Cvampiro2 1

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passamos a existir? Dê isto a nós e pode ser que tenha algum valor. Mas também pode ser que não. Ele estava mudo. Não tinha maneira de esconder seu assombro. Ele a encarava em inocente confusão. Depois levantou-se e se afastou, era óbvio que tentava evitá-la, um espírito abatido olhando inexpressivamente para a frente. O silêncio o cercava. E, naquele momento, me senti estranhamente protetor em relação a ele. Ela havia falado a verdade, sem retórica, sobre as coisas que a interessavam, como era seu costume fazer até onde eu podia lembrar, e como sempre havia algo de violentamente desdenhoso nisso. Ela falou do que tinha importância para ela, sem consideração com o que acontecera com ele. Venha para um plano diferente, ela disse, para meu plano. E ele estava bloqueado e humilhado. O grau de seu desamparo tornava-se alarmante. Ele não se recuperava do ataque infligido por ela. Ele virou-se e moveu-se em direção aos bancos de novo, como se fosse sentar-se, depois em direção aos sarcófagos, depois em direção à parede. Parecia que aquelas superfícies sólidas o repeliam, como se sua vontade se deparasse com um campo invisível que o obrigava a recuar. Ele saiu da câmara e foi até as escadas de pedra, depois girou e retornou. Seus pensamentos estavam presos dentro dele ou, pior ainda, não havia pensamentos! Havia apenas imagens confusas do que ele via à sua frente, objetos simples que brilhavam para ele, a porta com montantes de ferro, as velas, a lareira. A lembrança vivida das ruas de Paris, os vendedores ambulantes, os mascates de papéis, os cabriolés, a combinação de sons de uma orquestra, o horrível alarido de palavras e frases dos livros que ele havia lido tão recentemente. Eu não podia suportar aquilo, mas Gabrielle fez um aceno severo para eu


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