Cinema: a realidade de uma quimera

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Cinema: a realidade de uma quimera

De todo modo, preciso testemunhar que a minha experiência de apreciador de cinema, é das melhores coisas que a vida tem me presenteado. Assim, o presente livro é uma reflexão-testemunho que sentia dever a um tempo (dito pós-moderno) em que nenhuma ideia, valor ou crença é nuclear, em que quase nada é importante, a não ser prazeres imediatos e efêmeros; tempo no qual o estilo de viver faz-me lembrar uma frase irônica com a qual o notável Millôr Fernandes encimava uma página humorística: “Finalmente, um escritor sem estilo” (final­ mente, um tempo sem estilo – que me perdoem esse deslize de certa tristeza!). Nem os esquemas empresariais do cinema-indústria, fossem os mais primitivos ou os mais avançados de hoje; nem medíocres explorações sensacionalistas ou pornográficas (estas, sideralmente distantes do nu artístico); nem ainda os complexos bastidores de artistas da direção e da interpretação, os quais, às vezes, acendem imensas fogueiras de vaidade e exibem lamentáveis comportamentos (especialmente em Hollywood), nada dessas negatividades conseguiu neutralizar, até hoje, os encantos da cinematografia. Existirmos é um risco; atravessarmos uma rua é um risco. O cinema existe e atravessa ruas e territórios inteiros de perigo, mas ele se constitui numa arte que sobrevive como os mais fundos sentimentos de Eros e de Tânatos nos seres humanos. Saibamos, então, merecê-lo.

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