Naquela tarde

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Naquela tarde…

Conto coletivo Escrito e ilustrado pelos alunos da turma 2.º/4.º E com a colaboração da Biblioteca Escolar

Escola Básica 1 - n.º 1 – Dr. Sousa Martins Agrupamento de Escolas Professor Reynaldo dos Santos Vila Franca de Xira 2014 - 2015


Naquela tarde de verão, uma família foi fazer um piquenique no parque que ficava perto do seu bairro. O Miguel e a Joana brincavam muito felizes. Corriam um atrás do outro entre as árvores e algumas estátuas que decoravam o local.

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Os pais colocaram uma manta no chão e uma toalha em cima desta. Espalharam nela a comida que levavam num cesto. Os miúdos estavam ansiosos porque, se se portassem bem, no dia seguinte iriam fazer uma visita ao Portinho da Arrábida. Quando tiveram fome, sentaram-se na manta, à volta da toalha e começaram a comer…

O Miguel ouviu a irmã desafiá-lo para a brincadeira e foi atrás dela. Enquanto corria, passou por dentro da abertura de uma estátua, tentando reduzir a distância que o separava da irmã. Sentiu algo de diferente e, quando olhou à sua volta, os seus pais tinham desaparecido e todo o local estava diferente. Só a Joana estava com ele. Ficou muito nervoso e pensou: O que faço? Onde estamos? Eles ainda não sabiam, mas tinham passado para outra dimensão! Ouviram ao longe o som de um carro a apitar – pó… pó… pó… – e reconheceram a buzina do carro do pai. Ficou mais tranquilo. Dirigiram-se para o local de onde vinha o som.

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– Vamos meninos! Temos que ir! – Chamou a mãe, já ao pé do carro. – Mas vamos onde? – Perguntou a Joana. – Vamos a um sítio onde vocês sempre quiseram ir: ao Portinho da Arrábida. – Boa! – Disseram ambos em coro. – E a seguir vamos visitar a vossa bisavó! – Acrescentou o pai. – Boa! Mal posso esperar! – Afirmou o Miguel. Pelo caminho viram, à beira da estrada, um palhaço a fazer publicidade a um circo. As crianças ficaram cheias de medo porque tinham medo dos palhaços. Os pais disseram-lhes para não terem medo e o palhaço fez um balão para cada um. Passado algum tempo, os meninos chegaram ao Portinho da Arrábida e começaram a montar com o pai, na relva, um belo piquenique que a mãe tinha preparado. Começaram a comer, mas foram surpreendidos por uma voz rouca que lhes dizia: “vem comigo, vem comigo!”. Foram à procura de onde vinha aquela voz que os assustava, mas que também dava um clima de aventura, quando descobriram que afinal era um simples, mas lindo papagaio cinzento. Bem… não era dos mais lindos! Há outros 3


muito mais coloridos e vistosos, mas os cinzentos são os melhores faladores. De certeza que aquele atrevido tinha fugido de casa de alguém. Portugal não é local onde existam papagaios selvagens e aquele de selvagem, pela forma como falava, também não tinha nada. Finalmente puderam ir comer e apreciar a bela vista: a serra com árvores, o mar, coelhos a saltar… maravilhoso! Repararam numa bela cascata onde corria uma água muito límpida e fresca. Que bem que sabia naquele dia de calor. Como tinham sede, beberam água da cascata. Nessa altura, deram conta que sonhavam com uma festa com muitos doces e guloseimas. Ambos iniciaram de imediato os planos para tornar aquela festa ainda mais divertida. Pensaram em jogos simples como jogar às escondidas, à apanhada, ao lencinho, à corrida com sacos, ao salto à corda, à bola – principalmente para rapazes – e até se lembraram de pedir aos amigos para trazerem as suas bicicletas e organizarem uma corrida. Isto sim. Seria uma grande festa! E como seria aquele lanche? Imaginaram muitas coisas: chupas, rebuçados, gomas, pastilhas, bolos, sandes, pipocas, algumas batatas fritas…

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Eram tantas coisas deliciosas que ficaram ansiosos pelo lanche.

E não é que se deu um salto no tempo e já estavam na festa, exatamente no momento de ir comer tudo aquilo que tinham imaginado, porque tudo estava ali à sua frente e tinha um aspeto tão convidativo. Como estavam com fome e havia tantas coisas boas, tudo desapareceu enquanto o diabo esfrega um olho. Os seus pais até ficaram assustados com o que viram. Mas, afinal, o

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salto no tempo não foi só para o lanche. A seguir deu-se a corrida de bicicletas. Foi muito divertida! Sabem quem ganhou? Foi uma rapariga! Nesse momento, algo ainda mais estranho aconteceu! Viram três portais que diziam em letras muito grandes: “Ou jogam ou morrem!” Mas foram sugados! Naquela atrapalhação o Miguel gritava: – Oh não! Onde é que eu estou? Na verdade, ele estava no seu jogo favorito, o “Disney Infinity”. Em cada nível estavam três jogadores. Quando conseguissem passar todos os níveis do jogo teriam de ganhar no desafio final, o “Sugar Brush”. Os nove primeiros ganhavam. – Temos que ganhar! – Disse o Miguel, fazendo um gesto parecido com um murro no ar. E começou a corrida! Os rapazes iam na frente. As raparigas tentavam ganhar, mas, afinal, quem ganhou foi um rapaz chamado João que dominava muito bem o jogo. O prémio foi um saco com muitos dos doces utilizados no jogo! Depois destas aventuras foram para casa. Já não havia tempo para ir visitar a bisavó hoje, ficaria para amanhã. As crianças 6


estavam

com

acontecimentos.

muito Num

sono

depois

ápice

deste

dia

estavam

cheio a

de

dormir

confortavelmente nas suas camas, mas não havia teto, apenas o céu azul-escuro, quase preto. Uma brisa suave instalava-se sobre o horizonte. A noite foi calma e a manhã rompeu com o manto que fazia a noite ser noite. Um novo dia ia começar e muitas coisas poderiam acontecer. Seria tão interessante como a véspera? – Pensava o Miguel. Depois do pequeno-almoço foram visitar a bisavó, como estava previsto. – Aonde vamos mãe? – Perguntou a Joana. – Vamos a casa da vossa bisavó – respondeu a mãe. Lembram-se que tínhamos pensado ir lá ontem mas ficámos sem tempo. O caminho foi longo. Demoraram cerca de uma hora e meia. Enquanto o pai conduzia, a mãe e os filhos apreciavam a paisagem com caraterísticas cada vez mais diferentes do habitual.

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Afastavam-se da cidade e encaminhavam-se para o campo. Os prédios ficaram para trás e agora o verde dominava a paisagem. De vez em quando surgiam casas baixas isoladas. Quando lá chegaram, a bisavó Amélia já estava a fazer o seu passatempo preferido: doces com receitas muito antigas que ela aprendera com uma das suas avós. E fazia-os sem receita escrita, apenas de memória, porque a bisavó, agora com noventa e quatro anos, não tinha andado na escola e não sabia ler nem escrever… nesses tempos as crianças tinham que começar a trabalhar muito cedo para ajudar no sustento da família. – Olá avó Mélita – era este o nome carinhoso com que tratavam a avó Amélia. – Olha quem chegou, os meus queridos netinhos! – Que cheirinho bom, avó – disse o Miguel – até me cresce água na boca. – São deliciosos, mas não comam muitos doces – disse a mãe. Não sejam gulosos para não ficarem gordos nem estragarem os dentes. – Parece que adivinhava que os meus queridos iam aparecer! Lembras-te minha querida neta que quando eras da idade dos 8


teus filhos também te deliciavas com os meus doces? E não ficaste gorda nem com os dentes estragados! Já sou velhota, mas tenho boa memória e nunca me esquecerei! Não sejas muito exigente com eles. Nem sempre podem comer bons doces feitos com produtos naturais, como eu faço – os ovos das minhas galinhas e o mel das colmeias do vizinho Manel. Cada um deles pegou num doce com um cheiro muito especial e… – O que é aquilo? – Perguntou o Miguel à irmã. Parece musgo a crescer! Olhando com mais atenção, viram que crescia uma espécie de musgo desde o lava-loiça da bisavó. Quase sem darem conta, foram envolvidos por ele e sugados. Viajaram, num instante, até ao espaço.

Sentiram-se

sem ar para respirar – é que no espaço não há gravidade nem atmosfera.

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Estavam muito aflitos, quase a morrer, quando, como num relâmpago, surgiu uma nave à qual pediram SOCORRO. Sentiramse puxados de novo, desta vez para dentro da nave.

Então, as crianças e os pais, mais tranquilos, exploraram a nave com todo o cuidado. – Que magnífico! A nave até tem casa de banho!!! – Afirmou, surpreendida a Joana. – Claro que tem! – Disse a mãe das crianças, sorrindo. Senão, como é que os astronautas iam à casa de banho durante a viagem? Continuando a exploração da nave, qual não foi o seu espanto ao descobrirem que os pilotos da nave não tinham o aspeto esperado. Eram… ExTRATErRESTReS!!! Muitos assustados, perguntavam-se: fomos salvos ou raptados? Isso fazia toda a diferença! Ninguém os incomodou, mas eles também não conseguiram aproximar-se dos pilotos. Não havia nenhuma parede, nem sequer um vidro, mas eles não conseguiam passar de um certo ponto para a frente. De repente, sem que nada o desse a entender, 10


abriu-se um portal e sentiram-se a ser levados dali, caindo em seixos molhados, quase pretos e recebendo as boas vindas com uns salpicos de onda na cara. – Ai as minhas costas! O chão é duro! – Queixou-se a mãe quando caiu nos seixos. Mas que paisagem tão bonita! Já não estamos na nave! Onde estamos?

– Parece que estamos numa praia, talvez numa ilha! Tem encostas altas quase a pique para o mar, a praia é de seixos cinzentos e não de areia dourada… – disse o pai. Parece a paisagem da Madeira. – Da madeira? O que é a madeira? – Perguntou a Joana, que, por ser ainda pequena, não sabia distinguir entre a madeira e a ilha da Madeira. – A Madeira é uma ilha portuguesa, muito bonita, que se situa no oceano Atlântico – explicou o pai. – Eu adoro a Madeira – afirmou a mãe – mas estaremos mesmo na Madeira?

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– E como é que saímos daqui? – Voltou a perguntar a Joana, muito admirada com tudo aquilo. – Não sei! – Respondeu o Miguel, enquanto dava uma volta completa sobre si próprio, para apreciar a paisagem – mas estamos numa ilha maravilhosa! Todos confirmaram a beleza do que viam. Estavam maravilhados! E depois dos sustos por que passaram… sabia bem respirar livremente numa paisagem tão bonita. Mas era preciso encontrar alguém e descobrir a forma de voltar para casa.

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Passaram por caminhos de pedra, perto do mar, com aquele cheirinho atraente. O dia estava lindo. O sol estava tão brilhante, mas, por mais que gostassem, queriam mesmo voltar para casa. – Mãe quero voltar para casa – lamuriava-se a pequena Joana. – Queres ir de avião ou de foguetão? – Brincava o pai, para aliviar a pequenota. Mas, para seu grande espanto, ela respondeu: – De foguetão, porque é mais rápido! E não é que foram mesmo de foguetão? Mais uma vez, sem saberem como, foram sugados para dentro de um foguetão. Mas o foguetão não ia para casa deles… foram parar ao Sistema Cleeter, Sistema 7538.

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Tinham à sua disposição fatos próprios, daqueles de astronauta com capacete e tudo. Depois de aterrarem, vestiram os fatos e desceram a escada do foguetão, mas não havia nada de interessante a explorar. Com receio de que acontecesse mais alguma coisa estranha, voltaram ao foguetão para tentarem regressar a casa. A viagem de regresso foi rápida e tranquila. O foguetão aterrou no terraço e finalmente entraram em casa. – Ah, como é bom estar de novo em casa – disseram todos, tentando perceber se não havia mais nada estranho a acontecer. – Vamos mas é tomar banho, jantar e descansar. Para hoje já chega de aventuras – dizia a mãe aliviada.

– Meninos! Migueeeeel! Joanaaaaaa! Toca a acordar! – Era a voz da mãe – então vieram ao parque para dormir a sesta? Depois de toda aquela corrida, assim que se sentaram na manta e começaram a comer, adormeceram e passaram aí a tarde a dormir. Pensávamos ir a casa da bisavó e tivemos pena de vos

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acordar, mas agora temos que ir embora. É quase noite e começa a ficar fresco. O Miguel abriu os olhos e viu os rostos da mãe e do pai quase em cima da sua cara. A irmã, deitada ao seu lado, também esfregava os olhos. Afinal tudo não passou de um sonho? Nem chegaram a sair do parque? – Surpreendido, pensou para consigo: então e o Portinho da Arrábida, o jogo Disney Infinity, a Madeira, a nave espacial, o foguetão, os extraterrestres e os doces da bisavó? O Sistema Cleeter e os portais sugadores? Sonhei isto tudo ou fui mesmo levado para outra dimensão onde tudo aconteceu? Que bom! Ainda temos o dia de amanhã para passear!

– Tenho a impressão que esta história não acaba aqui… deixo-vos uma pista: Gostam de ketchup ? É MUITO BOM!!!

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