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Sim, ele me viu. E moveu-se em minha direção, na direção da luz. Ágil, deslocando-se com uma leveza um pouco maior do que a de um mortal. Cabelos negros, olhos verdes e os membros deslocando-se suavemente sob as roupas desleixadas: um suéter preto e puído, pendurado sem forma nos ombros, pernas que pareciam raios de roda compridos e negros. Senti um bolo subir em minha garganta. Eu tremia. Tentei lembrar-me do que era importante, mesmo naquele momento, que eu devia sondar a noite à procura de outros, devia ser cuidadoso. Perigo. Mas nada disso importava agora. Eu sabia. Fechei os olhos por um segundo. Não adiantou nada, não tornou nada mais fácil. Então, minha mão ergueu-se até os botões do alarme e desligou-os. Abri as gigantescas portas de vidro e o ar frio passou por mim e entrou pela sala. Ele havia passado pelo helicóptero e, com os passos de um dançarino, girava o corpo para trás para olhar para ele, os polegares enganchados de modo bem casual nos bolsos de seu jeans preto. Quando olhou para mim de novo, vi seu rosto com clareza. E ele sorriu. Até mesmo nossas lembranças podem nos trair. Ele era a prova disso, delicado e ofuscante como um laser enquanto se aproximava, todas as antigas imagens sopradas como pó. Liguei de novo o sistema de alarme, fechei as portas de meus mortais e girei a chave na fechadura. Por um segundo, pensei: não posso suportar isso. E isso é apenas o começo. Se ele está aqui, a poucos passos de mim agora, então com certeza os outros também virão. Todos virão. Girei, fui em sua direção e durante um silencioso momento apenas examinei-o na luz azul que penetrava o vidro. Minha voz saiu tensa quando falei: — Onde estão a capa preta, o casaco preto de “corte primoroso”, a gravata de seda e todas aquelas bobagens? — perguntei.


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