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aproximaçã o e r e d u ç ã o d a s distâncias A escolha de se ocupar com essa etapa específica da cadeia de criação (o encontro da arte com o público) se dá, justamente, pela importância desse momento de tornar a arte pública, permitindo que ela seja, exista e aconteça. Estes questionamentos não nos direcionam para o fim dos lugares específicos de arte - sabemos a importância e necessidade desses espaços -, mas buscam por uma multiplicidade de lugares para que arte aconteça, sejam específicos ou não, assim como público, privado, grande ou pequeno porte, rural, urbano, etc. É na multiplicidade dos lugares do encontro entre a arte e o público, que novas possibilidades de pensamento em arte se tornam possíveis. Uma das formas que se mostrou interessante de se permitir o encontro entre a arte e o público é a abertura do processo de pesquisa, criação e execucão de uma obra. A criação de um vínculo e a aproximação direta do artista e o público potencializa essa multiplicidade de sentidos e permite que o "conhecimento" seja produzido através do olhar e da experiência de cada um. Ver uma obra antes de estar concluída, em processo, acompanhar um artista, participar de falas, workshop, poder presenciar suas transformações, as escolhas do artista, referências, seu jeito de falar, sua percepcão de mundo, ou até mesmo participar de algum modo desse processo, são outras formas de se permitir e agenciar esse encontro. A dismistificação da obra e do artista também colabora com a redução das distâncias e minimiza a glamourização gerada pelo mercado da arte. O texto curatorial também pode e deve ser entendido como um lugar mais criativo e menos explicativo, potencializando as múltiplas camadas de leitura, mesmo que seja trazendo questões históricas, filosóficas e conceituais, mas sem cair na justificativa, no resumo, na sinopse, no afunilamento dos sentidos.

Muita mais do que modelo ou anti-modelo para a construção desse encontro entre o público e as obras de arte, é interessante se pensar em lugares, mantendo assim não apenas o lugar como um espaço físico, mas nesse espaço subjetivo que surge no encontro entre o artista, a obra, o público, o curador e o contexto. outros lugares: o independente, o herói da cultura e o fantasma da sustentabilidade Sem querer me perder na discussão da problemática expressão independente e suas variações (debate recorrente e presente de outras formas nesse livro), aproveito este espaço para uma pequena contribuição da minha percepção do termo. Para além de um ideal ou de uma associação a uma liberdade incondicional, "independente" hoje está diretamente relacionado a uma condição do fazer (o seu engendramento) e o seu modo de operação - uma prática ligada ao acontecimento, muito mais do que um pré-conceito ou discurso inicial. Por mais que o próprio modo de fazer pode, e acaba sendo, uma forma de discurso. Quando um projeto, espaço, iniciativa, festival, mostra, artista, curador se coloca como independente, não significa assumir uma postura de isolamento, neutralidade ou distanciamento político e econômico ou, até mesmo, do seu contexto. Significa que com ou sem recursos financeiros (públicos ou privados), com ou sem apoio institucional, com ou sem autorização ou legitimização de qualquer natureza, o projeto vai acontecer, ou seja, independente de como será realizada, a iniciativa se mantém viva (o mesmo é válido para um curador ou artista independente, sendo que ele mantém seu trabalho ativo independentemente dos seus meios de produção). Claro que para manter uma iniciativa ou projeto existe uma série de demandas e riscos, mas a ausência de recursos financeiros acaba sendo o grande obstáculo. Por esse motivo, muitas vezes os "independentes" são considerados projetos de pequeno porte e/ou sem recursos. 215


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