jornal A Tribuna Regional de Cravinhos

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6 • Caderno A •

• Sábado, 18 de abril de 2015

Homenagem

LUTO – O samba está de luto em Cravinhos, no domingo, a tarde, faleceu o carnavalesco Roosevelt Jordão

População lamenta a morte do carnavalesco Jordão Francisco Cavalcanti Fotos: A Redação

A

história do Carnaval de Cravinhos se mistura com a história do carnavalesco Roosevelt Jordão da Silva, o popular Jordão. Após sua chegada a Cravinhos no ano de 1967, para trabalhar na construção civil, Jordão logo se familiarizou com os amantes do samba, os policiais militares, Luis Carlos de Oliveira e Salvador Nascimento, populares respectivamente, Luizão e Dodô. Desta amizade surgiu a Escola de Samba de Cravinhos. A convite do então prefeito José Vessi, Carlinhos Durão veio do Rio de Janeiro, para colaborar com a criação da nova escola, na confecção de fantasias e carros alegóricos. Jordão fazia parte da bateria. Após alguns anos com a formação da escola, um trágico acidente no trevo da cidade, acabou levando Luizão, Jordão e Loli (um amigo). Convidado a assumir a escola, Jordão e seu amigo Divo Constantino não pensaram duas vezes, e abraçaram a responsabilidade.

Foram anos de muita luta, falta de apoio da municipalidade, mas não deixou o sonho dos seus amigos morrer. Por volta dos anos 80, tendo a frente o Sr. Nelson Chaves e um grupo de amigos, foi criada a Escola Águias de Samba, e Jordão convidado a organizar e unir com a sua bateria. O grupo organizou vários eventos para não depender de recursos governamentais, e foi um sucesso. Com a saída de Nelson Chaves, mais uma vez, Jordão é convidado a assumir a direção da Águias do Samba. Foi o que fez até os dias atuais, com muito trabalho, dedicação e determinação. Com seu carisma e simpatia se apresentou em várias cidades da região, levando o nome de Cravinhos e enaltecendo a tradição do carnaval brasileiro. Com a presença de autoridades, familiares e amigos, no dia 30 de maio de 2008, a Câmara Municipal promoveu sessão solene para a entrega de Titulo de Cidadão Cravinhense, ao carnavalesco Roosevelt Jordão da Silva, pela sua grande importância

Jordão ao lado dos familiares e amigos, quando foi homenageado na Câmara Municipal com o título de Cidadão Cravinhense

em promover o carnaval na cidade. A homenagem foi de autoria do vereador Wagner Jandozo Perez. Projeto de Decreto Legislativo nº 33/07, de 19 de novembro de 2007. Na ocasião comentou sobre a questão de aposentar-se da Escola de Samba e passar a direção aos filhos, comentando “eles estão orientados de como conduzir os trabalhos, só vou apoiar”. Até se despediu num dos desfiles, mas voltou no ano seguinte. Após um longo período enfermo, com idas e vindas ao Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, Jordão veio a falecer no dia 12 de abril, aos 76 anos de idade. Deixa a esposa Dna. Elza, uma companheira de vinte anos, filhos, netos e bisnetos. Na sua despedida, uma multidão se fez presente no velório para prestar as últimas homenagens. Simples, trabalhador, e um grande sambista. O prefeito José Carlos enalteceu a dedicação e a perseverança de Jordão, não deixando morrer o carnaval cravinhense, “nos desfiles às vezes ele atrasava, mas nos presenteava com um belíssimo espetáculo. Foi

A última entrevista de Jordão foi concedida para a EPTV-Ribeirão Preto, antes do Carnaval de 2015

um lutador! Apesar dos seus 76 anos de idade, sempre teve espírito de jovem para prosseguir sua luta”, comentou. Biografia Roosevelt Jordão da Silva, nasceu no dia 13 de maio de 1939 na cidade de Igasaba e foi registrado em Rifaina (SP). Filho de José Joaquim da Silva e Dona Iraci Luiza da Silva, ele veio de uma família de quatro irmãos. Mudou-se para Cravinhos e depois foi morar e trabalhar em Pedregulho por aproximadamente três anos. Ficou órfão aos seis anos de idade, sendo criado pelo padrasto, que já tinha dois filhos. Em 1958 casou-se com Ana Dionísio da Silva, e tiveram os filhos: José Carlos, Mariza, Luis Carlos, Iraci, Eliana, Paulo, Elizabete e Joseane. Em 1967 veio morar em Cravinhos e trabalhar numa firma chamada Zenes – Gouveia, começando assim sua história na cidade. Na época já tocava sanfona e animava as festas dos amigos e colegas de trabalho. Nesta época conheceu o Sargento Dodô, Luizão soldado e também o Divo Constantino, o saudoso Divo. Nascia assim, a tão sonhada escola de Samba que ainda está no coração de todos. Foram muitas conversas até conseguirem o primeiro clube Operário, com um Grêmio com mais de 120 sócios, que ajudaram na realização dos eventos e festividades para manutenção do clube e da escola de samba que estava nascendo do sonho dos amigos. Tudo era muito difícil, mas prazeroso, pois estavam constituindo passo a

O carnavalesco Roosevelt Jordão da Silva, o popular Jordão passo um sonho, com muita fé e perseverança. Com jeito simples e carismático fez amizade com o Antonio Moreira, que ultrapassou os limites da vida terrena, pois quando este e sua esposa faleceram num prazo de oito dias, Jordão atendeu seu pedido feito na agonia da morte para que criasse seus quatro filhos: Valter, Lúcia, Cristina e Antonio Carlos, com 16, 12, 6 e 3 anos de idade. Assim, constituiu uma grande família composta por seus 6 filhos e mais os 4 filhos do querido amigo Antonio Moreira. Duro golpe foi a notícia do fim do Clube do Operário, com uma tristeza generalizada entre os companheiros amantes do Carnaval, pois foi ai que nasceu o Clube, onde hoje funciona a gráfica Rosa. Construíram, lutaram, mas não puderam usufruir da realização, por motivo de profundo luto, pois faleceram os amigos Dodô, Luizão e o Loli. A cidade de Cravinhos jamais ficou e jamais ficará tão triste no inicio da década de 70. Mesmos entristecidos, os amigos Jordão e Divo continuaram a luta, agora eram somente os dois para transformar o sonho em prática. Nesta mesma época nascia o sonho de construir o Centro Comunitário, com o apoio do Padre André, Sr. Joaquim,

Dona Badra e Sr. Ardengue. Neste ano foi doado o terreno pelo então Prefeito José Vessi, com a pedra Inaugural com o nome das autoridades e colaboradores. Aos domingos o Jordão convocava o pessoal do bairro para no sistema mutirão fazer o alicerce e as paredes do Centro Comunitário. Todos compareciam e trabalhavam com vontade de ver o sonho realizado, inclusive era servido o café da manhã e almoço para os voluntários. O pão era doado pela padaria Santa Therezinha, as cozinheiras eram a Dona Ana, Dona Belica e Dona Leila. Era o sonho transformando-se em realidade. Mais tarde foi inaugurado o Centro Comunitário “Salvador Nascimento”, com missa, fogos, banda de música e tudo mais que pudesse marcar uma importante data para Cravinhos. Jordão sempre esteve firme e forte à frente de sua Escola de Samba, descendo a rua XV de Novembro todos os anos, para alegrar o povo cravinhense e sua comunidade, com apoio e recursos da Prefeitura Municipal. O Carnaval e seus familiares sempre foram as principais razões de seu viver, pois corria em suas veias o amor pela maior festa popular, principalmente, quando o desfile acontecia em sua terra de coração, ou seja, a querida Cravinhos.


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