Cvampiro2 1

Page 128

as flores se abrindo, e as borboletas. Ver Nicki, ouvir Nicki tocar sua música... não. Abjure isto. Mas existem mil formas de música, não existem? E quando fechei os olhos, quase pude ouvir a orquestra da Ópera, as árias ecoando em meus ouvidos. Tão forte era a lembrança, tão nítida. Mas nada seria comum agora. Nem a alegria, a dor ou a mais simples recordação. Tudo possuiria aquele brilho magnífico, até mesmo o desgosto pelas coisas que se perderam para sempre. Eu depositei o espelho na arca e, tirando dela um dos lenços de renda velhos e amarelados, enxuguei minhas lágrimas. Virei-me e sentei-me devagar diante do fogo. Delicioso, o calor em meu rosto e em minhas mãos. Fui possuído por uma doce sonolência e, quando voltei a fechar os olhos, me senti imerso de repente num estranho sonho em que Magnus roubava sangue. Retornou a sensação de encantamento, de prazer estonteante — Magnus segurando-me, ligado a mim, meu sangue fluindo para ele. Mas eu ouvia as correntes roçando no chão da velha catacumba, via o vampiro indefeso nos braços de Magnus. E havia mais alguma coisa... algo importante. Um sentido. Sobre roubo, traição, sobre não se render a ninguém, nem a Deus, nem ao demônio e jamais a um homem. Eu pensava e pensava sobre isso, meio desperto, meio sonhando de novo, e me veio o pensamento mais louco, de que eu contaria tudo aquilo para Nicki, de que tão logo chegasse em casa revelaria tudo, o sonho, o possível sentido, e nós conversaríamos... Senti um choque horrível e abri os olhos. O ser humano que havia em mim olhava desamparado para aquela câmara. Ele começou a chorar de novo e o demônio recém-nascido ainda era jovem demais para refreá-lo. O choro veio em soluços e coloquei a mão sobre a boca.


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.