O País das Montanhas Azuis

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Essa probabilidade de “um cheiro específico” é digna de imprimir-se em letras de ouro... É evidente que esta tolice específica se mostra mais agradável aos olhos dos céticos juramentados do que o fato irrefutável que salta aos olhos! Nessa irrealidade incontestável que o europeu evita como a avestruz, com a cabeça baixa, esperando quando a oculta dessa maneira que os outros não o vejam– explica todo o enigma da profunda veneração de uma parte, e também do medo que inspiram os toddes a todas as tribos da “Montanhas Azuis”. Os baddagues os adoram, os mulu-kurumbes tremem diante deles. Se frente a um todde que anda serenamente com uma pequena cana inofensiva e inocente na mão – o espanto esmaga o kurumbe – isso se deve ao sentimento de amor e fidelidade que obriga o baddague a se ajoelhar voluntariamente. O baddague, ao divisar de longe o todde, estende-se no chão, silencioso, aguardando seu cumprimento e bênção. E o baddague fica muito feliz se seu Deva, tocando apenas a cabeça do seu adorador com o pé descalço, desenha no ar um signo compreensível só para ele e logo se afasta lentamente, “o rosto altivo e impassível como se fosse um deus grego”, segundo a expressão do capitão O’ Gredy. Como consideram os ingleses esse sentimento fanático de veneração dos baddagues para com os toddes e como o explicam? Natural e simplesmente. Os ingleses rejeitam como fábula imbecil a tradição pela qual esse relacionamento surgiu com os antepassados das duas raças e interpretam os fatos a seu gosto. Assim o coronel Marshal escreveu em seu livro: - “Esse sentimento parece tanto mais particular quanto, segundo estatísticas, os baddagues desde o começo foram mais numerosos que os toddes. É a relação de dez mil para setecentos. No entanto nada, nem ninguém, fará vacilar o baddague supersticioso em sua convicção de que o todde é uma criatura sobrenatural. Os toddes são gigantes, do ponto de vista físico, e os baddagues não são de elevada estatura, se bem que muito fortes e musculosos. Temos aqui o segredo do sentimento dos baddagues pelos toddes”. Todo o segredo, certamente não! Por que nem os chottes nem os errulares – duas tribos cujos seres são de pequeno tamanho e débil constituição, comparados aos baddagues – manifestam o mesmo sentimento de veneração e respeito aos toddes, ainda que os respeitem e mantenham relacionamento constante com eles?


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