes impõe Betânia: nunca muito altos, de preferência não muito baixos. A escala é outro ponto. Nenhum trabalho que se apresente aqui pode ser chamado de monumental: são artefatos de salão. Isso se deve meramente a uma questão de manejo, de “armazenamento”. Venha uma encomenda e a realização pode atingir as dimensões de qualquer porte. Ficamos imaginando uma peça de Betânia ao ar livre, em um jardim público. Afinal terra, acrílico, silicone, nailon e metal (outro material que eventualmente emprega) deles dispomos em abundância... Quando as “ocas” são pintadas com signos fornecidos pelos repertórios antropológicos, a pintura não se entenda como caligrafia: é uma escrita. Ao contrário de um interesse paleográfico, ou grafológico, que se contentaria com a forma, nela deve incidir uma interpretação que a compreenda em sua inteira configuração. Onde importa a força do conteúdo. De resto, o universo contido nas mensagens condiz com a forma. Temos aqui a cuia, o coco, os órgãos sexuais: referencial do alimento e do renascer. Nutrições terrestres. Não faltam, na escritura, as alusões ao elemento líquido: as gotas de chuva, as resinas e orvalhos,


as gotas do líquido seminal, matérias de unções sacramentais em ritos que o patriarcalismo, censor, acabou abafando. Afinal temos na arte da ceramista uma alegoria dos quatro elementos: os fumos da chama que queimou, a transparência que planava, a terra que coseu e amalgamou-se, os líquidos invocados pela simbologia. Bem dizia Woiringer que o círculo é orgânico por excelência, e o quadrado super estrutural. Em seu mergulho na cultura matriarcal, à casa de origem, de evolução, em busca dos elementos e do elementar - que se submeterão, na hora da montagem, da estrutura, com o mundo artificial dos parafusos - Betânia passa naturalmente dos cones à esfera. Ao Spháiros. Se achou que por um lado era hora de padronizar as estruturas, também abriu mais descaradamente o terreno aos brinquedos com as cores e texturas. Deixou em liberdade as correntes minerais. Ao proceder, de novo, sobre a forma perfeita da esfera os “acidentes desejados” recomeça a história do homem, faz-lhe corresponder uma expressividade estética. Temporal e intemporal. O elemento fixo, a curva placa de acrílico tendido sustenta a idéia de “passagem”. Ponte de alguma coisa para alguma coisa, constância que não represa o fluir, mas valoriza o instante da água que não passa duas vezes pelo mesmo lugar. Acaso reminiscências pré-socráticas? Não propriamente. Comprovação talvez de um postulado que supõe nos artistas os antecipadores de sintomas que virão mais tarde à reflexão dos discursivos investigadores da vida. Já podemos, aliás, falar em crise de consciência, que o próprio avanço da tecnologia trouxe consigo. É claro para nós como isso se processou no pensamento do século XVIII, concomitantemente ao primeiro surto industrial. Hoje, porém, ao contrário de então, não dispomos de “bons selvagens” e outras congeminações utópicas. Precisamos enfrentar os problemas. Os artistas poderiam ficar tranqüilos, longe de tudo isso, fazendo coisas bonitas para nosso deleite. Betânia não consegue ver a conjuntura desse modo. Com seus grandes olhos inquisidores olhando o mundo pelas janelas abertas pela preocupação de não ficar isenta, vendo lá fora os efeitos da estupidez do assim chamado rei da criação, ela intitula sua mostra no MASC: Origem e Evolução. E parece concluir: é urgente mudar o modelo mecânico da concepção do mundo. Betânia não se importa se o incômodo às vezes se instala no seu trabalho. O incômodo faz parte da vida e da arte; na vida não há juventude ou velhice, há transformação, e a transformação inclui ruídos; na arte há


renascimento de atitudes, há entendimento de processos. “Natureza às favas” é o nome de uma instalação em cujo preparo se empregam variados tipos de massa (argila) combinadas ou não, cada um deles obtido mediante uma pesquisa diferente, e entram também a vermiculita, o plástico duro moldado pelas línguas de fogo que, pressionando apenas, prende os conezinhos que se mantêm em equilíbrio. Nesse segmento da pesquisa, os trabalhos se tornam mais plásticos, a elaboração das mônadas fica mais estimulante, possivelmente mais prazerosa. Vai fazendo sua aparição a barbotina, que é a argila líquida; e já se marmorizam as superfícies lisas, e a expressividade se enriquece com tanta experiência; as dificuldades são desafios que dá gosto enfrentar (o que angustia sempre é o espetáculo do mundo). Obsessivo trabalho, obsessivos elementos até que a forma dê tudo o que tem de dar. Encaminhar as coisas para o que quer, mas não sem um interminável perguntar / responder; ser mentalmente forte (esquecia de dizer que Betânia é psicóloga de formação...); encontrar prazer nas surpresas do forno quando afinal elas sobrevêm; atentar às responsabilidades do artista; preocupar-se com a democratização dos desígnios da arte, eis algumas das propensões que caracterizam o esforço artístico dessa ceramista que é muito mais que uma ceramista. Uma cidadã criadora de insinuantes formas, de poderosos conteúdos e, por vezes, de fascinantes belezas.

João Evangelista de Andrade

Artista Plástico, Escritor e Diretor do MASC


Negativo e positivo sobre cerâmica branca, nylon e acrílico. Q.e. 1050ºC. 100 cm x 102 cm x 28 cm cada - 1999


Negativo e positivo sobre cerâmica terracota com metal, nylon e plástico pet. Q.e. 1050ºC. 19 cm x 60 cm x 50 cm - 1999


Cerâmica (massas coloridas) com metais, acrílico, silicone e plástico pet. Q.e. 1050ºC. 22 cm x 90 cm x 30 cm - 1999


Cerâmica (massas coloridas) com metais, acrílico, silicone e plástico pet. Q.e. 1050ºC. 20 cm x 34 cm x 25 cm e 17 cm x 40 cm x 20 cm - 1999


Cerâmica (massas coloridas) com metais, acrílico, silicone e plástico pet. Q.e. 1050ºC. detalhe


Cerâmica (massa com papel) e óxido, acrílico e nylon. Q.e. 1100ºC. 30 cm x 20 cm x 15 cm e 50 cm x 24 cm x 20 cm - 1999


Cerâmica (massa com metais), acrílico, nylon e plástico pet. Q.e. 1100ºC. 60 cm x 50 cm x 07 cm cada - 2000


Cerâmica (massas coloridas) com vidro, acrílico e nylon. Q.e. 1100ºC. 53 cm x 40 cm x 49 cm - 2000


Cerâmica (massas coloridas) com vidro, acrílico e nylon. Q.e. 1100ºC. detalhe


Cerâmica (massas coloridas) com óxido, acrílico e nylon. Q.e. 1050ºC. 53 cm x 40 cm x 50 cm - 2000


Cerâmica (massas coloridas) com óxido, acrílico e nylon. Q.e. 1050ºC. detalhe


Natureza às favas - Cerâmica (massas com metal, vermiculita, serragem, chamotes) e plástico pet Q.e. 1100ºC. 100 cm x 90 cm x 40 cm - 2000


Passagem I - Cerâmica (brancas e vermelhas com chamotes coloridos), acrílico e nylon. Q.e. 1100ºC. 80 cm x 50 cm x 40 cm - 2000


Passagem II - Cerâmica (com chamote grosso vitrificado), acrílico e nylon. Q.e. 1050ºC. 80 cm x 50 cm x 20 cm - 2000


Passagem II - Cerâmica (com chamote grosso vitrificado), acrílico e nylon. Q.e. 1050ºC. detalhe


Orbe I - Cerâmica com óxido, acrílico, nylon e silicone. Q.e. 1050ºC. 19 cm x 40 cm x 23 cm - 2000


Orbe II - Cerâmica com óxido, acrílico, nylon e silicone. Q.e. 1050ºC. 24 cm x 40 cm x 24 cm - 2000


Evoluções - Instalação - Cerâmica (massas coloridas com metais, vermiculita, serragem e chamotes),acrílico, nylon e silicone. Q.e. 1050ºC. 250 cm x 200 cm x 350 cm - 2000


Evoluções - detalhes - Cerâmica (massas coloridas com metais, vermiculita, serragem e chamotes),acrílico, nylon e silicone. Q.e. 1050ºC. Dimensões variadas - 2000


IMPRESSÃO DIGITAL 1996

“No final das contas a natureza é, e ela nos ultrapassa dentro da percepção de sua própria duração. Porém, no espaço-tempo da vida de um Homem a natureza é a medida de sua consciência e de sua sensibilidade.” Manifesto do Rio Negro Pierre Restany, 1978.


Representação do Sagrado I, II, III e IV Cerâmica, madeira e ferro. Q.gz. 1100ºC. < 134 cm x 31 cm ø x 20 cm ø > 160 cm x 31 cm ø x 20 cm ø


Detalhes de Texturas Representação do Sagrado I, II, III e IV


Folhagem Cerâmica com óxido e ferro. Q.gz. 1100ºC. 50 cm x 19 cm x 13 cm


Impressões de vida e morte Terracota, óxidos e chamote com esmalte. Q.e. 1100ºC. 30 cm ø x 30 cm e 10 ø cm x 14 cm


A natureza I e II Cerâmica com óxido e esmalte; madeira. Q.e. 1050ºC. 143 cm x 25 cm x 18 cm


A natureza I e II Cerâmica com óxido e esmalte; madeira. Q.e. 1050ºC. 147 cm x 18 cm x 13 cm


Representação do sagrado Cerâmica com óxido e esmalte; níquel cromo. Q.e. 1050ºC. 59 cm x 24 cm x 25 cm


Detalhe - Representação do sagrado


Raízes Terracota com óxido e esmalte. Q.e. 1050ºC. 19 cm ø x 7 cm (cada)


Reflexão - Homenagem a Chico Mendes Cerâmica com metais na massa; espelho, madeira e cinzas. Q.e. 1100ºC. 30 cm x 60 cm x 100 cm


Natureza III Cerâmica com óxido e esmalte; madeira. Q.e. 1050ºC. 21 cm ø x 18,5 cm x 10 cm


Concharamujo Cerâmica branca com óxido; tela de metal. Q.e. 1050ºC. 100 cm x 30 cm x 10 cm


Detalhe - Concharamujo


Fóssil Cerâmica com óxido e esmalte. Q.e. 1100ºC. 12 cm (cauda) x 24 cm ø x 20 cm x 107 cm


Detalhe - F贸ssil


série Sementes e Frutos Terracota com óxido e esmalte. Q.e. 1100ºC. 18 cm x 30,5 cm x 28 cm


série Sementes e Frutos Terracota com óxido e esmalte. Q.e. 1100ºC. 64 cm x 10 cm x 16 cm e 58 cm x 8 cm x 11 cm

série Sementes e Frutos Terracota com óxido e esmalte. Q.e. 1100ºC. 18 cm x 30,5 cm x 28 cm


série Sementes e Frutos Terracota com óxido e esmalte. Q.e. 1100ºC. 18 cm x 30,5 cm x 28 cm

série Sementes e Frutos Cerâmica branca com óxido. Q.e. 1100ºC. 14 cm x 20 cm x 18,5 cm


URNAS E POTES 1995/2015

A cerâmica tem no pote a representação maior de sua origem, sua irmandade com a agricultura, sua relação com a história do nômade que resolveu sentar poeira, escolheu um lugar para viver e nele se fixou. Portanto, o pote é uma tradição que se repete, no fazer da cerâmica, desde os tempos do neolítico e acontece em todos os povos. Sua função sempre foi a de guardar, grãos, líquidos, alimentos, vida, mas também a morte, pois o ser humano no fim de seu processo vital é, em muitas culturas, enterrado em um pote urna. Faz sentido a ideia que nas formas do pote encontra-se a elaboração e a compreensão sobre o próprio corpo humano que também é recipiente e contentor de processos vitais e de outras vidas, inclusive. Sendo assim, realizar potes é para mim repetir uma ação ancestral e milenar, com este ato reverencio a história deste fazer que é tecnologia e arte e referencio a nós mesmos como seres guardadores de vida.

Betânia Silveira


Praegnátus Grés. Q.e. 1220ºC com redução. 70 cm x 35 cm ø - 1995


série Sementes e Frutos Grés. Q.e. 1220ºC. 41,5 cm x 23 cm x 23 cm - 1995


Detalhe - sĂŠrie Sementes e Frutos


Filhos do Sol Terracota. Q.e. 1050ºC. 51 cm x 44 cm ø x 20 cm ø - 2015


Detalhe - Filhos do Sol


A FERRO E FOGO 1993/1994

Betânia se atira ao barro. Tens mãos pequenas! E bate, e amassa, e modela, e esculpe, e revela majestosas deusas guerreiras que há milênios dentro da argila por ela esperavam. Mãos pequenas a erigir soberbos falos/sagrados totens. Mãos delicadas a eriçar a granada do átimo preciso do estouro. Mãos nervosas a casar barro com barro. Metálicas alianças/grilhões, lanças que furam/ferem os pares, que os unem que os separam. Betânia desce ao Érebo com seu barro e com ele, rijo, sobe o Sinai. Vai enegrecê-lo na sarça ardente. E aí está o seu exercito. Gerado, modelado, disciplinado, queimado, esfumado, explodido por mãos que conduzem poderosa e sensível força criadora. Solenes, hirtos, doces, lascivos, sagrados, acuados, alguns, contra a parede. É odiá-los ou amá-los. É o inferno ou é o purgatório.

Antônio Carlos da Silva arquiteto e artista plástico


Guerreiras Terracota com engobe; cerâmica branca com chamote colorido; terracota esmaltada. Q.e. 1050ºC. 70 cm x 40 cm x 40 cm - 66 cm x 46 cm x 46 cm - 66 cm x 38 cm x 42 cm


Detalhe - Guerreiras


Revolta revira e volta Terracota com óxido e lanças de metal. Q.e. 1050ºC. 30 cm x 29 cm ø


Tempo Partido Terracota com óxido e fio de cobre. Q.e. 1050ºC. 12 cm x 30 cm ø


Pau Brasil Terracota com pregos. Q.e. 1050ยบC. 40 cm x 20 cm x 10 cm


Resistência Terracota com engobes e óxido. Q.e. 1050ºC. 40 cm x 10 cm ø


Resistência Terracota com engobes e óxido. Q.e. 1050ºC. 40 cm x 10 cm ø


ARTE PÚBLICA 2012/2013

Para a arquiteta, Vera Pallamin, em seu livro Arte Urbana (2000, p.15), o urbano se caracteriza por uma feitura material e simbólica na qual a dimensão artística participa como constituinte e com a qual possui uma sintonia processual, isso implica em dizer que, usar a cidade como campo de ação artística significa contribuir para a transformação do urbano modificando objetos, espacialidades e qualificações. Portanto, desejar um envolvimento artístico que inclui a cidade como foco de atuação e transformação é, também, para mim, um ato político que envolve responsabilidade social e o desejo de resgatar a função social da arte. Por isso, questões me levam a pensar sempre no que realmente cabe a mim e a cidade - qual a intersecção possível e bem vinda entre esses conjuntos que abrigam necessidades individuais e coletivas? É fundamental estarmos atentos á lógica do próprio ambiente ao qual pertencemos. Colocarmo-nos sob seu ponto de vista para construir uma obra de arte pública é pensar a cidade com suas tensões, contradições, “dores e delícias” e atuar nela com vista a contribuir para sua maior humanização, para a preservação de sua ecologia e para a valorização de seus indivíduos. Somente com o constante exercício do princípio de alteridade é possível considerar o que pede a cidade e criar sob a luz deste foco uma obra que não seja mera catarse de questões pessoais.

Betânia Silveira


Gemulação - Com Giovana Zimmerman Escultura modular em cobre, latão e alumínio. 180 cm x 290 cm x 145 cm Florianópolis, SC - 2012


Gemulação - Com Giovana Zimmerman Escultura modular em cobre, latão e alumínio. 120 cm x 30 cm x 80 cm Florianópolis, SC - 2012


Lugar para Coexistir - releitura da obra Gaivota de Hassis Base de tijolos, jardim planejado, seis peças bancos de cerâmica e uma escultura em aço corten. Cerâmicas: 50cm x 45 cm ø, 40 cm x 45 cm ø, 35 cm x 38 cm ø - Peça em aço corten: 320 cm x 218 cm x 232 cm Florianópolis, SC - 2013


Lugar para Coexistir - releitura da obra Gaivota de Hassis Base de tijolos, jardim planejado, seis peças bancos de cerâmica e uma escultura em aço corten. Cerâmicas: 50cm x 45 cm ø, 40 cm x 45 cm ø, 35 cm x 38 cm ø - Peça em aço corten: 320 cm x 218 cm x 232 cm Florianópolis, SC - 2013


Betania Silveira Artista Plรกstica

betaniasil@gmail.com

Jade Liz Projeto Grรกfico jadelizf@gmail.com



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