
3 minute read
Samira Alvim
samira alvim (JAGUAPITÃ-PR, 1979)
CASA-ATELIÊ DA ARTISTA, EM 4 DE MAIO DE 2015.{ {
Advertisement
Samira Alvim
Tua formação é Engenharia Florestal. E a tua trajetória dentro das artes, como começou?
Olha, nas artes é uma coisa desde criancinha. Desde criancinha, eu desenho, pinto... Minha mãe percebeu que eu tinha facilidade para essas coisas, e sempre me apoiou. Com nove anos eu comecei a fazer aula de pintura e tecido, aí que aprendi a pintar com tinta. Qualquer coisa que minha mãe não estava usando mais, eu ia lá e pintava.
Depois fui estudar em uma escola técnica e conheci uma artista, o nome dela é Vitória Basaia, ela é fantástica, cria os pigmentos, a base dela é o que vem da terra. E ela começou a ver que eu tinha um talento. Nessa época, que eu estudava na escola técnica, eu comecei a fazer uns desenhos com linhas, com nanquim. Eu não tinha nenhuma pretensão de expor, de fazer nada, eu só desenhava.

Aí, a Vitória Basaia começou a me incentivar. “Olha você pode utilizar outros materiais. Já que você desenha tantas linhas, você pode usar, por exemplo, penas de galinha.” Aí tive fases, a fase das linhas... antes eu só fazia linha reta, não fazia com curvas, eu tinha esse padrão, tinha que ser o padrão só linha reta. Aí, depois eu fui misturando curva com reta. Depois eu fui tendo outras fases. Comecei a pintar com lápis de cor e comecei a fazer pássaros, porque eu tinha aquela necessidade de sentir liberdade, de contestar, então eu fiz uns pássaros bem diferentes. Fiz várias coisas com pássaros. Aí, depois com tinta, algumas fases com tinta e linha, giz de cera, giz pastel, tinta... Quando eu comecei a trabalhar com engenharia florestal, eu parei de trabalhar com artes. Fazia só uma coisinha de vez em quando, pegava uma tinta branca e misturava algum pigmento.
E quando que tu retomou tua história com as artes?
Retomei quando fui para Goiás. Estava com meu filho bebezinho, não estava trabalhando, aí comecei a pintar novamente. Fiquei um bom tempo sem trabalhar, aí comecei a fazer artesanato também. Mas desenhar, desenhar mesmo, esse meu trabalho com linhas, foi em 2013.
Dois mil e treze foi quando o Gregório nasceu, meu bebê mais novinho. Aí, quando ele era mais novinho, eu estava de licença e comecei a fazer uma aula na Maria Miranda, uma arte educadora, uma mestra. Aí o Gregório ia junto comigo, ele ficava no bebê conforto. Aí eu aprendi aquarela e várias outras técnicas. Tudo assim... acho que quando os filhos nasceram e eu não estava trabalhando com florestal, é que eu tive oportunidade de me dedicar.
Como é o teu processo criativo, Samira?
É bem diversificado. Não vou te dizer que sigo sempre um método. Na maioria das vezes, é a questão do sentir. Eu tenho aquela sensação e vou. Tem que ser mais à noite, porque durante o dia não dá, porque estou envolvida com outras coisas, tem filho, aí eu não consigo. Aí, de madrugada eu vou lá e começo a desenhar. Ás vezes sai como eu estava imaginando, outras vezes foge totalmente. É como se meu desenho fosse livre, tivesse a liberdade de ser o que ele quer. É uma coisa que acontece baseada nas sensações que eu estou tendo. Eu estou aprendendo a não comprar as tintas todas prontas, estou mais fazendo. São vários tipos de pigmentos. Teve uma que utilizei café solúvel. Tem a goma laca também, a indiana, que tem que comprar a asa da barata pra fazer, mistura com álcool e deixa dar uma curtida. É um impermeabilizante. Aí eu vou descobrindo as tintas.
E o que te inspira?
A natureza, comportamentos de pessoas e animais, sensações, emoções, sentimentos.
Tu vê algum tema que seja recorrente nas tuas obras?
Vejo. Eu gosto de desenhar e ver que meu desenho tem movimento, que ele está se comunicando. Se eu perceber que ele não faz isso, eu guardo e pode ser que depois de um tempo eu dê uma continuidade em cima daquele mesmo desenho. Eu tenho que enxergar neles uma comunicação. Eles tem que se comunicarem para ter valor pra mim.