Revista Contorno /03

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vinte anos. E nunca mais Bienal! Por isso, essa nova Bienal será muito bem vinda. Espero que resgate todo o grito que está amarrado. Eu tenho uma expectativa muito boa. Tem uma moçada que está querendo se expressar, além de outras pessoas maduras, antigas, que também devem mostrar algo. Só espero que não caiam em fórmulas fáceis da moda, porque hoje se sabe o que acontece em qualquer lugar do mundo. Às vezes, é uma boa influência e sou a favor delas. A cultura é isso, troca de informações e aprendizagem, mas não deve adotar fórmulas. Eu tenho muito medo, pois existem fórmulas de ganhar a Bienal. O curador deve estar atento para não se enganar no que é estereotipado, aquilo que não vem de dentro de uma necessidade expressiva, de uma pesquisa longa ou de uma investigação, [mas] sim de um pensamento como: “Isso está na moda. Isso vai fazer sucesso”. É só estar atento para não acontecer isso. Contorno – O que se lembra de positivo como experiência da Bienal da Bahia? Lia – Além de ter sido num local belíssimo de contraste entre uma arquitetura colonial, antiga, com obras contemporâneas que ressaltavam a modernidade das propostas, foi uma abertura e uma visão de vanguarda para a época. Hoje, a vanguarda não é mais importante. Estávamos ainda na fase de quebrar as convenções, limitações e rigidez dos conceitos. Agora são outros valores, deve-se construir, e não mais quebrar. [risos] Então, foi gratificante ver o altíssimo nível dos artistas nacionais que participaram da Bienal. Na primeira, lembro que o público me impressionou, mas na Bienal que seguiria, pois fechou na abertura, o peso foi muito da participação dos baianos. Algumas obras foram sequestradas e desapareceram, e artistas foram presos. Uma violência atroz! Por isso, não podemos permitir a menor laiva de censura, pois ela não tem fim.

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