Industria textil vestuario

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Estudos Setoriais de

Inovação

Indústria Têxtil e de Vestuário


AGÊNCIA BRASILEIRA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL Projeto: Estudo sobre como as empresas brasileiras nos diferentes setores industriais acumulam conhecimento para realizar inovação tecnológica ABDI – FUNDEP/UFMG

Relatório Setorial:

INDÚSTRIA TÊXTIL E DE VESTUÁRIO

Pesquisadores: Mauro Borges Lemos (Cedeplar/UFMG) Eduardo Gonçalves (FEA/UFJF) Edson Paulo Domingues (Cedeplar/UFMG) Pedro Vasconcelos Amaral (Cedeplar/UFMG) Ricardo Machado Ruiz (Cedeplar/UFMG)

Assistentes de Pesquisa: Bernardo Abreu Fajardo Marcelo de Brito Brandão Márcia Alves Pereira Verônica Lazarini Cardoso

Belo Horizonte, Fevereiro de 2009


SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 2 2. DESCRIÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA TÊXTIL-VESTUÁRIO ........................................................ 4 2.1 ANÁLISES DE INSUMO-PRODUTO ................................................................................... 4 2.2 ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE AS DUAS INDÚSTRIAS DA CADEIA .................................... 10 2.3 MUDANÇAS E TENDÊNCIAS MUNDIAIS DA CADEIA TÊXTIL-VESTUÁRIO ............................. 24 3. ESTRUTURA DA INDÚSTRIA TÊXTIL ..................................................................................... 28 4. EVOLUÇÃO DA INDÚSTRIA TÊXTIL ...................................................................................... 40 5. SISTEMA SETORIAL DE INOVAÇÃO ...................................................................................... 47 5.1 REGIME TECNOLÓGICO SETORIAL................................................................................ 47 5.2 PARTICIPAÇÃO DO CAPITAL ESTRANGEIRO ................................................................... 56 5.3 FINANCIAMENTO: O PAPEL DOS AGENTES PÚBLICOS....................................................... 58 6. OPORTUNIDADES TECNOLÓGICAS, ESTRATÉGIAS E PROPOSTAS .......................................... 60 7. ESTRUTURA DA INDÚSTRIA DE VESTUÁRIO .......................................................................... 70 8. EVOLUÇÃO DA INDÚSTRIA DE VESTUÁRIO ........................................................................... 74 9. SISTEMA SETORIAL DE INOVAÇÃO ...................................................................................... 80 9.1 REGIME TECNOLÓGICO SETORIAL................................................................................ 80 9.2. PARTICIPAÇÃO DO CAPITAL ESTRANGEIRO .................................................................. 85 9.3. FINANCIAMENTO: O PAPEL DOS AGENTES PÚBLICOS ...................................................... 86 10. OPORTUNIDADES TECNOLÓGICAS, ESTRATÉGIAS E PROPOSTAS ........................................ 87 11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................................... 96

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1. INTRODUÇÃO Esse relatório analisa as indústrias têxteis e de vestuário, subproduto do Produto 4 – “Indústrias objeto de programas para fortalecer a competitividade” do Projeto “Estudo sobre como as empresas brasileiras nos diferentes setores industriais acumulam conhecimento para realizar inovação tecnológica”. Está organizado em 10 seções além desta introdução.

A Seção 2 descreve a cadeia têxtil-vestuário em seu conjunto, quantificando e mostrando as transações de compra e venda internas a essa cadeia, assim como as transações com outras indústrias fornecedoras e compradoras fora da cadeia. Embora sejam interrelacionadas

através

de

relações

de

venda

e

compra,

possuem

dinâmicas

organizacionais, tecnológicas e empresariais bem distintas. Por isso, o presente relatório aborda separadamente a indústria têxtil e a indústria de vestuário nas seções subseqüentes. O objetivo da seção 2 é fornecer um quadro produtivo da cadeia, indicando o peso relativo de cada setor, o volume dos fluxos intra e inter-industriais da cadeia, os efeitos multiplicadores diretos e indiretos de produção e emprego gerados para o conjunto da economia brasileira.

A Seção 3 apresenta a estrutura da indústria têxtil com base na classificação de liderança tecnológica, através das categorias empresas líderes, seguidoras, frágeis e emergentes e dos quatro subsetores que a compõem, beneficiamento de fibras naturais, fiação e tecelagem, fabricação de artefatos têxteis e artigos e tecidos de malhas.

A Seção 4 fornece a evolução temporal da participação de mercado e das margens de lucro dessa indústria. Tais indicadores são analisados no período 1996/2005, construídos a partir da Pesquisa Industrial Anual (PIA). É feito um cruzamento da classificação segundo a liderança tecnológica com o corte segundo tamanho, pela maior participação na produção e vendas setoriais.

A Seção 5 analisa o sistema setorial de inovação tecnológica da indústria têxtil. São apresentados os indicadores de inovação segundo as categoriais de firmas líderes, 2


seguidoras, frágeis e emergentes, procurando caracterizar os regimes tecnológicos dos quatro subsetores da indústria, segundo oportunidades tecnológicas, formas de acumulação de conhecimento e de apropriação dos retornos da inovação. A participação do capital estrangeiro e o papel do BNDES no financiamento dos investimentos são também considerados. De modo geral, a seção evidencia forte heterogeneidade tecnológica presente nas firmas têxteis brasileiras.

A Seção 6 apresenta as oportunidades tecnológicas, as estratégias empresariais e tecnológicas e algumas propostas de políticas setoriais.

As Seções 7, 8, 9 e 10 se destinam a fazer a mesma análise para a indústria de vestuário.

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2. DESCRIÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA TÊXTIL-VESTUÁRIO 2.1 ANÁLISES DE INSUMO-PRODUTO A Tabela 2.1 apresenta a decomposição das vendas setoriais da cadeia têxtil-vestuário. Os dois subsetores mais a montante da cadeia, que são o beneficiamento de fibras naturais e a fiação e tecelagem, fornecem mais de 90% de sua produção para outros setores da economia (demanda intermediária). Por outro lado, o subsetor de vestuário vende essencialmente para consumidores domésticos (89,5%), enquanto que nos casos de artefatos têxteis e malhas há maior equilíbrio das vendas entre demanda intermediária, com cerca de 46%, e demanda final, com 54%. Uma observação importante é que as fibras naturais, setor de primeira transformação e menos dinâmico em termos de agregação de valor, é o que possui maior parte da demanda final puxada pelas exportações. O subsetor de vestuário possui pequena parcela das vendas finais destinada a consumidores estrangeiros (1,9%). Qualquer estratégia para fortalecer e integrar a cadeia têxtil-vestuário brasileira precisa melhorar a representatividade externa do subsetor de vestuário, que é aquele com maior contato com os consumidores finais e, por isso, capaz de sinalizar para todo o restante da cadeia as mudanças dos padrões de consumo e as novas tendências da moda. Tabela 2.1 Distribuição das vendas setoriais, por categoria da demanda final e intermediária (% das vendas totais, 2005)

Exportações (1) Fibras Naturais Fiação e Tecelagem Artefatos Têxteis

Demanda Final (% do Total) Demanda Consumo Formação Outras Intermediária Total das Bruta de Demandas (1+2+3+4) (% do Total) Famílias Capital (4) (2) Fixo (3)

16,2

0,2

0,0

-6,6

9,8

90,2

6,9

0,7

0,0

1,4

9,0

91,0

7,5

39,7

0,2

-1,4

46,0

54,0

Malhas

7,4

40,7

0,0

-1,4

46,6

53,4

Vestuário

1,9

89,5

0,1

-0,2

91,3

8,7

Fonte: Elaboração própria a partir da MIP 2005, RAIS, PIA.

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A Figura 2.1 apresenta a cadeia têxtil-vestuário. As setas representam fluxos monetários partindo dos setores de origem (vendedores) para os de destino (compradores). Para a indústria de vestuário, as vendas se destinam exclusivamente para o consumo das famílias, enquanto que suas compras são provenientes da fiação e tecelagem, que representa 53% dos fluxos, artefatos têxteis (27%), fibras naturais (13%) e malhas (7%).

O subsetor de fibras naturais possui relações intensas com a agricultura e a silvicultura, através das quais obtém fibras, como algodão, linho, seda, sisal, juta e rami, para beneficiamento. Da pecuária são provenientes a lã e a crina.

O subsetor de fiação e tecelagem compra insumos principalmente do subsetor de fibras naturais e, em seguida, do setor petroquímico. A preponderância dos fluxos monetários oriundos de fibras naturais vis-à-vis o de produtos petroquímicos reflete as vantagens competitivas que o Brasil possui em fibras naturais, especialmente em tecidos de algodão e mesclas com outras fibras naturais.

Por outro lado, o subsetor de artefatos têxteis tem a maior parte das compras oriundas dos setores de química, por causa da natureza das operações realizadas nessa etapa da cadeia produtiva, como alvejamento, texturização, estamparia e tingimento. Os fluxos intersetoriais entre o setor químico e os subsetores de fiação e tecelagem e de artefatos têxteis são relevantes não apenas pela sua magnitude, mas também pela possibilidade de absorção de inovações de processos provenientes do setor químico.

O subsetor de malhas revela fluxos monetários relevantes, oriundos da fiação e tecelagem, de artefatos têxteis, de fibras naturais e do setor petroquímico, nessa ordem.

Nas compras das famílias, possuem maior peso as vendas do vestuário (80%), dos artefatos têxteis (16%), que incluem a linha cama-mesa-lar, por exemplo, e as malhas (4%), com artigos como tricotagens e meias.

A Tabela 2.2 apresenta os multiplicadores simples de produção dos subsetores da cadeia têxtil-vestuário. Os multiplicadores revelam o tamanho do impacto potencial sobre a atividade econômica decorrente da elevação da produção (ou demanda) do subsetor 5


considerado. Nesse caso, se a demanda por artigos do vestuário crescer 1%, o crescimento da produção do próprio setor (efeito multiplicador direto) será de 1,01% e o aumento da produção dos outros setores da economia (efeito multiplicador indireto) será de 0,84%. Nota-se que todos os subsetores da cadeia, com exceção da fiação e tecelagem, possuem efeito multiplicador total menor que o da média da indústria de transformação, estimado em 1,95. Por se tratar de uma indústria de natureza intermediária, o subsetor de fiação e tecelagem apresenta o maior efeito multiplicador da cadeia (2,47), com predomínio do efeito direto sobre o indireto. Isso mostra que o subsetor possui natureza estratégica na economia brasileira, posicionando-se com um número significativo de encadeamentos intersetoriais.

Figura 2.1 Cadeia Produtiva da Indústria Têxtil e de Vestuário, transações intersetoriais 2005 (milhões de reais) 38732

Vestuário

Consumo das Famílias

13524 7707

1823

7101

3621

979 2082

Agricultura e Silvicultura 2351

2173

Fibras Naturais Pecuária

2544

Fiação e Tecelagem

513

695

Artefatos Têxtil

877

Malhas 164

241 1376

Resinas e Elastômeros Fonte: Elaboração própria a partir da MIP 2005.

1175

376

Químicos

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Tabela 2.2 Multiplicador Simples de Produção (2005) Multiplicador Simples de Produção

Fibras Naturais Fiação e Tecelagem Artefatos Têxteis Malhas Vestuário

Total (A+B) 1,60 2,41 1,77 1,86 1,85

Direto (A) 1,02 1,05 1,03 1,01 1,01

Indireto (B) 0,58 1,36 0,73 0,85 0,84

Participação no mult. (%) Indireto Direto (A/Total) (B/Total) 63,6 36,4 43,7 56,3 58,6 41,4 54,4 45,6 54,5 45,5

Fonte: Elaboração própria a partir da MIP 2005.

Para avaliar o impacto dos subsetores da cadeia têxtil-vestuário sobre a geração de empregos nos próprios setores assim como nos outros setores da economia brasileira, foram calculados os coeficientes setoriais de emprego (Tabela 2.3). Os indicadores revelam que os subsetores de vestuário, de fiação e tecelagem e de malhas, nessa ordem, possuem maior capacidade geradora de empregos totais. Em termos de nível educacional dos empregos gerados, nota-se que o de fibras naturais é o que possui menor impacto potencial sobre a criação de empregos com curso superior. Essa capacidade é liderada pelo setor de fiação e tecelagem que apresenta indicador de 0,57. Esse resultado é coerente com a natureza das funções exercidas no subsetor, que exigem maior conhecimento de natureza físico-químico em virtude das intensas interrelações com setores como o petroquímico. É também nesse setor que ocorrem maiores possibilidades de incorporação de novo conhecimento a novos produtos (fibras especiais), que demandam especial envolvimento com P&D. Em contraste, o subsetor de vestuário é o que apresenta maior coeficiente de geração de empregos com qualificação inferior, o que é coerente com as características da maior parte das firmas desse subsetor, a saber, porte pequeno, baixa necessidade de capital por trabalhador, natureza simples das operações de costura e baixo grau de envolvimento com inovação, como será descrito posteriormente. De modo geral, as parcelas do coeficiente setorial de emprego que são vinculadas à qualificação superior apenas representam de 3 a 5% do total do coeficiente, sendo clara a predominância, em toda a cadeia, das ocupações de nível inferior.

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Tabela 2.3 Coeficientes setoriais de emprego (ocupações/valor da produção em milhões de reais de 2005)

Fibras Naturais Fiação e Tecelagem Artefatos Têxteis Malhas Vestuário

Total 1,57 10,59 8,63 10,46 14,08

Coeficiente de emprego Superior Médio 0,06 0,52 0,57 4,32 0,42 3,58 0,52 4,24 0,39 6,01

Inferior 0,99 5,71 4,63 5,69 7,68

Fonte: Elaboração própria a partir da MIP, RAIS e PIA 2005.

A Tabela 2.4 decompõe os multiplicadores de emprego, também considerando a qualificação da mão-de-obra. Nesse caso, nota-se que o subsetor de fibras naturais possui multiplicador de 39,1 e o subsetor de fiação e tecelagem possui multiplicador de 36,4. Isso revela uma capacidade de geração de 39 e 36 empregos para cada R$ 1 milhão de produção de cada setor, respectivamente. Destes empregos totais, a grande maioria (32) é de qualificação inferior no caso de fibras naturais. Na fiação e tecelagem, porém, 2 são de qualificação superior e cerca de 13 são de qualificação média, enfatizando novamente a capacidade desse subsetor de criar empregos na economia que possuam maior qualificação.

Tabela 2.4 Multiplicador Simples de Emprego (ocupações/milhões de reais de 2005)

Fibras Naturais Fiação e tecelagem Artefatos texteis Malhas Vestuário

Total (A+B+C) 39,1 36,4 22,7 25,9 28,3

Superior (A) 1,0 2,3 1,4 1,6 1,3

Médio (B) 5,5 12,7 8,1 9,1 10,9

Inferior (C) 32,6 21,4 13,2 15,3 16,0

Fonte: Elaboração própria a partir da MIP, RAIS e PIA 2005.

As Tabelas 2.5 a 2.9 realizam o mesmo tipo de análise, porém por subsetor. Nota-se que o de fibras naturais apresenta capacidade muito reduzida de criar empregos no próprio setor a partir de um aumento de demanda (Tabela 2.5). Nos outros casos, a participação do efeito indireto no multiplicador total é inferior à do subsetor de fibras naturais, embora seja predominante sobre o efeito direto em todos os subsetores e em todas as qualificações.

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Tabela 2.5 Multiplicador Simples de Emprego por Qualificação, Fibras Naturais (2005) Qualificação do Emprego Superior Médio Inferior

Multiplicador Simples de Emprego Total (A+B) Direto (A) Indireto (B) 1,04 0,06 0,97 5,52 0,53 4,98 32,58 1,00 31,58

Participação no mult. (%) Direto Indireto (A/Total) 5,81 94,19 9,65 90,35 3,07 96,93

Fonte: Elaboração própria a partir da MIP, RAIS e PIA 2005.

Tabela 2.6 Multiplicador Simples de Emprego por Qualificação, Fiação e Tecelagem (2005) Qualificação do Emprego Superior Médio Inferior

Multiplicador Simples de Emprego Total (A+B) Direto (A) Indireto (B) 2,32 0,60 1,72 12,71 4,55 8,16 21,41 6,02 15,40

Participação no mult. (%) Direto Indireto (A/Total) 25,69 74,31 35,81 64,19 28,09 71,91

Fonte: Elaboração própria a partir da MIP, RAIS e PIA 2005.

Tabela 2.7 Multiplicador Simples de Emprego por Qualificação, Artefatos Têxteis (2005) Qualificação do Emprego Superior Médio Inferior

Multiplicador Simples de Emprego Total (A+B) Direto (A) Indireto (B) 1,39 0,44 0,95 8,15 3,71 4,44 13,18 4,79 8,39

Participação no mult. (%) Direto Indireto (A/Total) 31,69 68,31 45,51 54,49 36,33 63,67

Fonte: Elaboração própria a partir da MIP, RAIS e PIA 2005.

Tabela 2.8 Multiplicador Simples de Emprego por Qualificação, Malhas (2005) Qualificação do Emprego Superior Médio Inferior

Multiplicador Simples de Emprego Total (A+B) Direto (A) Indireto (B) 1,55 0,53 1,02 9,09 4,29 4,80 15,28 5,75 9,53

Participação no mult. (%) Direto Indireto (A/Total) 34,17 65,83 47,22 52,78 37,64 62,36

Fonte: Elaboração própria a partir da MIP, RAIS e PIA 2005.

Tabela 2.9 Multiplicador Simples de Emprego por Qualificação, Vestuário (2005) Multiplicador Simples de Emprego Qualificação do Emprego Superior Médio Inferior

Total (A+B) 1,34 10,92 16,05

Direto (A) 0,39 6,05 7,74

Indireto (B) 0,95 4,86 8,31

Participação no mult. (%) Direto Indireto (A/Total) 29,02 70,98 55,44 44,56 48,20 51,80

Fonte: Elaboração própria a partir da MIP, RAIS e PIA 2005.

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2.2 ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE AS DUAS INDÚSTRIAS DA CADEIA Essa seção descreve a importância da indústria têxtil e de vestuário em relação ao total da indústria de transformação brasileira. Entre 1996 e 2006, o valor de transformação industrial (VTI) da cadeia têxtil sofreu queda substantiva de participação na indústria brasileira. Em 1996, a fabricação de produtos têxteis representava 3,42% do VTI da indústria de transformação. Contudo, em 2006 tal participação se reduziu para 2%, o que representa queda de 42% na participação do valor agregado da indústria nacional. Podese perceber que tal resultado ocorreu de forma generalizada em todos subsetores, principalmente do segmento de fiação, com queda de 60% de sua representatividade em 10 anos (de 0,72% para 0,29%). No caso da indústria de vestuário, houve queda de 32% na participação do valor agregado industrial. Todas essas quedas refletem baixo crescimento da economia nacional até 2003 e a consequente estagnação dos níveis de renda e emprego em grande parte do período considerado. No entanto, o recrudescimento da competição com produtos importados parece ter sido decisivo para este resultado. A não recuperação da participação dos dois componentes da cadeia na indústria de transformação a partir de 2003 parece indicar que a perda de competitividade para as importações tornou-se um problema crônico dessa cadeia.

Tabela 2.8 Participação da Cadeia Têxtil-Vestuário no Valor de Transformação Industrial da Indústria Brasileira (1996-2006) 1996

2006

Fabricação de Produtos Têxteis Beneficiamento de Fibras têxteis Fiação Tecelagem Fabricação de artefatos têxteis Serviços de acabamentos em fios e tecidos Fabricação de artefatos têxteis a partir de tecidos - exclusive Vestuário Fabricação de tecidos e artigos de malha

3,42% 0,06% 0,72% 1,03% 0,41% 0,22% 0,68% 0,30%

2,05% 0,03% 0,29% 0,60% 0,24% 0,15% 0,54% 0,20%

Confecção de artigos do vestuário e acessórios Confecção de artigos do vestuário Confecção de acessórios do vestuário

2,32% 2,20% 0,12%

1,58% 1,49% 0,09%

5,75%

3,63%

Total Fonte: PIA/IBGE.

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Em termos de composição interna da cadeia integrada têxtil-vestuário, o Gráfico 2.1 não revela mudanças bruscas na participação de cada indústria no total da receita líquida de vendas. Entre 1996 e 2006, a indústria têxtil perdeu 1% na cadeia, que foi absorvido pela indústria de vestuário e acessórios. Corroborando os dados da Tabela 2.8, ambas as indústrias apresentam encolhimento da receita líquida de vendas no período 1996-2006 de, aproximadamente, 27% para a indústria têxtil e de 25% para vestuário. Esses percentuais significam a perda de R$ 10 bilhões na indústria têxtil e R$ 6 bilhões em vestuário num período de 10 anos. Apenas a partir de 2005, é possível notar uma interrupção da tendência de queda da receita líquida de ambas as indústrias. No caso da têxtil, sua receita estabiliza-se em torno de R$ 25 bilhões, enquanto que, para vestuário e confecções há uma retomada da trajetória de leve crescimento das vendas a partir de 2004 (Gráfico 2.2; Tabela 2.9). Os indicadores de valor bruto da produção e valor de transformação industrial (Tabela 2.10) também confirmam os números acima. Gráfico 2.1 Composição da Receita Líquida de Vendas Industriais da Cadeia Têxtil-Vestuário 100% 90% 80%

40%

41%

60%

59%

70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% 1996

1997

1998

1999

Fabricação de Produtos Têxteis

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

Confecção de Artigos do Vestuário e Acessórios

Fonte: SIDRA-IBGE, PIA.

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Bilhões (R$)

Gráfico 2.2 Receita Líquida de Vendas Industriais da Cadeia Têxtil-Vestuário 40 35 30 25 20 15 10 5 0 1996

1997

1998

1999

Fabricação de Produtos Têxteis

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

Confecção de Artigos do Vestuário e Acessórios

Fonte: SIDRA-IBGE, PIA. Deflacionados pelo IPA-OG.

Tabela 2.9 Receita Líquida com Vendas Industriais – Têxtil e Confecções R$ bilhões de 2006 Taxa de crescimento a.a. (%) Confecçõe Ano Têxtil Têxtil Confecções s 1996 36,6 24,7 1997 -10,67 32,7 23,2 -5,82 1998 0 32,7 24,0 3,27 1999 3,61 33,8 20,9 -13,00 2000 -4,02 32,5 19,6 -6,04 2001 -5,22 30,8 18,9 -3,37 2002 -4,82 29,3 16,5 -12,81 2003 -7,95 27,0 14,4 -12,78 2004 4,82 28,3 14,6 1,48 2005 -9,46 25,6 16,6 13,83 2006 4,25 26,7 18,6 11,72 1996-2005 -3,09 -2,78 Fonte: SIDRA-IBGE, PIA. Deflacionados pelo IPA-OG.

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Tabela 2.10 Valor Bruto da Produção (VBP) e da Transformação Industrial (VTI) Têxtil-Vestuário Ano

VBP Têxtil Vestuário 1996 37,50 24,97 1997 34,14 23,47 1998 33,27 23,83 1999 34,91 21,12 2000 33,70 19,70 2001 32,04 18,82 2002 30,15 16,48 2003 27,72 14,30 2004 28,76 14,63 2005 26,18 16,73 2006 27,42 18,50 Notas: R$ bilhões de 2006 e Deflator IPA-OG. Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/IBGE.

VTI Têxtil 16,33 14,20 14,38 15,52 14,21 13,07 12,37 10,43 11,09 10,41 10,94

Vestuário 11,08 10,14 9,99 9,32 8,85 8,65 7,54 6,49 6,74 7,02 8,42

As reduções na receita líquida de vendas, no valor bruto da produção industrial e no valor de transformação industrial contrastam com a evolução do número de empresas, que aumentou 21,6% e 33,8%, respectivamente, na indústria têxtil e na de confecções, no período 1996-2005 (Tabelas 2.11 e 2.12), indicando queda na produtividade por empresa. Entretanto, a tendência de crescimento ocorre principalmente nos estratos de micro e pequenas

empresas,

enquanto

que

o

número

de

grandes

empresas

caiu

significativamente no período (46% no têxtil e 34% no vestuário). Este quadro sinaliza claramente um processo de enfraquecimento e perda de competitividade do conjunto da cadeia.

Enquanto a taxa de crescimento no período 1996-2005 é de, respectivamente, 23,7%, 28% e de -2,56% para as faixas de até 49 empregados, de 50 a 99 e de 100 a 249 na indústria têxtil, é possível constatar que na indústria de vestuário as taxas para as mesmas faixas são 32,9%, 76,4% e 44,28%. As maiores taxas para a indústria de vestuário denotam a existência de menores barreiras à entrada, representadas por menor volume de capital por trabalhador, em relação à indústria têxtil. Convém salientar, porém, que essa última possui empresas de tamanho médio bem inferior na comparação com seus fornecedores de fibras e filamentos artificiais e sintéticos da indústria química. Logo, trata-se de uma cadeia em que a montante há empresas fornecedoras de grande porte e, em geral, de capital estrangeiro, enquanto que a indústria têxtil em si é formada por 13


empresas de porte intermediário em relação às empresas do setor de vestuário e acessórios, ambas de capital majoritariamente nacional.

Tabela 2.11 Número de empresas da Indústria Têxtil em 1996, 2000 e 2005 Pessoal ocupado

Número de empresas 1996 2000 2005

Taxa de crescimento (%) 96/00 00/05 96/05

ATÉ 49 DE 50 A 99 DE 100 A 249 DE 250 A 499 DE 500 A 999 1000 OU MAIS

7.857 357 313 162 100 38

8.521 376 270 153 61 35

9720 457 305 163 54 36

8,45 5,32 -13,74 -5,56 -39,00 -7,89

14,07 21,54 12,96 6,54 -11,48 2,86

23,71 28,01 -2,56 0,62 -46,00 -5,26

Total Fonte: RAIS/MTE.

8.827

9.416

10735

6,67

14,01

21,62

Alguns autores1 apontam o elo da indústria química como o que compromete a competitividade brasileira nos produtos derivados de fibras químicas, tendo em vista o crescente uso mundial dessas na confecção de roupas em virtude de suas vantagens visà-vis fibras naturais.2 O fato é que a indústria nacional de fibras e filamentos químicos não possui oferta adequada à cadeia têxtil-vestuário, criando a necessidade de volumes de importações crescentes ao longo do tempo, principalmente a partir de 2003 (Gráfico 2.3).

Tabela 2.12 Número de empresas da Indústria de Vestuário em 1996, 2000 e 2005 Pessoal ocupado

Número de empresas 1996 2000 2005

Taxa de crescimento 96/00 00/05 96/05

ATÉ 49 DE 50 A 99 DE 100 A 249 DE 250 A 499 DE 500 A 999 1000 OU MAIS

30.305 661 332 94 32 12

33.480 781 360 89 24 11

40.293 1.166 479 96 21 11

10,48 18,15 8,43 -5,32 -25,00 -8,33

20,35 49,30 33,06 7,87 -12,50 0,00

32,96 76,40 44,28 2,13 -34,38 -8,33

Total Fonte: RAIS/MTE.

31.436

34.745

42.066

10,53

21,07

33,81

1

Como, por exemplo, Prochnik (2002). Fundação Vanzolini (2001) destaca que as roupas com fibras químicas se assemelham às confeccionadas com fibras naturais em relação ao conforto e as superam em termos de características de uso (menor necessidade de passar, maior repelência a sujeira, menores cuidados na lavagem doméstica), durabilidade, além de possuírem preço competitivo. Viana et al. (2008) destacam que elas são mais resistentes a atritos e tensionamentos, gerando aumento da produtividade dos teares. 2

14


Gráfico 2.3 Comércio Exterior de Fibras Artificiais e Sintéticas, em milhões de Dólares (19902007) Milhões (US$)

1500

1000

500

0

‐500

‐1000 1990

1992 1994 Exportações

1996

1998 Importações

2000

2002 2004 Saldo Comercial

2006

Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Secex/MDIC.

O déficit comercial em fibras químicas do Gráfico 2.3 contrasta com o desempenho da balança comercial das fibras naturais (Gráfico 2.4). A produção brasileira de fibras naturais, com base em algodão, apresenta forte competitividade devido à grande produtividade e aos baixos custos de produção. Os fatores que contribuíram para esse sucesso são: a pesquisa tecnológica da EMBRAPA que adaptou a produção de algodão ao cerrado, o apoio financeiro dado pelo governo do estado do Mato Grosso após a transição da produção do Nordeste para o Centro-Oeste e a facilidade de mecanização da lavoura nessa macrorregião. Tal desempenho da balança comercial de fibras naturais ocorre após o período em que o Brasil chegou a ser deficitário em fibras naturais entre 1992 e 2001, em conseqüência da praga do bicudo que desarticulou a produção nordestina.

No entanto, o bom desempenho das fibras naturais (Gráfico 2.4) e das fibras mescladas (Gráfico 2.5) não foi capaz de gerar superávit comercial no total da balança comercial de fibras a partir de 2006, por causa do forte crescimento das compras externas de fibras químicas, como pode ser observado no Gráfico 2.6. As importações do total de fibras 15


apresentaram aumento de 52% no período 2000-2007. Grande parte dessa dinâmica é explicada pelo comportamento das importações de fibras artificiais e sintéticas, cuja participação no total das importações de fibras saltou de 55% em 2000 para 76% em 2007 em conseqüência de compras 113% maiores que as do ano de 2000. Gráfico 2.4 Comércio Exterior de Fibras Naturais, em milhões de Dólares (1990-2007)

Milhões (US$)

1000

700

400

100

‐200

‐500

‐800 1990

1992

1994 Exportações

1996

1998 2000 Importações

2002 2004 Saldo Comercial

2006

Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Secex/MDIC.

16


Gráfico 2.5 Comércio Exterior de Fibras Mescladas, em milhões de Dólares (1990-2007) Milhões (US$)

250

200

150

100

50

0

‐50 1990

1992

1994 Exportações

1996

1998 2000 Importações

2002 2004 Saldo Comercial

2006

Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Secex/MDIC.

Milhões (US$)

Gráfico 2.6 Comércio Exterior do Total de Fibras, em milhões de Dólares (1990-2007) 2000 1500 1000 500 0 ‐500 ‐1000 ‐1500 1990

1992

1994

Exportações

1996

1998

2000

Importações

2002

2004

2006

Saldo Comercial

Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Secex/MDIC.

17


Ainda assim, o segmento de fibras naturais foi o item de maior valor exportado em 2007 na pauta de exportações da cadeia têxtil-vestuário, atingindo US$ 651 milhões (Gráfico 2.7), enquanto os tecidos e as confecções alcançaram, respectivamente, US$ 564 milhões e US$ 631 milhões (Gráfico 2.8).

As exportações de artigos da cadeia têxtil-vestuário apresentam tendência crescente nessa década, no entanto as importações desses produtos crescem ainda mais intensamente. Ainda que exista superávit comercial nas confecções até o ano de 2007, que aliás é decrescente (Gráfico 2.9), no caso dos tecidos passa a existir déficit (Gráfico 2.10).

Gráfico 2.7 Exportações por Tipos de Fibras, em milhões de Dólares (1990-2007) Milhões (US$)

700 600 500 400 300 200 100 0

Fibras Naturais

Fibras Artificiais e Sintéticas

Fibras Mescladas

Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Secex/MDIC.

18


Gráfico 2.8 Exportações por Tipos de Produtos Têxteis, em milhões de Dólares (1990-2007) 900 800 700 600 500 400 300 200 100 0

Tecidos

Malhas

Confeccções

Outros artigos têxteis confeccionados

Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Secex/MDIC.

Gráfico 2.9 Comércio Exterior de Confecções, em milhões de Dólares (1990-2007) Milhões (US$)

1000

800

600

400

200

0 1990

1992 1994 Exportações

1996

1998 Importações

2000

2002 2004 Saldo Comercial

2006

Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Secex/MDIC.

19


Gráfico 2.10 Comércio Exterior de Tecidos, em milhões de Dólares (1990-2007) Milhões (US$)

800

600

400

200

0

‐200

‐400 1990

1992

1994

1996

1998

2000

Exportações Importações Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Secex/MDIC.

2002

2004

2006

Saldo Comercial

Excluindo fibras, tecidos e confecções são os itens com maior participação média no total de importações de produtos têxteis, com, respectivamente, 59% e 32%, no período 19902007. Contudo, a participação das importações de tecidos decaiu de 57% em 2000 para 40% em 2007, ao passo que a participação de confecções no total das importações de produtos têxteis aumentou de 28% para 40% no mesmo período. No período 2000-2007, as importações de tecidos cresceram em 71%, enquanto que as de confecções aumentaram em 242%. Os dados comprovam uma falta de competitividade crônica do segmento de confecções, que é justamente o elo de maior valor agregado e potencialmente mais dinâmico da cadeia têxtil-vestuário.

Em relação às exportações, as fibras apresentaram aumento de 195% no período 20002007, graças ao desempenho das fibras naturais que aumentaram em 290%, como assinalado anteriormente. As exportações de produtos têxteis, excluindo fibras, devem-se principalmente às confecções e aos tecidos, cujas participações médias na pauta de exportações de têxteis são de 60% e 30%, respectivamente, no período 1990-2007. Dois indicadores revelam que as exportações de confecções vêm perdendo importância em 20


relação às exportações de tecidos, no período 2000-2007. O primeiro é a participação das confecções na pauta de exportações de têxteis, que decaiu de 62% para 49%, enquanto que no caso dos tecidos o indicador aumentou de 32% para 44%. O segundo indicador é a taxa de crescimento das exportações no período 2000-2007, a qual aumentou 108% para tecidos e apenas 18% para confecções. O resultado modesto para confecções contrasta com a tendência do comércio mundial, no qual este segmento é o de maior crescimento. As explicações para a pouca representatividade das exportações brasileiras de confecções são tradicionalmente atribuídas ao amplo mercado interno e à baixa competitividade da cadeia produtiva têxtil brasileira.

Além desses argumentos acima, para explicar a dinâmica das exportações e importações brasileiras é preciso considerar também a política cambial e os momentos de crescimento econômico. A desvalorização cambial de 1999 está intimamente associada à trajetória das exportações de produtos têxteis, que iniciam fase de crescimento exatamente a partir desse ano, após relativa estabilidade desde início dos anos 90 (Gráfico 2.11). As importações, por outro lado, crescem de 1990 a 1994, quando iniciam trajetória declinante até início do processo de valorização do real, a partir de 2003. Esse movimento também é explicado pela estagnação econômica brasileira no final dos anos 90, a qual começa a se reverter a partir 2004 e as importações passam a crescer também por causa do aumento de demanda interna. Com isso, é possível observar duas fases de déficit na balança comercial brasileira de produtos da cadeia têxtil-vestuário: o período 1994-2001 e o período recente a partir de 2006. Tais fases estão inegavelmente associadas ao comportamento do câmbio, mas também ao acirramento da competição internacional, principalmente de produtos asiáticos.

21


Milhões (US$)

Gráfico 2.11 Exportações, Importações e Saldo Comercial de Produtos da Cadeia TêxtilVestuário, em milhões de Dólares (1990-2007) 3750 3000 2250 1500 750 0 ‐750 ‐1500 1990

1992

1994 Exportações

1996

1998 2000 Importações

2002 2004 Saldo Comercial

2006

Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Secex/MDIC.

Como efeito da maior pressão competitiva exercida pelas importações de produtos têxteis acabados ou mesmo da importação de insumos mais baratos (fibras químicas), o Gráfico 2.12 revela queda de preços relativos dos artigos da cadeia têxtil-vestuário, ao comparar alguns índices de preços no atacado (IPA) com o índice geral de preços (IGP-DI). Nota-se que o IPA-Tecidos, Vestuário e Calçados apresenta queda relativa em relação ao IGP durante todo o período considerado. A tendência de queda se mostra mais proeminente até início de 2003, quando os preços desses artigos passam a apresentar relativa estabilidade. Tal comportamento coincide com a inversão da tendência de desvalorização da moeda brasileira, que ocorre ao final de 2002. O processo de valorização do real ocorrido a partir de então só se reverte recentemente em meados de 2008. O comportamento do IPA-Vestuário (exceto malharia) apresenta redução de preços relativos ainda mais drástica, pois a série situa-se abaixo da anterior, apresentando tendências similares. O IPA-Malharia se comporta de forma análoga ao do IPA-Tecidos, Vestuário e Calçados, com perda relativa de preços em comparação com os outros preços da economia. 22


Gráfico 2.12 IPA da Cadeia Têxtil-Vestuário em relação ao IGP-DI (normalizado para 100) 120 100 80 60 40 20

IGP‐DI / IGP‐DI

IPA‐Vestuário e Calçados / IGP‐DI

IPA‐Vestuario (exceto malharia) / IGP‐DI

IPA‐Malharia / IGP‐DI

dez/07

abr/07

ago/06

dez/05

abr/05

ago/04

dez/03

abr/03

ago/02

dez/01

abr/01

ago/00

dez/99

abr/99

ago/98

dez/97

abr/97

ago/96

dez/95

abr/95

ago/94

0

Fonte: Elaboração própria a partir de dados do IpeaData.

Para não interromper a significativa trajetória de aumento de exportação de produtos têxteis, que alcançou 93% no período 2000-2007, é preciso avaliar algumas estratégias que sustentem esse dinamismo e aumentem a representatividade do comércio exterior brasileiro.

O fim do Acordo de Têxteis e Vestuário em 2005, baseado em cotas e restrições às importações, e a transição para as regras gerais da OMC afetaram o desempenho das exportações brasileiras. Informações do setor revelam que as exportações de brins e denim de empresas, como a Santista Têxtil, caíram 50% na comparação entre 2008 e 2004.3 No entanto, a saída para enfrentar problemas como esse e a concorrência de países asiáticos tem sido a internacionalização, assim como a realização de fusões e joint-ventures. O Grupo Santista Têxtil, por exemplo, uniu-se à espanhola Tavex Algodonera para assegurar presença no mercado internacional. Além de compra de 3

Dados da Internet, 28 de março de 2008. (disponível em: http://valoresdefatos.blogspot.com/2008/03/s.html)

23


terreno em Honduras, o grupo adquiriu duas fábricas no México para acessar de forma privilegiada o mercado norte-americano. De forma complementar, acordos bilaterais poderiam ser realizados para compensar o fim das cotas que privilegiavam países em desenvolvimento.

O principal fato a observar aqui é a rápida deterioração da competitividade externa dos produtos da cadeia têxtil-confecção ao longo do processo recente de valorização do real frente ao dólar, iniciado em 2004. Ao contrário de outros setores da indústria de transformação nacional que conseguiram enfrentar relativamente bem esta mudança cambial, enviesada para o barateamento das importações e encarecimento de das exportações,

a

cadeia

têxtil-confecção

caminha

rapidamente

para

a

sua

desindustrialização na ausência de políticas de proteção compensatórias. A repentina reversão do câmbio pela crise internacional no final de 2008, com a desvalorização do real em relação ao dólar em torno de 40%, certamente pode contribuir para deter tal processo, dependendo da sensibilidade da variação do preço dos importados têxteis e de confecções frente à apreciação do dólar. A política chinesa, por exemplo, de desovar os estoques gerados pelo esfriamento da demanda americana para mercados periféricos deve avolumar os problemas de dumping desses produtos no país.

2.3 MUDANÇAS E TENDÊNCIAS MUNDIAIS DA CADEIA TÊXTIL-VESTUÁRIO Ao longo das últimas décadas, a cadeia têxtil-vestuário tem passado por um processo de reorganização que possui múltiplas dimensões, que são nesse texto resumidas em tecnológicas, organizacionais e regionais.4

Mudanças tecnológicas

Houve incorporação de máquinas e equipamentos com componentes microeletrônicos e avanços da indústria química, em termos de corantes e tintas, ou petroquímica, como no caso das fibras sintéticas. Nesse sentido, destaca-se o próprio surgimento de fibras

4

As informações estão baseadas nos seguintes estudos: Lupatini (2004), Pio et al. (2003), Garcia et al. (2005), Monteiro Filho e Santos (2002), Antero (2006), Prochnik (2002), Serra e Carvalho (1999), Campos e Paula (2006), Garcia (2008) e Hiratuka et al. (2008).

24


alternativas ao algodão, que vem sendo incorporadas de forma crescente na fabricação de têxteis e confecções, seja substituindo as fibras naturais ou mescladas a essas.

Mais recentemente, segmentos mais a montante da cadeia, especialmente o de produção de fibras químicas, sinalizam significativas oportunidades para o setor através da incorporação de conhecimento científico aos produtos, como nos casos de aplicação de nanotecnologia às propriedades das fibras, como resistência, conforto, efeitos antiodor, bactericidas, hidratação e proteção ultravioleta. As trajetórias tecnológicas dos diversos segmentos da cadeia têxtil-vestuário são especificadas a seguir:

Fiação: espessura e resistência de fios, atendimento a especificações físicoquímicas, diferenciação de fibras. Também houve desenvolvimentos nas formas de sistemas de transporte interno de materiais, como carregamento, descarregamento e alimentação de máquinas, além de transporte de uma máquina para a subsequente, como no caso do transporte de fitas e bobinas por um “veículo guiado automaticamente” (VGA).

Tecelagem: velocidade, redução de perdas com manutenção, maior facilidade na gravação de parâmetros estabelecidos dos teares; uso de do sistema VGA para troca rápida de fios de urdume e de artigos têxteis.

Acabamento: redução do consumo de energia através de máquinas de reaproveitamento de energia, melhoria de conservação, maior controle ambiental através, por exemplo, de máquinas com sistema de coleta de efluentes aéreos ou utilização de produtos químicos que não agridem o meio ambiente, controle de temperatura da água e da variação na composição da mistura química para tingimento. Outro desenvolvimento foi a automação da cozinha de cores destinada à pesagem de produtos químicos e preparo de soluções para beneficiamentos. No segmento de tinturaria, tem havido esforços para P&D de corantes cujas estruturas causem menor dano ecológico, como corantes biodegradáveis. No segmento de estamparia, fornecedores de produtos químicos buscam composições que façam pastas de estampar sem substâncias tóxicas.

25


Confecções: melhorias dos moldes de base com diversos tamanhos, melhorias de corte e desenho com sistemas CAD/CAM, integração de operações e ampliação e flexibilidade das operações, dentre as mais importantes.

Mudanças organizacionais

Houve valorização e especialização em algumas funções corporativas por parte de grandes empresas da cadeia, como marcas globais, marketing, desenvolvimento de produtos, design, canais de comercialização, capacidade de coordenação da cadeia, gestão de fornecedores e aportes financeiros. Essas funções propiciam o comando na cadeia têxtil-vestuário e garantem maiores ganhos e apropriabilidade. Logo, o comando da cadeia têxtil-vestuário passou a ser exercido por produtores, comerciantes e grandes varejistas com marcas, exatamente porque focaram nas funções corporativas acima citadas ou por causa do seu poder de compra. Em paralelo, houve tendência de transferência a terceiros de atividades produtivas propriamente ditas. De fato, passou a ser comum o esquema de produção triangular, em que o grande comprador faz encomendas a um fornecedor, o qual, por sua vez, possui diversas fábricas afiliadas. Houve também clara segmentação do mercado, de forma que os mercados com alto preço, qualidade e criatividade coexistem com mercados de preços baixos e bens padronizados. De fato, os avanços tecnológicos em bens de capital e insumos e os investimentos realizados em funções corporativas que garantem maior controle da cadeia produtiva constituem dois conjuntos de fatores competitivos, que podem ser resumidos em ativos materiais e imateriais.

Mudanças regionais

Houve deslocamento de atividades produtivas através de investimento direto ou terceirização/subcontratação para regiões ou países em que o custo do trabalho é baixo. Em termos mundiais, a subcontratação de atividades produtivas têm se estendido para Ásia, América Central e Caribe, países do norte da África e leste europeu.

26


No Brasil, esse processo ocorreu à medida que algumas empresas (p.ex., Hering) passaram a importar artigos, como jaquetas e bermudas sintéticas da China, e à medida que grandes empresas dos ramos de tecelagem transferiram unidades produtivas para o Nordeste em busca de custos mais reduzidos de trabalho e de benefícios fiscais e creditícios. Por outro lado, tais empresas mantiveram em São Paulo outras funções corporativas

vinculadas

a

desenvolvimento

de

produto,

design,

marketing,

comercialização e distribuição de produtos e finanças.

Tal movimento esteve restrito às grandes empresas. Por isso, os sistemas locais de produção continuam a exercer atração sobre as pequenas e médias empresas, as quais se beneficiam de economias externas. No caso da indústria têxtil e, especialmente vestuário, existe uma tendência de organização espacial das empresas de menor porte em torno de pólos. Os exemplos mais conhecidos são os pólos de Americana (SP), Vale do Itajaí (SC), Cianorte (PR), Maringá (PR), São João Nepomuceno (MG), Nova Friburgo (RJ) e Jaraguá (GO).

27


3. ESTRUTURA DA INDÚSTRIA TÊXTIL Nessa seção, são descritos indicadores da estrutura da indústria têxtil, analisada a partir de quatro grupos industriais, segundo a Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE). A composição dos subsetores é detalhada a seguir:

Beneficiamento de Fibras Naturais (CNAE-171): compreende o beneficiamento de fibras de algodão (cardação, penteação, etc.); a obtenção de subprodutos, inclusive os desperdícios (lanolina); o descaroçamento do algodão quando não associado ao cultivo; os beneficiamentos (lavagem, cardação, penteação, etc), de outras fibras têxteis naturais (linho, seda, sisal, juta, rami, lã, crina, etc.). Fiação e Tecelagem (CNAE-172 e CNAE-173): compreende a produção de fios de algodão, inclusive mesclas, com predominância de algodão; de tecidos de fios e filamentos contínuos artificiais ou sintéticos, inclusive mesclas, com predominância de fios artificiais ou sintéticos; de tecidos de polipropileno; de tecidos de fibra de vidro; de fios de papel; de fios de fibras artificiais ou sintéticas, inclusive mesclas, com predominância de fios de fibras artificiais ou sintéticas; de linhas e fios para costurar e bordar, de qualquer material (algodão, artificiais, sintéticos, sedas, lãs, etc.); de tecidos planos de algodão, inclusive mesclas, com predominância de algodão; de veludos, tecidos felpudos, tecidos de gaze e outros tecidos elaborados, com predominância de fios de algodão; de tecidos de fios de fibras têxteis naturais (lã, linho, juta, seda, rami, etc.), inclusive mesclas, com predominância de fibras naturais; e de fibras têxteis naturais (linho, rami, juta, seda, lã, etc.), inclusive mesclas, com predominância de fibras têxteis naturais. Artefatos Têxteis (CNAE-174, CNAE-175 e CNAE-176): compreende a produção de artefatos têxteis diversos, integrada com as fiações e tecelagens (sacos de algodão e de outras fibras têxteis, bandeiras, etc.), de artefatos têxteis para uso doméstico (roupas de cama, mesa, copa, cozinha, etc.), integrada com as fiações e tecelagens; o alvejamento, texturização, estamparia, tingimento, torção e outros acabamentos em fios, tecidos e artigos têxteis, inclusive peças do vestuário, realizados para terceiros; a fabricação de artigos de tecidos de uso doméstico (roupas de cama, mesa, copa, cozinha, etc.) a partir de tecidos; de artigos de colchoaria a partir de tecidos (almofadas, travesseiros, edredons, etc.); de sacos a partir de tecidos; de tapetes, forrações para revestimento de pisos (carpete) e outros artefatos de tapeçaria; de barbantes, cordas, cabos e cordéis e de outros artefatos de cordoaria; de redes de pesca a partir de fios e fibras; de feltros e artigos de feltro; de tecidos e artefatos de crinas e cerdas de origem animal ou de fibras vegetais; de tecidos impermeáveis e de acabamento especial (têxteis técnicos, geotêxteis, tecidos revestidos de náilon, polipropileno e poliéster, panoscouro, lonas, etc.); de artefatos têxteis técnicos, geotêxteis, lonas ou de outros tecidos de acabamento especial; não-tecidos (falsos tecidos) e seus artefatos, para usos industrial, sanitário ou doméstico; de mantas de fibras artificiais ou sintéticas, agulhadas e/ou prensadas, para usos industriais (entretelas, forros, filtros industriais e outros produtos para uso técnico e industrial); de telas para 28


pneumáticos; de tecidos para telas de desenho, pintura, etc.; de barracas para acampamento, toldos, velas e semelhantes; de artefatos de não-tecidos (falsos tecidos), integrada com a fabricação de não-tecidos; de artefatos de passamanaria (galões, vieses, etc.); de fitas elásticas e de tecidos elásticos; de filós, rendas, bordados e de tecidos bordados; e de fitas de tecidos. Fabricação de Tecidos e Artigos de Malhas (CNAE-177): compreende a fabricação de tecidos de malha; de meias; e de outros artigos do vestuário produzidos em malharias (tricotagens). O primeiro subsetor analisado, de beneficiamento de fibras naturais, é o de menor dimensão da indústria têxtil, em termos de número de firmas, pessoal ocupado, faturamento, valor agregado e exportações. O setor é também o de menor pujança tecnológica, em termos de quantidade de firmas líderes (apenas três). No entanto, todas as líderes e seguidoras são inovadoras, embora as empresas inovadoras de processo superem em quantidade as inovadoras de produto em ambos os casos. Nenhuma empresa frágil inova em produto. Gráfico 3.1 Inovação nas Firmas Líderes, Seguidoras e Frágeis de Beneficiamento de Fibras Naturais (%) 100%

75%

50%

25%

0% Inovadoras

Inovadora de produto

Inovadora de processo

Líderes Seguidoras Nota: 3 Firmas Líderes, 7 Firmas Seguidoras, 30 Firmas Frágeis Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/PINTEC-IBGE.

P&D Frágeis

29


Tabela 3.1 Número e Valor Agregado das Firmas Líderes, Seguidoras e Frágeis de Beneficiamento de Fibras Naturais (2005) Indicador

Líderes

Seguidoras

Frágeis

Número de empresas

3 (7,5%)

7 (17,5%)

30 (75,0%)

234

622

2546

(6,9%) -

(18,3%) 21,6 (51,8%) 362,5 (80,1%) 15,8 (62,2%) 14,1 (77,5%) 54,8 (99,5%)

(74,8%) 20,1 (48,2%) 90,0 (19,9%) 9,6 (37,8%) 4,1 (22,5%) 0,0 (0,0%)

Pessoal Ocupado (número de pessoas) Salários Totais

(R$ milhões)

Faturamento

(R$ milhões)

Lucros Totais

(R$ milhões)

0,0 (0,0%) Exportação Total (R$ milhões) 0,2 (0,5%) Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC. Investimento Total

(R$ milhões)

Tabela 3.2 Indicadores da Indústria de Beneficiamento de Fibras Naturais para Líderes, Seguidoras e Frágeis (2005) Indicador

Líderes

Seguidoras

Frágeis

3 -

7 2893,7

30 656,6

Faturamento médio (R$ milhões)

-

819,8 51,8

709,6 3,0

Lucro/Custo (%)

-

4,8%

11,9%

VTI/Faturamento (%)

-

17,5%

51,1%

Exportações/Faturamento (%)

-

15,1%

0,0%

Importações/Custos (%)

-

10,9%

0,0%

Investimento/Faturamento (%)

-

3,9%

4,5%

P&D/Faturamento (%)

-

0,0%

0,0%

P&D/Investimento (%) Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC.

-

0,0%

0,0%

Número de empresas Salário médio mensal (R$) Salário médio mensal no pessoal industrial (R$)

Para evitar individualização das informações, os indicadores presentes nas Tabelas 3.1 e 3.2 omitem a maior parte dos dados referentes às líderes desse subsetor. Em termos de pessoal ocupado, as empresas frágeis são responsáveis por quase 75% de todo o emprego do subsetor. Em contraste, apenas 48% da massa total de salários são providos pelas frágeis, revelando a existência de empresas com baixos indicadores de salário médio. A diferença é maior, contudo, para remuneração do pessoal não ligado à produção (distribuição, marketing, design, controles administrativo, financeiro e comercial), em 30


relação ao pessoal do “chão de fábrica”. As empresas frágeis superam as seguidoras nos indicadores de lucro/custo, VTI/faturamento e investimento/faturamento.

O setor de fiação e tecelagem possui 29% do número de empresas da indústria têxtil, 41% do pessoal ocupado, 43% dos salários totais, 44% do valor de transformação industrial, 46% do faturamento, 50% do investimento, 43% das exportações, 52% das importações e 68% dos gastos em P&D. De todos os quatro agrupamentos considerados na indústria têxtil, nota-se que esse subsetor lidera a investigação que conduz a novos produtos e processos. Esse subsetor possui, do ponto de vista tecnológico, papel chave na cadeia têxtil-vestuário porque produz insumos, no caso fios e tecidos, para os demais setores a jusante, determinando, em última instância, a possibilidade de inserção competitiva nos mercados doméstico e internacional.

No setor de fiação e tecelagem foram identificadas 21 empresas líderes, 227 seguidoras, 221 frágeis e quatro emergentes (Gráfico 3.2). Todas as líderes são inovadoras de produto, enquanto que 86% inovam em processo e 76% apresentam esforço (interno ou externo) de P&D. Cabe salientar que no segmento fiação e tecelagem as inovações de produto são incrementais, envolvendo, principalmente, o desenvolvimento de novas fibras e a melhoria constante de sua qualidade. No caso de inovações de processo, o que ocorre é a introdução de máquinas mais velozes e automatizadas, o que torna tal segmento especialmente dependente de fornecedores de bens de capital e muito intensivo em capital vis-à-vis setores mais a jusante da cadeia produtiva, como confecções. No subsetor de fiação, por exemplo, os desenvolvimentos de processos objetivam o aumento da velocidade de produção e o aumento do controle de qualidade do produto.5

As líderes de fiação e tecelagem são empresas grandes, possuindo em média 719 empregados, o que representa duas vezes o tamanho das seguidoras ou sete vezes o tamanho das frágeis (Tabela 3.3). O maior porte explica a capacidade de suportar custos fixos elevados de P&D e a maior capacidade de inovar em produto e em processo. A 5

Segundo Melo et al. (2007), atualmente um processo novo é o de fiação por compactação, no qual há compressão das fibras estiradas por elementos mecânicos com aspiração e, depois, a torção. O processo permite redução da torção e melhor estiragem, resultando em fio de maior resistência, com menor número de pontos fracos e uma baixa pilosidade.

31


heterogeneidade

industrial

intragrupo

em

termos

de

tamanho

reflete-se

em

heterogeneidade quanto ao desenvolvimento tecnológico, pois a inovação de processo representa capacidade de modernização da planta que amplia a capacidade de fornecer produtos padronizados. Ao mesmo tempo, a tendência em inovar em produto constatada significa capacidade em diferenciar e segmentar o mercado com base na inovação de produto.

No caso das seguidoras, as duas tendências de inovação apontadas acima não ocorrem com tanta frequência. Parcela bem menor das seguidoras inova (55%) e a atividade de inovar, quando ocorre, é mais frequente em processo (45%) do que em produto (31%), sendo também mais raro o envolvimento das firmas com atividade de P&D (16%). No caso das frágeis, apenas 21% destas inovam, não possuindo nenhum envolvimento com P&D.

Gráfico 3.2 Inovação nas Firmas Líderes, Seguidoras, Frágeis e Emergentes de Fiação e Tecelagem (%) 100%

75%

50%

25%

0% Inovadoras

Inovadora de produto

Inovadora de processo

P&D

Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes Nota: 21 Firmas Líderes, 227 Firmas Seguidoras, 221 Firmas Frágeis, 4 Firmas Emergentes. Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/PINTEC-IBGE.

32


Embora constituam apenas 4% do número total de empresas, as líderes de fiação e tecelagem são responsáveis por 23% do faturamento, 24% dos salários, 23% dos investimentos, 24% dos lucros e 33% das exportações. Esse último dado confirma uma característica estrutural do setor de fiação e tecelagem, no qual há forte concentração das exportações em um número reduzido de grandes e eficientes empresas. Informações da literatura do setor, referentes ao inicio da década, revelam que os três maiores grupos empresariais do setor (Vicunha, Santista e Coteminas) respondiam por cerca de um terço das exportações da cadeia têxtil-vestuário.

Tabela 3.3 Número e Valor Agregado das Firmas Líderes, Seguidoras, Frágeis e Emergentes de Fiação e Tecelagem (2005) Indicador Número de empresas

Líderes

21 (4,44%) Pessoal Ocupado (número de pessoas) 15101 (12,96%) Salários Totais (R$ milhões) 347,22 (24,17%) Faturamento (R$ milhões) 3058,71 (23,05%) Lucros Totais (R$ milhões) 208,48 (24,41%) Investimento Total (R$ milhões) 176,97 (23,07%) Exportação Total (R$ milhões) 179,72 (32,62%) Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/PINTEC-IBGE.

Seguidoras

Frágeis

Emergentes

227 (47,99%) 77494 (66,53%) 903,96 (62,93%) 9336,69 (70,37%) 593,81 (69,53%) 559,96 (73,01%) 371,23 (67,38%)

221 (46,72%) 22428 (19,26%) 172,66 (12,02%) 745,20 (5,62%) 49,53 (5,80%) 20,40 (2,66%) 0,00 (0,00%)

4 (0,85%) 1455 (1,25%) 12,50 (0,87%) 127,55 (0,96%) 2,22 (0,26%) 9,62 (1,25%) 0,00 (0,00%)

A Tabela 3.4 também aponta diferenças salariais em relação às seguidoras e frágeis, que refletem a absorção de pessoal mais qualificado tanto no “chão de fábrica”, quanto no pessoal ligado à área administrativa.

As seguidoras representam 48% do número de empresas, 67% do pessoal ocupado, 63% dos salários, 70% do faturamento, 73% do investimento total e 67% das exportações (Tabela 3.3). Embora as exportações representem 4% do faturamento, e não 5,9% como nas líderes (Tabela 3.4), há grande capacidade de inserção externa, garantida pela existência de plantas relativamente atualizadas do ponto de vista produtivo, o que as capacita alcançar ganhos de produtividade e baixos custos de produção.

33


Tabela 3.4 Indicadores da Fiação e Tecelagem para Líderes, Seguidoras, Frágeis e Emergentes (2005) Indicador Líderes Número de empresas 21 Salário médio mensal (R$) 1916,1 Salário médio mensal no pessoal industrial (R$) 1338,3 Faturamento médio (R$ milhões) 145,7 Lucro/Custo (R$) 7,1% VTI/Faturamento (%) 38,5% Exportações/Faturamento (%) 5,9% Importações/Custos (%) 4,2% Investimento/Faturamento (%) 5,8% P&D/Faturamento (%) 0,5% P&D/Investimento (%) 9,5% Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/PINTEC-IBGE.

Seguidoras

Frágeis

Emergentes

227 972,1 882,5 41,1 6,5% 34,3% 4,0% 3,3% 6,0% 0,2% 4,1%

221 641,5 722,2 3,4 6,2% 35,8% 0,0% 0,5% 2,7% 0,0% 0,0%

4 715,7 606,0 31,9 1,7% 29,6% 0,0% 8,5% 7,5% 2,1% 28,3%

Cabe ressaltar que as quatro emergentes do subsetor possuem faturamento médio nove vezes maior que as frágeis, assim como relação Investimento/Faturamento maior que o das próprias empresas líderes (Tabela 3.4). As emergentes constituem nicho dinâmico do setor à medida que possuem alta intensidade de P&D para os padrões do setor têxtil, tendo em vista que gastam mais de 2% do faturamento em P&D vis-à-vis 0,5% das líderes. Nota-se que, em proporção do investimento total realizado, os gastos em P&D são muito elevados (28%) nas emergentes, face aos 9,5% das empresas líderes. As emergentes são muito dinâmicas do ponto de vista tecnológico, pois inovam em produto e processo, além de realizarem gastos com P&D. Logo, são empresas de porte intermediário que merecem apoio em termos de políticas públicas de financiamento e subsídios para inovação.

As frágeis apenas atendem o mercado interno e são responsáveis por pequenas parcelas do faturamento, do investimento total e tecnológico realizado pelo subsetor. Novamente, destaca-se a heterogeneidade tecnológica intragrupo do setor de fiação e tecelagem, no qual nada menos do que 221 empresas (cerca de 47% do subsetor), não possuem condições efetivas de inserção no mercado externo nem sequer estão protegidas da acirrada concorrência internacional, tendo em vista o aumento de 71% da importação brasileira de tecidos no período 2000-2007.

A fabricação de artefatos têxteis constitui o maior subsetor da indústria têxtil, possuindo 56% do número de empresas, 48% do pessoal ocupado e dos salários totais, 45% do 34


valor de transformação industrial, 42% do faturamento e do investimento total e 50% das exportações totais da indústria têxtil. Como enfatizado anteriormente, esse subsetor apenas não possui liderança em termos de investimentos em P&D e importações, uma vez que possui participações de 31% e 35%, respectivamente, contra 68% e 52% para os mesmos indicadores do subsetor de fiação e tecelagem.

O Gráfico 3.3 indica que todas as empresas líderes são inovadoras, sendo que 86% inovam em produto e 69% inovam em processo. Em relação às líderes de fiação e tecelagem, proporção menor de empresas está engajada com atividade de P&D (42%). Seguindo o padrão encontrado na taxonomia líder-seguidora-frágil, as seguidoras inovam mais em processo (36%) do que em produto (27%) e, algumas delas, envolvem-se com atividade de P&D (9%).

Nas empresas produtoras de artefatos têxteis, a participação das líderes nas exportações situa-se em torno de um terço, embora representem apenas 4% do número total de empresas (Tabela 3.7). Isso também é refletido nos indicadores de coeficiente de exportação da Tabela 3.8, que apresenta indicador de 8,4% contra 5,1% das seguidoras. Tabela 3.7 Número e Valor Agregado das Firmas Líderes, Seguidoras e Frágeis de Artefatos Têxteis (2005) Indicador Número de empresas Pessoal Ocupado (número de pessoas) Salários Totais

(R$ milhões)

Faturamento

(R$ milhões)

Lucros Totais

(R$ milhões)

Investimento Total

(R$ milhões)

Exportação Total

(R$ milhões)

Líderes

Seguidoras

Frágeis

36 (3,89%) 17805 (12,88%) 287,63 (17,73%) 2494,29 (20,60%) 169,09 (22,47%) 107,67 (16,80%) 208,56 (32,92%)

274 (29,59%) 76833 (55,59%) 1001,78 (61,77%) 8344,19 (68,90%) 511,09 (67,93%) 492,70 (76,88%) 424,97 (67,08%)

616 (66,52%) 43570 (31,52%) 332,49 (20,50%) 1272,46 (10,51%) 72,22 (9,60%) 40,47 (6,31%) 0,00 (0,00%)

Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC.

As frágeis do subsetor de artefatos têxteis constituem foco para intervenção de políticas públicas porque existem em grande número e empregam 32% da mão-de-obra do 35


subsetor, embora não possuam inserção externa e sejam caracterizadas por baixa produtividade, baixa participação nos lucros (9,6%) e nos investimentos totais (6,3%). Em termos de faturamento por empregado, a diferença entre as líderes e as frágeis é 4,6 maior para as primeiras. Gráfico 3.3 Inovação nas Firmas Líderes, Seguidoras, Frágeis e Emergentes de Artefatos Têxteis (%) 100%

75%

50%

25%

0% Inovadoras

Inovadora de produto

Inovadora de processo

P&D

Líderes Seguidoras Frágeis Nota: 36 Firmas Líderes, 274 Firmas Seguidoras, 616 Firmas Frágeis. Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/PINTEC-IBGE.

Emergentes

Tabela 3.8 Indicadores da Indústria de Artefatos Têxteis para Líderes, Seguidoras e Frágeis (2005) Indicador

Líderes

Seguidoras

Frágeis

Número de empresas Salário médio mensal (R$) Salário médio mensal no pessoal industrial (R$) Faturamento médio (R$ milhões) Lucro/Custo (R$) VTI/Faturamento (%) Exportações/Faturamento (%) Importações/Custos (%) Investimento/Faturamento (%)

36 1346,2

274 1086,5

616 635,9

1236,5 69,3 7,0% 40,6% 8,4% 1,7% 4,3%

940,8 30,5 6,2% 38,3% 5,1% 3,1% 5,9%

652,3 2,1 5,5% 45,0% 0,0% 0,1% 3,2%

0,4% 9,8%

0,1% 1,8%

0,0% 0,0%

P&D/Faturamento (%) P&D/Investimento (%) Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC.

36


A representatividade do subsetor de tecidos e artigos de malhas é mais modesta, com apenas 9% do valor de transformação da indústria têxtil e do faturamento ou 13% do número de empresas e 10% do pessoal ocupado. Os investimentos em P&D são quase inexistentes (1%), assim como há pouca inserção externa, medidas tanto pelas participações nas exportações (3%) e importações (9%). Esse subsetor possui quatro empresas líderes, 59 seguidoras e 153 frágeis. Nesse caso, as líderes inovam em produto e processo em idêntica proporção, enquanto 25% delas envolvem-se com atividade de P&D. Apenas 8% das seguidoras implementam gastos com P&D, sendo que nas frágeis essa atividade é inexistente (Gráfico 3.4).

O desempenho econômico das líderes do segmento de malharias é ainda mais marcante, pois apenas 4 empresas são responsáveis por 74% das exportações, 23% dos empregos, 25% dos salários totais, 27% do faturamento e 15% do investimento do subsetor. Nesse segmento industrial, as frágeis também são bem numerosas, constituindo 71% do total de empresas e empregando um terço do pessoal ocupado, embora não sejam exportadoras (Tabela 3.9). Tabela 3.9 Número e Valor Agregado das Firmas Líderes, Seguidoras e Frágeis de Tecidos e Artigos de Malhas (2005) Indicador

Líderes

Seguidoras

Frágeis

Número de empresas

4 (1,90%)

59 (27,30%)

153 (70,80%)

Pessoal Ocupado (número de pessoas)

6246 (22,70%)

12005

9228

(43,70%)

(33,60%)

70,2

139,5

69,1

(25,20%)

(50,00%)

(24,80%)

728,4

1529,5

450,9

(26,90%)

(56,50%)

(16,60%)

35

121,9

32,4

(18,50%)

(64,40%)

(17,10%)

15,9

77,4

11,1

(15,20%)

(74,10%)

(10,70%)

29,2

10,2

0

(25,90%)

(0,00%)

Salários Totais

(R$ milhões)

Faturamento

(R$ milhões)

Lucros Totais

(R$ milhões)

Investimento Total

(R$ milhões)

Exportação Total

(R$ milhões)

(74,10%) Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC.

37


Gráfico 3.4 Inovação nas Firmas Líderes, Seguidoras e Frágeis de Tecidos e Artigos de Malhas (%) 100%

75%

50%

25%

0% Inovadoras

Inovadora de produto

Inovadora de processo

Líderes Seguidoras Nota: 4 Firmas Líderes, 59 Firmas Seguidoras, 153 Firmas Frágeis. Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/PINTEC-IBGE.

P&D Frágeis

Tabela 3.10 Indicadores da Indústria de Tecidos e Artigos de Malhas (2005) Indicador Número de empresas Salário médio mensal (R$) Salário médio mensal no pessoal industrial (R$) Faturamento médio (R$ milhões) Lucro/Custo (R$) VTI/Faturamento Exportações/Faturamento (%) Importações/Custos (%) Investimento/Faturamento (%) P&D/Faturamento (%) P&D/Investimento (%) Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC.

Líderes

Seguidoras

Frágeis

4 936,0

59 968,3

153 624,0

770,4 182,1 4,9% 33,6% 4,0% 2,1% 2,2%

873,7 25,9 8,7% 36,2% 0,7% 4,1% 5,1%

600,2 2,9 7,7% 35,6% 0,0% 0,1% 2,5%

0,0% 0,3%

0,0% 0,7%

0,0% 0,0%

Pela Tabela 3.10, é possível notar que o salário médio das líderes é inferior ao das seguidoras, tanto para o pessoal do “chão de fábrica” quanto para o pessoal ligado à administração. Esse indicador pode ser reflexo das estratégias de relocalização de unidades produtivas industriais dos segmentos mais a jusante da cadeia produtiva têxtil para regiões de baixo custo de mão-de-obra em face à crescente ameaça representada 38


pela concorrĂŞncia com produtos importados, especialmente chineses. Indicadores de tamanho, como faturamento por empresa, mostram a disparidade intrassetorial, uma vez que as lĂ­deres sĂŁo sete vezes maiores que as seguidoras e equivalem a 60 vezes o tamanho das frĂĄgeis.

39


4. EVOLUÇÃO DA INDÚSTRIA TÊXTIL Os indicadores de participação de mercado e mark-up das firmas da indústria têxtil são apresentados para o período de 1996 a 2005, na classificação de líderes-seguidorasfrágeis. A metodologia consiste em identificar estas empresas em 2005 e calcular seus indicadores ao longo do período, para se obter uma análise temporal das firmas do setor classificadas como líderes, seguidoras e frágeis.

Com base no Gráfico 4.1, nota-se que a participação de mercado (nacional) das 64 líderes tecnológicas da indústria têxtil decresceu de 26% em 1996 para 21% em 2004, voltando a crescer em 2005 para 24%. Por outro lado, as 567 empresas seguidoras do setor apresentam tendência de crescimento nas vendas do mercado de 66% para 71%, entre 1996 e 2003. A categoria das frágeis, que engloba 1020 empresas, possui participação estável no período, geralmente inferior a 9%. As 4 emergentes possuem participação residual, menor que 1%, mas que evolui de 0,26% para 0,55%.

As evidências permitem inferir que a grande maioria das firmas com maior participação no mercado, entre as 4 e 8 maiores (CR-4 e CR-8) é empresa tecnologicamente líder, ou seja, as líderes tecnológicas de maior porte são as maiores firmas da indústria têxtil. No entanto, o crescimento da participação no mercado doméstico das seguidoras revela que estratégia dessas firmas é de grande relevância para o mercado brasileiro de produtos têxteis. Ao mesmo tempo, tal estratégia não exclui a importância das estratégias das líderes que vêm procurando vender “menos quantidade” e “mais qualidade”, e embora sua participação de mercado tenha decrescido relativamente no período vis-à-vis as seguidoras.6 Portanto, é provável que as líderes tecnológicas explorem nichos de mercado de alto valor agregado na produção de têxteis.

O Gráfico 4.2 corrobora a tese de que é preciso inovar para sustentar margens de lucro em períodos de intensa concorrência com produtos padronizados oriundos, sobretudo, da Ásia. Se for considerado o indicador das firmas líderes, nota-se que há uma redução de 6

Em pronunciamento à imprensa, o presidente da Santista Têxtil, Ricardo Weiss, confirma essa nova tendência das grandes empresas do setor, afirmando que “agora exportamos mais qualidade e menos quantidade” (http://valoresdefatos.blogspot.com/2008/03/s.html).

40


37% para 34% entre 1996 e 2005, sendo este valor igual à média do indicador em todo o período analisado. No caso das seguidoras, após o crescimento das margens de lucro entre 1996 e 2000, de 24% para 39%, observam-se reduções sucessivas até o ano de 2005, quando o indicador atinge o patamar de 32%. A média das margens em todo o período é de 31%. Como o desvio-padrão da série de margem de lucro das seguidoras é o dobro do das líderes, isso indica que há forte instabilidade nas margens das primeiras, o que reflete a maior concorrência com os importados têxteis que estas empresas estão expostas.7 A categoria de empresas que mais sofre com reduções de margens de lucro é a das emergentes, em que o indicador se reduz de 38% para 13% no período analisado. As frágeis possuem indicador que oscila entre 11% e 15% entre 2001 e 2005, após atingir o pico (24%) em 1998 e se reduzir sucessivamente.

Gráfico 4.1 Participação de Mercado das Líderes, Seguidoras, Frágeis e Emergentes de 2005 Indústria Têxtil (1996-2005, %) 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% 1996

1997 Líderes

1998

1999

2000

Seguidoras

2001

2002

Frágeis

2003

2004

2005

Emergentes

Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/IBGE.

7

No caso das seguidoras e das líderes o desvio-padrão é de, respectivamente, 6% e 3%.

41


Gráfico 4.2 Mark-up das Firmas Líderes, Seguidoras, Frágeis e Emergentes de 2005 Indústria Têxtil (1996-2005, %) 45% 40% 35% 30% 25% 20% 15% 10% 5% 0% 1996

1997 Líderes

1998

1999

2000

Seguidoras

2001

2002

Frágeis

2003

2004

2005

Emergentes

Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/IBGE.

O Gráfico 4.3 reúne trajetórias bem diferentes em relação à participação de mercado das quatro maiores empresas de cada grupo industrial. Em relação ao início do período analisado, os únicos subsetores que apresentam tendência clara de aumento dos percentuais de participação de mercado das quatro maiores empresas são os de fiação e tecelagem e o de fabricação de artefatos têxteis, que passaram, respectivamente, de 15% para 23% e de 18% para 21%. No caso do beneficiamento de fibras naturais houve forte oscilação, acompanhada de tendência de queda da concentração de mercado das quatro maiores, de 47% para 24%. Na fabricação de artigos de malhas, o subsetor experimentou crescente concentração até 1998, que foi se reduzindo até atingir 26% em 2005, patamar levemente superior ao de 1996. Isso pode estar associado à crescente importação de malhas, que deteriorou a posição das líderes de mercado do grupo.

As mesmas

tendências podem ser observadas para a participação de mercados das oito maiores empresas (Gráfico 4.4).

42


Gráfico 4.3 Participação de Mercado das Quatro Maiores Empresas da Indústria Têxtil (19962005) 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% 1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

Beneficiamento de fibras naturais

Fiação e tecelagem

Artefatos têxteis

Fabricação de tecidos e artigos de malha

Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/IBGE.

Gráfico 4.4 Participação de Mercado das Oito Maiores Empresas da Indústria Têxtil (1996-2005) 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% 1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

Beneficiamento de fibras naturais

Fiação e tecelagem

Artefatos têxteis

Fabricação de tecidos e artigos de malha

Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/IBGE.

43


O indicador de primazia entre as quatro maiores atingiu maiores níveis em 2005, comparativamente a 1996, nos casos de fiação e tecelagem e artefatos têxteis (Gráfico 4.5), embora neste último tenha havido retração de 65% para 53% entre 2004 e 2005. No caso das malharias, há uma certa estabilidade do indicador, especialmente entre 1999 e 2005, em torno de 32%. O mesmo pode ser dito da primazia em relação às oito maiores do subsetor (Gráfico 4.6). De forma coerente com o comportamento do CR4, o setor de beneficiamento de fibras naturais apresenta forte tendência de redução no período 19962005, em que o indicador de primazia passou de 54% para 36%. A primazia em relação às oito maiores apresenta maior queda ainda para esse subsetor, de 40% para 24% (Gráfico 4.6).

Gráfico 4.5 Primazia em Relação às Quatro Maiores Empresas da Indústria Têxtil Por Subsetores (1996-2005) 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% 1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

Beneficiamento de fibras naturais

Fiação e tecelagem

Artefatos têxteis

Fabricação de tecidos e artigos de malha

Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/IBGE.

44


Gráfico 4.6 Primazia em Relação às Oito Maiores Empresas da Indústria Têxtil Por Subsetores (1996-2005) 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% 1996

1997

1998

1999

2000

Beneficiamento de fibras naturais Artefatos têxteis

2001

2002

2003

2004

2005

Fiação e tecelagem Fabricação de tecidos e artigos de malha

Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/IBGE.

Em relação aos indicadores de mark-up das 4 maiores firmas (Gráfico 4.7), nota-se, em geral, uma tendência de redução para a maior parte dos subsetores. Isso é claro, a partir de 2002, para o subsetor de beneficiamento de fibras naturais, artefatos têxteis e artigos de malhas e, entre 1999 e 2003, para fiação e tecelagem. Neste último, porém, a margem de lucro das quatro maiores veio apresentando tendência de recuperação, atingindo 46% em 2005. Em relação ao mark-up para o conjunto das empresas de todos os subsetores (Gráfico 4.8), há relativa estabilidade desse indicador a partir de 2001, exceto para o subsetor de beneficiamento de fibras naturais.

Comparando-se o mark-up das 4 maiores com o mark-up do total de firmas, nota-se que no subsetor de artigos de malhas, a margem de lucro do total de firmas é um pouco superior ao das 4 maiores desse setor. Isso contraria o padrão observado para os outros subsetores em que a margem do total de firmas é sempre inferior à das 4 maiores.

45


Gráfico 4.7 Mark-up (MK) das Quatro Maiores Firmas da Indústria Têxtil (1996-2005) 140% 120% 100% 80% 60% 40% 20% 0% 1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

Beneficiamento de fibras naturais

Fiação e tecelagem

Artefatos têxteis

Fabricação de tecidos e artigos de malha

Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/IBGE.

Gráfico 4.8 Mark-up (MK) Total das Firmas da Indústria Têxtil (1996-2005) 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% 1996

1997

1998

1999

2000

Beneficiamento de fibras naturais Artefatos têxteis

2001

2002

2003

2004

2005

Fiação e tecelagem Fabricação de tecidos e artigos de malha

Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/IBGE.

46


5. SISTEMA SETORIAL DE INOVAÇÃO 5.1 Regime Tecnológico Setorial A dinâmica inovadora do setor têxtil depende substancialmente de desenvolvimento tecnológico exógeno, especialmente da indústria química e de bens de capital, o que caracteriza o setor como dominado por fornecedores. Tal característica, contudo, não exclui a necessidade de esforços inovadores endógenos ao setor. Verificam-se esforços de desenvolvimento de produto, de desenvolvimento e gestão de ativos intangíveis e de atualização do sistema produtivo, que garantam flexibilidade em face das freqüentes mudanças de demanda e da necessidade de encurtar o ciclo de lançamento de novos produtos.

Ciclos de vida menores dos produtos constituem um mecanismo pelo qual as empresas líderes se protegem contra a baixa apropriabilidade que caracteriza o setor, uma vez que patentes não são um meio eficaz de proteção contra cópias e imitações. Isso vale principalmente para os setores de tecelagem e confecções, tendo em vista que o segmento produtor de fios ainda se vale das patentes para proteger novos produtos desenvolvidos. Através de lançamentos mais frequentes de produtos, as líderes também coordenam melhor a sua cadeia. O lançamento de novos produtos exige investimentos em ativos tangíveis e intangíveis. Os primeiros são medidos por indicadores que refletem a compra de máquinas e equipamentos, sinalizando a compra de conhecimento tecnológico incorporado em bens tangíveis. Os segundos podem ser medidos pelos investimentos em P&D, indicando o grau de conhecimento em ciência básica e, especialmente, em aplicada que a inovação de produto e processo exige.

A intensidade de P&D da indústria têxtil, medida pela proporção dos gastos de P&D em relação ao faturamento, é de 0,22% bem abaixo da média da indústria de transformação (0,66%). Isso indica que a probabilidade de inovar a partir de recursos investidos em atividades de busca é pequena, o que denota que o setor possui baixa oportunidade tecnológica, além de pequena cumulatividade, pois a compra de conhecimento incorporado nos insumos químicos e em máquinas e equipamentos tende a prevalecer sobre a aquisição de conhecimento intangível. 47


No caso da indústria de beneficiamento de fibras naturais, setor de primeira transformação para tecidos feitos com esse tipo de fibra, não se observa intensidade em capital ou em conhecimento (Tabela 5.1). Apenas 1% do investimento total realizado na indústria têxtil é atribuído a esse setor, que também não implementa gastos com P&D.8 A melhoria tecnológica das empresas, quando ocorre, dá-se via compra de conhecimento incorporado em bens de capital.

No caso do segmento de fiação e tecelagem, as seguidoras concentram a maior parte dos investimentos totais e dos gastos em P&D, ainda que a dinâmica da inovação de produto esteja particularmente vinculada às líderes, como visto na seção 3. No esforço de P&D, porém, a participação das seguidoras é menor em termos relativos, tendo em vista que possuem 54% dos gastos contra 40% das líderes, enquanto que nos investimentos a participação é de 73% contra 23% (Gráfico 5.1). Indicadores de intensidade de investimento da Tabela 5.1 exibem semelhanças entre as líderes (5,8%) e as seguidoras (6%). Por outro lado, em termos de intensidade de P&D, as diferenças são substantivas, pois o indicador das líderes (0,5%) é 150% maior que o das seguidoras (0,2%).

Tabela 5.1 Importância para a Inovação na Indústria Têxtil (números de empresas e participação no total, 2005) Setor

Indicadores

Líderes

Seguidoras

Frágeis

Emergentes

Número de empresas

3

7

30

-

Investimento/Faturamento (%) P&D/Faturamento (%) Número de empresas

21

3,9% 0,0% 227

4,5% 0,0% 221

4

Investimento/Faturamento (%) P&D/Faturamento (%) Número de empresas

5,8% 0,5% 36

6,0% 0,2% 274

2,7% 0,0% 616

7,5% 2,1% -

Investimento/Faturamento (%) P&D/Faturamento (%) Número de empresas

4,3% 0,4% 4

5,9% 0,1% 59

3,2% 0,0% 153

-

Investimento/Faturamento (%) P&D/Faturamento (%) Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC.

2,2% 0,0%

5,1% 0,0%

2,5% 0,0%

-

Beneficiamento de Fibras Naturais Fiação e Tecelagem Artefatos Têxteis Tecidos e Artigos de Malhas

8

Dados sobre P&D de líderes não estão disponíveis para evitar individualização da informação. Mas, isso não altera a natureza das conclusões extraídas.

48


Gráfico 5.1 Investimento Total e Investimento em P&D na Indústria de Fiação e Tecelagem Gastos em P&D

Investimento Total

0% 6%

3% 1% 23%

40%

54% 73%

Líderes

Seguidoras

Frágeis

Emergentes

Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC.

Na indústria de artefatos têxteis, há clara segmentação do regime tecnológico. Ao contrário dos outros subgrupos da indústria têxtil, as empresas líderes realizam maior parcela do gasto em P&D (54%), ao passo que seus investimentos perfazem apenas 17% do total do subsetor. Esses números são corroborados pelos indicadores da Tabela 5.1, que mostram intensidade de P&D das líderes (0,4%) 300% maior que das seguidoras (0,1%). As seguidoras realizam 77% dos investimentos, enquanto que as frágeis investem apenas 6% do total. Em relação ao esforço de P&D, as seguidoras realizam 46% dos gastos e as frágeis não implementam tal estratégia de acumulação de conhecimento para inovar (Gráfico 5.2).

Gráfico 5.2 Investimento Total e Investimento em P&D na Indústria de Artefatos Têxteis Investimento Total 6%

Gastos em P&D 0%

17%

46% 54% 77%

Líderes

Seguidoras

Frágeis

Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC.

No que tange aos artigos de malhas, há pequena participação das líderes tanto nos investimentos totais (15%) quanto nos gastos de P&D (9%) – Gráfico 5.3. Esse fato está 49


associado à existência de apenas quatro empresas líderes nesse subsetor. Entretanto, a concentração dos investimentos e dos gastos de P&D nas seguidoras contrasta com a baixa taxa dessas empresas que são inovadoras de produto (29%), analisada no Gráfico 3.3. Através da Tabela 5.1, nota-se que o subsetor apresenta intensidade de P&D próxima de zero, embora a intensidade de investimento das seguidoras (5,1%) seja muito próxima das empresas da mesma categoria dos subsetores de fiação e tecelagem (6%) e de artefatos têxteis (5,9%). Por outro lado, nesse subsetor as líderes possuem intensidade de investimento (2,2%) significativamente inferior à das seguidoras (5,1%), sendo menor que o próprio indicador das frágeis (2,5%).

Gráfico 5.3 Investimento Total e Investimento em P&D na Indústria de Tecidos e Artigos de Malhas Investimento Total 11%

Gastos em P&D 0%

15%

74%

9%

91%

Líderes

Seguidoras

Frágeis

Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.

A indústria de beneficiamento de fibras naturais possui líderes que atribuem importância alta para diversas fontes externas de conhecimento para inovar: clientes e consumidores, empresas de consultoria, universidades, centros de capacitação e instituições de testes, feiras e exposições, além de redes de informação (Tabela 5.2). Essa forma de acumular conhecimento para inovar é condizente com a condição de serem inovadoras de produto e processo, simultaneamente, como visto no Gráfico 3.1, ainda que a participação dos investimentos e gastos em P&D no total da indústria têxtil seja muito pequena.

As seguidoras desse subsetor evidenciam apenas duas formas de acesso a conhecimento para inovar: empresas de consultoria (43%) e feiras e exposições (57%). Dentre as frágeis, apenas 60% usam alguma fonte para inovar, que, nesse caso, são os clientes e consumidores. Nenhuma empresa assinalou o departamento de P&D como 50


fonte para inovar, ressaltando uma particularidade desse subsetor de primeira transformação da cadeia têxtil, que é o da dependência exclusiva de fontes externas, principalmente clientes e feiras e exposições, tradicionalmente usadas pela indústria têxtil para fins de mudança tecnológica.

Tabela 5.2 Importância das Fontes de Inovação na Indústria de Beneficiamento de Fibras Naturais (Números de empresas que declararam importância alta, 2005) Número de empresas Importância alta para departamento de P&D Importância alta para Fornecedores Importância alta para Clientes e Consumidores Importância alta para Concorrentes Importância alta para Empresa de Consultoria Importância alta para Universidade Importância alta para Centro de Capacitação Importância alta para Instituições de Teste Importância alta para Feiras e Exposições Importância alta para Redes de Informação

Líderes 3 0 (0%) 0 (0%) 3 (100%) 0 (0%) 3 (100%) 3 (100%) 3 (100%) 3 (100%) 3 (100%) 3 (100%)

Seguidoras 7 0 (0%) 0 (0%) 0 (0%) 0 (0%) 3 (43%) 0 (0%) 0 (0%) 0 (0%) 4 (57%) 0 (0%)

Frágeis 30 0 (0%) 0 (0%) 18 (60%) 0 (0%) 0 (0%) 0 (0%) 0 (0%) 0 (0%) 0 (0%) 0 (0%)

Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.

Ao contrário do subsetor anterior, a maior parte das líderes da indústria de fiação e tecelagem atribui importância superior para fontes internas de conhecimento para inovar através de departamento de P&D (Tabela 5.3). São também fontes altamente relevantes para parte substantiva das líderes as feiras e exposições (63%), clientes e consumidores (48%), redes de informação (40%), fornecedores (35%) e concorrentes (32%). Observase que todas as fontes são altamente importantes para a grande maioria das emergentes, ressaltando que todas elas consideram clientes e consumidores como fonte altamente importante. Isto evidencia a hipótese de que este número restrito de firmas está direcionado para nichos de mercado customizado. Em contraste com as líderes que não usam as universidades como insumo para mudança tecnológica, estas empresas emergentes desse subsetor, em sua maioria (72%), as utilizam certamente na busca de 51


conhecimentos direcionados para o desenvolvimento de produtos sob encomenda dos clientes.

Tabela 5.3 Importância das Fontes de Inovação na Indústria de Fiação e Tecelagem (Números de empresas que declararam importância alta, 2005) Líderes 21 11 (51%) Importância alta para Fornecedores 7 (35%) Importância alta para Clientes e Consumidores 10 (48%) Importância alta para Concorrentes 7 (32%) Importância alta para Empresa de Consultoria 0 (0%) Importância alta para Universidade 0 (0%) Importância alta para Centro de Capacitação 1 (5%) Importância alta para Instituições de Teste 1 (5%) Importância alta para Feiras e Exposições 13 (63%) Importância alta para Redes de Informação 8 (40%) Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE. Número de empresas Importância alta para departamento de P&D

Seguidoras 227 21 (9%) 61 (27%) 79 (35%) 36 (16%) 10 (4%) 9 (4%) 11 (5%) 34 (15%) 72 (32%) 69 (30%)

Frágeis 222 0 (0%) 21 (9%) 40 (18%) 19 (9%) 2 (1%) 0 (0%) 0 (0%) 0 (0%) 39 (18%) 13 (6%)

Emergentes 4 3 (72%) 0 (0%) 4 (100%) 3 (72%) 3 (72%) 3 (72%) 3 (72%) 3 (72%) 3 (72%) 4 (100%)

Em relação à indústria de artefatos têxteis, a inovação nas líderes é induzida por fontes múltiplas de conhecimento para inovar. As mais citadas são: clientes e consumidores (55%), fornecedores (44%), feiras e exposições (44%), redes de informação (43%), centro de capacitação (38%), departamento de P&D (37%) e universidade (29%). Ao contrário das líderes, as seguidoras utilizam tais fontes de forma pouco frequente. As fontes mais usadas são as feiras e exposições (25%) e as redes de informação (18%). Para as frágeis, somente 25% das empresas usam clientes e consumidores como fontes de conhecimento para inovar, sendo essa a fonte mais citada (Tabela 5.4).

52


Tabela 5.4 Importância das Fontes de Inovação na Indústria de Artefatos Têxteis (Números de empresas que declararam importância alta, 2005) Número de empresas Importância alta para departamento de P&D Importância alta para Fornecedores Importância alta para Clientes e Consumidores Importância alta para Concorrentes Importância alta para Empresa de Consultoria Importância alta para Universidade Importância alta para Centro de Capacitação Importância alta para Instituições de Teste Importância alta para Feiras e Exposições Importância alta para Redes de Informação

Líderes 36 13 (37%) 16 (44%) 19 (55%) 3 (10%) 2 (7%) 10 (29%) 14 (39%) 8 (22%) 16 (45%) 16 (44%)

Seguidoras 274 16 (6%) 37 (14%) 54 (20%) 28 (10%) 15 (6%) 12 (4%) 12 (4%) 8 (3%) 68 (25%) 48 (18%)

Frágeis 616 0 (0%) 96 (16%) 154 (25%) 61 (10%) 10 (2%) 14 (2%) 8 (1%) 4 (0,7%) 90 (15%) 77 (12%)

Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.

Na fabricação de artigos de malhas, duas das quatro líderes atribuem importância alta para o departamento de P&D da empresa, assim como para feiras e exposições. Uma entre as quatro declara a relevância para clientes, concorrentes e redes de informação. Informações oriundas do meio universitário não são úteis para as líderes desse subsetor. Dentre as seguidoras, fornecedores (27%), feiras e exposições (25%) e clientes e consumidores (20%) são as três fontes mais usadas pelas empresas. Nas frágeis, a situação é ainda mais precária, pois a fonte mais usada, clientes e consumidores, é restrita à 18% das empresas. As outras, fornecedores, concorrentes, feiras e redes de informação, são mencionadas por cerca de apenas 5% das empresas (Tabela 5.5).

Logo, das 216 empresas que constituem o segmento de malharias, apenas duas (líderes) indicam grande relevância para geração interna de novos produtos e processos. Por outro lado, grande parcela das restantes (seguidoras e frágeis), quando adota a inovação como arma de competição, apenas é capaz de imitar, de forma defasada, produtos expostos em feiras e exposições ou de realizar apenas pequenas adaptações (inovação incremental).

53


Tabela 5.5 Importância das Fontes de Inovação na Indústria de Artigos de Malhas (Números de empresas que declararam importância alta, 2005) Número de empresas Importância alta para departamento de P&D Importância alta para Fornecedores Importância alta para Clientes e Consumidores Importância alta para Concorrentes Importância alta para Empresa de Consultoria Importância alta para Universidade Importância alta para Centro de Capacitação Importância alta para Instituições de Teste Importância alta para Feiras e Exposições Importância alta para Redes de Informação

Líderes

Seguidoras

Frágeis

4 2 (50%) 0 (0%) 1 (25%) 1 (25%) 0 (0%) 0 (0%) 0 (0%) 0 (0%) 2 (50%) 1 (25%)

59 5 (9%) 16 (27%) 12 (20%) 11 (19%) 5 (9%) 1 (2%) 5 (9%) 5 (9%) 15 (25%) 11 (19%)

153 0 (0%) 9 (6%) 27 (18%) 7 (5%) 0 (0%) 0 (0%) 0 (0%) 0 (0%) 7 (5%) 7 (5%)

Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.

A cooperação para inovar não é praticada por nenhuma das 40 empresas do subsetor de beneficiamento de fibras naturais. No subsetor de fiação e tecelagem (Tabela 5.6), também há evidências de que a cooperação para inovação é pouco representativa para tal subsetor, uma vez que apenas cinco das 21 líderes declararam que cooperam para inovar, sendo que tal indicador é ainda menos significativo para seguidoras. A não cooperação das emergentes possivelmente está relacionada ao foco que possuem em inovação de produtos customizados, envoltos em segredo industrial. No caso das líderes que cooperam, isso ocorre primordialmente com fornecedores, sendo que em dois casos há cooperação através de P&D.

54


Tabela 5.6 Cooperação para Inovação na Indústria de Fiação e Tecelagem (Números de empresas que declararam importância alta, 2005) Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes Número de empresas

21

227

222

4

Cooperação para inovação

5

10

0

0

(24%) 1

(5%) 5,72

(0%) 0

(0%) 0

(5%)

(3%)

(0%)

(0%)

3

3

0

0

(14%)

(1%)

(0%)

(0%)

1

0

0

0

(5%) 2

(0%) 2

(0%) 0

(0%) 0

(10%)

(1%)

(0%)

(0%)

Importância alta para cooperação com clientes e consumidores Importância alta para cooperação com fornecedores Importância alta para cooperação com concorrentes Cooperou PeD com fornecedores Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.

Na fabricação de artefatos têxteis, a cooperação também somente é realizada, em maior proporção (28%), pelas líderes, que possivelmente são as de maior porte, as quais cooperam especialmente com fornecedores (25%) e clientes e consumidores (19%). Para nove empresas líderes, a cooperação ocorre através de P&D com fornecedores. No caso de seguidoras e frágeis, a cooperação é praticamente inexistente, restrito a somente 1% das firmas de cada categoria (Tabela 5.7). Tabela 5.7 Cooperação para Inovação na Indústria de Artefatos Têxteis (Números de empresas que declararam importância alta, 2005) Líderes Seguidoras Frágeis Número de empresas 36 274 616 Cooperação para inovação 10 3 8 (28%) (1%) (1%) Importância alta para cooperação com clientes e consumidores 7 0 4 (19%) (0%) (0,7%) Importância alta para cooperação com fornecedores 9 2 0 (25%) (1%) (0%) Importância alta para cooperação com concorrentes 0 0 0 (0%) (0%) (0%) Cooperou PeD com fornecedores 9 0 0 (25%) (0%) (0%) Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.

No segmento de artigos e tecidos de malhas, apenas ¼ das líderes cooperam para inovar. Nesses casos, a cooperação geralmente ocorre mais freqüentemente com clientes e fornecedores (Tabela 5.8). 55


Tabela 5.8 Cooperação para Inovação na Indústria de Artigos e Tecidos de Malhas (Números de empresas que declararam importância alta, 2005) Número de empresas Cooperação para inovação Importância alta para cooperação com clientes e consumidores Importância alta para cooperação com fornecedores Importância alta para cooperação com concorrentes Cooperou PeD com fornecedores

Líderes 4 1 (25%) 1 (25%) 1 (25%) 0 (0%) 1 (25%)

Seguidoras 59 1 (2%) 1 (2%) 1 (2%) 0 (0%) 0 (0%)

Frágeis 153 20 (13%) 20 (13%) 0 (0%) 0 (0%) 0 (0%)

Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.

De modo geral, a interação e a cooperação com fornecedores para inovar envolvem pequeno número de empresas, ainda que seja uma das formas mais frequentemente citadas. Estudos realizados juntamente com fornecedores sobre novos materiais e tendências, a partir de solicitações de clientes, são importantes para integrar a cadeia têxtil. A cooperação junto a fabricantes de bens de capital e fornecedores de bens e componentes eletroeletrônicos auxilia no desenvolvimento de novos processos. A interação com fornecedores de insumos e componentes é vista também como forma de encurtar o ciclo de inovações, para dominar os canais de fornecimento e de comercialização e de fidelizar marcas.

5.2 PARTICIPAÇÃO DO CAPITAL ESTRANGEIRO A participação do capital estrangeiro na indústria têxtil é muito pouco expressiva. O subsetor de fabricação de artigos e tecidos de malhas é composto em sua totalidade por firmas de capital nacional. No subsetor de beneficiamento de fibras naturais não há firmas estrangeiras líderes, somente seguidoras e frágeis, que equivalem a 57% e 16% do total de firmas de cada categoria. O único indicador que diferencia nacionais de estrangeiras na categoria frágeis é o relativo ao percentual de firmas que inovam. Cerca de 80% das nacionais inovam, enquanto que, dentre as estrangeiras, não há nenhuma inovadora (Tabela 5.9).

56


No subsetor de fiação e tecelagem, somente na categoria de seguidoras é possível observar comportamento mais voltado à inovação das estrangeiras em relação às nacionais. Nas líderes, todas inovam e exportam. Nas categorias frágeis e emergentes, não há firmas de capital estrangeiro (Tabela 5.10).

Tabela 5.9 Firmas Estrangeiras na Indústria de Beneficiamento de Fibras Naturais (Números de empresas e participação no total, 2005) Líderes

Seguidoras

Frágeis

Nacional 3

Estrangeira 0

Nacional 3

Estrangeira 4

Nacional 26

Estrangeira 5

-

-

100%

89%

74,5%

-

Exportadoras 100% 100% Inovadoras 100% 100% Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.

100% 100%

0% 79,8%

0% 0%

N° de firmas Investimento em máquinas e equipamentos (% Investimento total)

Tabela 5.10 Firmas Estrangeiras na Indústria de Fiação e Tecelagem (Números de empresas e participação no total, 2005) N° de firmas Investimento em máquinas e equipamentos (% Investimento total) Exportadoras Inovadoras

Líderes Nacional Estrangeira 16 5

Seguidoras Nacional Estrangeira 216 11

Frágeis Emergentes Nacional Estrangeira Nacional Estrangeira 222 0 4 0

85%

63%

80%

46%

93%

-

90%

-

100% 100%

100% 100%

69% 54%

100% 73%

0% 21%

-

0% 100%

-

Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.

Tabela 5.11 Firmas Estrangeiras na Indústria de Artefatos Têxteis (Números de empresas e participação no total, 2005) Líderes

Seguidoras

Frágeis

Nacionais Estrangeiras Nacionais Estrangeiras Nacionais Estrangeiras N° de firmas Investimento em máquinas e equipamentos (% Investimento total)

32

3

248

26

612

4

62%

77%

72%

77%

76%

72%

Exportadoras 100% 100% 66% Inovadoras 100% 100% 54% Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.

73% 8%

0% 35%

0% 0%

57


No subsetor de artefatos têxteis, as líderes estrangeiras, que equivalem a 9% do número total de empresas, diferenciam-se pouco das nacionais, tendo em vista que todas inovam e exportam, além de apresentarem indicador de investimento em máquinas e equipamentos pouco superior às nacionais. No caso das seguidoras e das frágeis, há significativa diferença entre estrangeiras e nacionais no que tange à inovação. Nesse caso, apenas as nacionais dessas categorias têm algum esforço inovador (Tabela 5.11).

5.3 FINANCIAMENTO: O PAPEL DOS AGENTES PÚBLICOS As tabelas abaixo mostram a distribuição do financiamento do BNDES ao setor têxtil. Cabe ressaltar que os dados apresentados referem-se a todos os contratos de empréstimos do BNDES entre 1996 e 2006. Por isso, mais de um empréstimo pode estar vinculado a uma só empresa.

Através das Tabelas 5.12 a 5.15, nota-se que o acesso das líderes ao financiamento público só não ocorre na indústria de beneficiamento de fibras, em que as seguidoras absorvem 89% e as frágeis 11% de todo o financiamento. Na fiação e tecelagem e na fabricação de artefatos têxteis, mais de 60% das líderes recorrem aos empréstimos do BNDES, sendo que nas malharias esse indicador alcança a 100%. No entanto, a maior parte do recurso emprestado é tomado pelas seguidoras, com cerca de 73% na fiação e tecelagem, 65% na fabricação de artefatos têxteis e 54% na fabricação de malhas. Em relação às frágeis, o percentual de financiamentos só é significativo nas malharias, com participação de 25%. Nota-se que o BNDES possui importância fundamental para financiamento da atualização tecnológica das seguidoras, propiciando inovações de processo. Tabela 5.12 Distribuição de Financiamentos Públicos na Indústria Beneficiamento de Fibras Naturais (Valores acumulados no período 1996 a 2006) Número de empresas N° de empresas financiadas pelo BNDES 1996-2006 Valores contrados pelo BNDES 1996-2006

Líderes 3 0 (0%) 0 (0%)

Seguidoras 7 7 (100%) 45652,80 (89%)

Frágeis 30 6 (20%) 5646,13 (11%)

Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.

58


Tabela 5.13 Distribuição de Financiamentos Públicos na Indústria de Fiação e Tecelagem (Valores acumulados no período 1996 a 2006) Número de empresas N° de empresas financiadas pelo BNDES 1996-2006

Líderes 21

13 (63%) Valores contrados pelo BNDES 1996-2006 411206,45 (23%) Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.

Seguidoras 227

Frágeis 222

Emergentes 4

123 (54%) 1336761,88 (73%)

57 (26%) 57827,19 (3%)

4 (100%) 20352,63 (1%)

Tabela 5.14 Distribuição de Financiamentos Públicos na Indústria de Artefatos Têxteis (Valores acumulados no período 1996 a 2006) Líderes Número de empresas N° de empresas financiadas pelo BNDES 1996-2006

36 22 (62%) Valores contrados pelo BNDES 1996-2006 244819,73 (26%) Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE

Seguidoras

Frágeis

274 144 (53%) 600909,79 (65%)

616 91 (15%) 85501,99 (9%)

Tabela 5.15 Distribuição de Financiamentos Públicos na Indústria de Artigos e Tecidos de Malhas (Valores acumulados no período 1996 a 2006) Número de empresas N° de empresas financiadas pelo BNDES 1996-2006 Valores contrados pelo BNDES 1996-2006

Líderes

Seguidoras

Frágeis

4 4 (100%) 52937,37 (21,3%)

59 41 (69,5%) 134630,01 (54,1%)

153 28 (18,3%) 61479,29 (24,7%)

Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE

59


6. OPORTUNIDADES TECNOLÓGICAS, ESTRATÉGIAS E PROPOSTAS O processo de acumulação de conhecimento da indústria têxtil é marcado por baixo nível de oportunidades tecnológicas e de apropriação, tendo em vista a dependência de fontes exógenas para inovar, como insumos químico-petroquímicos e bens de capital, os reduzidos níveis de gastos em P&D e, em geral, a inexistência de barreiras legais ou econômicas para evitar imitação e cópia. Entretanto, o processo de acumulação de conhecimento tecnológico do setor têxtil, de modo geral, depende de investimentos de dois tipos. No primeiro, há a necessidade de realização de P&D para dialogar com os fornecedores de insumos, como no caso da fiação para acompanhar os lançamentos de novos produtos dos grandes produtores mundiais de fibras químicas, como Dow Chemical, Rhodia e Dupont. No segundo, há a necessidade de construir uma linha de produção atualizada em termos de máquinas e equipamentos para produção em larga escala e com alta produtividade.

Há significativa heterogeneidade tecnológica na cadeia têxtil. As oportunidades tecnológicas diferem em temos intersetoriais e intrassetoriais, quando a indústria têxtil é avaliada sob seus diferentes segmentos setoriais e sob a tipologia líderes-seguidorasfrágeis.

O subsetor de beneficiamento de fibras naturais parece ser o de menor oportunidade tecnológica da cadeia têxtil. Em termos de regime tecnológico, o setor não é intensivo nem em capital nem em conhecimento. Alguns indicadores econômicos das empresas frágeis superam os das seguidoras, embora as últimas tenham maior envolvimento com inovação de processo e produto.

O subsetor de fiação e tecelagem é o de maior oportunidade tecnológica da indústria têxtil e abriga empresas líderes grandes e eficientes, integradas verticalmente e com boa inserção externa. É possível que combinem economias de escala e capacidade de diferenciar produtos, enquanto as seguidoras de maior porte do subsetor são capazes de exportar bens padronizados em larga escala, produzindo sob plantas atualizadas operacionalmente, como demonstra o indicador de investimento sobre faturamento (6%). Embora possuam, em média, intensidade de P&D de apenas 0,2%, realizam 37% do P&D 60


de toda a indústria têxtil, enquanto as líderes respondem por 27%. De fato, líderes e seguidoras não se distinguem tanto, em relação aos indicadores de investimentos e inserção externa, ainda que a intensidade de P&D possua diferença mais significativa. Isso denota que ambas as categorias seguem o mesmo regime tecnológico, existindo maior homogeneidade entre as empresas.

No subsetor de artefatos têxteis há dois regimes tecnológicos diferenciados. As empresas líderes, com 17% dos gastos de P&D e 7% dos investimentos totais da indústria têxtil, são mais intensivas em conhecimento e menos em capital, em relação às seguidoras, que possuem 14% e 32% para os mesmos indicadores, respectivamente. Isso se reflete numa relação P&D sobre investimento da ordem de 9,8% para as líderes e 1,8% para as seguidoras. Logo, nota-se que as líderes estão em regime tecnológico de maiores oportunidades, cumulatividade e apropriação, explorando nichos de mercado de alto valor agregado, dada sua ótima performance exportadora. Essa estratégia tem produzido concentração na maior empresa líder de mercado, conforme o indicador de primazia.

Alguns grupos nacionais atuam em diversos subsetores da cadeia têxtil, possuindo competitividade externa em produtos de cama, mesa e banho e em tecidos (denin e brim). A entrada de empresas brasileiras em segmentos de alto valor agregado é vista como alternativa ao segmento de commodities, em que há grande concorrência mundial. Informações do setor revelam que os tecidos da linha “premium” têm preços, em média, 50% maiores que os convencionais. O exemplo da empresa Cedro Cachoeira ilustra que a entrada nesses segmentos requer, porém, capacidade tecnológica interna, propensão a interagir com empresas da indústria química como Basf e Clariant e preocupação com certificação e selos de qualidade. Outro segmento de produtos de alto valor agregado é o que inclui fios com partículas nanotecnológicas, capazes de conferir propriedades bactericidas e antichama, por exemplo, às roupas. É o caso da linha profissional que abastece confecções que fabricam uniformes para hospitais, forças de segurança e outros segmentos em que há riscos aos empregados. No caso da Cedro Cachoeira, os tecidos dessa divisão respondem por 35% das receitas, além de possuírem selo de aprovação da universidade canadense de Alberta, especializada nesse tipo de certificação.

61


O subsetor de tecidos e artigos de malhas é caracterizado por um único regime tecnológico que representa todas as empresas. O padrão do subsetor é de baixas oportunidades tecnológicas, pequena acumulação de conhecimento incorporado no produto e baixo nível de apropriação. As baixas taxas de investimentos das líderes (2,2%) indicam que elas operam com baixos níveis de economia de escala e a baixa intensidade de P&D, que não alcança 0,01%, sinaliza que atuam em mercados de bens padronizados, concorrendo via preço. Embora as quatro líderes exportem muito em relação ao próprio subsetor a que pertencem (74%), suas exportações representam apenas 2% do total exportado pela cadeia têxtil. Logo, as empresas exploram basicamente o mercado interno e não possuem competitividade externa significativa.

Esse subsetor é o mais vulnerável à concorrência externa, principalmente se considerarmos o aumento de 628% das importações de malhas no período recente (20052007). Logo, como o setor possui pequena representatividade em termos de valor agregado, faturamento e pessoal ocupado, em relação aos outros subsetores da cadeia têxtil, existe o risco de desindustrialização. O Brasil não possui competitividade nos chamados “tecidos tecnológicos” que envolvem misturas de, por exemplo, algodão com inox e com linho. Os melhores desempenhos de tecelagens de malhas brasileiras, em termos de adoção de inovações e capacidade de exportação, estão em confecções integradas com malharias, como nos casos da moda praia e de produção de roupas esportivas, que serão abordados na próxima seção. Mesmo assim, dada a falta de competitividade brasileira em fibras químicas, toda inovação usada por tais empresas resultam de progressos técnicos oriundos de empresas multinacionais como Dow Chemical, que investe em fibras elásticas de alta resistência, de menor espessura e com propriedades específicas, como não desbotar e ser resistente à radiação solar e ao cloro. Isso significa dizer que processos de integração vertical na cadeia, que internalizem etapas intensivas em P&D, como a produção de fios, até a etapa de confecção, devem ser estimulados para exploração de melhores oportunidades tecnológicas no setor.

O bom desempenho brasileiro em fibras naturais e mescladas, a partir de 2001 e 2002, respectivamente, em termos de saldo da balança comercial, opõe-se ao desempenho em fibras químicas, em que o Brasil tem déficit estrutural.

62


De modo geral, o processo de redução da importância produtiva, medida em termos de participação da cadeia têxtil no valor de transformação da indústria de transformação, contrasta com o aumento do número de micro e pequenas empresas no setor nos últimos dez anos, em virtude de pequenas barreiras à entrada. Em paralelo, tem havido fusões de grandes empresas que levaram à redução do seu número no mesmo período. Evidências mostradas no que tange à capacidade de exportar, adquirir maquinário novo, investir em P&D e em ativos intangíveis são favoráveis às grandes empresas, líderes ou seguidoras, dependendo do subsetor considerado. Isso significa dizer que fusões entre empresas nacionais e entre estas e estrangeiras podem propiciar o surgimento de grandes grupos nacionais que possam se internacionalizar. A internacionalização pode ocorrer via investimento direto externo e/ou aquisições de empresas no exterior, a exemplo dos grupos Santista Têxtil e Coteminas. Grandes grupos nacionais possuem melhores condições para conquistar posições internacionais e coordenar a cadeia têxtil.

Considerando os quatros grupos industriais (CNAE) avaliados, nota-se que a convivência de 64 empresas líderes, 630 seguidoras, 1020 frágeis e 4 emergentes é um indicador de quão heterogênea é a cadeia têxtil brasileira. Ou seja, do total de 1718 empresas, apenas 3,7% possuem eficiência produtiva, por inovarem em processo, e boa capacidade de desenvolvimento de produtos. Ambas são pré-requisitos para alcançar o mercado internacional de forma competitiva. A capacidade de desenvolver novos produtos permite atingir nichos de especialização que não concorram diretamente com a produção das cadeias que são organizadas por grandes produtores e compradores globais que já possuem marcas próprias e consolidadas, assim como já construíram redes produtivas nas quais as etapas produtivas mais intensivas em trabalho já se deslocaram para regiões com vantagens competitivas nesses fatores, como a Ásia, América Central e México. Em termos de diretrizes de política industrial para o setor têxtil, apresentamos abaixo algumas propostas em consonância aos resultados encontrados na pesquisa:

1. Estimular a consolidação de um regime tecnológico das empresas líderes e seguidoras do subsetor de fiação e tecelagem mais intensivo em conhecimento na geração de novos produtos, pela posição estratégica que ocupam. A capacidade de diferenciar produtos nessas empresas determina, em última instância, grande parte da competitividade da cadeia. Isso também 63


implica em estipular metas para aumentar a intensidade de P&D dessas empresas, tendo em vista que as médias de 0,5% e 0,2%, respectivamente, para líderes e seguidoras estão abaixo da média da indústria de transformação e são proporções reduzidas para assimilação de novas tendências tecnológicas para produção de fibras. Atenção deve ser dada à nanotecnologia e às possibilidades de produzir tecidos com fios que possuem nano partículas que alteram propriedades das fibras, como resistência, conforto, efeitos antiodor, bactericidas, hidratação e proteção ultravioleta. Nesse sentido, são positivas as medidas da PDP que busquem maior controle das propriedades das fibras9, como: novas fibras para criar produtos inovadores para a saúde e segurança do homem; novas fibras que propiciem a fabricação de produtos inovadores saudáveis com características de conforto, segurança e bem-estar; compósitos mais fortes, melhores e mais eficientes; aumento da sustentabilidade de fibras e compósitos com redução dos impactos no ambiente relacionados ao seu uso e à sua produção; fibras como materiais que capacitem a fabricação de micro e nanotecnologias; fibras para novos produtos têxteis com propriedades que facilitem limpeza e lavagem; fibras como meio para mecanismos inovadores de transferência e transporte, como gradual liberação de medicamentos; aperfeiçoamento de métodos de fabricação de fibras, não-tecidos e compósitos fibrosos. Por isso, os grupos de trabalho que venham a ser criados pela PDP para fins de desenvolvimento da nanotecnologia devem conter representantes das empresas mais intensivas em P&D do subsetor de fiação e tecelagem. Tais proposições equivalem a criar maiores oportunidades tecnológicas e maior acumulação de conhecimento setorial. Apenas através disso é que insumos e processos necessários para produção de “tecidos inteligentes” poderão ser alcançados, como: materiais poliméricos eletricamente ativos, tecidos e fibras termo sensíveis, materiais fibrosos inteligentes, redes poliméricas com capacidade de resposta a estímulos, membranas poliméricas com controle de permeabilidade, sensores de fibras óticas, integração de componentes fibrosos nas estruturas têxteis, integração com tecnologias fotônicas e

9

Essas propostas constam no documento "Análise das Ações Aprovadas pelo Comitê Executivo em Relação às Propostas do Estudo Prospectivo T&C" por Caetano Glavam Ulharuzo.

64


eletrônicas, estruturas têxteis responsivas e adaptativas e integração com aplicações biomédicas10; 2. Articuladas às medidas citadas acima, podem ser implementadas políticas que visem à criação de centros de excelência na área têxtil no Brasil para que a política industrial possa conferir competitividade a nível mundial para as empresas brasileiras. Ações como essas são reivindicadas por industriais do setor. O foco dessa política poderia estar na criação de capacidade de P&D voltada para a industrial têxtil, pois segundo os empresários do setor “nós não temos no Brasil centros de excelência na área têxtil, tão fortes como existem lá fora [...]”.11

3. Estimular a integração vertical do setor têxtil. A verticalização das empresas com know-how em um segmento industrial possibilita reduzir custos de transação, dominar outros processos industriais, agregar valor aos seus produtos, ter aprendizado tecnológico, ampliar economias de escala ao longo da cadeia e criar condições para maior apropriação de investimentos e retornos da inovação. Um exemplo disso, é uma empresa de fiação e tecelagem adquirir unidade industrial de acabamento, com vistas a dominar processos de tinturaria, estamparia e acabamento, para entrada em mercados de produtos mais sofisticados. Outro exemplo é uma empresa de confecções que produza seu próprio fio, com capacidade de realizar P&D nessa etapa, a fim de assimilar novas tendências tecnológicas e articular demandas específicas aos seus fornecedores de fibras. O crescimento bem sucedido da Coteminas foi decorrente da estratégia de integração vertical, que também ocorria em outras partes do mundo, iniciado ao final da década de 90, que a transformou na maior empresa de produtos têxteis manufaturados no âmbito do Mercosul, com posição de liderança nos segmentos de artigos para o lar e malharia (camisas polo, camisetas e meias).12

10

Idem. Entrevista concedida ao IPEA, dentro do programa PAEDI, por Alvim Fauh Neto da Karsten. 12 Herrmann e Nassar (2000). Disponível em: http://www.pensa.org.br/anexos/biblioteca/2212008111743_EC00_Coteminas.pdf 11

65


4. A maior apropriação sobre retornos de investimentos e inovação requer construção de canais de distribuição, comercialização e marcas próprias. Design

para

tecelagem

e

malharias

é

fundamental

para

garantir

competitividade em setores mais a jusante da cadeia, em que há maior agregação de valor. Nesse sentido, podem ser eficazes as metas da PDP que vislumbrem o desenvolvimento da capacidade de design têxtil;

5. A PDP deveria estimular a internacionalização de líderes nacionais de tal forma que se transformem em grandes atores no mercado mundial da cadeia têxtil. Para tal, uma forma de conquistar essa meta é implementar ações propostas pelo Estudo Prospectivo T&C que visem aumentar a capacidade de P&D de empresas líderes da cadeia.13 Outros instrumentos para a internacionalização poderiam ser processos de fusões e aquisições entre empresas nacionais e entre estas e estrangeiras, investimentos diretos externos em países que detenham vantagens comparativas, como baixo custo de trabalho, ou que possuam acesso privilegiado aos grandes mercados consumidores. Além disso, as políticas de incentivos à exportação da indústria, como PROEX-Financiamento, PROEX-Equalização e o Novo Revitaliza Exportações, poderiam fortalecer as empresas seguidoras para atingirem metas de aceleração do crescimento de suas exportações. Também em relação à política externa, deveriam ser buscados acordos preferenciais de acesso aos mercados dos Estados Unidos e União Européia;

6. Atingir mercados de bens com maior valor agregado não significa deixar de focar os mercados internacionais commoditizados. Isso porque há líderes e, principalmente, seguidoras que possuem capacidade tecnológica para produção em larga escala e com baixos custos, por causa de vantagens associadas ao nível salarial do pessoal de “chão de fábrica”, a exemplo de plantas que se deslocaram para o Nordeste, ou porque se aproveitam de mesclas de fibras naturais (algodão), nas quais o Brasil tem competitividade, e químicas (poliéster), como no caso da Coteminas;

13

Ação proposta no documento "Análise das Ações Aprovadas pelo Comitê Executivo em Relação às Propostas do Estudo Prospectivo T&C" por Caetano Glavam Ulharuzo.

66


7. Logo, tanto líderes quanto seguidoras dos subsetores de fiação e tecelagem como do subsetor de artefatos têxteis devem ser o foco da PDP, em relação às políticas de capacitação tecnológica, que inclui modernização de bens de capital, investimentos em P&D e políticas de integração vertical. O foco se justifica porque, além dos argumentos acima expostos, os setores representam juntos 85% das firmas da indústria têxtil, concentrando 89% do pessoal ocupado, 89% do faturamento, 92% do investimento e 93% das exportações. No entanto, a participação das frágeis nesses números é preocupante, tendo em vista que constituem 51% do número de firmas e 23% do pessoal ocupado da indústria têxtil, enquanto respondem por apenas 4% do investimento total e 7% do faturamento;

8. Embora o número de emergentes seja muito reduzido (4), deveriam receber maiores aportes ou condições mais favoráveis em programas de estruturação de empresas emergentes do BNDES, do qual já participam captando 1% dos recursos financiados ao subsetor a que pertencem. O seu potencial tecnológico

é

muito

grande,

tendo

em

vista

que

suas

relações

P&D/faturamento e P&D/investimento são de 2,1% e 28%. Segundo panorama setorial da ABDI (2008), o envolvimento das universidades poderia ocorrer via incubação de pequenos negócios inovadores da cadeia da moda, intensivos em tecnologia de comunicação e informação, em técnicas de beneficiamento, de design ou de montagem de peças. Outra proposta que poderia atingir pequenas empresas emergentes seria a subvenção de projetos de inovação, ao invés de financiamento, nos quais os riscos seriam repartidos com o BNDES e parte dos royalties seriam empregados para financiar outros projetos. Esta proposta deveria estar articulada à capacidade embrionária de inovação, já existente em empresas emergentes ou empresas pequenas e médias das categorias líderes e seguidoras;

9. Como a cadeia têxtil brasileira é pouco integrada, em termos de coordenação vertical entre fornecedores e usuários e integração de capital a montante e a jusante, que constitui desvantagem em relação à cadeia têxtil de países competidores asiáticos, é mister articular os instrumentos de incentivo da PDP 67


ao longo de toda a cadeia, a fim de fortalecer seus elos. A competitividade do setor têxtil depende de todos os elos da cadeia e não apenas de uma empresa ou grupo de empresas. Para tal, medidas que promovam cursos sobre gerenciamento da cadeia de suprimentos (“supply-chain management”), em instituições de suporte às empresas, permitiriam acompanhar tendências mundiais do setor e difundir o uso dessa técnica de gestão no Brasil para que as trocas de informações entre clientes e fornecedores pudessem ser ampliadas.

10. A questão ambiental é importante porque organismos internacionais já criaram o “selo verde” para produtos têxteis que respeitem aspectos ecológicos e toxicológicos. A indústria têxtil chega a consumir 15% da água usada por todo o setor industrial, além de gerar efluentes tóxicos, como no subsetor de acabamento. internacionais.

A

certificação Outras

pode

iniciativas,

facilitar como

a a

entrada certificação

em do

mercados algodão

ambientalmente sustentável em seu ciclo de produção, lideradas por Coteminas, Marisol, Santista Têxtil/Tavex e Springs Global, também são exemplos que devem ser apoiados pela PDP. Explorar a vantagem competitiva em produtos de algodão, como denin e outros da linha cama, mesa e banho, envolve melhoria constante na produtividade e na qualidade da fibra de algodão brasileiro. Nesse sentido, o aproveitamento do know-how de centros de pesquisa como a EMBRAPA e IAC são importantes para fazer melhoramento genético e desenvolvimento de novas variedades de algodão, como o “algodão colorido”, o qual pode propiciar produtos diferenciados e dispensar o uso de corantes, com benefícios vinculados à redução de efluentes químicos e tóxicos ao meio ambiente;

11. Aumentar a competitividade do elo produtor de fibras químicas, que possui

déficit estrutural. Associações entre grupos empresariais privados e o Estado podem contribuir para isso. Essa possibilidade é ilustrada pelo projeto que envolve a Petroquisa, o governo do Estado de Pernambuco e o grupo formado pelas empresas Vicunha Têxtil, FIT e Polyenka (Companhia Integrada do Nordeste – CITENE), que pretende criar a Companhia Integrada Têxtil de 68


Pernambuco (Projeto CITEPE). Tal companhia será uma unidade fabril verticalizada para produção de fibras sintéticas, segundo padrões asiáticos de competitividade, prevista para 2010. Outro exemplo é a construção da refinaria de petróleo da Petrobrás/PDVSA no Estado de Pernambuco, possibilitando a criação do Pólo de Poliéster do Nordeste. O empreendimento será sustentado pela Petrobrás, pelo grupo italiano Mossi & Ghisolfi (M&G) e uma fábrica de tecidos sintéticos finos do grupo coreano Kabul Synthetics Fiber. 12. A PDP deve contemplar medidas de desoneração tributária, previstas e aprovadas pelo Comitê Executivo de T&C, como14: ampliação do prazo de recolhimento do PIS e COFINS para 60 dias; redução de IPI de insumos sem similar nacional, como o GLICOL que entra na confecção da “lycra”; ampliar as possibilidades de créditos das indústrias na apuração do PIS/COFINS não cumulativos; desoneração de produtos têxteis considerados essenciais, como uniformes e roupas profissionais; elevação do limite de empréstimo do governo federal para viabilizar o financiamento, a estocagem e o processo de industrialização do algodão de produção nacional. Outras medidas de desoneração tributária deveriam estar condicionadas ao aumento dos gastos em P&D, ao desempenho exportador das seguidoras e à internacionalização das líderes, como regras de reciprocidade para suporte de natureza creditício e tributário da PDP.

13. Outras medidas são associadas aos determinantes de caráter políticoinstitucional da competitividade, como o uso do poder de compra do Estado para produtos com maior nível de agregação tecnológica.

14

Medidas propostas no documento "Análise das Ações Aprovadas pelo Comitê Executivo em Relação às Propostas do Estudo Prospectivo T&C" por Caetano Glavam Ulharuzo.

69


7. ESTRUTURA DA INDÚSTRIA DE VESTUÁRIO Essa seção analisa os dados da PINTEC para a indústria de vestuário, que compreende dois subsetores: confecção de artigos do vestuário (CNAE-181) e fabricação de acessórios do vestuário e de segurança profissional (CNAE-182).

A indústria de vestuário possui grande quantidade de empresas, mesmo considerando apenas o estrato certo da PIA, restrito a firmas acima de 30 pessoas ocupadas (3.647). A maioria é de pequeno porte, em média 86 empregados por firma, e pouco intensiva em capital. A intensidade de P&D (0,18%) é inferior ao da indústria têxtil (0,22%) e bem abaixo da média da indústria de transformação (0,66%). Nesse universo de 3.647 empresas foram identificadas 12 líderes, 623 seguidoras, 3000 frágeis e 12 emergentes. Ressalta-se, portanto, a proporção elevada de firmas dessa indústria que são classificadas como frágeis (82%), em contraste com apenas 0,3% das firmas consideradas líderes, 17% seguidoras e outras 0,3% emergentes.

Ainda assim, a literatura da área aponta algumas empresas brasileiras que se destacam em termos de esforço de concepção e criação de novos produtos. No segmento de moda praia e de roupa íntima destacam-se, no mercado doméstico e até mesmo internacional, as empresas Rosa Chá, Cia. Marítima e DuLoren. Outras marcas como Zoomp, M. Officer e Ellus ocupam liderança de mercado doméstico, obtendo bons resultados também no mercado internacional.

O Gráfico 7.1 indica que as líderes são principalmente inovadoras de produto e de processo, estando envolvidas, em sua maior parte, com esforço interno de P&D. A inovação nas seguidoras e frágeis é uma atividade bem menos frequente, pois apenas 40% das seguidoras e 31% das frágeis são inovadoras. As seguidoras realizam inovação de processo numa frequência superior à inovação de produto, sendo que o mesmo ocorre para as frágeis. É interessante notar que todas as emergentes são inovadoras de produto e 75% realizam P&D. A atividade de P&D ocorre numa fração muito modesta das seguidoras (2,7%) e está ausente nas frágeis.

70


Gráfico 7.1 Inovação nas Firmas Líderes, Seguidoras e Frágeis da Indústria de Vestuário (%) 100%

75%

50%

25%

0% Inovadoras

Inovadora de produto

Inovadora de processo

P&D

Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes Nota: 12 Firmas Líderes, 623 Firmas Seguidoras, 3000 Firmas Frágeis e 12 Firmas Emergentes. Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.

As Tabelas 7.1 e a 7.2 mostram características estruturais das empresas do setor de vestuário de acordo com a classificação por inovação e liderança. Comparando líderes e seguidoras, as líderes pagam salários médios 33% maiores e têm faturamento médio 6,6 vezes superior. A inserção externa das líderes é maior do que a das seguidoras e ausente nas frágeis, como evidenciada pelas relações entre exportações e faturamento e importações e custos. Sobre esse aspecto, é interessante notar a capacidade de geração de divisas das líderes, pois as 12 empresas líderes exportam 17% do total enquanto 623 seguidoras exportam 83%. O padrão exportador das seguidoras é de bens padronizados, competindo via preços, tendo em vista o baixo envolvimento com P&D. Pela sua capacidade de exportação, tanto líderes quanto seguidoras merecem atenção diferenciada por políticas industriais. Proporcionalmente ao faturamento, as emergentes investem mais em P&D do que todas as outras categorias de empresas, embora não tenham ainda inserção externa. Entretanto, é razoável supor que, com tal intensidade de P&D (2,1%), em pouco tempo 71


algumas delas alcancem o mercado internacional com produtos novos, produzidos sob processos mais atualizados, tendo em vista que todas inovam em produto e metade inova em processo. Tabela 7.1 Estrutura da Indústria de Vestuário por Liderança Tecnológica (2005) Indicador

Líderes

12 (0,3%) 14395 Pessoal Ocupado (número de pessoas) (4,6%) 179,95 Salários Totais (R$ milhões) (8,1%) 1049,94 Faturamento (R$ milhões) (8,3%) 93,23 Lucros Totais (R$ milhões) (9,0%) 27,08 Investimento Total (R$ milhões) (7,9%) 29,26 Exportação Total (R$ milhões) (17,3%) Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE. Número de empresas

Seguidoras

Frágeis

Emergentes

623 (17,1%) 109055 (34,6%) 1023,30 (45,9%) 8195,55 (64,4%) 728,22 (70,4%) 245,33 (71,7%) 140,34 (82,7%)

3000 (82,3%) 189874 (60,2%) 1009,44 (45,3%) 3414,74 (26,8%) 209,96 (20,3%) 69,44 (20,3%) 0,00 (0,0%)

12 (0,3%) 2083 (0,7%) 14,65 (0,7%) 62,02 (0,5%) 2,80 (0,3%) 0,20 (0,1%) 0,00 (0,0%)

Tabela 7.2 Estrutura da Indústria de Vestuário por Liderança Tecnológica (2005) Indicador

Líderes

Seguidoras

Frágeis

Emergentes

Número de empresas

12 1041,7

623 781,9

3000 443,0

12 586,2

Faturamento médio (R$ milhões)

858,4 87,5

685,3 13,2

462,5 1,1

540,7 5,2

Lucro/Custo (R$)

9,5%

9,4%

6,0%

4,2%

VTI/Faturamento (%)

50,3%

37,9%

42,2%

35,1%

Exportações/Faturamento (%)

2,8%

1,7%

0,0%

0,0%

Importações/Custos (%)

1,2%

1,0%

0,1%

1,8%

Investimento/Faturamento (%)

2,6%

3,0%

2,0%

0,3%

P&D/Faturamento (%)

1,0%

0,1%

0,0%

2,1%

4,7%

0,1%

653,5%

Salário médio mensal (R$) Salário médio mensal no pessoal industrial (R$)

P&D/Investimento (%) 39,2% Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.

A agregação de valor (relação VTI/Faturamento) é maior para as líderes, sendo coerente com a capacitação tecnológica. A possível explicação para as frágeis possuírem maior agregação de valor do que as seguidoras deve-se, paradoxalmente, ao fato de serem tecnologicamente mais defasadas e, portanto, mais intensivas em trabalho. Por sua vez,

72


os elevados custos fixos relativos aos dispêndios em P&D das emergentes podem explicar sua menor agregação de valor..

O salário médio do pessoal industrial é maior nas líderes, seguidoras, emergentes, nessa ordem, em relação às frágeis. Isso reflete a utilização de pessoal mais qualificado, o que condiz com a capacitação tecnológica das empresas.

73


8. EVOLUÇÃO DA INDÚSTRIA DE VESTUÁRIO Os indicadores de participação de mercado e mark-up das firmas da indústria de vestuário são apresentados para o período de 1996 a 2005, na classificação de líderes-seguidorasfrágeis. A metodologia consiste em identificar estas empresas em 2005 e calcular seus indicadores ao longo do período, para se obter uma análise temporal das firmas do setor classificadas como líderes, seguidoras e frágeis.

Gráfico 8.1 Participação de Mercado das Líderes, Seguidoras, Frágeis e Emergentes de 2005 Indústria de Vestuário (1996-2005, %) 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% 1996

1997 Líderes

1998

1999 Seguidoras

2000

2001 Frágeis

2002

2003

2004

2005

Emergentes

Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/IBGE.

Com base no Gráfico 8.1, nota-se que a participação das 12 líderes tecnológicas da indústria de vestuário apresenta trajetória declinante, reduzindo pela metade a sua magnitude entre 1996 e 2005. Por outro lado, as 623 empresas seguidoras do setor apresentam participação de mercado que oscilou entre 64% e 67%, embora haja tendência levemente decrescente no período. A categoria das frágeis, que engloba 3000 empresas, possui participação crescente, tendo em vista que o indicador evoluiu de 20% para 27%. As 12 emergentes possuem participação residual, menor que 1% em todo o período, mas que cresceu de 0,40% para 0,49%. Tais números evidenciam o quadro geral 74


de perda de competitividade da indústria nacional de vestuário, em que suas empresas maiores e com maior capacidade tecnológica perderam significativamente participação no mercado doméstico. Gráfico 8.2 Mark-up das Firmas Líderes, Seguidoras e Frágeis de 2005 Indústria de Vestuário (1996-2005, %) 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% ‐10% ‐20% ‐30% 1996

1997 Líderes

1998

1999 Seguidoras

2000

2001 Frágeis

2002

2003

2004

2005

Emergentes

Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/IBGE.

A situação descrita acima é confirmada pelo Gráfico 8.2, em que as margens de lucro das seguidoras, amplamente dominantes no mercado doméstico, com 65% de participação, apresentaram tendência declinante entre 1996 e 2002. A recuperação que se segue não é suficiente para fazer as margens alcançarem o mesmo patamar do início do período analisado. Por outro lado, as líderes apresentaram margens crescentes no período, com crescimento do mark up de 28% em 1996 para 49% em 2005. É paradoxal, por sua vez, a perda significativa de mercado das líderes tecnológicas simultaneamente ao forte crescimento do mark up, o que seguramente lhes é assegurado pela atuação em nichos de mercado em que a inovação é importante. Uma provável explicação para esse paradoxo é o aumento vigoroso do poder aquisitivo dos estratos de renda mais baixos da população brasileira nesse período, que resultou em um crescimento mais rápido dos 75


segmentos de vestuário popular relativamente aos nichos dos estratos de alta renda. Refletindo a pressão competitiva as importações sobre as empresas frágeis o mark up desta categoria é fortemente reduzido, passando de 41%, em 1996, para 10%, em 2005. Em suma, ainda que as frágeis tenham ganhado participação no mercado nacional em relação às firmas domésticas de maior porte e melhor capacidade tecnológica, as líderes e seguidoras, sua posição competitiva frente às importações é de crescente vulnerabilidade. O Gráfico 8.3 mostra o crescimento do número de empresas da indústria de vestuário (CNAE-181) entre 1996-2005, especialmente a partir do ano de 2000. Esse crescimento ocorre simultaneamente a uma queda da participação de mercado das quatro maiores empresas desse subsetor, cuja tendência de queda se inicia em 1999. Em relação ao subsetor de acessórios,CNAE-182, o número de empresas oscilou ao longo dessa década, situando-se num patamar ligeiramente superior ao de 1996 (Gráfico 8.4). No caso do subsetor CNAE-182, houve maior oscilação do indicador CR4, com tendência recente de declínio da participação das 4 maiores, o que resultou numa participação similar ao do início da década (Gráfico 8.5). Gráfico 8.3 Número de Empresas da Indústria de Vestuário – CNAE-181 (1996-2005) 20000

18723

18000 16000 14000

13972

12000 10000 8000 6000 4000 2000 0 1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

Número de empresas

Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/IBGE.

76


Gráfico 8.4 Número de Empresas da Indústria de Vestuário – CNAE-182 (1996-2005) 1000 900 799

800

736

700 600 500 400 300 200 100 0 1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

Número de empresas

Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/IBGE.

Gráfico 8.5 Primazia da Indústria de Vestuário (1996-2005) 45% 40% 35% 30% 25% 20% 15% 10% 5% 0% 1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

Primazia 4

Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/IBGE.

77


A relativa redução da concentração setorial é indicada pelo indicador de primazia (participação da maior empresa no grupo das 4 maiores). O Gráfico 8.5 ilustra uma redução sistemática do peso da maior empresa na receita das quatro maiores no período entre 1996 e 2005, de 36% para 29%.

O mark-up da indústria de vestuário cresceu apenas de 1998 a 2002, quando se reduz e atinge nível similar a de 1996. Essa trajetória acompanhou o mark-up do setor (Gráfico 8.7), que também declina sistematicamente a partir de 2001.

Gráfico 8.6 Mark-up das Quatro Maiores Firmas da Indústria de Vestuário (1996-2005) 60%

50%

40%

30%

20%

10%

0% 1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

MK 4 maiores

Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/IBGE.

78


Gráfico 8.7 Mark-up das Firmas da Indústria de Vestuário (1996-2005) 60%

50%

40%

30%

20%

10%

0% 1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

MK total

Fonte: Elaboração própria a partir da PIA/IBGE.

79


9. SISTEMA SETORIAL DE INOVAÇÃO 9.1 REGIME TECNOLÓGICO SETORIAL Nessa seção serão descritos o regime tecnológico da indústria de vestuário e as condições de desenvolvimento de um sistema setorial de inovação.

Alguns aspectos que caracterizam a indústria têxtil também marcam a indústria de vestuário, como baixo grau de apropriação, oportunidade tecnológica e cumulatividade. O grau de oportunidade tecnológica pode ser medido pela intensidade de P&D da indústria de vestuário, de 0,18%, que se situa abaixo da média da indústria de transformação (0,66%) e da indústria têxtil (0,22%). Isso caracteriza o setor como de baixa oportunidade tecnológica. Como as barreiras à entrada são pequenas por causa da existência de firmas pouco intensivas em capital, a competitividade do setor é dependente da estratégia de diferenciação ou moda, com investimentos em marca, concepção de produto, qualidade e canais de distribuição e comercialização. A rapidez de resposta da empresa aos sinais de mercado é uma forma de se antecipar aos concorrentes e aumentar a participação de mercado. O encurtamento do ciclo de vida dos produtos é uma forma de lidar com a ausência de mecanismos de apropriação efetiva dos benefícios provenientes de investimentos realizados na criação de produtos novos.

No setor de vestuário há firmas que procuram diferenciar ao máximo seus produtos, que são de maior valor agregado, baseados em fashion design, feitos a partir de pequenos lotes. As vendas são feitas em lojas de griffe, muitas vezes sob franchising. Outras, no entanto, não possuem marcas, nem capacidade de realizar P&D para diferenciar produtos, sendo subcontratadas. Algumas possuem economias de escala para produção de grandes volumes a preços baixos, enquanto outras são de pequeno porte, sendo contratadas sob regime de facção. 15

15

Empresas faccionistas ou maquiladoras, em geral, não tem linha de produção própria, trabalhando sob encomenda para terceiros. Tais empresas contam apenas com instalações, equipamentos e mão-de-obra próprios. A empresa contratante orienta a faccionista em relação à matéria-prima, aos insumos e à fabricação. Esta modalidade de operação é bastante comum na fase de costura.

80


A terceirização ou subcontratação ocorre a partir de firmas do próprio setor que possuem marcas ou a partir de comercializadores e varejistas com marcas.16 No caso de produtores com marcas o foco é totalmente sobre design e comercialização, sem envolvimento com produção. Ilustram tal categoria empresas como Nike, Donna Karan, Ralph Lauren, sendo emblemáticos os casos da Levi Strauss & Co. e o da Benetton. Suas vantagens comparativas estão centradas nas atividades a jusante, como design, marketing e comercialização, contratando atividades de produção.

Monteiro Filha e

Santos (2002) destacam que tais empresas precisam ter capacitação em gerenciamento de marcas, de canais de distribuição e comercialização e operação dos pontos de venda; desenvolver P&D para dialogar com fornecedores de fibras e insumos químicos para o acabamento na especificação correta; dominar os conceitos de práticas de gestão de suprimentos para que se possa terceirizar a produção e a logística. Essas empresas investiram em tecnologias (Eletronic Data Interchange) para controlar a cadeia de fornecedores e para obter informações de mercado.

Grandes varejistas, que têm investido crescentemente em marcas, também exercem o papel de coordenar a cadeia de vestuário por causa do seu grande poder de compra. Supermercados, hipermercados e redes varejistas privilegiam grandes volumes e baixos preços, tornando-se opção para empresas que possuem economias de escala para fabricação de mercadorias padronizadas, com baixos preços. São exemplos dessa categoria empresas como The Gap, C&A e Marks & Spencer.

As diferenças tecnológicas intragrupo tornam-se mais evidentes à medida que os indicadores são apresentados a partir da taxonomia líderes-seguidoras-frágeis. As líderes brasileiras na indústria de vestuário parecem que estão focando em etapas mais criativas do processo produtivo. Essa constatação é feita com base no fato de que as líderes concentram 8% dos investimentos totais mas respondem por 45% dos gastos em P&D (Gráfico 9.1). Ou seja, 12 empresas, que são 0,33% do total, possuem em média uma participação de P&D em relação ao faturamento de 1%, enquanto a participação dos investimentos em capital fixo em relação ao faturamento é de 2,6%, abaixo da participação média das seguidoras, de 3% (Tabela 7.2), que por sua vez possuem uma participação média de P&D de apenas 0,1% (Tabela 7.2). Isso mostra que parte 16

Essa tipologia de modelos de organização de empresas foi realizada por Fleury et alii (2001).

81


expressiva dos investimentos das líderes é concentrada em ativos mais intangíveis, enquanto as seguidoras provavelmente concentram seus gastos em tecnologia incorporada em máquinas e equipamentos, por serem intensivas em capital e atingirem economias de escala suficientes para competirem por preço. Em suma, o regime tecnológico das líderes baseia-se em maior grau cumulatividade de conhecimento, que aumenta a apropriabilidade dos novos produtos e maiores oportunidades para novos lançamentos, em geral determinado pelas 4 estações do ano. Em contraste, o regime tecnológico das seguidoras é de baixa cumulatividade e apropriabilidade, baseado em ganhos de escala de logística de produção, inclusive subcontratação, e principalmente rede de distribuição. Gráfico 9.1 Investimento Total e Investimento em P&D na Indústria de Vestuário Investimento Total 20%

0%

Gastos em P&D

8%

0,2% 5,5% 45,1% 49,2% 72%

Líderes

Seguidoras

Frágeis

Emergentes

Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.

Com intensidade média de P&D de 2,1% (Tabela 7.2), as emergentes respondem por 5,5% dos gastos em P&D (Gráfico 9.1). A preocupação das líderes e emergentes em desenvolver formas de conhecimento intangíveis para inovar reflete-se nos indicadores da Tabela 9.1.

No caso das líderes, as fontes de conhecimento para inovar mais indicadas são fornecedores (76%) e departamento interno de P&D (57%), seguidas de feiras e exposições (49%) e clientes e consumidores (43%). Nas emergentes, nota-se que as fontes consideradas mais importantes são as redes de informação (69%), as concorrentes (61%) e os clientes e consumidores (59%), seguidas de feiras e exposições (55%) e departamento interno de P&D (40%). É interessante também observar que são também relevantes para um percentual significativo de firmas as universidades (28%) e as 82


instituições de teste (28%), enquanto os fornecedores são pouco importantes (14%), em contraste com sua alta importância para a grande maioria das líderes.

Tabela 9.1 Importância das Fontes de Inovação na Indústria de Vestuário (Números de empresas que declararam importância alta, 2005) Líderes 12 7 (57%) Importância alta para Fornecedores 9 (76%) Importância alta para Clientes e Consumidores 5 (43%) Importância alta para Concorrentes 2 (16%) Importância alta para Empresa de Consultoria 1 (8%) Importância alta para Universidade 2 (16%) Importância alta para Centro de Capacitação 1 (8%) Importância alta para Instituições de Teste 2 (16%) Importância alta para Feiras e Exposições 6 (49%) Importância alta para Redes de Informação 2 (16%) Fonte: Elaboração própria a partir da PINTEC/IBGE. Número de empresas Importância alta para departamento de P&D

Seguidoras 623 4 (1%) 104 (17%) 103 (17%) 42 (7%) 6,33 (1%) 8 (1%) 12,28 (2%) 9 (2%) 94 (15%) 103 (17%)

Frágeis 3000 0 (0%) 459 (15%) 439 (15%) 190 (6%) 42,53 (1%) 9 (0,3%) 82,65 (3%) 8 (0,3%) 413 (14%) 340 (11%)

Emergentes 12 5 (40%) 2 (14%) 7 (59%) 7 (61%) 0 (0%) 3 (28%) 0 (0%) 3 (28%) 6 (55%) 8 (69%)

Nota-se que o departamento de P&D é citado nas duas categorias de empresas como forma usada para aquisição de conhecimento para geração de inovações, com a diferença de que as líderes a utilizam em maior frequência do que as emergentes. Isso deve estar associado ao maior tamanho daquelas em relação a estas. De acordo com a literatura, a atividade de P&D vem se tornando mais custosa ao longo dos anos, o que acentua o caráter de custo fixo desse tipo de gasto, o qual somente pode ser bem suportado por grandes empresas. Além disso, o acesso a redes de informação externas e a universidades por empresas emergentes são indícios de que tais empresas utilizam mecanismos para atenuar a desvantagem associada ao seu menor tamanho que, por sua vez, reflete-se na dificuldade de suportar os custos fixos elevados da P&D.

Entretanto, formas tradicionais ao setor de acesso a conhecimento, como participação em feiras e exposições, são comuns a ambos os tipos de empresas. No entanto, formas 83


ligadas diretamente à inovação induzida de produto e, assim, a sua efetiva diferenciação, expressas nos quesitos “sugestões de clientes e consumidores” e “concorrentes”, é bem mais presente entre as emergentes do que entre as líderes, o que sugere que aquelas são “tailor made”, operando em pequena escala que permite a customização. Convém aqui ressaltar que, para as líderes, os fornecedores, possivelmente de máquinas e equipamentos e de tecidos, são muito citados como forma de acesso a conhecimento relevante para inovar, ao contrário das emergentes. Isso deve refletir a maior integração das líderes com empresas mais a montante da cadeia têxtil-vestuário. Esse é um aspecto importante que deve ser incentivado por políticas industriais, tendo em vista que grande parte da competitividade asiática está vinculada à grande integração existente entre vários segmentos da cadeia têxtil-vestuário.

Nas empresas frágeis, em que a atividade inovadora é pouco frequente (31% das firmas), o acesso a informações ocorre por meio dos mecanismos tradicionais, fornecedores, clientes e feiras, que apenas capacitam tais firmas para imitar, de forma defasada, produtos já criados no exterior ou por líderes nacionais. A situação nas empresas seguidoras pouco difere da descrita nas frágeis porque as fontes de informação são acessadas em proporção muito similares e porque a ordem de importância das fontes usadas não se altera substancialmente entre as duas categorias de firmas. O fato de as seguidoras usarem poucas fontes de informações é condizente com a pequena parcela destas que são inovadoras de produto (18%). Como visto, a maioria (36%) inova apenas em processo, o que dispensa conexões complexas em termos de redes de informações com diferentes agentes do sistema de inovação, requerendo, ao contrário, inter-relações com fornecedores de bens de capital, na maior parte das vezes. Isso revela uma situação preocupante porque as empresas seguidoras são numerosas e respondem por grande parcela de exportações, investimentos, faturamento, lucros, pessoal ocupado e salários, como visto anteriormente.

Corroborando os dados acima, a Tabela 9.2 informa que as empresas líderes e as emergentes cooperam para inovar em uma proporção bem superior (33% e 25%, respectivamente) que as frágeis e seguidoras. No caso das líderes que cooperam para inovar (33%, i.e., 4 no total de 12 firmas), a grande maioria (76%, i.e., 3 firmas) coopera com fornecedores, enquanto apenas uma firma (24%),coopera com clientes, concorrentes 84


e outra empresa do grupo. Das emergentes que cooperam para inovar (25%, i.e., 3 no total de 12 firmas), a cooperação ocorre com firmas de consultoria e fornecedores. Apenas 3% das seguidoras cooperam, sendo o percentual ainda bem menor para as frágeis (1%).

Tabela 9.2 Cooperação para Inovação na Indústria Vestuário (Números de empresas que declararam importância alta, 2005) Número de empresas Cooperação para inovação Clientes e consumidores Fornecedores Concorrentes Outra empresa do grupo Empresa de consultoria Universidade Centro de Capacitação

12 4 (33%) 1 (8%) 3 (25%) 1 (8%) 1 (8%) 0 (0%) 0 (0%) 0

(0%) Fonte: Elaboração própria a partir da PINTEC/IBGE.

623 20 (3%) 10 (2%) 18 (3%) 0 (0%) 4 (1%) 2 (0,4%) 1 (0%) 1

3000 24 (1%) 6 (0,2%) 6 (0,2%) 3 (0,1%) 0 (0%) 0 (0%) 0 (0%) 18

12 3 (25%) 0 (0%) 2 (14%) 0 (0%) 0 (0%) 2 (14%) 0 (0%) 0

(0,2%)

(1%)

(0%)

9.2. PARTICIPAÇÃO DO CAPITAL ESTRANGEIRO A participação do capital estrangeiro na indústria de vestuário não era muito significativa em 2005 (Tabela 9.3). Destacam-se duas estrangeiras como líderes, que inovam e exportam, assim como as líderes nacionais. Como seguidoras, todas exportam, mas somente 33% delas são inovadoras. As estrangeiras classificadas como frágeis não exportam e não inovam.

Os indicadores de investimentos em máquinas e equipamentos são favoráveis às líderes e seguidoras nacionais, enquanto que, dentre as frágeis, as estrangeiras parecem ter investido mais em 2005.

85


Tabela 9.3 Firmas Estrangeiras na Indústria de Vestuário (Números de empresas e participação no total, 2005) Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes Nacion Estrange Nacion Estrange Nacion Estrange Nacion Estrange al ira al ira al ira al ira 10 2 617 6 2984 17 12 0

N° de firmas Investimento em máquinas e equipamentos (% Investimento total) 52% 12% 44% 0% 60% Exportadoras 100% 100% 73% 100% 0% Inovadoras 100% 100% 41% 33% 31% Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.

90% 0% 0%

89% 0% 100%

-

9.3. FINANCIAMENTO: O PAPEL DOS AGENTES PÚBLICOS A Tabela 9.4 apresenta as características da distribuição do financiamento do BNDES ao setor de vestuário, entre 1996 e 2006. Convém ressaltar que uma mesma empresa pode ter tomado vários empréstimos ao longo desse período. As seguidoras absorvem cerca de 83% dos financiamentos concedidos ao vestuário brasileiro, contra 7% das líderes. Vale notar que os recursos destinados às frágeis (10%) são também superiores aos recursos atribuídos às líderes. Esses dados parecem não colocar o BNDES como um financiador importante das empresas líderes do setor.

Tabela 9.4 Distribuição de Financiamentos Públicos na Indústria de Vestuário (Valores acumulados no período 1996 a 2006) Número de empresas N° de empresas financiadas pelo BNDES 1996-2006 Valores contrados pelo BNDES 1996-2006

Líderes Seguidoras Frágeis Emergentes 12 623 3000 12 5 190 383 5 (41%) (30%) (12%) (42%) 39839,15 472327,29 59394,55 577 (7%) (83%) (10%) (0,10%)

Fonte: Elaboração própria a partir da PIA e PINTEC/IBGE.

86


10. OPORTUNIDADES TECNOLÓGICAS, ESTRATÉGIAS E PROPOSTAS Tal como na indústria têxtil, a indústria de vestuário possui em média baixos níveis de oportunidades tecnológicas e de apropriabilidade. As oportunidades são dependentes especialmente de insumos fornecidos pela indústria têxtil, como tecidos mais sofisticados tecnologicamente, e pela indústria de bens de capital, como máquinas de costura. A apropriabilidade depende de estratégias de diferenciação de produto e de segmentação da demanda em nichos. A diferenciação de produto envolve substancial capacitação em design e qualidade das peças produzidas para que se possam explorar mercados com preços elevados para lojas de griffe e marcas valorizadas.

Neste sentido, o regime tecnológico das líderes parece ser bem distinto do regime das seguidoras. Embora representem um número muito reduzido de firmas (0,3%), as líderes parecem ser as únicas com capacidade de implementar estratégias de agregação de valor às roupas. Alguns indicadores demonstram isso, como exportação/faturamento (2,8%), P&D/faturamento (1%) e P&D/investimento (39,2%). Algumas seguidoras também poderiam ter condições de focar em estratégias de agregação de valor, tomando por referência os mesmos indicadores, ainda que sejam mais modestos que os das líderes, como exportação/faturamento (1,7%), P&D/faturamento (0,1%) e P&D/investimento (4,7%). Isso envolveria mudança de foco das empresas que teriam que se afastar da estratégia que geralmente adotam, que é a de produção de bens padronizados e competição por preços. Entretanto, é preciso ressaltar que tal migração entre as categorias de empresas pode não ser estrategicamente interesse para as empresas seguidoras, especialmente as de grande porte, que estão assentadas em distintas vantagens competitivas relacionadas a escala de suas redes de distribuição e vendas, pertencendo a outro regime tecnológico. Como visto, a relativa estabilidade do market share das seguidoras pode reforçar essa última posição, mas a queda das suas margens de lucro mostra que a estratégia das líderes em investir em P&D, design e atuar em nichos de alto valor agregado é uma estratégia sustentável. Nota-se que, pelo menos para as maiores seguidoras, sua estratégia de crescimento está baseada em escala e padronização. Assim, as margens menores podem ser compensadas por uma massa de lucros maior, que viabilizam seu crescimento consistente com sua estratégia competitiva.

87


Logo, a sua progressão para a categoria de líderes é improvável, afinal suas vantagens competitivas são diferentes, baseadas em distintos regimes tecnológicos.

Essa indústria contém empresas emergentes com grande potencial de sucesso na estratégia de exploração de nichos de mercados diferenciados, a partir dos indicadores de P&D/investimento (653%) e P&D/faturamento (2,1%). O lucro anual por empresa é de apenas R$ 233 mil, o que demonstra que tais empresas ainda estão em fase de investimentos, especialmente em ativos intangíveis, que ainda alcançarão a fase de maturação. A partir disso, a inserção externa que ainda não é uma característica importante para tais empresas, poderá se constituir em fonte de receita relevante para tais empresas.

Lideres e emergentes parecem seguir o mesmo regime tecnológico, centrado na capacidade de realizar P&D e na preocupação em diferenciar produtos com base em design. Por outro lado, as seguidoras e as frágeis aparentam seguir outro regime tecnológico, no qual não existem estrutura interna de P&D ou valorização de fontes internas de acumulação de conhecimento tecnológico. Embora haja essa semelhança, as seguidoras de maior porte não podem ser comparadas com as frágeis, que são “firmas de produção”, possivelmente em arranjos produtivos locais, enquanto as seguidoras são firmas de distribuição”, essencialmente comerciantes de grande escala. O faturamento médio das seguidoras, que é 13 vezes maior do que o das frágeis, ajuda a sustentar essa tese.

No que tange às frágeis, ampla maioria do setor (82%), dificilmente poderiam aderir a uma estratégia individual de agregação de valor, tendo em vista que são empresas, geralmente, de pequeno porte, de origem familiar, prestadoras de serviços às maiores confecções sob o regime de facção e pertencem ao setor informal da economia. Com lucro médio anual de R$ 70 mil e ausências de inserção externa e de estrutura interna de P&D, seria muito pouco provável que suportassem despesas relativas à implantação de um núcleo de design na própria empresa, principalmente para aquelas que são faccionistas, dada a ausência de autonomia, recursos humanos qualificados e estrutura produtiva limitada. Para as outras, resta a opção de consórcio de empresas, na qual várias pequenas podem se aglutinar para suportar custos de design, de estrutura de 88


exportação e participações em feiras nacionais e internacionais com apoio de instituições como o SEBRAE e poderes públicos locais.

A estratégia de desenvolver marcas próprias em nichos de mercado que não concorrem com produtos asiáticos parece ser a melhor alternativa para escapar da acirrada concorrência nos segmentos de mercado mais padronizados e de baixo preço, mesmo para pequenas empresas que pertençam à categoria das frágeis, desde que haja suporte institucional adequado. O caso da cidade de Jaraguá (GO), que contempla parceria entre instituições e empresariado locais, ilustra um crescente grau de formalização das empresas e de criação de marcas próprias, investimentos em design de roupas feitas a partir de jeans, certificações de qualidade, além de promoção de eventos e feiras para o setor.

Do ponto de vista regional, o suporte às formas espaciais de organização da indústria de confecções, como os pólos, permite atingir objetivos de desconcentração espacial da atividade econômica e recuperação de regiões economicamente deprimidas. Isso porque o elo do vestuário é o de menor gasto de capital por posto de trabalho. Ao contrário da tendência brasileira recente de instalação de grandes unidades fabris do ramo de tecelagem no Nordeste, pólos de confecções podem ser incentivados em regiões pobres nordestinas e unidades de fiação e tecelagem em regiões do Centro-Oeste, que possuem vantagens na produção de fibras naturais.17

O apoio às empresas frágeis se justifica porque suas desvantagens, em termos de escassez de recursos financeiros e humanos, tornam difícil qualquer estratégia de fugir do poder de coordenação da cadeia exercido pelas grandes redes varejistas. Além do poder que possuem para ditar preços para as peças de roupas e escolher os insumos a serem usados, as grandes redes varejistas podem ainda deslocar suas encomendas para outros países, pois contam com amplo leque de fornecedores devido à existência de fabricantes que dispõem de trabalho barato em várias partes do globo. Dessa forma, participar de uma rede de fornecedores mundiais pode representar uma estratégia perigosa, além de limitar a autonomia econômica e tecnológica empresarial.

17

Propostas como essa também aparecem na literatura do setor, particularmente em Prochnik (2002).

89


Em contraste com as desvantagens competitivas das frágeis que induzem sua aglomeração em busca de externalidades positivas, as grandes empresas líderes de confecções possuem diversas vantagens competitivas: 1) recursos disponíveis para investimento em P&D e estruturação de um núcleo de design, além de valorização de fontes internas de inovação; 2) capacidade operacional atualizada, com máquinas automatizadas e de alta produtividade; 3) recursos para investimento em ativos intangíveis (marcas), em marketing, em canais de distribuição e comercialização, reforçando representação comercial no exterior; 4) capacidade de coordenação da cadeia; e 5) possibilidade de explorar nichos de mercado de alto valor agregado tanto no mercado doméstico quanto no externo.

De fato, a coordenação da cadeia a montante, a partir do elo confecções, e a especialização em funções vinculadas ao design, à consolidação de redes de distribuição e à valorização de marcas própria são tendências internacionais consolidadas da cadeia.

Ainda que a coordenação vertical da cadeia seja uma alternativa muita usada a nível mundial, pode-se considerar a estratégia de integração vertical em alguns casos, ou seja, tal estratégia envolve um passo além da coordenação da cadeia de fornecedores, resultando em efetivo controle de capital da empresa âncora dos elos tecnologicamente estratégicos para a competitividade da cadeia. Com isso, grandes empresas líderes podem controlar etapas do processo produtivo que são estratégicas do ponto de vista de introduções de inovações ou para aferir maior apropriabilidade dos retornos econômicos. No ramo de confecção de jeans, por exemplo, há uma tendência de os clientes exigirem das tecelagens não apenas o tecido, mas também o jeans já confeccionado.

Segundo Rocha e Nunes (2008), que pesquisaram a viabilidade dessa estratégia na cidade de Fortaleza, a integração vertical à jusante para a pequena confecção mostrou-se eficiente, pois a loja da fábrica funciona como canal de distribuição eficiente e acessível à empresa de pequeno porte, por causa do contato entre o empresário e os clientes no que tange às tendências de moda, fazendo com que aquele possa planejar e controlar a produção de forma mais eficiente. Para as empresas de médio e grande porte, a melhor forma de integração vertical é à montante, em direção à fiação, tecelagem e malharia, tendo em vista que à jusante haveria concorrência com seus próprios clientes. Os 90


benefícios dessa última forma de integração estão vinculados à obtenção de vantagens de custo e aquisição de fornecedores importantes.

Se, além da liderança, a empresa for integrada verticalmente, podem-se adicionar as vantagens associadas à produção dos próprios tecidos com fibras especiais para produção de roupas que podem ser lançadas no mercado a partir da estratégia de “technology push” e as vantagens de poder responder rapidamente às mudanças de sinais do mercado como alteração de gostos, hábitos e de tendências da moda. Porém, mesmo grandes empresas podem se valer da transferência de atividades produtivas rotineiras para empresas que funcionam sob regime de facção, por causa das vantagens em termos de menores custos de trabalho. Não se pode esquecer que a opção de coordenação vertical de uma rede de sub-contratação pode ser alternativa mais atraente nas funções mais simples do processo produtivo, uma vez que os ganhos de escala estão centrados na rede de distribuição e de escopo na capacidade de design. Quando as empresas não são integradas verticalmente, os custos de transação e as desvantagens associadas à distância em relação aos consumidores finais podem ser atenuados com investimentos em tecnologia de informação, como no caso de empresas que investem em sofisticados sistemas de informação, que incluem capacidade de previsão e administração de toda a cadeia de suprimentos para atendimento rápido das mudanças dos padrões de consumo, ou seja, em técnicas de supply chain management combinadas com tecnologias de informação (Electronic Data Interchange e Efficient Consumer Response). Além desses investimentos, o custo de transação torna-se baixo quando as empresas que coordenam verticalmente a cadeia impõem ao produtor terceirizado o molde, originário do design, e fornece todos os materiais. Dessa forma, existem poucos ativos específicos, tornando os custos de transação relativamente baixos.

Caso a alternativa de fusão ou aquisição de empresas de tecelagens e confecções não seja uma opção desejável, no mínimo, parcerias informais deveriam ser realizadas, a fim de atingir maior grau de sintonia entre as empresas das diferentes etapas produtivas da cadeia e as exigências do mercado.

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No caso das empresas frágeis, que são relativamente de menor porte, as políticas de apoio são semelhantes às micro e pequenas empresas abaixo de 30 pessoas ocupadas, que estão no estrato da amostra aleatória da PIA. Neste caso, instituições como o SEBRAE e SENAI podem atuar em diversas áreas, como: 1) apoiar a realização de feiras para o setor, suportando parte dos custos e exigindo, como contrapartida das empresas, sua legalização; 2) instituir certificações, como a criação de selos que atestem a qualidade e a legalidade das roupas, estimulando a criação de marcas próprias; 3) patrocinar parte dos custos relativos à capacitação e treinamento de funcionários e à formação de estilistas para criação de roupas com design próprio. É preciso ampliar a capacidade nacional de formação e treinamento em design, com criação de cursos novos em escolas federais e instituições de suporte à indústria, tendo em vista que o design é visto como uma maneira de fugir à concorrência de produtos chineses.

Outras medidas, também com caráter de suporte institucional, estão vinculadas à ampliação dos esforços de promoção da moda brasileira no exterior através de instituições do setor como Associação Brasileira da Indústria Têxtil (ABIT), Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (APEXBRASIL) e Associação Brasileira de Estilistas (ABEST). Um exemplo disso é o Programa Estratégico da Cadeia Têxtil Brasileira (TEXBRASIL), na qual foram investidos R$ 51,7 milhões, dos quais R$ 25,8 milhões vieram da APEX, com o desenvolvimento de 250 ações no exterior por ano. Ações como essas podem auxiliar os produtores com marca própria a reforçar representações comerciais no exterior, tendo em vista o alto custo da montagem de rede própria de distribuição, cujo domínio é importante para aumentar o grau de apropriação de retornos econômicos.

Tais medidas são condições para o Brasil adicionar mais valor ao elo da cadeia que é o mais dinâmico em termos mundiais e o que o País possui menor competitividade, com pequena inserção internacional em termos de volume de vendas, qualidade e diferenciação de produto. Para isso, o maior apoio financeiro, creditício e fiscal ao setor, especialmente às maiores firmas (líderes e seguidoras), deveria estar associado ao atendimento de metas vinculadas à construção de marcas próprias, capacidade interna de

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design e de incorporação de insumos com maior conteúdo tecnológico. Várias empresas brasileiras foram bem sucedidas no esforço de criar marca própria, a exemplo do Grupo Santista Têxtil, ou no esforço de investir em design e em redes varejistas de distribuição, reforçando a representação comercial no mercado doméstico, como no caso da Hering. Outros segmentos de mercado, como surf wear, roupa de praia, moda esportiva e linha cama-mesa-banho, constituem exemplos de promissoras possibilidades.

Além de ativos intangíveis, quaisquer prescrições de políticas industriais também não podem prescindir da melhoria do sistema de financiamento público para compra de máquinas e equipamentos, tendo em vista que grande parte da competitividade também depende de investimentos em ativos materiais. Isso ganha maior relevância quando se constata que apenas 36% das seguidoras e 29% das frágeis inovam em processo.

Em resumo, propõem-se as seguintes medidas de política industrial, de acordo com a tipologia líder-seguidora-frágeis-emergentes:

1) Incentivar a consolidação do regime tecnológico das líderes e emergentes, centrado em P&D, capacidade de design e atuação em nichos de alto valor agregado. Para tanto, é fundamental a construção de redes de distribuição próprias, reforçando a representação comercial no exterior, para aumentar exportações destes itens de alto valor agregado. Instituições como ABIT, APEXBRASIL e ABEST deveriam envidar esforços para maior promoção da moda brasileira no exterior. Logo, medidas da PDP que criam o “Comitê da Moda” para promover o diálogo entre as cadeias produtivas vinculadas à moda (têxtil e confecções, gemas e jóias, cosméticos e couro e calçados) são iniciativas úteis para maior integração da cadeia, difundindo oportunidades e informações.18 Além disso, também são importantes investimentos para aumentar a eficiência de coordenação vertical da cadeia, gerenciando toda a cadeia de suprimentos. Nesse sentido, cursos sobre “supply chain management” para difusão dessa técnica nas empresas do setor auxiliariam na difusão de informações entre clientes e

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Medida proposta no documento "Análise das Ações Aprovadas pelo Comitê Executivo em Relação às Propostas do Estudo Prospectivo T&C" por Caetano Glavam Ulharuzo.

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fornecedores, sendo uma meta da PDP que permitiria maior coordenação da cadeia. 2) Potencializar oportunidades de negócios a partir do conceito de franquias através da difusão dos benefícios desse sistema entre as empresas brasileiras é uma medida prevista e aprovada pelo Comitê Executivo T&C que deve ser estimulada, a exemplo de outras marcas que utilizam tal sistema com sucesso, como Hering, Recco Confecções e Rosa Chá. 3) Para as seguidoras que prefiram permanecer na estratégia de produção de bens padronizados e competição por preços, são fundamentais a atualização tecnológica, o ganho de escala de produção e a construção de rede de distribuição própria. 4) Para as frágeis, é interessante incentivar a opção de consórcios de empresas, em que se pode contar com núcleo de design coletivo, estrutura de exportação e participações em feiras nacionais e internacionais. Tal suporte deve partir de instituições como o SEBRAE, SENAI e de poderes públicos locais, que, além do que foi acima citado, pode contribuir para criação de marcas próprias e certificações de qualidade. O Selo QUAL, previsto como medida pelo Comitê Executivo T&C, pode ser um instrumento para conquista de qualidade e produtividade. 5) Independentemente da categoria, apoio financeiro e creditício deve ser dado à atualização operacional das empresas por meio de investimentos em máquinas e equipamentos, mas também à construção de marcas próprias. Também é necessário, ampliar a capacidade nacional de formação e treinamento em design, com criação de cursos novos em escolas federais e instituições de suporte à indústria. Incentivar arranjos cooperativos entre empresas de diferentes etapas da cadeia têxtil-vestuário, a fim de promover maior grau de sintonia entre as empresas, para que possam responder rapidamente a quaisquer sinais de mudança do mercado da moda, incorporando insumos de maior tecnologia aos produtos do vestuário. Em alguns casos, a alternativa de integração vertical parece também ser adequada mesmo à indústria de vestuário. 6) Como muitas das empresas da indústria de vestuário são de pequeno e médio porte, são interessantes as medidas da PDP que criam linha de crédito para tais

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empresas por meio da disponibilização de parte do compulsório bancário19. Da mesma forma, o apoio pretendido aos arranjos produtivos locais são bem-vindos, principalmente se forem direcionados a atingir as medidas por nós propostas no item 4 acima. 7) São adequadas as medidas que focam componentes políticos-institucionais da competitividade, como desoneração tributária de produtos nacionais, políticas de proteção comercial contra dumping, atenção às regulamentações internacionais e firmamento de acordos bilaterais, não só para acesso privilegiado a outros mercados como também para acesso a tecnologias de EUA e União Européia. 8) Investir em formação e qualificação de recursos humanos, como costureiras, modistas, estilistas, vendedores, designers.20 Esse objetivo encontra-se nas ações propostas pelo Estudo Prospectivo T&C, no campo da criação de talentos, principalmente em design. Essa ação, se implementada, permite atingir muitas das propostas inseridas nos itens anteriores, em termos de inserção de produtos brasileiros com maior valor agregado de nichos de mercado específicos, porque estão sendo previstos21: investimentos na capacitação tecnológica ancorada em tecnologias de informação de novos designers; desenvolvimento de departamentos de P&D em empresas e em institutos cujo foco sejam novos materiais e roupas inteligentes; formação de novas competências em design de produtos e processos intensivos em tecnologia; investimentos na formação de competências técnicas múltiplas para ampliar a capacidade de tradução de impulsos criativos; disseminação de desafios de P&D na área de têxteis e de confecções na formação de

profissionais-chave

(físicos,

químicos,

engenheiros,

administradores,

economistas, sociólogos etc.); disseminação da criação de áreas de pesquisa voltadas para inovação no setor por parte de universidades brasileiras; e ampliação do número de dissertações e teses, assim como a produção científica em têxtil e confecções.

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Medida proposta no documento "Análise das Ações Aprovadas pelo Comitê Executivo em Relação às Propostas do Estudo Prospectivo T&C" por Caetano Glavam Ulharuzo. 20

Pesquisa da CNI registra que 75% das empresas de vestuário e 32,5% das têxteis carecem de mão-deobra qualificada (ABDI, 2008). 21 Medida proposta no documento "Análise das Ações Aprovadas pelo Comitê Executivo em Relação às Propostas do Estudo Prospectivo T&C" por Caetano Glavam Ulharuzo.

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11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGÊNCIA BRASILEIRA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL – ABDI. Panorama setorial têxtil e confecção. Brasília: ABDI, 2008 (Série Cadernos da Indústria, Volume V). ANTERO, S. A. Articulação de políticas públicas a partir dos fóruns de competitividade setoriais: a experiência recente da cadeia produtiva têxtil e de confecções. Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro, v. 40, n. 1, Jan./Fev., 2006. CAMPOS, A. C., PAULA, N. M. A indústria têxtil brasileira em um contexto de transformações mundiais. Revista Econômica do Nordeste, v. 37, n. 4, out./dez., 2006. FLEURY, A., FLEURY, M. T., NAKANO, D., CRUZ-MOREIRA, J. R., TANAKA, L. GALASSI, R., SILVA, S. M. A competitividade das cadeias produtivas da indústria têxtil baseadas em fibras químicas. Rio de Janeiro: BNDES, 2001. FUNDAÇÃO VANZOLINI. A competitividade das cadeias produtivas da indústria têxtil baseadas em fibras químicas. Rio de Janeiro: BNDES, 2001 (Relatório Preliminar). GARCIA, R. Uma análise do processo de desconcentração regional nas indústrias têxtil e de calçados e a importância dos sistemas locais de produção. In: ENCONTRO REGIONAL DE ECONOMIA – REGIÃO NORDESTE, 13, 2008, Fortaleza. Anais. Fortaleza: ANPEC, 2008. GARCIA, R., MOTTA, F., SCUR, G., LUPATINI, M., CRUZ-MOREIRA, J. R. Esforços inovativos de empresas no Brasil: uma análise das indústrias têxtil-vestuário, calçados, móveis e cerâmica. São Paulo em Perspectiva, v. 19, n. 2, abr./jun., 2005. HERRMANN, I., NASSAR, A. M. Coteminas: o desafio da inserção no mercado externo. São Paulo: Fundação Instituto de Administração/USP, 2000. Disponível em: http://www.pensa.org.br/anexos/biblioteca/2212008111743_EC00_Coteminas.pdf HIRATUKA, C., VIANA, C., ARAÚJO, R. D., MELLO, C. H., ULHARUZO, C. G. Relatório de acompanhamento setorial têxtil e confecção. Brasília: ABDI/UNICAMP, 2008. LUPATINI, M. Relatório setorial preliminar: têxtil e vestuário. Rio de Janeiro: FINEP, 2004. MELO, M. O. B., CAVALCANTI, G. A., GONÇALVES, H. S. Inovações tecnológicas na cadeia produtiva têxtil: análise e estudo de caso em indústria no Nordeste do Brasil. Revista Produção, v. 7, n. 2, 2007. MONTEIRO FILHA, D. C., SANTOS, A. M. M. M. Cadeia têxtil: estruturas e estratégias no comércio exterior. BNDES Setorial, Rio de Janeiro, n. 15, mar., 2002. PIO, M. J., BRAGA JÚNIOR, E., ANTUNES, A., HEMAIS, C. A. O impacto das inovações tecnológicas na cadeia produtiva têxtil. Revista ABTT, 2003. 96


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