Pitt12

Page 137

Projeto Democratização da Leitura & Projeto Revisoras Traduções

Capítulo 6 Pitt partiu de casa no dia seguinte com o ânimo ainda baixo. Ele e Charlotte se mostraram amáveis durante o café da manhã, mas faltava a ternura de sempre. O assunto da exposição ia ser difícil de esquecer. Ultimamente na vida do Pitt faltava doçura, assim como ilusão por chegar a casa ao final do dia por muito confuso ou decepcionante que este tivesse sido. E não era porque nem sempre encontrasse a Charlotte ali. Compreendia a situação e a aceitava. Sempre havia tido o costume de passar tempo com Emily e as vezes inclusive com sua mãe. E Deus sabia que fazia muito tempo que tinha deixado de brigar com ela porque lhe parecesse impróprio ou perigoso que se misturasse em seus casos. No fundo estava orgulhoso da capacidade de Charlotte para julgar a pessoas que ele só poderia conhecer levianamente. Não era isso. Enquanto caminhava pela calçada poeirenta em direção à avenida principal para tomar o ônibus, foi bastante honrado para reconhecer que era porque Charlotte estava introduzindo-se no mundo de Emily e desfrutando dele. Tinha sido seu mundo antes de casar-se com Pitt, e continuaria sendo-o se tivesse escolhido alguém mais de acordo com sua posição social e com as expectativas de sua família. Era isso. Sentia-se culpado e deixado de lado. Também o tinham convidado à ópera, certamente Emily nunca os teria excluído. E o tinha passado muito bem. A música não lhe tinha importado muito, mas tampouco a outros espectadores. Para eles a ópera constituía um ato social, não artístico. Todos se conheciam entre si, quando não pessoalmente pelo menos de nome. O ônibus se deteve. Pitt subiu e continuou pela escada de caracol que levava ao piso superior. Havia muitos assentos vazios e se sentou só, ao fundo, ainda absorto em suas reflexões. Durante a ópera se fixara mais em Charlotte que no cenário. Nunca a tinha visto tão bela, com o cabelo brilhante e encaracolado, penteado pela criada de Emily, o rosto aceso de emoção, o olhar fulgurante. Charlotte tinha desfrutado muitíssimo essa noite. Hei aí o que doía ao Pitt. Teria lhe encantado ter sido ele quem a tivesse levado a ópera, mas era algo que, quando muito, poderia permitir-se uma vez na vida. Agora já tinha estado, e se Emily queria, voltaria a ir tantas vezes como o desejasse. O andar superior do ônibus não tinha teto e o sol lhe esquentava seu rosto. Pitt queria que Jack Raddley triunfasse no Parlamento, não só por ele e Emily, mas sim pelo bem que Anne Perry – Thomas Pitt 12 – Chantagem em Belgrave Square


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.