Aurora #1

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Mizoguchi e o problema da mise en scène Francis Vogner dos Reis1 1 Pesquisador, professor e crítico de cinema cinema. e cinema, etc

A expressão mise en scè-

ne revela uma pratica – a de “colocar em cena” - e já levou muitos cineastas franceses a colocar nos créditos de seus filmes “mise en scène” ao invés do tradicional “direção”. Só que nos domínios da crítica a expressão, quando bem usada, serviu como distinção qualitativa, seja como elegia a determinados filmes (Jacques Rivette), seja como reconhecimento de uma vocação definitiva do cinema (Eric Rohmer), seja como categoria normativa (Michel Mourlet). O fato hoje é que o tema da mise en scène está em alta, tanto que a revista Aurora a transformou em pauta temática de seu primeiro número. O resgate da questão é visto por alguns com desconfiança como se ao trabalhar o problema da

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mise en scène a essa altura dos anos 2000 tentasse se girar a roda da História para trás na defesa de um classicismo tardio. Para outros, a questão é retomada com o intuito de tirar o estigma de anacronismo da mise en scène (nos filmes e nas ideias) e afirmá-la em suas prerrogativas dialéticas e imanentes em uma época em que pululam imagens de natureza contemplativa, de aleatoriedade difusa e rarefeita, que inclusive, encontrou em certa crítica contemporânea uma defesa e um repertório léxico próprio. A dissertação de Luiz Carlos Oliveira Jr. (não por acaso entrevistado nessa edição) “O cinema de fluxo e a mise en scène” é provavelmente o trabalho realizado no Brasil de maior vulto sobre o tema.


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