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Coletivo Pitiú

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PP Condurú

PP Condurú

coletivo pitiú (Belém-PA, 2014)

Como que começou o Coletivo?

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Débora Oliveira, Vivian Santa Brigida e Verônica Limma

ATELIÊ DO COLETIVO PITIÚ, EM 11 DE MARÇO DE 2015.{ Verônica| O coletivo começou com um grupo de pessoas que se encontravam sempre no Curro Velho [Fundação] e participava de um laboratório com o Pablo [Mufarrej] e a gente só vivia juntos, todo o tempo. Teve um amigo nosso, o Eliezer [Carvalho], que nos convidou para montar o primeiro coletivo, que era o Pirão. Então, veio essa necessidade trabalhar juntos e fizemos algumas intervenções com o Pirão, só que já tem outro coletivo com o nome Pirão, que é o de teatro. Aí, sentimos a necessidade de trocar o nome e ficamos um tempo paradas, decidindo que nome vai ser, essa dor de trocar de nome, essa outra coisa toda, né?

Até que nós decidimos pelo Pitiú. Só que dentro desse processo sempre aconteceu uma coisa muito estranha... Como a gente foi participar do projeto [Paisagem Suspensa] com a Elaine [Arruda] e só foi eu, a Vivian e a Débora, todo mundo chegava e ela

apresentava: “olha as meninas do coletivo”, aí era sempre “as meninas”. A gente sempre falava: “Gente, tem mais duas pessoas e são meninos”. Aí, começou a se espalhar essa questão de coletivo de meninas. Com a saída deles, acabou que ficou mesmo um coletivo só de meninas. Aí, batizamos de Pitiú, voltamos para nossa pesquisa no Porto do Sal, mas com outro foco, que é o foco voltado para a questão da mulher.

O Pitiú surgiu no final do ano passado, quando a gente resolveu dar essa nova roupagem para o nosso trabalho. Sair também dessa questão de só trabalhar com gravura e abrir mais o leque, até por conta das influências que cada uma tem. Uma trabalha melhor com pintura e desenho, a outra trabalha melhor com a gravura, outra com a fotografia. Então, a gente resolveu, nesse processo do Pitiú, começar a misturar essas linguagens, sabe? Atravessar elas e fazer experimentações mesmo visuais.

O que é Pitiú?

Débora| Pitiú é um termo regional que a gente usa para o cheiro, o cheiro de peixe, e é um cheiro que entranha, é muito forte. É o fedor do peixe e um peixe. Eu fui pesquisar e vi que tinha um peixe com nome Pitiú. Aquele cheiro que exala no [Mercado] Ver-o-Peso é o que a gente chama de Pitiú. Pronto, é isso que é o Pitiú, é isso que significa para a gente. A gente na verdade quis fazer um trocadilho. Como é um coletivo só de meninas, tem umas gírias assim: “égua tu tá pitiú!”, tu tá fedorenta, tá de bode e tal (risos). Aí, a gente quis tirar barato com essa história mesmo.

Explica um pouquinho o que é o Porto do Sal e o trabalho que vocês fazem lá.

Verônica| Porto do Sal parece um lugar voltado só para os artistas, né? Na verdade lá é um porto muito antigo que foi revitalizado por volta dos anos 80, só que continua funcionando como porto. Tem uma área periférica por trás que a maioria das pessoas não conhecem e foi nessa área que a gente acabou adentrando e conhecendo essas pessoas. E o porto funciona normalmente. O que acontece para ter essa visibilidade lá? Começou ter a necessidade, por parte dos artistas que moram ali pelo bairro da Cidade Velha, em querer revitalizar aquela área. Então, começou a surgir espaços culturais, projetos voltados pra lá.

Débora| A técnica tem que estar a serviço da poética e não o contrário. Na nossa pesquisa no Porto do Sal, a gente foi pra lá para fazer desenho, a princípio, e transformar em gravura. Quando chegamos lá, nos deparamos com as pessoas, com as relações, as pessoas nos atenderam muito bem lá nas suas casas. “Vem aqui, toma um cafezinho...” e batia papo, contava da vida, dos filhos. Muita gente tinha vindo do outro lado do rio. E a gente começou a perceber que as histórias de vida das pessoas eram mais importantes do que desenhar e passar para a gravura.

Verônica| Essas relações que foram construídas que é legal, sabe? Essa relação, mesmo a gente sendo artista, de que forma a gente vai conseguir expressar visualmente, esse que é um contato que não é visível, sabe? Que é uma relação que você vai construindo, que é

da pessoa abrir sua casa, seu espaço, seu coração, pra te receber. As pessoas abrem a vida delas, o cotidiano e eu acho que é uma coisa que só a arte te dá isso. Você não está oferecendo nada, dinheiro, nada, e você chega lá e fala: “Eu quero pesquisar seu dia-a-dia, sua vida...” E a pessoa pega e abre esse espaço pra você. Isso é uma coisa que me instiga muito. Como é que vou conseguir passar? Se vou conseguir e se tem a necessidade, porque às vezes não precisa. Porque o que fica mesmo é a relação humana que você constrói.

Como que é esse processo criativo de vocês trabalhando juntas? E como que é a autoria? As obras são assinadas com o nome do coletivo ou individualmente?

Débora| As obras do coletivo são do coletivo, a gente não põe autoria, a gente apresenta como coletivo. Geralmente quando a gente vai fazer a pesquisa, cada uma vai fazendo uma coisa, vai tirando foto, vai desenhando, depois a gente senta e discute dias, briga, se descabela, volta, pede desculpas. A gente vai fechando as coisas.

Verônica| A preocupação maior é de como aquele trabalho se apresenta enquanto coletivo, que é uma questão que quando você trabalha em coletivo é como esse trabalho vai aparecer. É complicado três pessoas e uma identidade visual, você conseguir juntar características individuais de cada uma para aquele trabalho. A gente ficou um bom tempo discutindo se a identidade visual do coletivo ia ser isso: todo mundo trabalhando em cima de um tema para ter uma linguagem coletiva ou se a gente vai se juntar para produzir seus trabalhos individuais, trabalhando de forma coletiva, mas com o trabalho de cada um. Por um tempo a gente ficou com essa dúvida, mas as coisas vão se costurando.

Débora| A gente acabou decidindo não neurar e fazer. E aí rola os dois, acaba que rola os dois ao mesmo tempo, sabe? A gente começou a entrar em umas discussões filosóficas e tal, sobre o que é coletivo disso, coletivo daquilo, mas aí decidimos não neurar, vamos fazer, vamos trabalhar e aí as coisas foram rolando assim. O importante, antes de tudo, é a gente fazer. É muito gratificante o trabalho, a gente consegue lidar bem.

Em que medida vocês influenciam uma no trabalho da outra?

Vivian| A influência das meninas é mais no meu trabalho com gravura, o tracinho de cada uma, a manusear o formão. Isso vem mais delas.

Débora| Às vezes a gente nem sabe que é influenciado, tem muito isso também. Mas acredito que soluções para o trabalho. A gente acaba se influenciando muito na parte de materialização do trabalho.

Verônica| A gente acaba sendo muito diferente. Nossos desenhos são totalmente diferentes. No que a Débora me influenciou, foi no processo de entendimento da gravura. A gente tem uma identificação muito grande quando a gente está junta imprimindo. E a Vivian, ela tem uma ligação com a cor, ela tem uma facilidade pra cor. Então, tem uma influência na hora de fazer um trabalho, de pedir uma opinião se vai funcionar uma cor porque ela tem essa facilidade. Então, isso é importante na hora de fazer um trabalho coletivo.

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